Depressão: Olhares que não se encontramPublicado em 04/09/2025 O cotidiano das famílias que seguem em busca da sobrevivência, como ocorre na maioria dos lares brasileiros, faz do dia a dia um desencontro entre aqueles que supostamente estariam mais se encontrando. A correria é tanta que não dá nem tempo de se olhar e, assim, a tendência é que em uma mesma casa, seus membros estejam próximos e muito distantes uns dos outros. Estranhos num mesmo ninho. E esta interação familiar tão cheia de ausências de contato com os que estão no circunspecto de uma casa leva a uma dinâmica na qual olhamos, mas não vemos. Famílias próximas, mas distantes Mas esta realidade também se dá no mundo do trabalho, movido por metas a cumprir e também nas escolas movidas por conteúdos a despejar, assim como nos templos religiosos movidos por deuses a encontrar, e nas ruas pela pressa de chegar. No fundo, estamos rodeados por muitos, mas isolados em nós mesmos. Imersos num terreno fértil para a depressão. O olhar como reflexo da Depressão A depressão faz sintoma, um deles sendo o olhar entristecido. Se não consegue ver a luz existente no dia, olhar para este dia passa a ser obscuro, cinzento. Assim, o olhar refletirá a expressão de uma depressão que está se instaurando ou já entrou num poço profundo. Quando alguém está movido por muitos impulsos e vontades, dizemos que tem brilho no olhar. Este não é o olhar depressivo. A depressão pode ser identificada por qualquer pessoa a partir do olhar do próximo. A ausência de um brilho no olhar, do olhar fugidio e profundamente triste, pode ser um alerta de que a pessoa observada está em sofrimento, mesmo que seja uma expressão de ressaca alcoólica (que não deixa de ser uma forma de depressão neurovegetativa). Setembro Amarelo: um chamado à atenção Desta maneira, o Setembro Amarelo chega para nos alertar sobre nossa própria saúde emocional e fazermos uma autoanálise com propostas de posicionamentos preventivos. Mas também nos convoca a efetivamente vermos e repararmos familiares, amigos, colegas de trabalho, cidadãos que cruzamos no dia a dia. Notar se há sintomas ao nosso redor de pessoas desenvolvendo e vivenciando a depressão. Aqui, trago um elemento prático para agir no caminho da prevenção ou tratamento da depressão, que é o ato de olhar para as pessoas, olho no olho, e identificar se há sintoma de sofrimento emocional expresso a partir de seus olhares. Porém, este olhar deve começar em si mesmo, como num espelho para, daí, partir para a percepção daqueles que estão próximos. Pequenos gestos que transformam Mas como exercer esta ação dentro desta rotina tão corrida? Começando a criar meios de conversar com os seus mais próximos, perguntando sobre eles. Criar momentos coletivos de estarem juntos e interagindo. Se alguém está trancafiado no quarto, entre. Mas entre e converse com o intuito de interagir. Sem pedras ou ataques, mas com ação afetiva onde a resistência do outro em se abrir seja dissolvida. Por não ser tão simples, acabamos fugindo destes pequenos gestos. Mais que articular o jeito perfeito de interagir, é necessário sentir a necessidade de olhar, encontrar e se conectar com os que habitam o mesmo teto, espaço de trabalho, escola, praças e calçadas. E, aqui, vale a tomada de consciência da prevenção e tratamento da depressão. Por isso o Setembro Amarelo tem sua importância enquanto sinal de despertar a consciência. A partir do momento em que surge a vontade de assumir uma posição ativa de prevenção e/ou curativa, os caminhos são encontrados por cada um, visto que a base desta fórmula é muito simples: encontrar-se no olhar do outro. Tratamentos de depressão apenas na base medicamentosa psiquiátrica não evoluem, pois o remédio não pensa nem forma relacionamentos ou laços afetivos. Em situações nas quais a medicação for necessária, o estar junto, partilhando e incentivando a melhora, pode levar à depressão ser mais dissolvida com o tempo. Por isso, os processos de psicoterapia com profissionais de psicologia tendem a fazer bons efeitos de melhora no tratamento da depressão, pois há um profissional presente para olhar, ouvir e dialogar. Prevenção e tratamento lado a lado Sabemos que prevenir é melhor que remediar. Sendo assim, comece agindo nos espaços que ocupa, promovendo interações em casa, ações coletivas no trabalho, e atividades interativas na escola. Transforme ambientes onde há pessoas em ambientes nas quais pessoas se conectem. Afinal, não somos peças de uma engrenagem, mas a estrutura que as move. Lembrando que o Setembro Amarelo surgiu com foco inicial na prevenção do suicídio. Porém, como 80% dos que chegam ao suicídio estavam em processo de depressão, o alvo principal deste setembro amarelo passa a ser a prevenção e tratamento da depressão. E sabemos que um olhar pode salvar, despertar, abrir caminhos. Comece! |
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