Crianças marcadas por diagnósticos superficiaisPublicado em 19/03/2019 Este é um grande dilema dos pais diante das queixas educacionais que a escola faz dos filhos, principalmente quando a criança apresenta muita dificuldade para aprender. Muitas crianças chegam até mim com diagnósticos definidos, mas sem intervenções condizentes com o diagnóstico. Por exemplo, uma criança tida com Déficit de atenção e medicada pelo Neurologista, sem ter as especificidades da causa deste Déficit de atenção. A família medica, a criança pode ter uma resposta imediata sobre a medicação, mas com o passar dos meses a criança ainda continua apresentando baixo rendimento escolar. Pegando ainda neste exemplo específico do Déficit de atenção, quando um diagnóstico aponta este sintoma, não esta dizendo muita coisa. Todos nós temos Déficit de atenção em maior ou menor proporção, e dependendo do fator propulsor, também o Déficit de atenção é sintoma associado. Assim, quando digo que uma criança está com Déficit de atenção é preciso investigar a causa deste déficit. Depressão causa Déficit de atenção, Ansiedade, estresse, etc... Lembro-me de um caso que chegou até meu consultório de uma criança que já fazia tratamento neurológico e psicológico por mais de cinco anos e o diagnóstico era Déficit de atenção com ampla disfunção motora sem especificidade, isto é, sem identificação do motivo. Já havia sido realizados exames de Eletroencefalograma e Ressonância magnética do cérebro. Mas a criança não conseguia se desenvolver na escola, no processo de alfabetização, por que estava com forte comprometimento motor. Criança marcada por um diagnóstico que se contentou apenas com o superficial. Depois de um amplo processo de investigação interdisciplinar para se identificar as causas da disfunção motora, junto com neuropediatra, fonoaudióloga, e meu olhar psicológico com investigação de diferentes facetas de um desenvolvimento infantil, descobriu-se que a criança era portadora de uma síndrome congênita que desenvolvia sua disfunção motora acentuada. A diferença de ter-se aprofundado no diagnóstico é que no início de todo o processo de reavaliação desta criança, havia muitos “pitacos” na escola e na própria família do tipo: “esta criança é autista...”; “ela é preguiçosa mesmo...”; “...nossa, são os pais desajustados e ai a criança fica nervosa...”; e muitos outros estereótipos que eram decorrentes de um diagnóstico superficial. Até a medicação utilizada anteriormente estava causando sintomas piramidais e acentuando a disfunção psicomotora da criança. Muitos municípios estão incluindo profissionais de auxílio em sala de aula quando se tem uma criança com laudo (“laudada”). Assim, a pressa por um diagnóstico para se ter o benefício deste suporte é provocado muitas vezes pelo próprio professor do ensino fundamental I pois eles se vêem desesperados quando na sala de aula várias crianças estão com dificuldade de aprendizado. Pressionam os pais e estes já vão diretamente a um médico especialista que muitas vezes acaba dando resposta a esta demanda e com poucos exames e sem interlocução diagnóstica com outros profissionais da área, acabam por emitir laudos superficiais. Um tipo clássico atual são os laudos “Síndrome do Espectro Autista”. Quando os pais e professores leem este tipo de “tarja” logo fixam o olhar para qual palavra? Autista. Aí é aquele desespero. Sendo que Autismo é uma coisa e Espectro Autista é outra coisa. Mas aqui neste ponto temos um bom tema para outro artigo. Por enquanto quero apenas despertar aos pais interessados em ver a evolução dos filhos quando estes se apresentam com algum problema de aprendizado, que procurem por um diagnóstico mais investigativo, que fujam dos diagnósticos superficiais e rápidos e principalmente dos processos de intervenções que prometem melhoras rápidas. Um laudo equivocado deixa uma marca no currículo educacional de uma criança. Lá na frente, esta criança poderá já ter carregado uma gama de preconceitos e pior ainda, chega ao ensino médio querendo botar fogo na escola. Pois passam a vida toda lutando para se superarem sem uma resposta condizente e sem uma clareza do problema real da criança. Um futuro educacional fadado ao fracasso. |
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