Quando o Filho Chega à Plena MaioridadePublicado em 27/10/2022 Este texto foi escrito em comemoração aos 30 anos de vida do meu filho mais velho, Samuel Iauany. A chegada dos 30 anos de vida marca um momento de extrema importância na vida humana que é, ao menos dentro de estimativas e expectativas, o encontro com a plena maturidade biológica, psíquica, social e espiritual. Sabemos que nosso existir é traçado por etapas dentro de vários aspectos do desenvolvimento biológico, emocional e cognitivo, partindo da primeira infância e cruzando um trajeto marcado por segunda infância, pré-adolescência, adolescência propriamente dita, juventude, vida adulta até a fase idosa e a morte. A média de vida humana no Brasil é de 78 anos para mulheres e 74 anos para homens. Nossa, chegou. Ufa! Uma boa sensação por ver um filho chegar aos 30 anos. E chegar vivo, visto que muitos não conseguem fazê-lo por motivo de morte prematura. Depois, de notar como está, se autônomo ou ainda tentando um lugar ao sol num cenário brasileiro de jovens sem emprego, sem possibilidades de estudar e sem perspectivas profissionais. Depois, se escolheu constituir família ou não, qual a condução de vida que construiu. Assim, a percepção de que aquilo que, como pais, projetamos desde o nascimento para o futuro deles, e que agora já possui a sua própria posição e escolhas. E se deparar com as escolhas do filho que podem não ser as mesmas escolhas do pai. Enfim: Reconhecer o distanciamento natural da maioridade plena, pontuada pelo fim da juventude aos 29 anos e pela plena possibilidade de assumir seus próprios atos. 30 anos e a plena entrada na vida adulta! Eis que temos um legado da tradição judaico-cristã que nossa Sociedade absorveu com o Cristianismo: Jesus Cristo, um Judeu que, na sua tradição, podia assumir a vida pública a partir dos 30 anos. E é por este motivo que toda a narrativa cristã, a partir dos Evangelhos, descreve a saga de Jesus só a partir dos 30 anos, tendo um único fragmento de Jesus aos 12 anos, narrado na passagem de Jesus no templo pelo Evangelho de São Lucas pela caracterização também judaica do término da infância. Nesta tradição, os trinta anos representam, de fato, a plena entrada na vida adulta. Agora já não é mais filho, mas um adulto que segue plenamente suas escolhas. Se esta percepção é entendida pelos pais nesta nova etapa de vida do filho adulto, que já não precisa mais de um pai (principalmente se este já for pai também), o motivo de celebrar os 30 anos do filho se torna de puro agradecimento e plena felicidade. No entanto, se nesta etapa, o controle existencial sobre as escolhas do filho, seus atos e até sua situação financeira ainda bate à porta dos pais, os 30 anos passam a representar a angústia da perda e da morte. Principalmente se o filho assumiu seu projeto de vida e conseguiu se desvencilhar do pai. Celebro a chegada dos 30 anos do meu filho Samuel em pleno momento em que, na campanha presidencial de 2022, há forte proposta da redução da maioridade penal de 18 anos para 16 e 17 anos por parte de um dos candidatos sob o argumento de que possa diminuir a violência no Brasil. Uma falácia que só trará ainda mais para baixo a busca por adolescentes para que entrem no crime (os de 14 e 15 anos) - Busca esta arquitetada por adultos que usam a juventude como massa de manobra no crime organizado. Tipo: “A culpa é dos jovens”. E aqui aponto esta questão, visto que ela faz enorme diferença no processo de condução de crianças e jovens para chegarem a plena maioridade aos 30 anos, pois inverte-se as responsabilidades, jogando para aqueles que ainda estão em processo de formação, antecipando forçosamente responsabilidades para quem ainda não está plenamente amadurecido para tal. Tal fator só fará o Estado se ausentar de suas responsabilidades de cuidar da juventude de seus cidadãos e de seu dever em dar-lhes totais condições para sua evolução natural até a plena maturidade, a tirando da cena do crime e colocando na Escola. Esta bomba no processo educacional dos filhos vai sobrar para a esmagadora maioria empobrecida. O filho de quem vai ficar preso? Do pobre, ou do rico? E aos que possuem estrutura econômica de proteger seus filhos, vai acentuar ainda mais o protecionismo educacional e, consequentemente, o processo de extensão do período maturacional dos mesmos. Se o filho chega aos 30 anos, qual seria a melhor posição de um pai? De não vê-lo mais como filho, na condição de quem ainda precisa de cuidado. Mas, sim, enxergá-lo como um amigo. Um parceiro na caminhada. Deixar de ser filho, pela genética, é impossível. Filho sempre será. Mas, na condição de proteção, o filho morre. Pode-se, para que esta elaboração seja melhor entendida, nominar que nasce um amigo/filho. Lógico que será parceiro de caminhada se, na história de tal caminhada, o pai se fez parceiro. Se não se colocar presente e ao lado até chegar à plena vida adulta, provavelmente o pai ficará na mão, perderá o filho de qualquer maneira e ainda perderá a oportunidade de tê-lo como parceiro de caminhada. Ao chegar aos 30 anos, um filho ainda não se sente maduro o suficiente para assumir a sua plena vida adulta. E isto já pode ser um sintoma de não-evolução. Lógico que, para toda a regra, há exceções, especialmente se tratando de processos educacionais e de vidas humanas. Aqui, o tempo por muitas vezes, é relativo. Porém, não podemos perder de vista o que é minimamente esperado no processo de formação do ser humano. Em 28 de outubro de 2022, Samuel Iauany, que completa seus 30 anos, vem para meu referencial como um amigo, parceiro de caminhada. Pai da Luna e companheiro da Gabriela. Uma outra família que se estabelece e na qual desejo continuar unido nos vínculos afetivos. Agora, mais uma família nesta configuração social em que ter famílias amigas ao redor é sempre bom. |
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