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A produção da depressão como estratégia de mercado

Publicado em 19/09/2025

Pensar o Setembro Amarelo na perspectiva da prevenção à depressão é uma forma que ninguém questiona, até já tendo entrado na expectativa do calendário da população brasileira. Se estamos vendo resultados cotidianos na Sociedade, tanto no que tange à prevenção quanto na melhoria da acolhida ao tratamento com pessoas em depressão, vejo que ainda é cedo para medir, visto que foi a partir de 2013 que a Associação Brasileira de Psiquiatria deu notoriedade a essa campanha.


Sendo assim, considerar aqui a possibilidade de que a depressão possa ser abordada à luz de uma estratégia de mercado pode soar muito estranho, pois a pandemia desta condição assusta a todos e afeta quase todas as famílias brasileiras. Sendo assim, como entender que o mercado produz depressão, sendo que, aparentemente, o mercado teria perdas com o aumento de pessoas sofrendo desta mazela?


O mercado como produtor de depressão?


Aqui, entra uma questão que diz respeito à provocação das pessoas ao consumo, pois uma sociedade consumidora é o que interessa ao mercado. Sabemos que o perfil consumista está ligado a vários fatores, dentre eles a própria cultura do consumo no aspecto social e no circunspecto das famílias. Podemos forjar consumidores desde crianças, dependendo de como a família lida com suas despesas cotidianas (roupas, utensílios domésticos, refeições do cotidiano, doces, estética, festas etc).


Somos uma sociedade que copia muito o estilo de vida norte-americano ao ponto em que, hoje em dia, vemos pessoas querendo até a adoção da bandeira dos EUA como símbolo patriótico brasileiro. É neste modelo de consumo que a publicidade, associada à ideia de sucesso pelo poder aquisitivo, torna-se o referencial. Veja como, para a classe média brasileira, há sempre o sonho de um dia passear na Disney.


Consumo, publicidade e a cultura da morte


Porém, há um fator estratégico não dito que necessita de uma lupa para ser percebido no campo da publicidade e do consumo mercadológico: o adoecimento emocional da população a partir da produção de conteúdos diversos, utilizando de programas e das redes sociais para criar conflito emocional e, principalmente, a depressão. Este processo pode ser observado desde telejornais matinais nos quais o “bom dia” é seguido de cenas repletas de sangue até edições noturnas, nos quais o “durma bem” sucede cenas de conflitos, crimes e catástrofes, entre outras tragédias. As programações com seus intervalos comerciais de maior valor são justamente aquelas que mais promovem a cultura da morte.


A perspectiva de morte e vida, já anunciada por Freud na Psicanálise, é uma boa entrada da qual o mercado se usufrui para estimular o consumo: gerar a pulsão da morte, tendo em vista que, ao nos depararmos com esta, teremos o gatilho para a autodefesa em prol da proteção da vida. Dentro de uma perspectiva do consumo, a produção de subjetividade focada na morte conduz ao desejo pela vida, que é convertida mercadologicamente no desejo de consumir. O vazio interno precisa ser gerado para provocar o desejo de se preencher pelo consumo. Parece uma noção óbvia, mas não é! O que ocorre é que, nesta trama, está contido o adoecer emocional e a depressão vem como um sintoma que grita diante deste processo.


O vazio interno e o desejo de consumir


A depressão, quando já se apresenta na forma estruturada de um transtorno emocional, leva o sujeito ao isolamento e ao desestímulo de ação, numa abertura que a indústria do consumo tenta preencher com o ato de consumir. É preciso ver que, nesta lógica, a depressão se estabelece de maneira sutil e, diante da necessidade interna de constantemente preencher um vazio e eliminar a angústia, conduz a pessoa a fazê-lo com produtos. Surge então a atual necessidade de intervenções estéticas, o intenso desejo de mudar peças de roupas do guarda roupa e até o tradicional boteco do fim de semana. Quando estamos diante da pulsão, compramos (na maioria das vezes sem precisar) e, após a gratificação temporária, o sentimento de vazio e angústia retornam, sinalizando que a depressão está pedindo passagem.


Adoecer emocionalmente é, desta forma, um excelente álibi para esta indústria de consumo. Lojistas adoram receber clientes com sintomas emocionais patológicos, pois já entenderam que pessoas com estrutura emocional desorganizada e com sintomas de transtornos tendem a gastar mais.


Depressão como combustível do consumo


Mas então a depressão vai pegar apenas quem pode consumir? Não, senhor. Hoje, a população brasileira tem nas mãos o celular conectado à internet e, mesmo quem está sem recursos financeiros para consumir, estará consumindo o desejo de ter o que os que podem comprar possuem. Neste caso, a depressão se instaura com força pela impossibilidade de ter, pela impotência aquisitiva. E um dos fatores que também ampliam o lastro da depressão é a diferença social que, no Brasil, é uma das mais fortes: um abismo entre a maioria empobrecida e uma minoria enriquecida. O problema é que, em todas as classes sociais, a publicidade e os conteúdos programáticos de adoecimento que pregam um ilusório sucesso econômico estão na palma da mão de todos, causando a pandemia da depressão. E é esta dinâmica que a indústria do consumo se retroalimenta.

Aqui, concluo com uma pergunta: você está com sintoma de querer comprar sempre, mesmo que não esteja precisando? Se sim, cuidado: a sua depressão pode estar na boca do leão para te engolir.


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