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Vida conjugal ameaçada pelo filho

Publicado em 24/08/2016

No artigo que publiquei no dia 22/08/2016, com o título “Quando chega o bebê na vida conjugal”, refleti sobre o distanciamento do casal por conta das necessidades básicas de vínculo do bebê. Neste, vamos pensar sobre as ameaças para a vida conjugal quando um filho, ele ou ela, começam a adentrar no meio do casal com cenas de ciúme disputando colo, afeto e até desejando afastar um dos cônjuges do núcleo de convivência familiar.

É quando a criança entra no triângulo amoroso, a partir dos três anos, chegando aos seis ou sete anos nesta disputa amorosa. Um fenômeno mundial indiscutível, pelo menos na cultura ocidental na qual Freud, o pai da Psicanálise nominou de Complexo de Édipo. O processo se dá quando a criança já identifica o terceiro na relação como campo de disputa. A tendência é de a menina conquistar seu pai e o menino sua mãe. 
  É nesta etapa da vida que a criança vai construindo seu referencial de homem e mulher enquanto percepção das diferenças. Também vai se organizando de forma mais sistematizada os papéis sexuais onde a menina copia sua mãe para conquistar o pai, e o menino copia seu pai para conquistar a mãe. Um processo formidável, que se entendido pelos pais como natural e até positivo para o desenvolvimento da personalidade do filho, ajudaria e muito para amenizar os conflitos futuros em torno das escolhas de parceiros por parte dos filhos. Este processo se dá de forma sutil e inconsciente, principalmente por parte das crianças. O melhor seria se fosse vivido conscientemente pelos pais.

A menina ao copiar a sua mãe, está se aproximando dela não tanto pela mãe em si, mas no fundo para conquistar seu pai. Pois afinal de contas, quem o pai se encantou primeiro foi pela mãe da filha, sua esposa. Assim, aproximar-se da mãe para ficar igual a ela e despertar o encantamento do pai. O mesmo processo se dá com o menino na aproximação de seu pai. Muitos estudiosos questionam este modelo de estrutura, pois relacionam estas identificações com os mesmos referenciais dos adultos, onde a atração e a sedução se dão pelo fator erótico. Mas na criança este mecanismo passa pelos viés dos afetos e é desprovido de conotação erótica ou maliciosa. Para quem tem filhos ou já passou por esta etapa do desenvolvimento deles, consegue perceber o processo com muita clareza. 

É fácil identificar por cenas simples e muito comuns no cotidiano das famílias. Quando os pais estão sentados no sofá da sala, bem próximos e até com alguma forma de carinho, um dos filhos logo chega e se joga no meio do casal, dificultando aquele momento amoroso. Ou aquela cena da menina vestindo as sandálias da mãe, aproxima-se do pai cheia de charme. Também o menino colocando o capacete da motocicleta do pai e convidando a mãe para dar uma volta com ele. As muitas vezes que o casal está no quarto com as portas fechadas por estar namorando, e um dos filhos chega gritando ou batendo a porta desesperadamente, quando os pais abrem a porta, a criança começa a sorrir.

Nesta fase que muitos pais acabam se dobrando aos caprichos dos filhos. Muitas vezes preferem não manifestar sentimentos pelos carinhos para não causar ciúmes nos filhos. Também é nesta fase que se intensifica os terrores noturnos, que de forma fantasiosa a criança cria inconscientemente para provocar a entrada no quarto dos pais. Assim, dificultam a aproximação íntima deles. É quando o filho dorme no meio do casal. Há casos onde a criança adquire tanta força que o pai deita no chão para dar lugar ao filho na cama com sua mãe. Doenças surgem e com elas as vantagens, pois passam a ter o direito de dormir na cama com os pais. Com isso, o triunfo por ter interrompido o romance do casal. 

Mas você pode perguntar como uma criança de três a seis anos consegue fazer isso? Ela não faz por que monta uma estratégia. Ela faz por que é um processo de busca de identificação. Quando a criança vê que seus pais possuem muito vínculo afetivo, num primeiro momento surge a dúvida de que realmente são amadas, pois estão em uma fase de solidificação afetiva e dentro do que nominamos de “narcisismo primário”.  Mas na verdade, mesmo com todas as cenas de ciúmes ou fantasias de medos e doenças, a criança sente-se internamente mais estável quando identifica que há solidez afetiva na relação dos pais.

Por isso que cabe aos pais ir delimitando no processo educacional os papéis dentro da estrutura familiar. Papéis de filhos, de pais, de casal. Se os pais se dobram as manhas dos filhos neste jogo de disputa amorosa, não estarão contribuindo para que a criança respeite seus pais como pais e também identifique neles um casal que se ama. Do contrário, se os pais acreditam nas manhas dos filhos na disputa de colo, além de estarem instaurando uma verdadeira confusão de papéis na cabeça de cada filho, estão também assinando um termo de fracasso do vínculo amoroso.


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