O complexo processo da escolha profissionalPublicado em 21/02/2019 Escolher uma profissão no Brasil é uma tarefa muito complexa pois começa desde cedo, logo quando o adolescente entra no nono ano do ensino fundamental. Aos 14 a 16 anos, idade em que estão mais para curtir do que para pensar no futuro, esta pressão já começa a existir. Com o emergente dos cursos técnicos, a antecipação da escolha profissional ficou mais intensificada. Assim, governo, sociedade e familiares começam a pressionar a moçada para definirem a profissão. Observo que os pais atacam os filhos nesta faixa etária com falas negativas do tipo: “...você já é uma mulher / homem e só quer ficar na mordomia!”, mas por sua vez tratam os filhos com mordomias. Não exigem nada deles nas divisões de tarefas, na remuneração da mesada por algum trabalho desenvolvido, deixam eles soltos e livres nas madrugadas por conta dos jogos eletrônicos e redes sociais. Há uma forte pressão para que amadureçam, contudo os pais são super protetores ajudando na imaturidade dos filhos. Com os cursos técnicos de qualidade que o governo federal criou, tendo estes resultados melhores do que as melhores escolas particulares do país no Enem, estas instituições criaram um modelo de vestibular que não condiz com a grade curricular exigida na prática pelo ensino fundamental. Pedem conteúdo nas provas do vestibular que os jovens não viram ao longo do histórico escolar. Vejo um exagero nesta peneira, mas sei que querem jovens que não vão dar trabalho, que já possuem um alto desempenho educacional. Mas o resultado disso é o crescente número de cursinhos paralelos e o favorecimento aos jovens que estudaram em escolas de excelência no ensino fundamental. O que veio para favorecer a entrada no mercado para jovens de camadas populares acabou virando reduto da elite brasileira. Com isso surgiram muitas escolas técnicas particulares, de baixa qualidade para facilitar que os jovens sem chance de ingressarem nos institutos federais consigam se iludir com um curso superficial de técnico. Os cursos técnicos nas escolas federais parecem tratar o adolescente recém chegado como se fossem alunos de graduação. Atendo muitos jovens que ficam desesperados por não conseguirem notas boas em matérias especificas, principalmente nas exatas. Há uma perda de foco e objetivo do motivo pela qual estes cursos foram criados. Também tem a pressão de que hoje há uma gama enorme de profissões emergentes no mercado de trabalho. Das profissões regulamentadas com cursos de graduação sistematizados e ofertados, são mais de 260 profissões. Das que sempre foram tradicionais no mercado, coloco aproximadamente umas 10 profissões, tipo: medicina, advocacia, engenheiro (dentre umas 5 áreas mais procuradas), pedagogia, psicologia, professor nas diferentes áreas de licenciatura, administrador de empresa, etc . O agravante destas tradicionais é que há previsão de que algumas desaparecerão, como é o caso da Advocacia, que parece meio inconcebível que de fato venha acontecer. Enfim, diante deste cenário, para algumas questões num espectro bem maior de interferências, os jovens precisam decidir qual será a profissão a seguir, e pior ainda, se escolher um curso técnico, já estará antecipação sua graduação voltada para aquela base curricular. Esta não é a realidade de países que já avançaram neste processo. Gosto muito do modelo que deixa estas escolhas para depois do ensino médio, inclusive há experiências que o estudante antes de ir para a sua escolha na graduação, passa por uma etapa de cursos técnicos. A necessidade de se fazer uma graduação acaba sendo para aquelas profissões que requer um aprofundamento científico sistematizado. A diferença é que nestes países, escolher ser um profissional de serviços técnicos é sinônimo de ser valorizado tanto quanto aquele que escolhe a graduação. Tanto o graduado como o técnico estão num mesmo patamar de necessidades, não tem a ideia impregnada no Brasil, de que o sujeito graduado é superior ao técnico. Não, são áreas que se inter relacionam e se necessitam mutuamente, é apenas uma escolha diferente. Tanto, que algumas profissões que aqui se exige a graduação, em outros países exigem-se para a mesma função apenas a formação técnica. Coloco estas comparações sem identificar países por que as diferenças são grandes para cada país. O que vale é entendermos que nosso sistema de condução para uma carreira profissional é muito amplo e complexo para uma idade onde os jovens ainda estão muito imaturos. Porém é no Brasil que moramos e é aqui que precisamos nos adaptar e fazer as escolhas, para isso trago agora algumas orientações para que a escolha profissional seja menos traumática e com melhor eficácia: 1. Pesquisar amplamente as profissões que o mercado oferece, as necessidades de formação para chegar nelas, projeções de mercado em longo prazo tendo em vista que a escolha de hoje é para um amanhã mais distante 2. Após ampla pesquisa, selecionar algumas nas quais você mais se identificou, tanto pelo que faz como pelo que vai exigir de você; 3. Procure afunilar a sua escolha a partir da percepção das suas habilidades e conhecimentos, assim como áreas de conhecimentos que você mais se identifica. Aqui neste ponto começa a ser quase necessário a procura de ajuda profissional. Para isso a Psicologia é uma profissão que oferece este tipo de serviço que leva o nome de Orientação Vocacional/profissional, em que por meio de entrevistas, pesquisas e aplicação de testes de aptidão, o sujeito pode perceber se o que está pensando em fazer casa com o seu perfil e habilidades que já tem gestado dentro de si. Neste sentido, a escolha para um indivíduo que ainda não está plenamente amadurecido na sua personalidade e aspectos emocionais já começa a complicar. Indico que esta escolha aconteça a partir do segundo semestre do segundo ano do ensino médio. Mas, e para quem tem que fazer esta escolha no nono ano do fundamental pensando no curso técnico? Oriento que procurem ajuda, mas sem que se tenha uma busca definitiva por uma profissão. Por minha própria experiência de vida, fui técnico agrícola por que era a única chance na época de 1980 de ter um emprego melhor. Mas depois me tornei Psicólogo. Os cursos técnicos para adolescentes é apenas uma etapa do ensino médio. Neste contexto a Orientação Vocacional/profissional deve ter o cuidado mais na identificação de habilidades e interesses pessoais nas áreas de conhecimento que serão exigidos no curso técnico. 4. Cuidado para não se sujeitar a testes de internet sem critérios científicos e não reconhecidos pela Psicologia. Os testes por si só falam muito pouco. Mesmo as orientações desenvolvidas por psicólogos precisam ser verificadas. Se esses profissionais se basearem apenas nos testes, tendem a dizer ao aluno o que ele vai fazer ou ser, por isso que sempre ouço jovens dizendo: “...mas o teste disse que vou ser bom se fizer tal profissão...”. A melhor orientação não diz qual é a profissão que você deve fazer, ajuda o indivíduo a entender qual delas que pode se encaixar melhor, a partir das pesquisas e da percepção de suas áreas de interesse, habilidades e atitudes, pelo próprio aluno. Por exemplo, um jovem pode ter muita facilidade em matemática e no entanto para uma profissão não tenha perfil para ser engenheiro. Eu mesmo sempre fui nota 10 em matemática e 0 em português e hoje sou Psicólogo e escritor. A escolha profissional passa por muitas questões que vai além de gostar desta ou daquela profissão. Por isso que procurar por orientação qualificada de Psicólogo ajuda e muito. 5.Além de sistematizar toda uma metodologia, procuro ajudar os jovens neste processo de escolha orientado-os na pesquisa de conhecimento das diferentes profissões. No momento de afunilar a escolha, levo-os a observar qual delas é a que melhor se identifica, que ao se imaginar trabalhando faz emergir um brilho nos olhos, uma forte vontade e altas expectativas. Tendo em vista que a profissão é o nosso referencial para a sobrevivência e para investimentos. Por isso que o profissional passa mais tempo envolvido com sua profissão do que outras demandas da vida. Essa atitude faz com que a escolha seja por uma profissão que não represente uma possibilidade de escravidão e sofrimentos. Que esta busca profissional não caia no senso comum. Dê muito valor a ela, pois se for aos trancos e barrancos e por ensaio e erro, a chance de errar é grande. Em centros mais desenvolvidos e com mais opções de formação, a procura por Orientação Vocacional/profissional é maior. Mas em regiões de baixo desenvolvimento educacional e econômico, com restritas ofertas de formação, os jovens tendem a repetir o modelo antigo de seguir o que der mais dinheiro ou por influência familiar. Desta forma a frustração aumenta. Mais de 40% dos jovens que iniciam um curso de graduação desistem dele até o terceiro ano por não terem se identificado. São muitos anos e dinheiro jogado fora. O tempo e dinheiro que uma família gasta para financiar um processo qualificado de orientação profissional aos filhos, pode representar uma grande economia em longo prazo, pois há maior chance de acerto. |
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