A CRIANÇA E O SILÊNCIO DA NOITE | SOBRE TERROR NOTURNOPublicado em 18/04/2017 O terror noturno é algo que quase todos os pais já tiveram que conviver ou ainda convivem com seus filhos. Não podemos caracterizar o medo de enfrentar a noite como algo patológico, mas sim natural. A noite representa o afastamento real dos pais. Na noite a criança encontra-se consigo mesma. Mas, nos primeiros meses de vida a criança já pode ser introduzida no medo da noite, através do receio de separação dos pais, principalmente da mãe em deixar o bebê dormindo sozinho no berço em seu quarto. Quando o casal compra todos os equipamentos eletrônicos possíveis para manter o sono da criança com uma série de medos. Ai já tem um terreno propício para um futuro terror noturno infantil. Quando o terror noturno emerge na criança? Quando ela começa identificar o jogo do triângulo amoroso o qual Freud descreveu bem já nos primeiros escritos da construção de sua teoria. No texto “três ensaios da sexualidade” já começa esboçar o jogo do triângulo amoroso pela identificação causada na relação da criança com os pais. Em que o menino se liga com a mãe, e a menina se liga com o pai. Evoluindo assim para o conceito do Complexo de Édipo em que o filho ao se identificar com o progenitor do sexo oposto vai rivalizar com o do mesmo sexo. Isso vai se conjugando de forma mais definitiva a partir dos 4 anos de idade, justamente quando a criança fantasia assombrações no seu quarto e procuram os pais para que possam dormir no quarto deles. Lógico que esse jogo se dá de forma inconsciente. Se neste jogo os pais entram e aceitam faze-lo com as regras da fantasia infantil, ali dá-se início aos terrores noturnos. Quando o que era uma forma fantasiosa para provocar a ida ao quarto dos pais, se transforma em um terror real, do qual os pais se apavoram e acreditam que a criança está em sofrimento. Assim levam o filho para o quarto do casal e amenizam o sofrimento da criança e a angústia deles, os pais. Quanto mais inseguro for o casal, tendo com isso uma forma educacional muito protecionista, mais apavorado fica diante da manifestação de terror noturno do filho. Ao contrário, quando o casal não teme o filho dormir sozinho no seu quarto e já desenvolve esse hábito desde os primeiros meses de vida do filho. Tomam atitude de manter o filho no seu próprio quarto, mesmo que tenha a manifestação de terror noturno. Não acentuam o jogo fantasioso da criança que simplesmente deseja interromper o vínculo amoroso dos pais para ter força suprema de atenção para si. Interrompendo o jogo, e permitindo o sofrimento “fantasioso” do filho, os pais estarão fortalecendo a criança para o enfrentamento da noite, nesta simbologia de separação da perda de proteção. Assim, estarão fortalecendo a estrutura de personalidade do filho e prevenindo para que o mesmo não sofra no futuro de patologias comportamentais associados com medos, principalmente o da noite. Na minha demanda de atendimento à pacientes adultos com diagnóstico de síndrome do pânico, observo que a absoluta maioria dos que ajudei tratar tal sintoma tinham o hábito de dormirem com os pais na infância, pois já apresentavam o medo da noite. Aquilo que era apenas um jogo no processo de vínculo amoroso tornou-se uma patologia complexa de difícil tratamento. O melhor é deixar sofrer na convivência do silêncio da noite. |
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