Sexo na história brasileiraPublicado em 14/12/2016 Somos um país de origem nua, nossos antepassados indígenas não vestiam roupas. Na chegada dos portugueses em 1500, através dos relatos feitos por alguns que desembarcaram por aqui, pode-se certificar a diferença de mundos. Pero Vaz de Caminha relatava que “(...) suas vergonhas tão nuas e com tanta inocência assim descoberta, que não havia nisso desvergonha nenhuma.” (Priore, 2014). Corpos sem pelos nas regiões íntimas do corpo que mais exaltavam a pureza, diferente do velho continente onde os pelos púberes já retratavam zona de estímulo erótico. Nossas índias, depois foram manequins para artistas do Renascimento, onde era retratada a beleza natural, a pureza dos corpos. Nossos colonizadores estavam trazendo a ordem do velho mundo ao novo mundo. Governo e Igreja estavam atrelados dentre os países de confissão católica, trouxeram a representação simbólica da sexualidade reafirmada no Concílio de Trento (1545 – 1563), que teve as normas estabelecidas do Matrimônio e com ela o controle social e neste o sexo com sentido de procriação. Assim, os portugueses chegavam à terra tropical, cheios de hábitos de controle e condutas sexuais recatadas. Mas sabemos que muitos homens portugueses possuíam vida conjugal dupla. A prática do concubinato era corrente e mesmo sendo imoral era aceito nas entrelinhas. Muitos dos homens portugueses que aqui chegaram, vieram com suas concubinas e deixaram em Portugal suas mulheres oficiais. As mulheres sim, elas tinham que preservar o pudor e a moral. Os seios expostos das índias brasileiras era uma contradição para as portuguesas que preservavam seus mamilos para o aleitamento materno. Assim, com este perfil de mulher materna, os homens multiplicavam suas amantes. Há relatos que Dom Pedro I teve 42 filhos bastardos (fora do casamento). Depois, com o passar dos anos, no processo de higienização da cultura, tendo em vista que nossos vilarejos eram sujos, não havia água encanada, esgoto e se quer coleta de lixo, ascende a ordem médica e com ela a patologização do comportamento sexual. O gozo repetido era um desgaste ao físico. A mulher muito desejosa de sexo era tida como portadora de disfunção emocional. Havia a noção de o homem ter que economizar esperma para dar respostas mais satisfatórias. A menopausa era sinônimo de fim da carreira da vida sexual para a mulher. Segundo a historiadora Mary Del Priore, no programa Café Filosófico da TV Cultura – SP do dia 11 de dezembro de 2016, no século XIX surgem os bordeis em que nos grandes centros importava-se mulheres da Europa para suplementar as necessidades dos homens que no casamento apenas tinham suas esposas como objeto de “cama, mesa e banho”, porém com maior força nos cuidados do lar. Os homens eram promíscuos e tinham várias amantes espalhadas pelos diferentes vilarejos sem nenhuma proteção. Com o surgimento das casas especializadas para sexo, onde tinham mulheres mais cuidadas pelos cafetões (“cafitismo”), iniciavam um zelo maior com as doenças sexualmente transmissíveis, na época a Sífilis. No Rio de Janeiro surge o primeiro jornal pornô do século XIX com dicas e divulgação das mulheres prostitutas e locais para o sexo. Ao longo da história, a sexualidade no Brasil, estava numa prática libertina, porém, autorizada aos homens, mas dentro de uma norma moral religiosa do processo colonizador pelas orientações da moral católica. Depois a sexualidade começa a ser relacionada com a questão da organização social/política e econômica. Em Getúlio Vargas, com seu nacionalismo associado com a visão da nação forte com a preservação da família, da propriedade. O bom cidadão passa a ter orientações sobra a sexualidade através de manuais sobre educação sexual; manuais sobre casamento. Até o dia das mães foi estabelecido no Brasil no período de Getúlio Vargas. Hitler também fez o mesmo na Alemanha, para defender a raça pura e com isso a mãe geradora e provedora da prole para uma nação soberana. Nos manuais de sexualidade, a ênfase era no corpo do homem sem que as mulheres tivessem a mesma abertura para o auto conhecimento. Nestes manuais, não havia imagens sobre o aparelho reprodutor feminino, apenas o masculino. Nesta trajetória saímos da Sífilis do Século XIX e nos encontramos com a AIDS do século XX. Já com a juventude transviada, os hippies, a liberação sexual, a emergência da pílula e a liberdade da mulher. Mulheres e homens podem estar em um mesmo patamar de igualdade. Com uma forte liberdade ainda ao homem. Mas as mulheres começam a se permitir ao prazer e a liberdade do corpo, uma experiência desta abertura foi a revista Ele/Ela nos anos 70 em que associava a liberdade sexual com corpos bem definidos, homens com ênfase na força muscular (machões) e mulheres estilo Barbie. Paradoxalmente neste contexto de abertura e igualdade, aumenta a violência contra a mulher. Hoje no Brasil 7 mulheres são estupradas por hora. Hoje, o tema sexualidade continua na ordem de tabu, mas temos a emergência do beijo gay e do nu frontal nas novelas. Homens e mulheres se revelam nas suas opções sexuais. Chegamos à fase de relacionamento de gênero em que um mesmo indivíduo pode conjugar várias formas de expressar sua sexualidade, em diferentes dimensões e papeis. Nesta síntese histórica, sabemos que há fatos e fatos, fragmentos e mais fragmentos que precisam ser conhecidos para termos melhor entendimento das tramas da sexualidade. Mas há uma vasta literatura na qual indico que busquem. Uma historiadora que tem uma capacidade magnifica de falar da história com paixão, em que a pesquisa não fica só na “historiografia”, é Mary Del Priore, podemos citar dentre muitos de seus livros: História do amor no Brasil; Histórias íntimas. O importante é ler a história, o hoje é resultado de um ontem. Quando viajamos em uma boa pesquisa de história conseguimos identificar fatos de hoje que são consequências do ontem. O que observo é que podemos identificar no relato de pacientes, nas entrevistas institucionais, nas tramas de escola, etc. que temos fragmentos de histórias de diferentes épocas vividas hoje como se ainda possuíssemos cenários do Brasil colônia e dos séculos XIX, XX e XXI. Parece que no Brasil vivemos todas as épocas ao mesmo tempo, só vai depender do local onde nos encontramos. Como já nos lembrou Domênico Di Masi, no Brasil podemos identificar vários períodos da história conforme a região em que se está localizado. No Brasil, observa-se numa mesma cidade traços da sociedade pré-industrial, industrial e pós- industrial . Assim também se dá nas tramas da sexualidade. |
|||
| |||
|
Visualizações: 992