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Qual o principal fator que leva uma pessoa ao ato suicida?

Publicado em 08/08/2018


O suicídio continua assustando muitas famílias, principalmente as que passam ou já passaram por algum episódio suicida. Tempos atrás, ao ouvir notícias de pessoas que cometeram o suicídio ou tentaram se suicidar, não ficávamos tão chocados, pois pareciam raros. Agora, o suicídio é uma realidade que assombra a todos, pois o quantitativo de casos aumentou de forma assustadora, tanto no meio rural como no urbano. Neste artigo, não vou me apegar a números estatísticos, contudo, é importante ressaltar que no Brasil houve um aumento vertiginoso de suicídio nos últimos cinco anos. Os números oficiais não condizem com os números reais. Muitas famílias omitem o motivo do óbito por suicídio de algum parente, como se relatar o fato expressasse alguma mazela familiar. A própria impressa, falada e escrita, evita noticiar atos suicidas com a ideia de que ao fazer vão estimular mais pessoas a cometerem este ato.

O não dito, na verdade, colabora para que a sociedade não veja os fatos, não olhe para as pessoas com chances suicidas e consequentemente não as ajude a buscar socorro. Acredito que quanto mais falarmos e sermos notificados sobre o assunto, mais vamos poder estar atentos a esta realidade humana. Nosso assombro nos mobiliza para sairmos do mundinho pessoal para olharmos ao redor e perceber as pessoas que possam estar em sofrimento. 

Qual o principal fator que leva uma pessoa ao ato suicida? 

Hoje, sabemos que um dos principais fatores que levam uma pessoa ao ato suicida é a depressão. Muita gente está em suas casas, trabalhos ou praças com sintomas de depressão. Nas famílias, sem que possamos perceber, pode existir um ou outro que está em depressão, mas nossa tendência é de não nos importarmos com isso. Muitas vezes no núcleo familiar aqueles que estão com algum sintoma de sofrimento emocional acabam sendo criticados, como se estivessem com preguiça ( “os que não levantam da cama” ), os que não conversam ( “por serem fechados mesmo” ), os que se trancam no quarto ( “viciados em eletrônicos” ), os que variam de humor ( “uma boa cachaça ou cervejada pode resolver o problema” ); enfim, cenas e mais cenas familiares que podem dar o sinal de que há algo errado ou fora de lugar com um membro da família, mas que deixamos passar. Pior é quando atribuímos aquele comportamento tristonho, de fechamento e isolamento à frescura ou falta de Deus. 

A perspectiva que 80% dos suicídios acometam pessoas com depressão, nos faz pensar em algumas atitudes. O primeiro passo é olharmos para a depressão alheia,  identificarmos se um indivíduo está deprimido ou com sintomas que se aproxima de depressão, e assim provocar um meio de intervir. Há situações que é preciso se intrometer, pois na depressão a pessoa está sem autonomia para agir. Se esperarmos o indivíduo deprimido pedir ajuda para só depois ajudarmos, vamos ficar quem sabe, assistindo de camarote uma cena suicida. Não deixe passar a oportunidade de se aproximar daquele o qual observa e que manifesta algum sintoma de depressão, mesmo que cometa um erro na sua percepção, quando entrar em contato com a pessoa e ver que não está deprimida. Ao perceber uma pessoa que está no quarto fechado, na cama ou preso no computador ou celular, peça para entrar sem medo, se for preciso arrombe a porta. Pode ser que a pessoa esteja no quarto apenas como num espaço íntimo sem a conotação depressiva, mas pode ser que já esteja em profundo sofrimento emocional.

A depressão é um quadro que pode ser observado já no primeiro ano de vida. Hoje, a Sociedade Brasileira de Pediatria já orienta os pediatras a observarem tal tendência. Há formulários e questionários que o pediatra pode usar para observar a depressão nos primeiros anos de vida. Eu tenho avaliado crianças ainda bebês, em sessões com a mãe, para percepção da instauração de um processo depressivo. Quanto mais cedo o diagnóstico e intervenção acontecerem, maior será a chance da cura da depressão. 

É preciso falar sobre suicídio 

O suicídio é um ato decorrente de uma mente aprisionada por sentimentos negativos no qual a pessoa não tem forças para agir.  Vai sentindo-se sufocado e chega uma hora que cometer o suicídio pode ser a única saída. Sabemos que apenas medicar a depressão não é o caminho, pois muitos suicidas estavam tomando medicação psiquiátrica e mesmo assim cometeram suicídio. Alguns se suicidam mesmo em clínicas de psiquiatria com todo aparato possível de suporte. O processo de ajuda passa por novos caminhos, ocorre pela avaliação medicamentosa,  pela presença de cuidado dos familiares, pelo cuidado positivo e propulsor e pela psicoterapia de suporte contínuo. Nos casos de depressão bem definidos, a psicoterapia não pode cair na tentação interpretativa, mas sim de suporte, apoio. 
A sociedade possui hoje uma organização que oferece o ato de ouvir para ajudar outras pessoas que estão no sufoco e com pensamentos desviantes, principalmente do desejo de suicidar-se, é o CVV (Centro de Valorização da Vida). São cidadãos treinados para o ato de ouvir, que ficam em processo de revezamento para acolher as queixas via telefone e mais recentemente por meio on-line. O CVV foi fundado em São Paulo, em 1962. Nos primórdios, recebeu influência dos Samaritanos Internacionais, grupo originário da Inglaterra, em 1953. Atualmente está inserido em todos os estados brasileiros.

No estado do Espírito Santo o CVV tem 61 voluntários e 7 em término de estágio. Quem deseja fazer parte do voluntariado do CVV, pode enviar uma solicitação de inserção para o e-mail: vitória@cvv.org.br , em seguida receberá uma ficha de inscrição. Segundo a voluntária responsável pelo setor de formação do CVV Espírito Santo, Regina Celi Sthel Duque, o próximo processo de formação será realizado nos dias 21 e 22 de agosto no auditório da Faculdade Americana. Após a formação, se o candidato se identificar com a proposta, começa o treinamento em pequenos grupos que tem duração mínima de oito semanas com encontros de 3 horas de duração. Depois acontece a avaliação para ver a aptidão do candidato para o voluntariado. Após três meses do processo inicial são realizadas aulas de reforço e uma nova avaliação, a partir daí não tem mais necessidade de formação obrigatória, apenas encontros de trocas de formação complementares. Pelo que informou Regina, observa-se que a CVV é uma instituição muito séria. A meu ver é uma das principais referências de ajuda na escuta que temos no Brasil.

Regina informa que pelo telefone 188, ligações gratuitas, as pessoas recebem o atendimento dos voluntários das 8h às 18h, exceto aos sábados e domingos. Também há o CVV comunidade em que voluntários vão proferir palestras, seminários, rodas de conversa, pontos de escuta, cine SER CVV. Há os atendimentos pela WEB e Voip, atendimentos por voz e e-mail, onde há grande procura por adolescentes. Neste campo faltam voluntários. 

Hoje a CVV atinge uma média diária de 9000 ligações com pouquíssimas perdas. No Espírito Santo tem a sede em Vitória, posto de atendimento em Linhares e Cachoeiro de Itapemirim e com perspectivas para Guarapari. Em alguns estados já existe na CVV o GASS (Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio) e segundo Regina, não há esta estrutura no território capixaba por falta de voluntários. Também informou que as cidades que desejam receber palestras e seminários pelo sistema CVV comunidade, precisam entrar em contato com a sede em Vitória. O endereço da CVV na cidade de Vitória é: Av. Alberto Tôrres, 153 - Jucutuquara. Em frente ao portão lateral do IFES. 

Neste contexto, é muito importante a estrutura da CVV que já se tornou uma referência na especialização da escuta anônima e que tem ajudado na prevenção ao suicídio. Este, pode ser o primeiro caminho para ajudar aqueles que precisam, indicar o telefone e incentivar a ligar quando estiver no sufoco. Mas também a formação que a CVV oferece pode potencializar as pessoas na capacidade de perceber e orientar outras pessoas em risco de suicídio. Indico que as pessoas busquem pela formação sem necessariamente precisar assumir o voluntariado. Vale a pena receber esta formação.

Procure ajuda, para o próximo ou para ti! 

O olhar de ajuda a quem precisa é um santo remédio para que não caiamos na angústia e depressão. O ato de ajudar, acolher e encaminhar pode nos fortalecer como cidadãos. Ampliar a rede de solidariedade aos que sofrem emocionalmente é um caminho palpável de nos aproximarmos do outro como irmãos, construindo juntos uma sociedade pautada no bem estar emocional. Quando ficamos fechados em nosso mundo e voltados apenas para as nossas necessidades pessoais corremos o risco de cairmos no vazio existencial e consequentemente no sofrimento emocional. A dor do outro, o sofrimento de outra família, o adoecimento emocional do coletivo, desencadeia um sentimento de fuga e inadequação ao meio. É o que chamamos de efeito do inconsciente coletivo. Se uma sociedade se fecha em si mesma e seus membros se fecham nas suas particularidades e o imaginário coletivo é sobrecarregado de negativismo, destruições, perdas, mortes etc., vamos assimilando este sentimento e aos poucos estamos no atoleiro da morte. Mesmo que eu não esteja em sofrimento, a onda de sofrimento no coletivo me afeta também. Ao sair do meu mundo e procurar ajudar aquele que precisa, estou colaborando para a criação de um antídoto contra o mal, o negativo, a morte. Passo a fazer parte de um time dos que desejam a  vida em plenitude. A vida passa a ter um forte significado. Aqui, o inconsciente coletivo pode permutar de uma sociedade negativa e auto destrutiva para uma sociedade solidária, onde todos nos sentimos irmãos e pertencentes a grande família que é a humanidade. 

Ao olhar ao seu redor procure identificar se alguém está precisando de seu olhar, de sua atenção e afeto e principalmente de seu ouvido. Agora, se ao olhar no espelho, ver a ti mesmo em sofrimento, não guarde para si, diga para alguém, procure uma ajuda. 

A questão do suicídio está de fato despertando as ciências humanas e principalmente no campo da Psiquiatria e Psicologia já vemos amplas pesquisas sobre o tema. Vitória vai receber o II Congresso Brasileiro de prevenção do suicídio que acontece nos dias 30 de agosto a 1 de setembro , no Centro de convenções de Vitória, organizado pela ABEPS (Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio). No dia 29 de Agosto acontece o VI Seminário de prevenção ao suicídio do Espírito Santo, no mesmo local. Para inscrição, acesse o link: www.abeps.org.br/congresso2018. 





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