PoesiaMeu querido pai Manoel
Vejo sua imagem refletida Na minha história construída Cenas de força e determinação, de detalhes e dedicação.
Até as suas impulsividades copiei E olha que aprendi que não é genética repetida Mas identificação assumida Pois suas impulsividades revelavam vidas
Logo pela manhã saía a trabalhar, E logo bem de manhã ... E na sua rotina insistia em almoçar Ao redor dos filhos, a incomodar.
Até seu machismo copiei Mesmo hoje elaborando este mal Ainda sobra em mim O machismo estrutural
A sua métrica detalhista Sua plena dedicação funcional Para sempre entregar seu trabalho, Com muita estética, Foi primordial.
Vejo que hoje sigo esta sina De dedicar-me com primor Ao que faço com amor Entre cenas construídas Umas belas, Outras excêntricas, Algumas violentas, Muitas afetivas
Sigo em frente Construindo novas formas de viver Definindo o como escolho ser Sem deixar de ter em ti Referências para o meu ser.
Sua passagem em minha vida É referência sentida, Pela saudade que não faz calar Pois onde há saudade O amor fez vingar
É muito bom Ter um pai a reportar. Mesmo que nunca mais Juntos, Possamos estar. Passagem* (para Paulina e Ruth)
Queridos pais, mães Chega o tempo que não se conta O relógio não anda Os sentidos não comandam Morte que chega Vida que vai Histórias vividas Apegos vitais Por eles, a morte um mistério Pelos seus um sentimento soterio Por longa vida viver Adiando vazios no ser Dos que havidos ainda vivem Ao redor com apegos afetivos Resta apenas elaborar a dor Daqueles que forjaram seu clamor Assim, deseja a partida com paz Pedir a boa morte E ver uma vida inteira passar Passear para novos horizontes Por desespero ou apego Fugir da busca sem fim Pelo milagre de não se ter fim Deixar partir enfim E aí chegar o grande dia Do maior motivo da vida Que está no morrer Gerando a engrenagem do viver Deste ciclo vital Precisamos passar Da vida à morte Da morte à vida Para alguma outra vida Afinal Agora sim o vazio A dor Mas a certeza de uma história Muitas trajetórias de amar ADEUS * para aqueles que estão acompanhando a partida dos pais/mães em idade avançada Por São Francisco de Assis, meu Santo forte, em tempos de primavera e defesa das florestas: Verde onde a Mata habita* Onde o verde habita A mata vitaliza. Onde há verde há mata, Que resiste às secas. Campos abrem secos, Marrom amarelado. Onde há pastos há seca, E o verde não habita. Onde hoje é pasto houve matas, E as matas que restam, Logo viram pastos. Mata multiplica vida, Vida gera alegria, E encanta nosso dia. Pastos secam nascentes d’água, Multiplicam gados para engorda, Que faz a alegria para quem pode carne comer. Onde o verde ressalta o olhar, Há uma mata a encantar. Onde o olhar cega ao horizonte, Há um pasto para não habitar. Entre matas ou pastos, Que permaneçam as matas. Para água borbulhar, Vida abundar, Corredores pluviais para chuvas espalhar. *Esta poesia fiz em julho viajando de carro pelas estradas do interior do Estado de São Paulo. Incrível, onde há pasto há seca. E nas glebas espaçadas de matas, o verde sempre estava vivo. Donos do nada
Donos do nada Vem como fúria Como guerra vem.
Assola a todos silenciosamente E o outro passa a ser seu habitante, Este outro que agora é inimigo. Porta do que fujo, Fujo de ti, Em busca de mim. Sem barreiras, Sem fronteiras, Sem classes, Opa! Com classe, atinge e intriga As classes que podem voar.
Vem como tempestade, do nada. Chega como furacão, absoluto. Tromba d’água que engole, Arrasta gente rica, Chega aos empobrecidos, E a todos indistintamente.
Em ti somos nada. Nossa onipotência humana se desfigura, E nem como super homens Conseguimos te conter. Não sabemos. Não entendemos. Matamos-nos, Enraivecemos.
Vem do nada, Chega ao nada, Somos nada, E para o nada voltaremos.
Dizíamos ser soberanos Por que pensamos. Mas a ti que supostamente nem corpo visualizamos, Habita em nós. Destrói-nos mesmo sendo pensantes, Revela-nos que somos nada, De novo o nada.
Acreditamos ter poder, Sobre tudo e todos. Impomos poder. Mas um simples vírus, Destrói todos os poderes, Que fantasiamos ter.
Derrocados em nossa existência, Colocados em xeque. Morte que chega, Vida que vai, Fim do trilho à vista. Em tempo! É tempo para repensarmos nosso existir. Somos parte de um universo, Outras forças podem nos dominar. Não somos donos de nada, De nada temos o controle. Somos parte integrante de um cosmos. (Gerson Abarca) Olhar e ver
Olho o ser, Inquieto-me. Olho o ter, Provoco-me. Olho o há, Estou. Olho o acolá, Divago-me.
Vejo o ser, Torno-me Vejo o ter, Dissolvo-me. Vejo o lá, Incerto, fico. Vejo o acolá, Desentendo-me.
Olhar não visto, Sem olhar, Não existo, Insisto.
O não entendido, Vem sem o olhar, Vai sem o ver, Persisto. (Gerson Abarca) Um dia para Iauany
Seu legado é pedra sólida Seu chamado é quem me chama E assim, o escolhido. Seu desejo perpassado na história Por sua estirpe paterna/marterna. É de ser um ser desejante, Um devir para sentir Lutar Sonhar Amar Fazer justiça!
De Samuel, o escolhido, A Iauani, pedra sólida. Um pedaço judaico/cristão Outro sentimento indígena "Amerígena" Libertação!
Pelo dia o encontro angélico Com Gabriela ao luar, Lunar, Luna. Agora paterno e encantado Segue ávido para amar, Continuar sonhando. Vida que vigora a cada ano Anos que se somam Neste caminho, Caminhando... IAUANYANDO! (Gerson Abarca) TAYNÃ | Para Davi Taynã*
Nome dado, Nome cravado, Destino traçado.
Segue sem medo, De cumprir seu legado. Aquele que defende a Floresta, Amigo e protetor.
Taynã, Aquele que protege. Como bicho arisco, Desconfiado. Aguça os ouvidos, Mira o olhar, Mata adentro a trilhar.
No legado de Davi, Arrebanhar legiões, Para a floresta perpetuar.
Sangue inquieto, Vida que pulsa. Espírito Guerreiro, Matreiro, Entre matas e ondas a surfar.
Mar aberto a navegar, Novas Florestas encontrar, Verdes matas encantar.
Segue este legado, Desejo em ti projetado, De o Planeta florescer.
Sentimentos oceânicos a conduzir, Aos humanos criados para Multiplicar, Crescer, Cuidar. Deste nobre Templo Azul.
Siga inquieto, Sua missão é quase solidão. Mas siga em Paz. Pois a Esperança tem voz, Que soa como um chamado longo ao longe, Taynã.
*Taynã: Nome indígena que significa protetor da floresta (Gerson Abarca) MANACÔ | Pelos 18 anos de Hélder Manacô*
Um desejo mais que ousado, De na vida Viver repartindo.
Repartir os dons, Transmitir os sons, Partilhar o pão.
Em terras dilaceradas, Semente espalhada. Ventre fecundo, Rebento parido. Pelos braços de Ina, Seguindo
Chega como um trisco, Apenas o grito, Da dor do parto, Que segue ecoando.
No hoje, Desejo realizado, Consubstanciado.
Seus passos, por ti agora segue. Seus caminhos a trilhar seu horizonte. Seu olhar vislumbrar outros desejos.
Segue esta sina, Traduzida em seu nome. Manacô, Aquele que vive repartindo.
Nestes anos, Este tempo que passou. Enraizou dons.
Manacô seu sorriso, Manacô seus ouvidos, Manacô seu silêncio, Manacô sua ternura. Dons que forjam amigos.
Siga a viver repartindo. “Manacoando” o que há de bom, Esta semente do bem. Para seguir construindo, Novas terras sem males.
Como seus ancestrais ameríndios, Vá em Paz. Com as bênçãos do Mestre maior, Cujo primeiro nome inspirou, Dom Hélder Câmara.
*Manacô: Nome indígena que significa viver respeitando. (Gerson Abarca) Cabelo de preta* Cabelo de preta é ruim, E? é! eh... Assim foi quem disse O feitor branco, minha senhora
Cabelo de preta é ruim, E? é! eh... Assim foi quem domesticou Na rede Globo minha senhora De cada dez loiras de olhos azuis Uma preta com seu “pixain"
Violentas, Domésticas, Bandidas, Subalternas, Prostitutas
Cabelo de preta é ruim! É não minha senhora Vida brota Alma resgata Identidade assumida
Cabelo de preta é estética Expressão de liberdade Símbolo de resistência Força de comunidade Povo negro sim senhora
Cabelo de preta é quimera Vida plena Para além da aurora
*Poema inspirado em Kbela - o filme, roteiro e direção de Yasmim Thayná (Gerson Abarca) Mulheres em virada | 8 de março
Se o brilho em ser mulher, foi colocado a sombra, permanece com o brilho de ser. Desvendar-se de sombras, para a mulher resplandecer.
Se as botas pela história, lhe pisaram na memória, De seus saltos e elegância, sobressai outra história.
Hoje cresce em força. Hoje forja nova aurora. Hoje traça esperança. Hoje aguça tiranias, por que provoca.
Deles em queda livre, pelo fracasso do poder supremo. Que na força oprimem, Esbravejando, mas com sintomas decadentes.
Segue ávida! Desejosa, Triunfante, Vaidosa sempre.
Unidas em força motriz, como redes que se juntam, entrelaçadas e solidárias. No caminho que hoje já é Liberdade. (Gerson Abarca) A segunda mãe | Para Dona Celina
Passam os anos e a cada ano sempre, O dia das mães, Lágrimas, Alegrias, Sentimentos.
Passamos ao longo da vida Cultuando este dia, Como se tivéssemos uma única mãe.
No inter jogo de reproduzir família, Novos olhares, Outros pensares, Nova perspectiva.
Uma paixão e um romance, Novo vínculo e novas possibilidades. A construção de um amor, Nova família anuncia. Neste entrelaçar de sentimentos, Encontro Maria Celina Nascida de Celina. Traços celestiais, mulheres de luz.
A segunda mãe acolhe Ao novo que chega. Cuida como seu filho. Protege a escolha de sua prole, Zelando por ela.
Celina que cuida orando, Que ama atuando, Que doa por todos, No amor sem medida.
Se a vida é boa providência, Proveu a mãe que pulsa em mim, No enlace conjugal Uma segunda providencia nasceu. A segunda mãe luzente, Chega como presente sem fim. (Gerson Abarca) A mãe que pulsa em mim | Para minha mãe Aurora
Ao pé da cama, Em noite de frio. A colcha estendida pelo chão, Sua mão acolhedora logo à disposição. A colcha faz um retorno afetivo, Aperta suas mãos sobre meus ombros, Agora sinto todo corpo aquecido.
Um cheiro de tempero, Uma comida atrativa, Feijão matreiro. Na tocaia da cozinha, Esperando sua saída, Para degustar por inteiro Todo feijão com tempero.
Um menino um brinquedo. No desejo sempre os segredos. Brinquedo alheio por entre meus dedos. Seus olhar malicioso, sabedoria em educar, Brinquedo alheio, Volto logo a entregar, Sabendo ensinar o que é meu e o que é do outro.
O balero colorido, Bar da esquina a paquerar. Gira, gira lentamente Pega uma e sai correndo. Num surto de soluço, Menino! Menino! Que pega bala do balero La no bar da esquina. Num instante o soluço estanca, Nunca mais balero gira.
As palavras se misturam, B com a não forma BA. Um tremendo gaguejar, Ao querer logo aprender, As tramas do linguajar. Soletrando as palavras, como canto e encanto, Pude ver suavemente, O b, a, ba, virar poética Por sua calma a ensinar.
Liberdade sim nos deu. De ir e vir sem pestanejar. Aventuras de meninos, Pelas ruas a brincar.
Livre, hoje sigo assim. Construindo liberdades. Sempre tendo as traquinagens, Da Carlos Botelho, 467.
Neste templo onde está, Nesta casa a me saudar. Território sagrado de minhas belas memórias, De um alicerce construído.
Caminhos percorridos, Onde ainda mora. Meu porto referência, Pra minha alma que é seguro.
Entre acertos e tropeços, Pela vida a caminhar. Entre idas e vindas, A memória afetiva ativar. Como é bom ter ao certo, Saber que pode ainda estar por perto. (Gerson abarca) Quando faltar os braços maternos | Às mães Marias espirituais
Quando um dia estiver plenamente sem mãe, Pois aos céus foi elevada. Sozinho sem os braços seus, Longe e muito distante de ti, Dos sorrisos e acalantos.
Saberei que de alguma parte Olha por mim, Sonha por mim, Ora enfim.
Em outras mães transfiro, A certeza de seu suspiro. Mãe do céu morena Aparecida, Mãe ameríndia, Guadalupe sempre índia.
De todas as mães que clamo, Quanta saudade de ti reclama. Uma palavra proclama. Maria que aos céus habitas, conclamo.
Mãe de todas as crenças. Transferida em símbolos, sincretismos. Em Nossas Senhoras de todas as possibilidades. Em referências cósmicas em nome de mulheres. Uma mãe pulsa dos céus a me guardar. Mãe do céu Morena, Ore por mim. (Gerson Abarca) Incerteza Materna | para as mães em exílio
O ar de sua aldeia É memória, à distância. Sua aurora é outra agora. Numa aldeia não desejada.
Em conflitos políticos, raciais Guerras produzidas pelas bolsas capitais. Uma trouxa e sua prole, Por longa estrada a caminhar.
Um destino incerto para ti. Sem destino certo para os filhos a caminho. Até quando caminhará neste longo caminho, Junto destes que gerou?
Lá na frente, em alguma barreira A separação, O desespero, Desilusão. Pelos filhos que foram Mais que passageiros.
Uma viagem não idealizada, Intimada, Forçada, Liberdade cerceada.
Agora, longe dos que gerou, Distantes do como estão, Para onde foram, E quando os encontrarão.
Ainda sobra neste corpo esfarrapado, Sentimento materno Que é esperança cravada na alma. Para um próximo regresso, Por um novo reencontro.
Esperança de um dia reunidos, À beira do riacho Que passa ao lado de sua aldeia Onde está cravada sua história.
Pois a água da aldeia onde foi gerada, É a mesma água que gerou seus filhos. Ainda esta água é a mais saborosa de todas. E um dia beberás junto dos seus, Que a esta aldeia voltará. (Gerson Abarca) A mãe que desconheço | para as mães de crianças em abrigos de passagem.
Onde você está minha mãe da qual nasci, Para onde andou, não sei e nunca vi, Apenas senti.
Em mim um desejo infinito de te ver, Sem ao certo imaginar como podes ser. Tem meus olhos a se parecer, Tem suas mãos a me acolher.
De onde estou outros muitos também estão. De onde estás outras muitas também estão.
Esta dúvida que bate inconsciente em minha alma. De qual útero eu vim? Que maquina minha existência, Por não ter braços como ventre a me acalentar.
Por onde andas? Onde tu estás?
Esta dúvida que me faz te amar mais. Procurar a ti em algum porto de afeto. Transferir em algum ser que eu possa ter, Seu afeto que nunca pude sentir.
Imagino que também com dor, Separastes de mim. Por necessidade ou pura maldade, Separastes de mim.
Mesmo assim quero entender que por amor Deixou-me aqui entre muitos outros, Que procuram por alguém como você, E um dia venha a chamar de mãe. (Gerson Abarca) ![]() Braços que acolhem | Para as mães adotivas
Preso em um vínculo, Inconsciente contido em um DNA. Solto e à deriva, Sem um braço a abraçar, Sem um coração a escutar.
De longe chega você. Braços abertos a me acolher, Olhos fixos a me fazer viver, Possibilidade de um dia ser.
Corações se encontram, Descompassadamente batem acelerados. O meu por ter-me acolhido, O seu por ter se encontrado em mim.
Assim, filho do coração, Onde pulsa a emoção, Do desejo por uma gestação. Sentimento da alma que bate forte, Entre estes dois corações.
Agora em ti uma certeza: De existir, De ser, De construir.
Agora em ti outra certeza, De viver maternidade, Amar plenamente. O vínculo afetivo e efetivo de mãe para filho. Sigo plena em gratidão, Pela escolha da adoção.(Gerson Abarca) ![]() 31/01/2022 Dois olhares, um horizonte (para Tamires e Mauro | Guarapari, 29/01/2022) Duas almas desejantes. Dois sonhares inquietantes. Escolhas diversas. Esperas dispersas. Cada olhar um horizonte. De Nova Venécia a Guarapari, tão distantes. Nada que tecnologias pujantes, não consiga aproximar horizontes. Contatos on-line, esperas, encontros, impulsos, sentimentos. Semelhanças... diversas Quimera Duas almas sonhadoras Dois olhares, um mesmo horizonte Brilho único de amor pulsante. Unidos nesta estrada, caminhantes. Olhando o trajeto do sol nas suas auroras, que a noite a lua alta brilha ao mar azul, como luzeiros a conduzir o caminho, do sonho que alto brilha. O amor fez um novo ninho para esta bem vinda família. (Gerson Abarca ) ![]() 04/12/2021 Amar cada um a si mesmo Seu desejo é o que desejo Se de fato deseja-me, Estimulo-me por ti. No encontro de seu corpo Pulsa em coro meu decoro, Se encontras no meu corpo Intensifica meu desejo. Explode em mim o gozo E se neste encontro tem seu gozo Desejo por desejo Alma entre alma O sentido tântrico eclode. Depois do ato em si O vazio retorna em sua existência Emerge novo desejo que não se finda. Ao continuar te desejar Se a mim tambem desejas Nesta eterna dinâmica do Amar Amar a cada ato Amar cada um a si mesmo E continuar a saga deste desejo para sempre desejar. (Gerson Abarca)
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