A angústia do bebêPublicado em 23/05/2016 O processo de sobrevivência do bebê é estabelecido no princípio pelo foco alimentar, pelo menos nos primeiros meses. Ao desejar o seio da mãe, o espera como se fosse um mecanismo automático, e como se fizesse parte dele mesmo. Mas o seios podem faltar, ou não chegar no tempo exato de sua espera. Começa aqui as primeiras relações do indivíduo com a ansiedade, este sentimento que acompanha o ser humano por toda a vida, instaurado nas primeiras relações com a mãe. A ansiedade desencadeia angústia pela espera e ao mesmo tempo por não poder estabelecer autonomia sobre esta relação. Quando o alimento chega, ele já angustiado ataca o seio materno, como resposta à demora de satisfação de sua necessidade. Para Melanie Klain, precursora da Psicanálise infantil, a função do ego (estrutura do eu percebido) é o domínio da angústia pelas perdas. Através dos processos de projeção e introjeção, o mundo interno do bebê vai se construindo por fantasias inconscientes. O bebê projeta externamente amor e ódio e introjeta gratificações pelo leite recebido, que será incorporado como amor e ódio. Nasce a dissociação entre o bem e o mal e a angústia é internalizada pelo medo da perseguição. Veja que todo este processo se dá na forma de fantasia inconsciente. Por isto que dizemos que os processos analíticos para crianças, adolescentes e adultos, é a reconstrução de processos regressivos inconscientes, construídos desde bebê, neste jogo de gratificação pela amamentação, que as pessoas transferem para o mundo externo, principalmente nos relacionamentos. O bebê plenamente feliz deverá percorrer esta ambivalência de sentimento. É necessário transitar entre amor e ódio, ganhos e perdas, vida e morte; esta é a dinâmica da vida que todo ser humano precisa passar. Negar este processo, ou fazer como muitas mães fazem, de evitarem o jogo da angústia pelas perdas, procurando estar a serviço do bebê por vinte quatro horas, sem que ele sofra, é um caminho que trará mais prejuízos ao mundo emocional da criança e consequentemente do futuro adulto. Tenho debatido em formações aos pais nas escolas, que se eles não aceitam a possível morte dos filhos não estão preparados para o processo educacional. É constante e diário as situações em que a vida nos convida a morrer. O bebê deseja ser plenamente saciado, mas o leite não vem. Instaura a ansiedade e todas as fantasias de ataque ao seio, para nascer a angústia de ter atacado aquele que o nutrirá, os seios. A angústia de fantasiosamente estar introjetando objetos destrutivos, como resposta ao seu ataque. Assim, desde bebê, o ser humano vai convivendo com este contínuo processo de vida e morte, no interjogo de ter que lutar para conquistar. Você pode estar se perguntando, como é possível o ser humano nascer com esta ambivalência tão acentuada entre o amor e o ódio? Esta pergunta geralmente brota no coração de adultos que foram educados só para deixarem manifestar dentro de si o bem, o amor, e ao longo da vida sofrem quando se deparam com sensações e sentimentos de raiva e ódio interior. Mas o ser humano necessita se encontrar com esta ambivalência. Assim como o sol é belo por que aquece, pode ser terrível por destruir plantações em plena seca. Como também a chuva serena encanta, mas diante de uma tempestade ela destroe coisas belas, amedronta. O bebê que lhe é permitido transitar com as fantasias inconscientes de amor e ódio, terá potencializado dentro de si um ser fortalecido, com capacidade para superar desafios. Neste processo, os pais precisam entender que educar filho não é só glória. Os momentos de conflito já existem desde cedo. Veja, num simples ato de mamar, quantas emoções são afloradas. Isso vale na mesma proporção para as crianças que mamam na mamadeira, pois o que vale é o encontro da criança com quem oferece a mamadeira. |
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