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Saúde emocional e os hábitos pessoais

Publicado em 25/11/2024

Muito tem se falado sobre a saúde emocional e processos de prevenção dos transtornos mentais. Mas observo que não estamos dando atenção aos hábitos pessoais que vamos adquirindo ao longo de nossas vidas, muitos deles nos conduzindo a tais transtornos.


Os hábitos pessoais são caracterizados por comportamentos que fazemos de forma repetida no cotidiano. Dia após dia, ano após ano, vamos repetindo os mesmos hábitos. Se não ficarmos atentos, vivemos mais por repetições de hábitos do que por consciência destes e atitudes que escolhemos vivenciar a cada dia.

Muitos animais tendem a criar hábitos, principalmente os domesticáveis. Aqui, vale muito os treinamentos comportamentais de animais domésticos para terem o maior número de hábitos repetidos a cada dia, o que torna mais fácil a convivência destes com os humanos. Outros animais não-domésticos vivem com hábitos codificados a nível cerebral, a ponto de espécies inteiras repetirem coletivamente o mesmo comportamento sem passar por treinamento, numa repetição de estrutura genética codificada. Por exemplo: As tartarugas marinhas, ao serem desovadas na praia, automaticamente caminham rumo ao mar até sentirem o toque de suas patas na areia da praia. Este processo dos filhotes faz memória cerebral a ponto de voltarem a desovar depois de 25 anos na mesma praia de origem, mesmo sem treinamento para tal.


Um cachorro cria o hábito de dormir no canto de uma parte da casa e dificilmente conseguimos fazer ele sair deste canto quando quer dormir após a consolidação deste costume. Sendo ele domesticável, é possível treiná-lo para dormir em outro canto que não invada a privacidade de quem também mora na casa. Porém, muitos cachorros conseguem até fazer seus donos dormirem no chão para que fiquem na cama, pois assim lhes foi permitido.


No caso dos humanos, é diferente. Podemos ser treinados para fazer as coisas do cotidiano de forma controlada / imposta, ou por processo de conscientização. Por exemplo, escovar os dentes, que se for imposto controle, poderá levar o sujeito a só fazer se alguém mandar, ao contrário de fazê-lo por consciência da higiene bucal. Por isso, que neste exemplo específico do escovar os dentes, quando a família traz elementos lúdicos às crianças, fazendo com que entendam a importância da ação, não precisarão de alguém para ficar lembrando-as deste hábito. Lembro-me que tinha muita dificuldade em escovar meus dentes quando criança, mas, depois que assisti uma palestra na pré-escola de uma dentista que fez uma linda exposição sobre os perigos da não-escovação, fiquei preocupado com os efeitos negativos. Daí para frente, nunca mais deixei de escovar os dentes. E quantos foram os hábitos a nós impostos e que, na vida adulta, abandonamos por escolhas pessoais. Porém, há muitos outros hábitos que repetimos sem pensar por anos e anos de controle comportamental educacional dos pais.


Até aqui, parece que nem entrei no tema de nosso texto. Mas, para pensarmos em hábitos, precisamos entender como estes são introduzidos e se manifestam em nossas vidas. Hábitos podem ser destrutivos e construtivos. Podem promover saúde (física e emocional), ou destruir nosso corpo e levar-nos a transtornos emocionais. Se, por exemplo, a pessoa aprendeu desde criança a ir dormir muito tarde e, ao longo dos anos, sempre dormiu poucas horas de sono noturno, além dos prejuízos no desenvolvimento fisiológico, surge a predisposição para doenças fica um campo aberto. E, no movimento contrário, a pessoa que foi se habituando a dormir oito horas de sono noturno ao longo dos anos terá mais defesas fisiológicas e prevenção à saúde emocional.


Quando os hábitos podem virar transtornos emocionais?

Quando colocam a pessoa em estado de dependência, principalmente de substâncias químicas (lícitas e/ou ilícitas); quando há apego a eletrônicos que leva às perdas cognitivas, afastamento social e/ou depressão; quando o sono não faz ciclo de oito horas noturna e, ao longo dos anos, perde-se a subjetividade, acesso aos sonhos e consequente perda de produção das substâncias neuronais que promovem a regulação do humor e estímulo para agir no cotidiano; quando, ao longo da história pessoal, não se cultivou afetos entre entes queridos e ou amizades, por fazer parte de um processo educacional funcional que sempre prioriza a logística do existir.


Hoje, podemos dizer que uma exagerada dose de bebida alcoólica em um final de semana vai bloquear a produção de químicas neuronais de estímulo, podendo desencadear depressão, como também o não respeito ao hábito de sono noturno de oitos horas. Também a dependência dos eletrônicos, principalmente do celular ligado nas redes sociais até altas horas da noite, que faz o desenvolvimento da ansiedade e também das perdas produtivas e de criatividade. A vida sedentária, na qual a atividade física está descartada e há falta de presença em grupos de pessoas e amigos além do ambiente de trabalho. Pior é quando a pessoa se apega às notícias sempre negativas, e não se aprofunda nos fatos, onde a alienação e a percepção de mundo passa apenas pelo viés da crueldade que pode desenvolver pânicos e desesperança em relação ao futuro.


O hábito de não estudar e permanecer acomodado no que faz na prática sem aprofundar-se e o buscar conhecimentos que retiram do indivíduo recursos intelectuais e estratégias de pensar saídas em situações críticas. É muito complexo o tratamento de transtornos emocionais em pessoas que estão sem potencial de conhecimento por estarem estagnadas no processo de aprendizado e busca de conhecimentos. Com recursos de potencial do saber diverso, a pessoa consegue encontrar mais recursos em si mesma para auto percepção dos motivos que levaram a desencadear um transtorno emocional, e potencializa ações para sair do transtorno.


Mas quando o transtorno emocional vira hábito?

Quando, pelo transtorno, a pessoa passa a pautar sua existência, como, por exemplo, uma fobia social ou transtorno do sono, que pode levar ao hábito de nunca querer sair de casa; quando a depressão leva a pessoa a uma rotina de ficar deitada por muito tempo do dia ou ficar isolada em um canto da casa, sempre estar antenada às notícia ruins; quando uma ansiedade leva a hábitos alimentares como meio de se acalmar, podendo, inclusive, cair na obesidade; quando a ansiedade leva a pessoa a se tornar consumista compulsiva; quando pelo transtorno obsessivo compulsivo, desenvolve-se um apego à prática religiosa de repetições simbólicas e/ou apegos à objetos religiosos, chegando também a desenvolver hábitos de limpeza e de trancafiar a casa.


Podemos entender que hábitos podem, sim, desenvolver transtornos emocionais. O problema é quando tais transtornos formam hábitos, tornando mais difícil o processo de saída destes. Há um ditado popular que diz ser mais fácil criar uma nova religião do que eliminar um hábito.


Não podemos esquecer que, antes de sermos humanos, somos fundamentalmente animais. Temos forte tendência de vivermos como tal, movidos por necessidades meramente fisiológicas imediatas. A sapiência que pode fazer a diferença pelo nosso potencial de simbolização e consequente estrutura para o pensar, muitas vezes, não é utilizado e desta forma corremos sempre o risco de vivermos movidos pelas necessidades básicas do cotidiano.


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