A moral humanizaPublicado em 21/06/2016 Critérios morais de caráter religioso ou social serão bem absorvidos pelo indivíduo se o ambiente no qual é educado possui estrutura de vínculo afetivo que permita a criança se conduzir no seu processo de maturação com acertos e erros, sem, no entanto acentuar a culpa pelos erros. Ambiente favorável ao desenvolvimento humano dará condições do indivíduo reparar erros, ao invés de simplesmente puni-lo. Podemos confirmar que a moral não penetra a alma de pessoas que não puderam vivenciar um ambiente afetivo. Ao observarmos os comportamentos delinquentes, vamos constatar que na sua quase totalidade são pessoas que possuem histórico de rompimento afetivo, de ambientes cruéis, tanto pela falta de recursos financeiros ou pelo excesso deles, pois a delinquência em si não é uma questão de classe, mas sim de ambiente. Infelizmente há um preconceito em torno desta questão, onde tendemos ver a delinquência em camadas sociais empobrecidas. Não conseguimos avaliar que a corrupção de um senador ou deputado é um gesto delinquente tanto quanto um assalto à mão armada com vítima. É pela moral que o ser humano se humaniza. Do contrário, entregue a sua evolução natural sem intervenção da moral, o ser humano estaria polarizado entre forças de vida e morte sem, no entanto poder seguir um curso, um norte. “Não aprece o leito do rio, deixe que ele corra sozinho” uma sabedoria milenar que pode nos dar a entender que é um estímulo para que o ser humano se desenvolva livre e solto seguindo o curso natural de um rio. Mas se assim pensarmos estaremos esquecendo que um rio tem seu traçado pré-estabelecido. E as águas correm este trajeto queira ou não. Assim como as águas não seguem livremente, a criança também não. A sociedade é como o traçado do rio que faz conduzir o desenvolvimento da criança. Desta forma podemos dizer que a formação moral humaniza a criança; o faz pertencer à forma de vida que a caracterizará no futuro. Como o caso do menino lobo, retratado no desenho animado Mogli, uma criança livre e solta, educada pelos lobos e que depois ficou amigo do urso, estava adaptada a forma de ser dos animais na floresta. Mesmo com corpo diferente de um lobo, na sua cabeça, comportava-se como um deles. A humanização é todo processo de construção civilizatória no qual o ser humano vai se moldando, assim a educação vai se dando por reprodução, a criança vai copiando e aos poucos construindo sua identidade. Porém, esta construção em um primeiro momento se faz absorvida apenas por cópia ou por pura necessidade da criança em poder ter seus benefícios. Para uma criança onde há fatores de vínculo afetivo mal resolvidos, traumatizados ou de relacionamentos indiferentes, pode evoluir em um grande fator de boa socialização, de boa incorporação de regras morais por sentir partícipe daquele espaço civilizatório. Com o tempo este perfil pode ver se desmanchar ou desmascarar. É o que vemos em casos de pessoas que cometem homicídios ou outros tipos de delinquência e que causa espanto e surpresa na comunidade que o cerca. “Como pode aquela pessoa tão boa ter realizado tamanha atrocidade?”, são dúvidas que revelam o verdadeiro eu, que está registrado no inconsciente, não é totalmente percebido no coletivo. Em processos em que o indivíduo incorpora regras de forma autoritária, ou muito repressiva, podemos ver a evolução de uma aparente adaptação às regras, mas que internamente não são absorvidas. Uma criança que não queira se alimentar, e com isto é conduzida a fazê-lo com muita violência, castigos e relacionamentos estabelecidos sob tensão, pode por conveniência, para não ter que sujeitar as pressões dos educadores, aceitar o alimento até pela sua fragilidade, mas depois na vida adulta, o rancor, ódio e adrenalinas fixadas na infância vão se transformar em sintomas desestruturantes, como as Bulimias, Anorexias, etc. Podemos entender que a moral humaniza o ser humano, desde que introduzida dentro de uma construção afetiva. Porém, se por obrigatoriedades, pressão, etc, o desenrolar da vivência moral poderá ter desdobramentos pouco viáveis à própria humanidade, sendo o resultado final a própria delinquência. |
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