Bebês obesos, crianças assustadas, jovens tristesPublicado em 02/05/2019 Vivemos em uma sociedade cujos valores de existência e de sentido de vida têm sido esvaziados pelas práticas de consumo. A máxima da subjetividade atual, que é o “ter” em detrimento do “ser”, respalda o modelo voltado para os valores econômicos e para a produtividade, e gera nas famílias, principalmente nos pais, a perda de referenciais sobre o processo educativo. Exposição precoce às telas e suas consequências Dessa forma, vemos emergir os resultados negativos que atingem diretamente as idades com menos recursos de proteção e que mais precisam de referências para o processo de formação. Bebês, crianças e jovens já apresentam reflexos dessa nova configuração social. A Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um alerta, baseado nas observações e no guia elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com recomendações aos pais de bebês. Nele, indicam que menores de dois anos não devem ter contato com telas (smartphones, TVs, computadores) e que sujeitos acima de dois anos devem tê-lo no máximo uma hora por dia. Isso porque há um aumento no sedentarismo nessa faixa etária e também alteração no sono. Dois aspectos que trazem consequências desastrosas para o ganho de peso e para a perda de potencialidades cognitivas. Mas, ao contrário, não é essa a preocupação dos pais que vemos por aí. Eles deixam seus bebês hipnotizados nas telas dos smartphones e das TVs, os quais são uma excelente babá eletrônica. Os pais ficam até encantados com a capacidade dos bebês em manusearem os aparelhos. Outra demanda da atualidade é o crescente número de crianças acima dos cinco anos que se encontram assustadas e com sentimentos persecutórios e destrutivos. Com a liberação do acesso à internet também aos menores bebês, as crianças ficam horas em filmes ou canais do YouTube sem nenhum controle do que estão vendo ou jogando. Aí aparecem personagens como o MOMO, que penetram na rede pelos filmes e pelos jogos infantis e aterrorizam as crianças que se encontram online. O jornal A Gazeta do dia 21 de março de 2019 relata um caso de uma menina de três anos que começou a dizer para a mãe que queria matar seu irmãozinho de seis meses. A influência digital e os perigos do conteúdo não monitorado A mãe ficou apavorada e começou a questionar a filha o motivo de ela falar aquilo, e a filha disse que um boneco aparecia na hora em que ela estava assistindo ao desenho e falava para ela matar o irmãozinho. Em outra oportunidade, ela jogou o celular no chão e foi correndo em direção à mãe, assustada, e não disse nada. Era o MOMO que aparecia com mensagens negativas. Essa criança já domina o processo de entrar no YouTube desde os dois anos. Neste fato, observamos um nítido sinal de que os pais dessa criança liberavam o celular sem sequer saber o que a filha estava usando. Recentemente, temos relatos de muitos casos de depressão no meio artístico. Falo isso, pois essas pessoas se tornaram referência para as crianças e jovens, até mesmo mais que os próprios pais. Uma vida teoricamente perfeita, cheia de humor, reconhecimento, selfies, não é suficiente — e esse é o caso de milhares de jovens que a cada ano caem nas artimanhas da depressão, por diversos fatores. Um deles é a perda de referenciais educacionais por parte da nova geração de pais da faixa etária juvenil. Parece que estes caíram na artimanha de acreditarem que o jovem já é autônomo e não dispendem muita atenção a eles; também existe a falta de perspectiva profissional, que deixa muito jovem sem expectativa nos estudos e no trabalho, e outro fator gritante é a carga horária excessiva no uso dos eletrônicos — cada vez mais distantes dos contatos humanos e mais próximos da tecnologia. O resultado vem “a cavalo”, a depressão bate à porta mesmo. Imaginem a futura geração de jovens que já estão cheios de hábitos dissociativos de vínculos afetivos desde a vida de bebê e da infância, conforme pontuei acima. Vamos precisar de muitos psicólogos para dar conta dessa terrível demanda, como já acontece. Depressão, vínculos afetivos e a urgência de novas atitudes Vale a pena, na condição de pais e de educadores, insistir no monitoramento dos bebês, das crianças e dos jovens nesse processo de estar junto e de criar meios de envolvê-los em atividades criativas conforme cada faixa etária. Nossas famílias, encantadas com a lógica do consumo, sem muitas vezes terem sequer condições financeiras para bancar esse desejo, são consumidas por essa ótica, a qual desconsidera as relações e enfatiza o sucesso pelo “ter”. Mas o resultado está gritando dentro da própria casa. É preciso continuar acreditando que podemos fazer a diferença e que podemos construir lares e famílias desejosas de viverem plenamente a vida. |
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