QUANDO CHEGA O BEBÊ NA VIDA CONJUGALPublicado em 22/08/2016 O relacionamento conjugal carrega em si a expectativa de filhos. Por mais que a sociedade moderna divulga a ideia do casal viver na liberdade sem filhos, o ser humano continua desejando-os. É nossa inscrição no código genético, que nos faz desejar a multiplicação da prole. Porém, na perspectiva da sociedade atual, filhos, mesmo desejados, são vistos como mais despesas e mais problemas. Caímos na armadilha do existir, se o casal não tem filhos vem à frustração e a postura contraditória ao desejo genético. Se os tem, surgem os sentimentos de angustia por não se saber o que pode acontecer com eles no dia de amanhã. O certo é que no início de um envolvimento amoroso e depois com a evolução para um relacionamento estável, os filhos começam a surgir. Cada dia mais com a tendência de um a dois filhos por casal, principalmente nas grandes cidades e entre casais de classe social mais favorecida e com nível educacional mais elevado. E é nesta realidade, com este perfil de casais que filhos tornam-se um problema maior. Sabemos que toda regra tem exceção, mas nas camadas empobrecidas geralmente prevalece à ideia de que filho não é um problema, e às vezes são vistos até como futura força de trabalho. Quem se incomoda com os filhos dos pobres são os enriquecidos, pois estes denunciam a tendência egoísta de viverem apenas apegados às necessidades materiais. Mas também por que os empobrecidos multiplicados são um problema público e ao mesmo tempo uma ameaça para as famílias que estão no seu conforto financeiro. Para os casais novos de vínculo estável, o surgimento de um filho, planejado ou não, começa a trazer alguns elementos que podem gerar distanciamento do casal. Desde a gravidez, quando o principal foco passa a ser o novo ser que chega, parto, amamentação, troca do dia pela noite. Enfim, o primeiro ano de vida tão estruturante ao bebê. Esta etapa para a criança é tão importante que defendo a licença maternidade por doze meses. Mas o casal que não se preparou para viver a paternidade e maternidade, ou que apresentarem dificuldades de sair de seu próprio mundo de benefícios e lazer conjugal, verá o emergir de muitas dificuldades, principalmente na ordem sexual, pelo afastamento do encontro amoroso um para com o outro com o objetivo de darem maior atenção ao filho. Todas as energias estão voltadas para a criança recém nascida. Nesta idade, a fase mais estruturante do ser humano para o potencial do vínculo afetivo, o casal precisa ter plena consciência desta necessidade. Sair do próprio mundo dos benefícios do prazer sexual, do envolvimento amoroso natural dos primeiros anos da união estável conjugal, é uma ação que requer maturidade. A criança vai sugar de ambos esta atração para si mesma. É ela o ser indefeso. É ela que de fato está em pleno processo de construção, a base mais elementar do alicerce humano. Para homens muito carentes de afeto, que tendem a exigir muito de suas companheiras para o preenchimento deste afeto, tendem ao ciúme do bebê. Atacam suas esposas por acharem que deixou de ser mulher, dizem que a esposa ficou fria, e tendem a se distanciar da dupla mãe/filho. É como se nascesse outro sistema dentro do sistema familiar. Desta ação, pode emergir o estabelecimento do vínculo simbiótico entre mãe/filho e um forte apego de dependência desta dupla. Aí, o pai torna-se um terceiro nesta relação. O afastamento amoroso conjugal de fato acontece e surge a identificação do casal apenas como vínculo de obrigação paterno-materna. Tornam-se apenas pais. Também temos o fator regressivo que muitas vezes afeta a mulher nesta etapa do primeiro ano de vida do filho. Conforme a história pessoal de vínculo que a mãe tem com a sua própria mãe, haverá uma fixação regressiva na busca deste vínculo pessoal, por ter sido ausente no passado ou por ter sido muito presente. Cuidar de bebês requer um processo regressivo natural. É só observar a forma com que cada adulto trata um bebê. Tornamos abobalhados. Lógico que se assim não for, não conseguimos chegar à linguagem da criança e não conseguimos estabelecer vínculos. Mas é a mãe que mais absorve este processo regressivo, pois nesta etapa de vida, de fato, a criança precisa muito desta mãe. Daí, a mulher tende ao afastamento afetivo de seu esposo, e conforme for o nível de regressão ao bebê, passa até a odiar o marido quando este a procura sexualmente. Inclusive muitas mães desenvolvem a depressão pós-parto. Para casais com maturidade pessoal e relacional, cuja evolução de um planejamento familiar se deu ao longo do relacionamento, dentro de uma perspectiva de espera onde o casal encontra-se totalmente identificado com a vocação materno-paterno, estes processos regressivos e de afastamento amoroso do casal, tende a ser menos intenso. Se acontecer, são capazes de reencontrarem-se e recordarem o motivo pelo qual se escolheram. Mas a cada dia vamos assistindo um grande número de casais que casam sem terem se quer pensado na perspectiva de filhos, além de vermos o emergir de uma geração em que muito receberam e torna-se complexo o ato de se esvaziar para a chegada de um filho. Para que o casal tenha sua privacidade e pelo menos amenizem as dificuldades inerentes da chegada de um filho, principalmente o afastamento natural do encontro amoroso, deixo aqui duas possíveis atitudes preventivas: 1) O casal pode definir o quarto do filho, antes mesmo de sua chegada, e logo que a criança adentre à casa, já estará instalado no seu quarto. Procurar não colocar o bebê no quarto do casal. Pode ser que nos primeiros dias da chegada do filho, onde a mãe precisa desenvolver algumas ações profiláticas com o bebê, mas logo em seguida o espaço do quarto do filho deve ser estabelecido de forma concreta. É sempre bom lembrar que o cheiro da mãe leva o bebê a não descansar naturalmente. Pelo seu cheiro, o bebê fica constantemente buscando pela mãe. Esta prevenção vai ajudar na quebra da simbiose neurótica entre mãe e filho e vai preservar o território conjugal que é o quarto do casal. 2) Ao esposo, que nesta primeira etapa de vida da criança sente-se meio que como um “peixe fora d’água”, pois o vínculo mãe filho de fato é intenso, deve entender seu principal papel. Nesta etapa, a criança absorve muita energia da mãe, e com isso, ela tende a ficar exausta. Principalmente quando a mãe precisa voltar logo para o trabalho. Desta forma, o esposo poderá ser uma bateria de energia a recarregar sua esposa, através do cuidado a ela, da colaboração com os afazeres de casa, da integração afetiva e não tanto sexual a sua esposa. Esperando o mínimo ela no retorno afetivo para si. Assim, o reencontro amoroso da mulher neste relacionamento poderá acontecer mais rápido do que o marido poderia imaginar. São muitas as tramas e situações que emergem ao casal quando da chegada do filho. O importante é que o casal não perca de vista os motivos pelo qual se uniram. Lembrando a cada dia que filho é uma etapa, uma passagem, pois o casal permanece. É nesta solidez conjugal que os filhos poderão encontrar a estabilidade do alicerce afetivo para o dia que se tornarem também pais. Assim, o ciclo da vida em família pode continuar. |
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