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Escola é patrimônio material e imaterial a ser defendido pelas famílias

Publicado em 04/07/2025

A escola é um local de muitas “tribos urbanas”. Dentro do processo civilizatório e de urbanização, o espaço escolar apresenta-se como o maior patrimônio material e imaterial de uma cidade. Aqui, coloco a ideia de patrimônio material como um lugar preservado e de referência (como um monumento ou um museu). Quando passamos por uma escola pública, já a identificamos como um espaço coletivo e de direito de todas e todos.


A Escola como patrimônio material e imaterial


Como patrimônio imaterial, trago a noção subjetiva de representação que a escola carrega em si, pois todos nós temos lembranças fortes das escolas nas quais estudamos quando crianças e adolescentes – memórias favoráveis e desfavoráveis, mas memórias. Na concepção de patrimônio, podemos entender as consequências de, assim, encararmos as escolas, que precisam ser protegidas e preservadas. Não é verdade que, ao passarmos em frente a uma escola pública que está depredada, abandonada, logo temos a sensação de que aquele espaço está esquecido pelo órgão público e também pela própria comunidade?


Também trago aqui a concepção de escola pública como um patrimônio que atinge a maioria esmagadora dos brasileiros num âmbito pessoal, representando 80% da população enquanto as escolas particulares representam 20%. Em resumo, apenas um em cada cinco brasileiros realiza seus estudos numa instituição particular. Minhas lembranças da escola Cândido Rodrigues no Fundamental I, depois da escola Euclides da Cunha no Fundamental II, estão vivas até hoje no meu imaginário, assim como você tem lembranças fortíssimas do lugar no qual estudou.


Memória, identidade e representatividade escolar


Mas e as crianças que estudam em escolas particulares, não terão referência de memória na perspectiva de ser um ícone patrimonial? Terão sim, desde que a escola particular seja uma escola de longo percurso histórico e que preserve a identidade pedagógica originária. Isto se deve ao fato de que muitas escolas particulares, por questões econômicas, acabam mudando de perfil e se adaptando ao mercado, tendo em vista a lucratividade.


Resgatar a escola como patrimônio de uma cidade, de uma comunidade, é ter a percepção de que a construção do legado de uma nação se dá neste espaço por meio do processo educacional. Hoje, o maior investimento para as famílias no Brasil é a Educação. Tudo bem que isso virou um clichê político e todo mundo da política fala disso, mas, na prática, a realidade é outra.


Como a ascensão política (e dos políticos) no Brasil está sob domínio de uma elite socioeconômica, a Educação para todas e todos passa a ser uma bandeira perigosa quando levada às últimas consequências. Pois, se a população brasileira estudar e as escolas públicas forem de alta qualidade, vai faltar mão de obra barata para os trabalhos braçais aqueles que os filhos das elites jamais farão.


A disputa de narrativas e o imaginário da escola pública


Quando falo de elite, estou falando do 1% da população que detém 99% dos recursos. Porém, essa elite financia políticos abstraídos cooptados nas comunidades periféricas, assim como nas classes B C. Basta notar como a classe média C + e B no Brasil acredita que são ricos. Basta ter um salário ou uma renda familiar acima dos 10 mil reais mensais que já se comportam como elite.


E é essa classe C + e B que fica eternamente frustrada quando não consegue manter os filhos na escola particular, pois julga que a escola pública é reduto de “bandidos”. Infelizmente, as escolas particulares, em sua quase totalidade, vendem um imaginário de ostentação, emulando uma elite que representa apenas 1% da população. O problema é que essas escolas particulares não estão conseguindo entregar o que estão vendendo enquanto projeto de existência social. No final, acabam perdendo para as escolas públicas no imaginário patrimonial de seus alunos e também na ausência de conteúdos e experiências que, de fato, condizem com os interesses e a realidade de seus clientes.


Caminhos para fortalecer a escola como espaço coletivo


Neste sentido, pensando que a maioria dos usuários da educação brasileira está nas escolas públicas, é nelas que mantenho esta reflexão. Aqui, parto para algumas estratégias para que a população tenha um olhar sobre a escola pública como patrimônio a ser preservado, defendido e ocupado:


1. Ver a escola pública como um espaço plural, pois ali habitam mundos diferentes, tanto no espectro religioso e profissional, quanto cultural. Cada família configura um mundo à parte que, na escola, se reorganiza como um coletivo em torno da educação.


2. Uma escola afeta toda a comunidade, desde o trânsito até o comércio no entorno que se alimenta direta e indiretamente de seu território. 


3. A escola é, hoje, o maior símbolo da força coletiva. É praticamente o único espaço em uma comunidade onde todas e todos convivem. Cada grupo específico acaba se fechando em si: religião, esporte, lazer, profissão. Na escola, se aglutinam em torno de uma demanda comum. Por este motivo, há uma forte tendência de desmonte deste espaço público vital. Não é à toa que uma estratégica destruição do imaginário da escola pública como patrimônio, pois nela a população pode se organizar e se fortalecer. Torna-se uma população perigosa — e, na escola, campo de encontro das múltiplas forças da comunidade, possibilidade de fortalecimento das lutas por direitos, mobilizações coletivas. Este tipo de equipamento não agrada a uma política de interesses de exploração e dominação.


Desta forma, indico aqui algumas ações que podem colaborar para o fortalecimento da escola como patrimônio material e imaterial, partindo das famílias e/ou grupos organizados na comunidade:


1. Aproximar-se da escola e se oferecer para contribuir na melhoria da estrutura, naquilo que for emergente e necessário, pois a comunidade não pode delegar demandas estruturais apenas ao órgão público. Pode (e deve) reivindicar a ação dos órgãos responsáveis, mas também pode solicitar a participação da comunidade no entorno em suas ações comunitárias e reformas.


2. No quesito da comunidade escolar, entender que a escola não está fechada em si e não é patrimônio do gestor público. Ela é da Sociedade, e a comunidade deve se envolver e se sentir participante desta comunidade escolar.


3. Observar como está o processo de inclusão e as estruturas físicas de acessibilidade, atuando na melhoria deste aspecto — fator que leva muitos alunos ao abandono da escola.


4. Reivindicar que o espaço da escola seja também dinamizado para a comunidade, dentro de um processo planejado e organizado com o órgão público e a gestão vigente. Muitas escolas ficam de portas fechadas à comunidade e não há integração com esporte, lazer e cultura, como um espaço que possa oferecer e favorecer o uso comunitário.


5. Criar ações reivindicatórias para melhoria do entorno da escola no aspecto da segurança pública, pois a escola é alvo de interesses do comércio, do narcotráfico e até da prostituição.


6. Observar interferências religiosas específicas na escola como se, a partir de ações isoladas, houvesse influência de grupos religiosos específicos. A escola é laica e nela deve predominar a abertura para a diversidade. Infelizmente, muitos grupos religiosos querem adentrar a escola para influenciar por meio de uma doutrina específica. Se grupos religiosos adentram a escola, deve ser com o caráter exclusivo de serem mais um participante neste cenário coletivo e comunitário, para favorecer o fortalecimento deste valioso patrimônio — não para conquistar fiéis.


Estes e muitos outros itens poderiam ser enumerados aqui, mas, no momento, trago o principal elemento desta reflexão: Entendermos que a escola é um território de saber e da busca pelo conhecimento. Possui uma força imaginária no coletivo de uma comunidade e, por isso, deve ser uma extensão da comunidade — não apenas um equipamento isolado do mundo. O maior de todos os patrimônios de um país que pretende ter na educação seu principal investimento.


Uma ação pastoral que anuncia e denuncia


Como escrevo este artigo às vésperas de uma palestra para o VII Seminário da Pastoral da Educação da Diocese de São Mateus ES, no dia 05/07/2025, resta apenas indicar que, para uma ação pastoral que tem como foco os princípios evangélicos a partir das referências da Igreja Católica no Brasil, é preciso preservar a “evangélica opção preferencial pelos pobres” — para que estes deixem de ser pobres.


A ação pastoral não pode se restringir apenas a desenvolver ações para falar de uma espiritualidade cristã e suporte afetivo e espiritual à comunidade escolar. É necessário uma ação profética e evangelizadora de ver, julgar, agir, denunciar e anunciar. Denunciar nas ações diagnósticas e anunciar nas ações interventivas. Do contrário, será mais um grupo religioso tentando cooptar fiéis e/ou favorecendo processos de intervenções para maquiar resultados ou agindo na superficialidade. Hoje, mais que nunca, precisamos de ações pastorais que possam colocar os agentes no “martírio da luta”. Aqui, o martírio é por proposições a uma educação que pulsa vida e libertação. Por ser um campo de monopólio das políticas espoliatórias de domínio econômico, atuar sem incomodar tende a ser o caminho mais fácil.



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