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Depressão infantil – Dependência eletrônica | Segunda hipótese

Publicado em 13/02/2017


No artigo passado, Depressão infantil - Exposição sexual | Primeira hipótese, iniciamos nossa conversa sobre esse tema tão pertinente no cotidiano das famílias. Desta maneira agora é hora de focar na segunda hipótese dos motivos prioritários, na minha percepção profissional, responsáveis pelo aumento da depressão em crianças.Neste caso a dependência eletrônica. 

 Na dependência eletrônica, podemos relacionar todos os aparelhos utilizados pelas crianças para o desencadeamento desta dependência, dentre os mais comuns: televisão, tablet, celular, vídeo game. Quando escrevi o livro “O poder da TV no mundo da criança e adolescente” ( Ed Paulus, primeira edição em 1995), a média de horas das crianças na TV era de 4 a 5 horas diárias. E este número já era preocupante.  Na época, observávamos que as crianças que ficavam muito tempo na TV apresentavam grande dificuldade em criar brincadeiras, matavam a capacidade de fantasiar.

Hoje, ainda não temos pesquisas sobre a quantidade de horas que as crianças ficam em frente  a esses aparelhos, somando todos os equipamentos eletrônicos. Mas com toda certeza, podemos afirmar o crescimento das alternativas e dos equipamentos, a cada dia se tornando mais versáteis e interessantes. Isso é  notado claramente no cotidiano, quando estamos em grupos de famílias, em espaços públicos, onde os pais acabam dizendo sobre o que passam em suas casas. Na maioria das vezes, estão preocupados com o aumento da carga horária nos celulares. Se até em restaurantes e praças vemos bebês manuseando celular ou tablet, imaginem quando estão dentro de casa sem fazer nada.

Há especulações de que as crianças chegam a ficar hoje em torno de 10 horas diárias em eletrônicos. Com isso começam a surgir alguns sintomas indesejáveis, como na percepção dos adultos na família, principalmente os pais, até mesmo  nas escolas onde os professores tem reclamado da falta de iniciativa aos estudos e a apatia para o aprendizado, gerando uma ansiedade generalizada no coletivo, deixando o espaço de sala de aula cada vez mais agitado.

Dentro da perspectiva da depressão infantil, esta dependência vem com força para a instauração da depressão. E vamos ligar os principais motivos pela qual os eletrônicos em excesso podem causar depressão.

Em primeiro lugar vamos citar  o isolamento das crianças nas relações de vínculo afetivo. A criança se desenvolve no emocional saudável a partir do estabelecimento real de vínculo. A criança só externa amor por aqueles que ao seu redor primeiro manifestam amor com contato físico. O afeto na criança passa pelo contato. Se a criança já se encontra na maior parte de seu tempo se relacionando com um eletrônico, mesmo que esteja vendo, ouvindo e convivendo com dezenas de pessoas, ela está distante do contato. E pior, a atitude dos adultos que as cercam, permitir que a criança fique tanto tempo nos eletrônicos, já é um sintoma de que estes adultos estão distantes do contato com esta criança. Mas atenção! para os pais ou parentes adultos estarem tendo contato com a criança em casa, é preciso estar junto, participando de seu mundo e fazendo a criança se envolver com o mundo dos adultos. Dias atrás uma mãe me disse que conseguiu tirar o filho de 6 anos do celular fazendo ele participar da confecção da refeição em casa. Deu a ele algumas tarefinhas que não o colocou em risco, por exemplo, pediu para ele ir lavando as verduras e hortaliças, ir lavando as louças... Enfim, esta mãe dizia que no início foi difícil, pois na hora de fazer a comida era melhor ficar sozinha sem ninguém incomodando, mas depois percebeu que aquele “transtorno” de ter o filho por perto na cozinha virou um benefício para ele e ficaram mais próximos um do outro e com isso mais afetivos. Esta mãe atribui que parte da diminuição do agito do filho e da apatia dele dentro de casa, foi graças à atitude dela de ter trazido ele para próximo. Ela fez acontecer o contato.

  No segundo aspecto, temos a criança que possui um grande potencial para perceber quando está sendo preterida pelos pais ou seja, quando está sendo convidada a não “encher o saco”. Assim, ao buscar um caminho alternativo para a sua solidão e abandono afetivo dos pais, se apega em algo, e este algo hoje são os eletrônicos. O que desencadeia o outro motivo que leva a criança a desenvolver a depressão, que é a sua percepção de estar sendo rejeitada. Quando a criança não sente a expressão corporal do amor dos pais ou próximos para com ela, sente-se angustiada e fica na expectativa de ser amada. Sua autoestima fica lá em baixo. Interessante é que os pais imaginam que ao autorizar os filhos a ficarem nos eletrônicos eles estão demonstrando amor. Os pais confundem as birras das crianças para terem acesso livre aos eletrônicos, como se ao liberar estivessem agradando a criança. Aqui é como se a criança testasse a firmeza dos pais e também a insistência deles em serem presença e desejarem a presença dos pais. Se os pais entendem errado este jogo, entram na birra e liberam, mas no final estão perdendo o contato amoroso com os filhos.

E no terceiro fator que os eletrônicos podem ajudar no desencadeamento da depressão, está o fato dos eletrônicos tirarem a criança do estágio de brincar, onde ela constrói suas interações com o mundo e desbrava seu potencial cognitivo, sua inteligência, destreza e esperteza, através do fazer, do elaborar, do construir com as mãos. Constrói e destrói, neste inter jogo de ensaio e erro, que muitas vezes os adultos não sabem lidar. Nos eletrônicos seu potencial cognitivo para, principalmente se os eletrônicos forem o elemento prioritário de interação da criança com o mundo. Sabe por que os eletrônicos ao invés de ajudar atrapalham na cognição? Por que o que está nos eletrônicos já vem pronto, a criança não inventa. Assim, dia após dia, com horas após horas deste entretenimento chamado eletrônicos, a criança se vê inapta para fazer coisas simples, apática para desejar fazer e sente-se incapaz. Daí começa a instaurar a depressão.

É sempre bom lembrar que os eletrônicos vieram para somar na grade das atividades lúdicas da criança, mas se tornar o fundamento, o que era para ser um auxílio fantástico de tecnologia na construção de crianças espertas e felizes, passa a ser uma arma de destruição.

Assim, temos uma única saída, que é simples e todos já sabem: Cabe aos pais e educadores potencializar o dia das crianças, para que elas possam gastar mais tempo brincando com pessoas ou com elas mesmas, mas fazendo algo o qual possam construir e inventar. Disciplinar a carga horária dos eletrônicos. Se me pedirem uma indicação de qual seria a melhor carga dos eletrônicos, eu diria que no máximo duas horas por dia, somando todos. À noite, na hora de dormir, de preferência sem celular por perto, e sem a TV no quarto. Pois na noite bem dormida acontece a produção de substâncias protetora do cérebro tanto para o potencial cognitivo como para emocional. 


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