Sobre livros - A escola emburrecidaPublicado em 22/05/2017 Tenho insistido com as escolas que é melhor diminuir a quantidade de tarefas escolares para casa e aumentar o número de livros para o aluno ler dentro do ano letivo. Mas esta minha solicitação sempre caiu no vazio, entra ano e sai ano as escolas continuam investindo nas tarefas para casa e indicando poucos livros para o aluno ler. Na maioria das que sugerem algo, o sistema é quase o mesmo. Fazem uma lista de livros para o aluno ler no ano, indicando qual livro e editora. Nesta atitude, surge a dúvida: Será que os alunos não são capazes de escolher o que ler? Será que as bibliotecas das escolas e as municipais não possuem um acervo de livros suficiente para que os alunos escolham? Será que tem gente ganhando benefícios de editoras? Enfim, perguntas e mais perguntas. A minha conclusão é que a ESCOLA brasileira está emburrecida . Travada na grade curricular e sem criatividade. Não tem outra explicação, pois já temos pesquisas suficientes e experiências suficientes que mostram o quanto ler um livro é saudável e desenvolve capacidade de cognição nas crianças, adolescentes e adultos. O Brasil, comparado com países com melhor desempenho escolar que o nosso, lê absurdamente menos. Se na França a média é de 18 livros por ano por cidadão, no Brasil temos a ridícula marca de 2 a 3 por cidadãos que leem, ou melhor, que sabem ler. Se levarmos esta estatística para todos os brasileiros que sabem ou não ler, veremos que nosso índice de leitura é negativo. Conversando com o proprietário de uma livraria em Vitória-ES, ele falava que a busca por livros acontece muito pela indicação da escola, e são livros específicos. Ele mesmo acha que esta forma de direcionar a busca por parte da escola, dificulta o aluno ir até a livraria e tentar escolher os livros os quais ele mais se identifica. Este proprietário disse-me que há um monopólio das editoras em literaturas para consumo, daquelas que o leitor consegue ler rápido e que vai exigir pouca elaboração do mesmo. Nas feiras de livros que as escolas promovem, geralmente chega um livreiro com grande quantidade de livros rasos, isto é, vendáveis. É as séries fantasiosas que dificulta o aluno entrar na realidade e ao mesmo tempo navegar em uma fantasia. Assim, as escolas têm a sensação que estão fazendo cumprir seu papel de promotoras do incentivo à leitura, mas no fundo entraram no jogo da superficialidade. Mas quais leituras são importantes para que um aluno tenha ganhos no seu potencial cognitivo? São os livros adequados para sua faixa etária, e para cada uma delas teremos milhares de indicações. A indicação é: até os sete anos prevalece a fantasia, quanto mais fantasiosos melhor; depois, até os doze anos, uma boa mistura entre fantasia e realidade ainda prevalecendo a fantasia; já na adolescência a fantasia continua, pois ela dá o charme na literatura, mas prevalecerá a realidade. É por que na evolução das diferentes faixa etárias, a fantasia e a realidade vão se mesclando na construção do imaginário humano, é o processo da psicologia do desenvolvimento. Por isso que há livros infantis que muitas crianças não conseguem absorver por terem uma dose muito ampla de realidade. No meu primeiro livro infantil “Festa na praia alegria no mar” que lancei em 2012, errei em ter colocado uma dose muito forte de realidade. Tudo bem que o livro era um relato histórico, que precisava ser monitorado em sala de aula com o professor, ou ser lido por um adulto ao lado. Mas até com esta assessoria de um adulto, o livro ficou muito denso. Este dado é importante perceber, pois a questão do aluno se interessar ou não na leitura de um livro, depende muito desta percepção da fantasia e da realidade que o livro se propõe. Já atendi pacientes que estavam incorporados em personagens de livros, deste de séries. Adolescentes que escolheram ou caíram nas grades da leitura fácil e entraram numa viagem em textos somente fantasiosos e desconectados da realidade. Na adolescência a fantasia tem que estar em menor dose que a realidade. Aí o que é um livro bom para se ler? Aquele que a trama acontece em tempo, espaço que o adolescente consiga contextualizar. Lógico que ler um livro de pura imaginação sem conexão com a realidade, é bom como um lazer. Mas ficar só nesta vertente, pode levar ao rompimento com a realidade. Deixo aqui também uma dica para levar crianças e adolescentes com baixo índice de leitura, a começarem engrenando nela. Comecem com livros de poucas páginas e associados com temas de interesse do aluno. Tipo, o aluno é viciado em jogos eletrônicos, procurar alguns livros que traga uma trama que tenha este contexto do eletrônico. O aluno é apaixonado por futebol, cavalo, brigas, etc., busquem livros que tragam estes cenários específicos. Não quero esgotar este tema neste artigo, vamos desdobrar esta conversa em outros artigos. Para finalizar este, gostaria de ver as escolas enviando uma lista de pelo menos 2000 livros para cada faixa etária dos alunos, para que os pais e mesmo os alunos, aqueles maiores, pudesse procurar nas bibliotecas. Foliar o livro e escolher qual gostaria de ler. E orientá-los que se nas primeiras páginas o livro não estiver agradando, poderia escolher outro. Mas cada aluno teria que apresentar o que leu em sala e deveria ter a tarefa de ler no mínimo 2 livros por mês e no ano 24 livros. Com certeza teríamos um ganho ao longo dos anos na carreira educacional de nossos alunos. Iríamos ver a melhora no desempenho escolar em todas as áreas do conhecimento. Os escritores iriam ficar muito felizes e também as editoras. Acho que as livrarias seriam novamente um investimento interessante, e as bibliotecas públicas estariam bem mais cheias de leitores. |
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