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A eficácia do Setembro Amarelo

Publicado em 25/09/2025

Desde 2013, a campanha do Setembro Amarelo é realizada anualmente com o objetivo de fazer a Sociedade pensar a prevenção do suicídio. Com o passar dos anos, a campanha se aprofundou nas discussões da saúde emocional com maior ênfase na prevenção da depressão. Essa quase mudança de foco ocorreu pela percepção dos estudos dos casos de suicídio, os quais constataram que 80% daqueles que tiraram suas próprias vidas estavam em depressão, mal tratadas ou sem nenhum tratamento. Sendo assim, falar em prevenção ao suicídio passa primeiro pela reflexão sobre as estratégias de prevenção e tratamento da depressão, a qual tem afetado agudamente quase todos os países do planeta e sido caracterizada como uma verdadeira pandemia.


Fatores sociais e econômicos que intensificam a depressão


Múltiplos são os fatores para este fenômeno, mas, dentre os que considero mais relevantes estão: a desigualdade social que impera nos países, criando um abismo entre os 1% mais ricos contra os 99%, que, juntos, possuem o equivalente à riqueza dos 1%, aumentando os índices de depressão de suas populações, como acontece nos EUA e no Brasil. A seguir, a intensa carga produtiva imposta aos trabalhadores, principalmente do meio industrial, levando a intensas discussões sobre reduções da jornada de trabalho (como ocorre no Brasil com o debate sobre a jornada 6x1). Por fim, a noção da depressão enquanto sintoma decorrente de um sistema baseado na cultura de consumo que tem mostrado diversos efeitos sociais nocivos ao longo da História.


Dessa forma, a campanha de prevenção do Setembro Amarelo quase se dissolve diante de um cenário mundial que constantemente convulsiona diante das disfuncionalidades estruturais das sociedades e dos abismos socioeconômicos e ideológicos, fazendo emergir discursos de ódio que elevam a intransigência para o diálogo e o respeito às diferenças, formando um panorama angustiante que promove a depressão.


Entre a conscientização e a mercantilização da saúde mental


Muitos no Brasil já questionam o Setembro Amarelo, principalmente pelo processo cooptativo de mercantilização das campanhas de prevenção, o qual acaba distorcendo seus propósitos originais ao transformar um movimento de conscientização na promoção de clínicas de tratamento psiquiátrico, da indústria farmacêutica e da comercialização dos laudos a partir de diagnósticos precoces. Enquanto o setor público não se estrutura para garantir redes de apoio ao tratamento da depressão com acesso amplo da população aos médicos psiquiatras e ao atendimento psicológico, quem acaba se beneficiando é o setor privado. Diante deste quadro, passamos a enxergar a lógica do “quanto pior a saúde pública, melhor para a saúde privada”, pois, na hora do sufoco, as famílias acabam recorrendo de alguma forma a esta via de atendimento, precisando até de empréstimos para bancar um tratamento particular. Outros fatores, como o aumento dos índices de depressão e suicídio entre adolescentes, também levam ao questionamento da eficácia do Setembro Amarelo enquanto movimento social, numa problemática agravada pelo fato de que apenas uma parcela mínima da população é efetivamente alcançada.


O desafio do SUS e a urgência de uma atuação efetiva do Estado


Em 2019, um estudo do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) revelou que 70% dos brasileiros com depressão não recebem tratamento e, em 2023, pesquisas revelaram que apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, sendo que 1 a cada 5 usam medicação psiquiátrica. No período entre agosto de 2022 e agosto de 2024, houve um aumento de 18,6% no consumo de medicação psiquiátrica, segundo o Conselho Federal de Farmácia. Esses dados revelam que o foco para o tratamento da saúde mental ainda gira em torno da medicação, com baixo índice de procura por psicoterapia. E eis que surge a questão: há um movimento comunicacional recorrente por meio das campanhas de conscientização, mas não há evolução para a ampliação dos serviços de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).


Porém, esses desafios, de alguma forma, são evidenciados porque de fato há uma campanha recorrente e cíclica que serve de base referencial para esta discussão e observação deste ponto que se agrava a cada ano que passa. Desta maneira, o Setembro Amarelo acaba também servindo como um alerta de que o Estado brasileiro precisa estar presente no cuidado aos pacientes com depressão para além do discurso. Precisa de uma atuação prática e ostensiva diante deste quadro evolutivo, investindo em estrutura a partir de algo que já sabemos: é melhor prevenir do que remediar.


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