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POR UMA VIDA SEM FRUSTRAÇÕES

Publicado em 25/01/2018

Sigo pesquisando em diversas fontes sobre o maior arrependimento e a maior frustração das pessoas que estão muito perto da morte. Encontrei variados artigos e experiências, muitas destas de profissionais da saúde que acompanham pacientes terminais ou idosos acamados. São numerosas as queixas de arrependimento, das quais a mais interessante, em minha opinião, foi a sistematização feita no livro Antes de partir, pela enfermeira australiana Bronnie Ware. Da própria experiência como cuidadora de pacientes terminais de câncer, ela sistematizou cinco das queixas mais comuns. Vamos a elas:

1. Não ter realizado os sonhos próprios – O tempo passou e a pessoa viveu os projetos e os sonhos dos outros, como os das instituições, dos líderes etc. Assim, esqueceu-se de si, dos seus próprios sonhos. Este exemplo de queixa se associa a perda de identidade e de projetos pessoais. No decorrer da vida parece mais cômodo seguir uma bandeira, ir no fluxo das pessoas e repetir coisas alienadas coletivamente, do que criar e construir os próprios caminhos, as próprias ideologias e trilhar os próprios desejos. Muitas vezes se inspira, mais ainda se sonha. Porém, no processo de executar e fazer acontecer, os obstáculos acabam por levar à desistência. Facilmente seguimos o que já foi pensado e o que já está pronto. Eu relaciono este arrependimento ao fato de a pessoa ter passado pela vida sem ter deixado a sua marca. É mais um na massa. 

2. Ter trabalhado muito – Esta é uma queixa muito comum. Trabalha-se na juventude pensando que a aposentadoria trará liberdade para se descansar e se aproveitar a vida. Mas por 30 ou 40 anos este mesmo sujeito só trabalhou e teve pouco lazer, quase não curtiu as belezas da terra, ficou distante dos filhos e criou apenas o hábito de trabalhar. Desta forma, ao se aposentar tal sujeito não soube viver de outra maneira. Este estilo de existência me parece codificado na mentalidade coletiva e diretamente associado à visão materialista e mercantilista da vida. Algumas brincadeiras do senso comum nos permitem visualizar esta questão. É muito comum falas como: “os índios não trabalham”, “nordestino a beira mar é folgado”; “ficar na rede é coisa de preguiçoso”. Considero que viver a vida no equilíbrio entre o trabalho e o lazer é um escolha para poucos. Depois da aposentadoria, o corpo poderia descançar já não pode aguentar mais. Seria interessante começar cedo a equilibrar estas forças. Caso contrário, no fim da vida, o corpo, adestrado completamente ao trabalho , pode impossibilitar o sujeito de vivenciar o ócio e o lazer, ou mesmo a plenitude de uma relação tranquila consigo mesmo.

3. Não ter expressado mais os próprios sentimentos -  Já esta queixa é fruto de uma vida vivida com forte repressão, muitas vezes sob o imperativo de ser educado, de não “pagar de doido”, ou de não ser difamado. Vemos aqui um excesso de respeito e uma submissão que reprimem violentamente as expressões singulares das subjetividades. Observo esta tendência em culturas onde as pessoas são criadas com muito apego afetivo, onde as verdades não podem ser ditas para não magoar. Se conseguirmos expressar nossos sentimentos e pararmos de esconde-los, tornamo-nos mais livres. Muitos amam e nunca expressam o amor por quem ama. Muitos odeiam e nunca se permitem manifestar o ódio. Muitos “engolem sapo” e ficam com “cara de sapo”. É melhor deixar que sua própria expressão fale mais alto para que você não morra entupido, e que, próximo da morte, não se sinta sufocado. 

4. Não ter mantido contato com os amigos ou não ter criado novos amigos – Meu amigo Chico Surian sempre falou: “o que a gente leva desta vida são os amigos”. Milton Nascimento já cantou: “amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves”. A amizade favorece a amplitude dos laços. A sensação de  ter pouco ou nenhum amigos,, traz o sentimento de solidão. Quando eu assessorava empresas para contratação de gestores executivos, primava muito para identificar se estes últimos eram cultivadores de antigas amizades. Pedia para que eles trouxessem informações sobre amigos de infância com o qual mantinham contanto até o presente. Sabemos que um profissional que não cultiva amigos torna-se obsessivamente focado no trabalho e não tem muita facilidade de criar laços afetivos. Torna-se rígido e exigente. Recentemente me mudei para a cidade de Vitória – ES, e num primeiro momento tive a sensação que se morresse naqueles primeiros meses  nesta nova cidade, meu velório não teria muita gente. Depois deste pensamento tratei de construir novas amizades, participar de grupos e me encontrar com pessoas. Infelizmnete, percebo ser frequente o número de  pessoas com dificuldade de fazerem amizades. Dizer que “tenho colegas e não amigos”, é uma fala  perigosa. Prefiro dizer tenho amigos de todos os tipos, de todas as raças e de todos os gostos. Construir amizades e cultiva-las ajuda a eliminar de dentro de nós a sombra da solidão... “que devora, que assusta”. Que no meu velório eu possa deixar um trocado para o pão com mortadela, o chopp para quem degusta, a cachaça para quem adora e muita música celebrando a minha vida vivida. Por isso, que venham os amigos. 

5. Não ter permitido a si mesmo práticas de bem estar. Alguns sujeitos deixam de viajar para economizar; deixam de dar uma festa para não ter barulho...de fato, a busca da felicidade é algo muito singular. Se a felicidade é um estado no qual sentimos pleno bem estar, precisamos  elaborar esse bem estar com práticas. Perceba que esta quinta queixa parece ser a síntese de todo o processo decorrente das quatro queixas anteriores. 

Minha mãe Aurora, que hoje está com 82 anos, me ensinou muito, quando minha avó Ana, aos 99 anos, estava debilitada e muito próxima da morte. Dona Aurora cuidou de minha avó materna para que ela tivesse o “direito de ter uma morte digna”. Morrer com dignidade é uma arte criada ao longo da vida, é morrer feliz! Destas reflexões, desejo apenas que elas possam prevenir um epitáfio esculpido e escrito sem frustrações.


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