Este texto foi elaborado a partir da matéria de capa da revista Cidade Nova de abril de 2017
A pornografia sempre foi um traço
de lazer em diferentes épocas e culturas. Nas décadas de 80 a 90 muitos cinemas
do interior do Brasil sobreviviam das sessões de filmes pornográficos. Nas
cidades grandes ou metrópoles, ainda se encontra teatro vivo de
pornografia. É antiga a arte das revistas em quadrinhos sobre pornografia que em
muitas regiões eram chamadas de “catecismo”. Em uma viagem ao Peru em 1992, tive a oportunidade de visitar o museu
arqueológico da cidade de Lima – Peru e encontrei um período datado de
3 mil anos antes de Cristo onde os objetos de decoração feminina eram
desenhados com cenas de sexo explícitos com diferentes posições e apelativos
sexuais.
Hoje a pornografia volta ao
cenário, mas com uma forte conotação de dependência. Com a emergência da
internet e os celulares de alta tecnologia o acesso à pornografia fica fácil.
Tanto que o mercado cinematográfico do gênero está muito aquecido. A
intensificação de acesso e dependência aos filmes pornográficos tem levado
pesquisadores a desenvolver sistemáticas pesquisas como é o caso do
neurocientista americano Gary Wilson, Valérie Voon, da Inglaterra ; Simone Kuehn
e Juergen Gallinat da Alemanha dentre outros que já publicaram trabalhos sobre a
dependência pornográfica.
Um dos fatores estudados, é
o processo que desencadeia o vício, em que quanto mais se consome menos se é
satisfeito ocorrendo a dessensibilizarão do circuito da recompensa do cérebro,
assim ao assistir a pornografia o sujeito tende a buscar cenas cada vez mais
picantes e inclusive começa buscar mecanismos compensatórios com identificações
à cenas e filmes divergentes da condição original e chega até a situações mais
bizarras como é o sexo com animais, objetos auto destrutivos e pedofilia.
Abaixo, alguns sintomas de
vício da pornografia:
- Perda de interesse
pela parceira
- Compulsão sexual
- Disfunção erétil
- Ansiedade social
- Confusão mental
- Procrastinação
- Vergonha
- Culpa
- Ejaculação retardada ou
precoce
- Objetivação do sexo oposto
Estes sintomas foram
sistematizados pelo Ambulatório de
impulso sexual excessivo do Instituto de Psiquiatria da USP – SP. Segundo o
psiquiatra Marco Scanavino (USP) também há a compulsão e o hábito de correr
perigo.
O vício da pornografia atinge
mais o público masculino, com maior índice entre a faixa etária de 40 anos, com boa
escolaridade e renda familiar superior a média brasileira. Estes dados foram coletados
de sujeitos que se inscrevem no programa ambulatorial da USP. Nestas pesquisas um outro fator que tem sido observado e merece notoriedade é a anorexia relacional (rejeição aos relacionamentos).
Enfim, para além do prazer, a pornografia também pode gerar dependência. De fato, corremos o
risco de nos tornarmos dependentes com hábitos que nos trazem prazer, e por isso é importante tomar cuidado e procurar ajuda. Hoje já podemos
encontrar grupos anônimos para pessoas com alguma compulsão no campo sexual,
como é o caso do DASA (Dependentes do Amor e Sexo Anônimos) . Porém há poucos
núcleos destes no Brasil que seguem os 12 passos correlacionados com o AA, mas
específico da dependência sexual. Podemos encontrar na
internet o projeto “Vício em pornografia, como parar”. Que nasceu de um viciado
na pornografia e que resolveu fazer um site anônimo em que as pessoas com o
mesmo problema pudessem falar também de forma anônima. O site é:
vicioempornografiacomoparar.com.
Ainda veremos muita gente se
afundando neste vício, pois no mundo masculino há uma forte cultura do fomento
a virilidade e a força da masculinidade e isso está conduzindo o
público masculino a se fixar na pornografia pois buscam nela uma projeção de
desejo desta potência. Uma transferência nas imagens que ao contrario de potencial
sexual tem trazido a impotência.