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SEXO E RELIGIÃO & SUAS DIVERSAS REGRAS

Publicado em 26/04/2017

Segundo Dag Oistein Endsjo, professor de estudos religiosos da Universidade de Bergen/Noruega, autor do celebre livro “Sexo e religião”, traduzido em 7 idiomas, tendo a edição brasileira sido lançada em 2014 pela Editora Geração; as grandes religiões do planeta tendem imprimir certos aspectos de suas crenças à sociedade em vários aspectos do comportamento humano e o sexo se figura no topo desta lista. Para Oistein a diversidade é fator preponderante neste tema, ou seja, conforme as religiões ou muitas das vezes em uma mesma religião ou até mesmo em um grupo religioso,  a regra é diferente segundo a região, cultura, geografia. Mas principalmente as regras se modificam pelo fator interpretativo dos textos religiosos que cada religião utiliza. Cada texto por mais comum que seja em uma vertente religiosa, está sujeito ao processo interpretativo. A interpretação sempre é individual ou coletiva. 

Este elemento da diversidade na prática sexual conforme as religiões, tão bem descritos por Oistein, trouxe para as ciências da religião e também para as ciências sociais, como para a própria psicologia, uma grande contribuição para que cada profissional na sua atividade específica possa fazer leituras diferentes para diferentes práticas religiosas. No meu caso específico, trouxe uma grande contribuição, a principal  delas é de saber ouvir o discurso do paciente no processo psicoterapêutico de forma mais ampla, localizando o contexto cultural, social, geográfico de cada paciente. 

No processo analítico, o sexo é ainda um grande tabu. Tanto que, não podemos acelerar a fala do paciente para que revele suas intimidades sexuais com pouco tempo de processo psicoterapêutico. Quando o paciente descarrega imediatamente suas intimidades sexuais nas primeiras sessões, tende a se afastar do processo. É como se ao chegar em sua casa se punisse por ter falado tão abertamente de algo tão íntimo. Este fator se agrava quando o paciente é praticante de alguma religião. 

No Brasil o maior contingente de praticantes de uma denominação religiosa é cristão, e dentro desse referencial temos uma gama enorme de práticas e regras. Dentre os cristãos presbiterianos, podemos observar uma ampla ramificação de grupos e de denominações que foram sendo organizadas a partir do eixo presbiteriano histórico. Já entre os católicos, temos milhares de grupos, movimentos, congregações, cada qual com regras específicas e práticas diferenciadas, mesmo sendo católicas. 

No livro de Dag Oistein, ele pesquisou sobre o sexo nas religiões: Cristianismo, Judaísmo, Hinduísmo, Islamismo e Budismo. Todas estas religiões, vamos encontrar no Brasil. Porém, com maior força o catolicismo e o cristianismo “evangélico” que está subdividido em centenas de igrejas. 

Lembro-me de um missionário italiano que viveu até seus 65 anos na Itália e já tinha 30 anos de sacerdócio naquele país. Ao chegar no Brasil para uma frente de trabalho em Belém do Pará ficou perdido na sua forma de orientar os fieis na prática da sexualidade e neste campo sobre a condução da forma de se vestir. Chegou a uma comunidade eclesial de base, onde as mulheres frequentavam o tempo religioso com shorts curtos e camisetas sem sutiã, sendo que a maioria delas tinham os seios bem definidos e grandes. Algumas mulheres, segundo o padre, usavam roupas com ombros de fora, estilo “tomara que caia” . Quando ele tentou imprimir uma forma de vestir, em um local em que a temperatura é elevadíssima, a sua comunidade começou a ter perda de fiéis. Ele me acionou  para uma orientação porque não conseguia manter os fieis na forma original que estava frequentando a igreja pois ficava muito excitado com estímulo sexual. Depois de alguns anos fiquei sabendo que havia deixado o sacerdócio para casar-se com uma mulher desta comunidade. Ainda bem que ele foi honesto, pois alguns se mantêm na posição de padre “celibatário” mais uma esposa/amante paralelamente. Uma tentação que pode afetar qualquer pessoa, celibatário ou não. 

O certo é que não podemos dizer que uma regra ditada pelo Budismo no Japão, será aplicada da mesma forma na América brasileira. Que a forma de se vestir em uma celebração no Vaticano, seja equivalente em Fortaleza – CE. Que o luterano da Alemanha seja semelhante no seu comportamento sexual como o luterano de Vila Pavão/ES. 

Neste sentido, a religião e a pratica sexual permutam regras e práticas conforme diferentes fatores sociais, geográficos, políticos e culturais.

Quando uma norma religiosa não se adapta ao contexto, produz insanidades, repressões, e pré dispõe seus fieis a uma série de patologias comportamentais. O processo de adaptação das regras religiosas, não altera o princípio moral e ético da prática religiosa desde que essa moral e ética esteja sendo trabalhada no coletivo religioso de forma consciente e com desenvolvimento autônomo de seus fieis. Pelas vias de imposição nunca dão resultados. Ao contrário tende a se ter uma bando de fanáticos que vivem de aparência, escondendo seus delitos sexuais por debaixo dos tapetes.


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