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Lama e pó preto, semelhanças entre Brumadinho-MG, Mariana-MG e Vitória-ES

Publicado em 01/02/2019


A lama acumulada nas barragens de operação da extração do ferro em Minas Gerais e o pó preto decorrente das operações no porto de Tubarão na cidade de Vitória-ES, aparentemente são inofensivos à olho nu. Em ambas as regiões o ambiente topográfico e as paisagens são belos. Isto para quem observa com os pés no chão.

Brumadinho e Mariana em Minas Gerais, estão localizadas em regiões montanhosas e com muitas opções de lazer natural. Matas, cachoeiras, pequenas propriedades. Vitória é uma cidade das mais belas que conheço, entre as montanhas capixabas e a praia, uma linda ilha.

Ao viajarmos em transporte aéreo para as regiões de Minas, principalmente quando estamos descendo na cidade de Belo Horizonte, observamos o desastre ecológico que a extração mineral tem provocado na região mineira das montanhas. Vemos uma paisagem de desmatamento, e muitas barragens de dejetos da extração do ferro. Ao sobrevoarmos a cidade de Vitória, observamos o porto de Tubarão com as montanhas de minérios de ferro prontas para a transformação em pelotas de ferro com destino certo, a China, principal comprador do ouro preto da Vale. Um porto sem brilho, e muita poluição, chaminés vomitam a fumaça continuamente e o céu sempre se apresenta com uma longa faixa cinza. Como ataques de dragões, o fogo quase que continuamente mantém em chama ardente.

Entre as montanhas de Minas, a lama, o drama. Morte súbita de humanos, rios e de um ecossistemas formidável. Entre as montanhas e praias capixabas  o pó preto, a mesma morte, apenas com a diferença de ser lenta, gradual e transitiva. Em comum temos o Kit Vale da morte: Lama + pó preto. Sabemos que o pó preto também é uma preocupação das cidades montanhosas de Minas Gerais que ficam ao entorno da exploração do minério.

Outra semelhança é a passividade de um povo. Povo que caminha como gado : “...povo marcado, povo feliz.” (Zé Ramalho). Imagine que abaixo de uma represa de risco em Brumadinho, a Vale mantinha as operações administrativas, refeitório e até o que chamam de universidade do conhecimento. Tanto conhecimento para quê? Tanta gente formada em engenharia, que para garantirem emprego de boa remuneração se sujeitam a este tipo de risco. Também em Vitória, com quase 12 mil funcionários trabalhando no porto de Tubarão, com salários acima da média nacional, convivendo diariamente com um inferno, ou a porta do inferno que exala calor, vapor e pó preto sem parar. Gente estudada e escravizada para não ter que perder emprego. Em ambas as regiões, tanto de Minas como de Vitória, já ouvi altas falas de funcionários de carreira da Vale defendendo que as especulações sobre devastação ambiental nas montanhas mineiras e o pó preto de Vitória, são mentiras e especulações. Um engenheiro me garantiu que o pó preto não é possível de ser absorvido pelos pulmões. Outro engenheiro de Mariana, antes da tragédia de lá, garantiu-me que a Vale mantinha suas represas em pleno monitoramento e que toda árvores que era prejudicada pela exploração do minério era substituída por pelo menos outras três. Gente, a necessidade de se manter num emprego cega. E a Vale com certeza mantém uma linha de treinamento de pessoal que inclui esta formação subjetiva de que é uma empresa amiga da natureza, e que preserva seu patrimônio intelectual que são seus trabalhadores. É brincadeira de treinamento de auto ajuda. Os tecnólogos emburrecidos da Vale e das Universidades brasileiras precisam consultar o conhecimento dos índios, eles nunca constroem comunidades próximo de rios ou abaixo de barragens. Mas os tecnólogos acreditam que são mais evoluídos que os índios.

  Ao lermos o livro de Celso Furtado “História da economia no Brasil” de 1950, vamos ver que as negociações financeiras em torno da cana, café , ouro e madeira no mundo no período do Brasil colônia, a exploração da mão de obra transformava pessoas em meros animais a sujeitos da produção. Escravizaram índios e os eliminaram quando estes não se sujeitaram a escravidão. Escravizaram africanos e daí a sobrevida do produto brasileiro no mercado internacional. A regra de ouro do sistema de produção que está cravado no DNA cultural da história da humanidade, é o lucro acima de tudo e de todos. Discursos ecológicos e humanitários são apenas marketing para esconder destruições. Eu sempre desconfio e desconfiei dos parques ecológicos da Vale e de projetos culturais e sociais que ela financia. Sabe, “coisas para inglês ver...”

E para não alongar muito, sendo este tema propício para muita conversa, estamos assistindo a destruição dos rios que estão na rota dos afluentes abaixo da barragem que rompeu em Brumadinho, como aconteceu com o Rio Doce no episódio de Mariana-MG. A Vale não conseguiu conter a Lama que chegou ao Rio Doce e não conseguiu conter a destruição ao longo de todo seu leito, até chegar no litoral de Regência no Espírito Santo. Da mesma forma que iam achando desculpas para não agirem rápido e com tecnologia eficaz de contenção no caso de Mariana, estão fazendo o mesmo sobre o episódio de Brumadinho, pois a lama vai chegar ao rio São Francisco. Os especialistas tecnólogos da Vale só entendem de exploração e destruição. A tecnologia deles é mortífera, e não possuem experiência em defesa da vida.

E para finalizar as semelhanças, sabemos que em breve tudo vai ficar como sempre esteve. O argumento da Vale é que se o dinheiro for bloqueado e as multas forem executadas, muita gente vai ficar desempregada e ai o prejuízo será maior. Com o tempo, o marketing da Vale vai contaminar a opinião pública pela mídia nacional, que está endividada e vai precisar de dinheiro desta publicidade maquiada para sobreviverem como mídia. Daqui a pouco a própria população estará implorando para que a Vale não seja penalizada. Até os governadores de Minas e Espírito Santo, vão tentar nos convencer que a Vale é essencial aos estados e ao Brasil. Mas quem está pagando toda esta conta? Precisamos da Vale e da exploração mineral irracional e ‘burra’, para sermos uma nação soberana e com empregabilidade?

No fundo o que é semelhante em todos os atos humanos, na sua quase totalidade é a ideia de que não tem jeito mesmo, então vamos aproveitar pelo menos até estarmos vivos. O problema é que estamos morrendo antes mesmo do gozo. E quem está gozando diante desta nossa cruel realidade?

Mais do que um olhar de compaixão sobre este desastre criminoso, precisamos de uma postura ativa para agirmos na defesa do nosso maior patrimônio que são as pessoas brasileiras e nosso rico ecossistema. Mas para isso vamos ter que reinventar o POVO BRASILEIRO!


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