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Padre Fábio de Melo e a Síndrome do Pânico

Publicado em 31/08/2017


As recentes notícias da Síndrome do Pânico que atingiu o padre Fábio de Melo, trás a tona novamente duas grandes questões: Síndrome do Pânico e a fé associada a saúde emocional. 

Na primeira questão a Síndrome do Pânico é uma patologia que vem sido muito diagnosticada no meio da psiquiatria. É um sintoma associado ao estresse e ansiedade. Um problema emergente da sociedade contemporânea. Não sabemos ainda se o aumento dos diagnósticos é por modismo da psiquiatria, como acontece de tempos em tempos. No passado tudo era esquizofrenia, depois tudo era depressão, mais tarde um pouco tudo ficou por conta do estresse e transtorno de ansiedade, depois veio o tempo do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), agora parece que a maioria dos diagnósticos é a Síndrome do Pânico. 

A manifestação do padre Fábio de Melo sobre seu sintoma é muito importante para as pessoas no coletivo estarem atentas. É uma boa forma de fazer prevenção, pois ele é uma celebridade global, independente da religião que professa. Vindo dele, ajuda as pessoas a estarem atentas, gera debate público sobre o tema. Assim aconteceu com o cantor Roberto Carlos, quando revelou que tratava de TOC. Tudo bem que na época, muita gente começou achar que tinha TOC.

O outro aspecto desse fato gerado pelo padre Fábio de Melo é sobre fé e saúde mental. Muita gente acredita que o sujeito de fé não tem doenças emocionais. É muito comum quando alguém está com algum tipo de doença emocional na família, algum parente ou amigo chegar à pessoa e dizer que está faltando oração, falta prática religiosa, etc.. Não vamos duvidar da fé do padre Fábio de Melo, que é sem dúvida um cidadão de fé. E no entanto ele revela seu sintoma em público. Sabemos que pensar que as pessoas de fé não adquirem transtornos emocionais é uma postura um tanto quanto restrita e medieval. Com fé ou sem fé, todos estamos sujeitos aos sintomas patológicos do comportamento. É sabido que São Francisco de Assis tinha crises de depressão aguda. Alguns dos seus retiros espirituais não era só para orar, mas para fugir. Porém não deixou que sua depressão o impedisse de conduzir sua missão, tornando-se uma referência de fé para humanidade. 

Todos nós podemos passar por patologias emocionais, e para isso há os profissionais da Saúde emocional que podem colaborar na saída do transtorno ou na capacidade do paciente em lidar com seu transtorno. Lógico que para quem pratica uma religião e tem fé o tratamento pode até se fortalecido. Sempre oriento os meus pacientes, que não se afastem da religião que praticam, mesmo sabendo que um dos sintomas do transtorno, é querer se afastar de tudo.

No caso do padre Fábio de Melo, ao ler algumas entrevistas que ele mesmo concedeu à mídia, pude observar elementos que podem ter favorecido para que entrasse na Síndrome do Pânico. Tanto no aspecto do seu histórico familiar, quanto nos seus compromissos.  Ele que vem de uma família com muitos problemas, detalhes revelados também em seus livros, chegou a mencionar que foi para o seminário num primeiro momento para escapar da pobreza, como acontece com centenas de jovens pelo Brasil a fora. Só aqui temos dois elementos: a história familiar que nos impulsiona frequentemente a regressão e diante de episódios do cotidiano que nos causa embate emocional, podemos voltar inconscientemente aos núcleos afetivos da nossa história primitiva; e o outro, aspecto vocacional, que todos nós passamos por questionamentos, se estamos seguindo o caminho mais adequado e no caso do padre Fábio de Melo, diante de sua iniciação no sacerdócio que não foi tão inspirado na vocação e sim na necessidade, mas com certeza ao longo de sua formação  ele deve ter consolidado a sua escolha. Mas que se depara com sua atual realidade, um padre celebridade, cheio de propostas, convites e conquistas pela frente. Com certeza, cheio de assédios de todas as formas, pode sem dúvidas se deparar com dúvidas vocacionais. Tanto que ele revelou que na crise emocional um dos elementos que vinham forte em sua mente era se deveria ou não continuar padre. Ele que já deixou sua congregação religiosa inicial, pois nas congregações os padres não podem gerir seus próprios recursos, tendo que passar a padre diocesano, os quais podem gerir suas próprias finanças. Outras escolhas e evoluções podem vir sim. 

Sempre digo que um sintoma é bom, assim como a febre é boa para sabermos que estamos com uma possível infecção, assim como a dor de cabeça pode ser um bom sintoma para nos avisar de uma possível doença, os sintomas emocionais são sinais para que possamos parar e pensar a nossa existência. Não brotam do nada. Desta maneira, que bom que o padre Fábio de Melo está com o sintoma da Síndrome do Pânico. Pois ele passa a repensar a sua história e ver quais os rumos que pode dar para sua vida. Melhor ainda foi ter vindo ao público este sintoma, pois ajuda alertar a muitos fieis que na religião não podemos estabelecer apego às pessoas. As pessoas são instrumentos de evangelização. Quando nos apegamos nas pessoas e essas caem ou apresentam algum problema, tendemos a cair com elas ou nos decepcionarmos. Na religião é melhor seguir a Divindade espiritual máxima. No caso da religião Católica, a Deus por intercessão de Jesus Cristo. As pessoas são falíveis. 

Assim também esta reflexão serve ao padre Fábio de Melo, que pode ter em algum momento esquecido dos motivos pelo qual escolheu ser padre, ou acreditou muito na sua força pessoal, ou quem sabe foi ingênuo de acreditar que o status de celebridade não cobraria nada dele. Enfim, um sintoma que só ajudará na retomada de seus propósitos e quem sabe na clareza de futuras escolhas. 

O importante é que não sejamos engessados ou não nos deixemos engessar. Por isso para quem precisa seguir uma religião, saiba a quem está seguindo. Para quem diz pregar uma religião, saiba o que está pregando ou propagando. Mais do que aproveitarmos da situação para criticar o padre Fábio de Melo, é preciso tirar bom proveito desta realidade na posição de refletirmos e buscarmos olhar a vida como ela é.

Se quisermos ser além do que podemos ser, sempre cairemos no vazio. Se buscarmos nos outros uma divindade terrena, vamos sempre nos decepcionar. Somos nada mais que humanos, simplesmente humanos.  


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