A Eucaristia não é prêmioPublicado em 19/06/2017 O presente texto foi inspirado a partir de uma entrevista concedida pelo teólogo Jung Mo Sung a Thiago Borges para a revista Cidade Nova de abril de 2017. A temática se dá por conta de uma manifestação pública de 45 teólogos indignados com a publicação da Exortação Apostólica Amores Leatita do Papa Francisco de 2016, onde este grupo de teólogos considera uma heresia a forma com que o Papa questiona regras milenares da Igreja. Na exortação Apostólica Papa Francisco exalta a misericórdia e o amor acima da lei. A lei deve servir como baliza e não pode representar motivo de condenação. A polêmica nasce principalmente em torno de quem pode ou não comungar a Eucaristia, principalmente por pessoas que vivem o dilema de não terem dado continuidade ao matrimônio e por sua vez adquiriram relacionamento com outro parceiro ou parceira. Um dilema que afeta muitos fiéis em todo o mundo. Na Exortação Apostólica, que pude ter a graça de ler, observo que o Papa Francisco trás a temática de forma que tenhamos um olhar acolhedor e que em cada diocese se avalie na sua especificidade caso por caso, dentro sempre da perspectiva da acolhida. Uma forma Cristã de acolher, tendo em vista que a Igreja acolhe aqueles que são pecadores, "doentes". Todos somos pecadores, apenas Cristo é verdadeiramente Santo. Mas, ao mesmo tempo em que o Papa Francisco faz despertar o olhar de centenas e milhares de pessoas no mundo que não estavam mais na Igreja ou que se quer praticam alguma religião, por sua postura de acolhida e sua afável forma de amar sem distinção, muitos outros imponderados de conhecimento teológico e conhecedores da Igreja, tentam fazer ressurgir os antigos fariseus que se apegavam à regra e criavam leis para os outros nas quais eles mesmos não conseguiam viver, o que fez Jesus por várias oportunidades chamá-los de hipócritas. O teólogo Jung Mo Sung que é sul coreano, professor na Universidade Metodista, afirma que a Eucaristia é um alimento espiritual e não pode ser vista como um prêmio para aqueles que estão cumprindo a regra. Para este teólogo a lei não salva, o que salva é o amor. E é muito comum vermos pessoas nas missas julgando fiéis que vão para a fila de comunhão comungar a Eucaristia por que são pessoas que não são cumpridoras da lei. Um julgamento indevido, pois quando dizemos que alguém não pode comungar, queremos dizer que ela está errada e eu estou certo. Recentemente fui ministrar um curso para formadores de uma grande comunidade de vida, destas emergentes com perfil renovado. Fiquei extremamente assustado de presenciar muitos membros deste grupo conspirando contra o Papa Francisco por causa de suas posturas em torno da homossexualidade e dos homossexuais, no que tange a conhecida reflexão do Papa dando ênfase à acolhida daqueles que estão nesta condução sexual. Um grupo que gostava mais das posturas moralistas do Papa Bento XVI, que ressaltava mais a moral sexual e também com um forte saudosismo do Papa João Paulo II, principalmente com as referências da Teologia do Corpo. Quando Papa Francisco vem trazendo o emergente da questão homossexual por considerar que muitos fiéis sofrem as desditas do preconceito e da homofobia, grupos apegados às leis se rebelam. É como se a fidelidade a Igreja só pode acontecer se o Papa fala das coisas que eu quero ouvir. Se fala de coisas que me questiona, que faz ter que olhar o mundo com um outro olhar, aí é melhor conspirar contra. Na verdade, entre os fiéis muito ativos na Igreja espalhados em diversas comunidades, há “papinhas”, santinhos, certinhos. Mas continuamos fariseus. Pessoalmente, quando alguém me pergunta se pode ou não pode comungar, sempre digo que a comunhão não é objeto que podemos ter acesso na medida de nossos atos. Digo de minha experiência pessoal com a Eucaristia, em que jamais deixei de comungar por estar errado em alguma ação, pois se assim fosse não poderia comungar nunca. Sempre comunguei com o intuito de estar recebendo Jesus em minha casa. Ao comungar sempre oro: “Senhor, entra em minha casa, e que nesta semana eu não te abandone na sala de estar do meu coração e mente. Que por esta comunhão esteja unido a Ti no Seu projeto de Salvação”. Lógico que aqueles que me pedem uma opinião, se devem ou não comungar, digo sempre para procurarem um Padre. Se na região não houver Padre, ai sim digo: siga a voz de seu coração. |
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