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Psicologia do desenvolvimento infantil – do parto aos seis meses

Publicado em 04/03/2020


Dando sequência às problematizações acerca da Psicologia do desenvolvimento infantil, vamos pensar a criança após o parto até os seis meses de idade. Esta é uma etapa de vida que está estruturada em franca dependência dos pais e/ou dos adultos responsáveis mais diretos. Esta é uma fase que os adultos encaram com muitas incertezas e inseguranças, tanto que é também uma etapa de vida onde as mães de bebês nesta idade tendem a desencadear a depressão pós- parto, principalmente se já apresentavam uma pré-disposição, principalmente por que é uma etapa de inseguranças para quem cuida de uma criança. Muitos adultos estão ao redor de bebês até os seis meses de idade, assim, o que aparentemente seria uma preocupação apenas dos pais, é também uma preocupação dos avôs, tios, e também de profissionais que trabalham em escolas maternais ou creches. Cada vez mais os bebês são cuidados em equipamentos educacionais ou berçários pela necessidade dos pais trabalharem.

O bebê e a sua dependência de terceiros 

Como seres humanos, somos uma espécie dependente de terceiros. A fase de desenvolvimento que mais comprova esta dependência é os seis primeiros meses de vida. A criança só consegue amadurecer seus órgãos vitais ao longo destes seis meses através dos braços que cuidam. O afeto, interação emocional dos que cuidam do bebê, é o fator primordial para que os órgãos amadureçam, como: intestino, pulmões, cérebro, etc. Por este motivo que nossa maior vocação humana é a vocação para o encontro. Segundo René Spitz, em seu livro “O primeiro ano de vida”, esta fase é substancial para a fixação de vínculos afetivos positivos e ou negativos e, consequentemente, possíveis instaurações  de doenças decorrentes do contato, ou da falta dele, como é o caso da maioria das doenças de pele, que são manifestadas já nesta idade ou afloram depois em outras fases do desenvolvimento, alguns casos vão surgir só na vida adulta. De fato, se você perguntar para um médico dermatologista qual é a principal causa das doenças de pele, ele vai lhe dizer que são as disfunções emocionais.

Mas aqui quero discorrer sobre alguns mecanismos inerentes ao desenvolvimento psicoafetivo desta fase. Dentro da perspectiva traçada por Freud, nesta fase entre o parto e os três primeiros meses, o ego do bebê é um ego corporal, pois a criança está imersa exclusivamente na necessidade alimentar. Ela sai do útero materno vinculada à mãe pelo cordão umbilical e passa a se vincular ao peito materno, o que Freud chamou de auto- erotismo. Em Freud o conceito erotismo desta fase está relacionado à satisfação alimentar. A mãe é assim o primeiro objeto de satisfação do bebê, porém uma satisfação que acontece na bipolarização entre objeto hostil e objeto de gratificação. É uma fase de fixação de pensamentos e lembranças satisfatórias ou não. Desde o início desta relação de dependência, de construção dos objetos bons e ruins, de sentir-se gratificado ou não, a criança já desenvolve seu pensamento através das lembranças satisfatórias ou não. A construção do potencial cognitivo já começa nesta fase.

Desenvolvimento da criança até o três primeiros anos de vida 

Nesta etapa até os três primeiro meses, segundo a psicanalista Malanie Klein, se estabelece no desenvolvimento emocional da criança a angústia persecutória (Posição esquizo paranóide, segundo Melane Klein, por causa deste dúbio sentimento. Depois teremos a posição depressiva, quando a criança já começa a se perceber separada da mãe, entre o quarto e quinto mês). Pela adaptação após o parto, a criança começa a ter que buscar pelo objeto de prazer, que logicamente só será encontrado se a mãe estiver em prontidão para oferecer os seios, assim a criança tem o impulso aos seios no dilema inerente de prazer e frustrações, pois o ato de amamentar satisfaz e frustra. As mães relatam que nesta fase é como se as crianças as sugassem vinte quatro horas por dia. Uma fase que continuamente a criança está vinculada à mãe, e que nominamos de vínculo simbiótico materno/filial. Aqui, a função do ego da criança, na construção de sua estrutura emocional, é de estabelecer o domínio da angústia, o que já é um processo de aprendizado.


Os seios da mãe nestes três primeiros meses de vida é o primeiro brinquedo da criança, como nos mostrou Winnicott em seu livro “O brincar e a realidade”. O bico dos seios é o objeto intermediário que liga o bebê à criança. Pois como a criança e a mãe formam  uma única pessoa, na estrutura de ego da criança, o objeto que liga, media, é o bico dos seios. A pele é também um objeto que faz este estabelecimento de vínculo único com a mãe, por isto que o tato, contato corporal é de suma importância.

Até aqui, mãe e bebê se fundem e por isto é importante que as mães se coloquem plenamente a serviço do filho. Aqui quero ressaltar a importância da licença maternidade, que em alguns órgãos públicos no Brasil é de seis meses. A licença de quatro meses, como ainda está em vigor na iniciativa privada, não deixa de ter sua validade, pois supre a presença da mãe pelo menos nestes três meses de vida. Não tem como fugir desta perspectiva de estar próximo e de cuidar plenamente. Nesta etapa, gosto de lembrar o belo conceito criado por Winnicott, da mãe suficientemente boa, aquela que entende a necessidade de estar interagida plenamente com seu filho recém nascido, e se coloca amorosamente diante deste serviço.

 O papel do pai nos primeiros meses de vida do bebê

Aos pais, que resta fazer? De fato, até os três primeiros meses quase nada. Mas sabemos que a presença do pai ajudando a esposa mãe a cuidar do beb, favorece no reabastecimento afetivo da esposa/mãe. Eis ai uma função do pai, uma bateria que recarrega afetivamente a mãe. E também, se o pai é plenamente presente, estará construindo um terreno propício para que nos próximos meses do desenvolvimento da criança, quando ela já começa a se desvincular da mãe nesta relação simbiótica, se encontre com um terceiro na relação, aquele o qual ela consegue identificar pela voz, contato, decorrente da presença.
E quando a criança não tem nem a mãe e o pai? De fato, vai exigir muita atenção dos adultos que assumiram este papel, tanto dos parentes, como dos profissionais de instituições de acolhida e passagem. Por isto que aos profissionais que trabalham em equipamentos de acolhida de bebeês nesta idade, mais do que o desempenho profissional técnico, é necessária vocação plena ao cuidado. No passado tínhamos as mães de leite, quando a mãe biológica não conseguia amamentar. Nas situações em que quem cuida não possa dar os seios, a mamadeira deverá entrar com muito contato, afeto. Um ato o mais próximo possível da amamentação natural.


Desenvolvimento da criança a partir do quarto mês de vida

Já aos quatro meses a criança inicia sua separação da pessoa da mãe. Podemos observar esta evolução na forma de brincar da criança. Começa as brincadeiras de esconde-esconde, quando puxa o lençol e esconde seu rosto e depois faz reaparecer. Nesta fase já começa a identificar o pai, que, se foi presente desde a gestação e nascimento, terá uma facilidade maior de aproximação. Algumas mães nesta fase do encontro da criança com o pai tendem a tomar posse do filho e impedem esta aproximação, principalmente quando o pai esteve ausente. Mas esta é uma atitude nada saudável da mãe, pois a pessoa do pai é de suma importância no desenvolvimento dos vínculos amorosos. Sempre lembrando que quando não se tem a presença do pai, a criança vai se vincular à pessoa que se faz pai amorosamente. A autonomia da criança acontece de forma muito rápida, o que causa até espanto dos que estão por perto, e também muita admiração. Brinca com seu corpo, brinca com sua voz, observa seus membros e consegue pegar objetos.

Já aos cinco meses a criança começa a distinguir pessoas, isto mostra que ela está evoluindo na capacidade de socialização. Consegue distinguir aqueles que são próximos aos pais, os parentes e os amigos, e também já reage com estranheza na presença de pessoas que não se fizeram presente com frequência. Não dá para esperar que a criança sorria para todos, e muitos pais acham que o filho pode ser um objeto de atração e até de auto promoção, mas quando agem assim, se decepcionam com a criança quando ela chora diante de alguém, como se o filho estivesse desenvolvendo um comportamento de antipatia. Nada a ver, aqui a facilidade de identificação, muitas vezes manifestada no sorriso largo, é a representação do reconhecimento pela aproximação. Há situações que o adulto, mesmo não sendo próximo, é tão acolhedor ao bebê e tem uma capacidade afetiva tão acentuada, que o bebê espontaneamente se coloca nos braços deste adulto, o que prova que nesta fase dos cinco meses, o fator afetivo é o que estabelece a zona de aproximação com o outro.

Aos seis meses temos outra rápida evolução da criança, ela entra na fase de se perceber no espelho, consegue se identificar ao olhar para ele. Se vê refletido, e com isto revela que já é ele total, e não mais uma só pessoa com a mãe. Abre aqui um vasto campo de expansão de seu pensamento para adentrar em novas descobertas. Também aos seis meses começam a surgir os dentes e com eles a capacidade de machucar os seios da mãe que o amamenta. Os dentes passam a ser o sinal de que está na hora de fazer o desmame, principalmente quando nascem os inferiores e superiores que potencializam o ato de morder. O dilema se instaura entre amor e ódio. Um processo que pode desenvolver ansiedade ao bebê e à mãe, pois ele sente que aquele peito que gratifica está agredindo, e ela sente também a ambivalência no ato de amamentar, pois sofre com as mordidas. Lógico que este processo biológico não representa um desejo, uma ação intencional, mas que vai deixando marcas de uma ansiedade decorrente da ambivalência. Falar em desmame a partir da aparição dos dentes num tempo em que os pediatras indicam amamentar até pelo menos dois anos de idade, por causa do valor do leite materno, parece uma dica estranha. Mas temos que entender que o ser humano não evolui apenas por questões alimentares. A ideia de aleitamento materno está associada mais a fatores de suplementação alimentar para famílias em situação de pobreza, em que pelo menos a mãe possa garantir um alimento saudável ao filho sem custos para ela. Uma indicação que de fato salva vidas. Mas sabemos que crianças que passaram por longo período de amamentação tendem ao apego simbiótico de dependência afetiva com a mãe, dificultando o avanço para novas etapas do desenvolvimento emocional.  

Entender sobre estes pequenos detalhes acerca dos seis primeiros meses de uma criança, pode ajudar os pais a desenvolverem melhor a vocação para a “maternagem e paternagem”, conforme já nos ensinou Winnicott, o que nada mais é a maternidade e paternidade conjugados com o desejo de amar plenamente o filho recém nascido.



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