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Psicologia do desenvolvimento infantil – Da fecundação à gestação

Publicado em 20/02/2020



Tomando como referência certo campo da Psicanálise¹, vamos pensar a Psicologia do desenvolvimento infantil desde o ato fecundativo. Mesmo Freud não tendo pensado o desenvolvimento da psique em uma fase pré-natal, seus seguidores e pesquisadores do desenvolvimento infantil a partir da psicanálise desenvolveram e estão desenvolvendo sistematicamente pesquisas sobre a influência do ambiente intrauterino no desenvolvimento emocional da criança, bem como suas influências para as próximas etapas do desenvolvimento humano. Aqui vou me utilizar, para este tema específico, das pesquisas desenvolvidas pela Neuropsiquiatra e Psicanalista Italiana Alessadra Piontelli², para que possamos pensar esta etapa do desenvolvimento da criança não apenas pela via dos mitos que a vida intrauterina ainda suscita em muitos pais e pensadores da área da humanidade. Falo de mitos do tipo: Fixação de traumas decorrentes de cenas que o feto presenciou na vida intrauterina, sem mesmo existir esta possibilidade real, tendo em vista que o cérebro da criança nesta fase não consegue ter memória fotográfica (mesmo assim alguns  ainda se utilizam da ultrapassada técnica da hipnose para processos de reconstituição de cenas da vida intrauterina). Aqui, nossa reflexão perpassa pelas vias dos dados mensuráveis, do que julgo científico.

A psicologia do desenvolvimento infantil nasce no desejo do casal em ter um filho

Atualmente, vemos muitos casais realizando encontro festivo entre amigos para revelar qual é o sexo da criança que estão gestando. Esta é uma expectativa antiga que, no passado, pela falta de recursos técnicos, os casais ficavam ao longo de toda a gravidez imaginando o sexo daquele ser que estava sendo gestado. Agora isto virou festa, pois há exames que proporcionam a percepção já no início da gravidez. Esta expectativa conota um desejo, de se gerar um filho. Assim, a psicologia do desenvolvimento infantil nasce no desejo do casal em ter um filho, é inclusive anterior ao ato fecundativo. Tanto que, em uma criteriosa entrevista de anamnese para atendimento em psicologia infantil, preconiza-se uma pergunta que remete a desvendar como aquela criança foi planejada. Lógico que estou abordando este tema a partir de um processo natural de construção de uma gravidez. Porém, mesmo em situações em que a criança não foi planejada e a fecundação aconteceu sem que o casal quisesse, ou mesmo em um ato sexual em que era apenas uma aventura, este histórico é importante para se observar como que a notícia da gravidez repercutiu no casal, na mãe e nos familiares e amigos.


A etapa da fecundação 

Passado pela força do desejo tem a etapa da fecundação. Lógico que são poucos os que conseguem identificar o dia em que fecundaram o filho, mas esta é uma simulação possível de ser feita, e entendo que seja muito saudável. Já colaborei com muitos casais a identificarem o possível dia da fecundação do filho e também a procurarem no histórico pessoal quando eles próprios foram fecundados. Incentivo muito aos gestores navegarem na própria história para que tenham esta percepção de laços e construções de referenciais. Daí, podemos observar que muitos mitos e receios em torno de uma gravidez podem estar diretamente associados às histórias que os genitores passaram e que podem estar reproduzindo no momento de se decidir pela fecundação. Os casais que decidiram engravidar e conseguem identificar o momento exato do ato fecundativo, vivenciam uma experiência marcante que pautará toda a existência da criança. Pais que deram ênfase na fecundação revelam um elemento altamente desejante. Mesmo que não tenham acesso ao dia exato, e não conseguem imaginar em que ato sexual possa ter ocorrido a fecundação, o entorno da decisão de se ter um filho já é um ponto altamente favorável para a construção de um processo gestacional com ambiência de tranquilidade ao feto.

Crianças desejadas e planejadas podem passar pelas etapas da vida intrauterina com um ambiente melhor. Piomontelli foi a precursora da psicanálise em desenvolver pesquisas da vida intrauterina. Como Neuropsiquiatra a pesquisadora utilizou-se dos avanços da ultrassonografia e acompanhou crianças desde o período gestacional até estágios posteriores do pós-parto. Nestes estudos, Piomontelli conclui que o ambiente favorável, tanto fisiológico como relacionado ao desejo de se gestar o filho e/ou ter-se assumido a gestação mesmo em situações não planejadas, colabora para que o meio intrauterino tenha um desenvolvimento relaxante, mais sereno. Mesmo em momentos da gravidez que haja riscos fisiológicos ou situações desconfortáveis à mãe, o fato de ter assumido o processo gestacional pela gestante e seus familiares, como também o companheiro pai, somam favoravelmente à superação do problema.

O estímulo sonoro 

Até aqui, estamos pontuando brevemente o fator desejante na influência do ambiente intrauterino, e que os estudos por monitoramento de imagens proporcionaram a percepção da evolução natural das etapas que a criança passa no desenvolvimento gestacional. São as posições, a respiração e o ritmo cardíaco que revelam estabilidade no processo. Porém, outro fator que interfere no ambiente intrauterino é o estímulo sonoro. Feijo, em 1981, citado por Piomontelli, inicia as observações do feto por estimulação musical, o que trouxe mais clareza sobre a realidade de que o ambiente externo, pelos sons, pode sim influenciar o desenvolvimento gestacional. Neste sentido, rituais que muitos pais já faziam, de colocar estimulação sonora agradável próxima da mãe, ou no ambiente residencial, hoje são coadunados pela percepção científica quanto ao desenvolvimento saudável do feto.


Toques afetivos à barriga da mãe, um casal que consegue manter o vínculo afetivo com manifestação amorosa, expectativas positivas e desejantes dos que estão ao entorno da gravidez, estímulo sonoro não estressante e cuidados fisiológicos, são os principais elementos que somam favoravelmente na gestação. Ao falarmos disto, parece que estamos incentivando a ideia de que gravidez é algo frágil. Lógico que não, a gravidez não é um estágio de fragilidade e nem de doença, mas se os gestantes não estiverem imbuídos e implicados favoravelmente aos nove meses de gestação, qualquer estímulo externo negativo de fato poderá levar a uma fragilidade de postura e a uma consequente transformação do que é sublime em algo perturbador.

Alterações emocionais da gestante podem influenciar no desenvolvimento da criança?

Alterações emocionais da gestante podem sim influenciar no desenvolvimento da criança ao longo do processo gestacional, porém, temos que tomar muito cuidado em não querer transformar os problemas emocionais da mãe gestante em um determinante na vida emocional da criança no pós-parto. Monitorei muitas mães que estavam em tratamento psiquiátrico por quadros de transtornos emocionais e que conseguiram passar pela gravidez de forma favorável e não tiveram filhos posteriormente com problemas emocionais por causa da disfunção emocional da mãe. Temos apenas que observar se os fatores de alteração emocional da mãe poderão desenvolver nela uma repulsa com a gravidez ou mesmo um distanciamento emocional do filho após o parto, é este distanciamento e rompimento dos laços afetivos que pode instaurar disfunções emocionais na criança posteriormente. É possível identificar durante a gravidez traços de desenvolvimento de transtornos emocionais que venha emergir na mãe após o parto, mas, para isto, é necessária uma avaliação psicológica da mãe durante a gestação, principalmente se a mesma ou seus familiares identificam que tenha algum comportamento que possa dar sinais de alguma disfunção futura, como, por exemplo, os casos de psicose puerperal ou depressão pós-parto. Quando a gestante está mais entristecida e alterna muito seu humor ao longo da gestação, por motivos não fisiológicos, tipo, ficar chorando continuamente, ai sim é melhor prevenir.    

  Fecundação e gestação, de fato, pelos aspectos acima descritos, representam fases de extrema importância para as etapas de desenvolvimento psicológico da criança. São os fatores estruturantes das demais fases, o alicerce do desenvolvimento psicológico de um ser humano.


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¹ A partir de estudos dos psicanalistas: Melanie Klain; Winnicott; Arminda Aberastury; Raquel Soifer; Maurício Knobel. 
² PIONTELLI, A. – De Feto a Criança, editora Imago, RJ, 1995. 


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