As semelhanças entre ler, correr e escreverPublicado em 16/09/2019 Dor, fadiga, repetição e prazer... Ler, correr e escrever são atividades que consegui inserir no meu cotidiano e hoje se tornaram hábitos. Posso garantir que as três são muito semelhantes. As semelhanças estão na dor, na fadiga, no processo repetitivo e principalmente no prazer. Todas estas atividades, no início, sempre estão carregadas de dor, de fadiga e de repetição, mas depois de algum tempo praticando parece que vem o desejo de continuar e, quando alcançamos a meta proposta para aquela hora da atividade, vem a agradável sensação de prazer. Ler! Na leitura, começamos por deixar de fazer algo ou de estar com alguém, ou mesmo deixar de ver TV, de estar nas redes sociais. Vemos o livro e logo vem aquele cansaço na alma. Aquela sensação de ser um ET em um país cuja média de leitura é de 2,5 livros por ano entre os 30% da população alfabetizada capaz de ler um livro, uma espécie rara. Nossa! Páginas e mais páginas. Página vem, página vai, conteúdo vem e conteúdo vai, a rotina paralisante da leitura e sua monotonia. Mas, com o decorrer da leitura, o penetrar na história, na trama e até nos ensinamentos, dependendo do livro que se está lendo, o prazer advém. O prazer de ter, em um determinado tempo, viajado em mil mundos e construído conhecimento que, pela leitura, ninguém pode roubar. E aquela sensação de saber acumulado, de conhecimentos múltiplos, e a alegria de se estar na estatística de baixo índice para se adquirir doenças seniores como o Mal de Alzheimer, e menores chances de passar por um derrame cerebral. ![]() Correr! No correr, mesmo processo. Toda vez que vou correr dá vontade de parar nos primeiros quilômetros, vem àquela sensação de que estou me torturando. Dói tudo, aí penso: “nossa, que idiotice, parece que sou masoquista, vou parar com esta loucura”. A repetição do esforço, corre que corre. Nostalgia da repetição que só pode ser quebrada dependendo do local que se está correndo. Mas logo em seguida as dores somem, vem o desejo de voar. E quando já se está quase próximo da meta para o dia, dá vontade de continuar, e é onde mora o perigo da lesão. Engraçado, bem no gozo, a quase obrigação de parar. Enfim, o prazer de ficar com o corpo relaxado. Disposto para agir no dia seguinte, e fora o prazer de ver a barriguinha sumindo. Além do prazer de saber que pela corrida podemos viver longa vida. ![]() Escrever! Escrever, também, segue quase que uma mesma sequência. A dor nos punhos, nos dedos, o sofrimento de colocar algo no papel, o pensamento vai mais rápido do que a motricidade do ato de escrever. Aquele pensamento que te convida a não escrever à mão, pois temos os digitais, tabletes, Smartfones, computadores. Escrever a mão é coisa do passado. Este exercício de escrever e reescrever, de estudar escrevendo, de escrever para o outro entender, é um exercício angustiante. Mas quando as idéias se esparramam sobre o papel podemos contemplar nossa mais íntima identidade, que é nossa própria escrita. Tenho o hábito de escrever primeiro no papel, pois observo que meu pensamento flui mais rápido e depois fotografo minha escrita e envio para minha editora, decifrar e colocar no site. Penso mais rápido na escrita. Também me proponho a continuar escrevendo à mão para provocar sinapses no cérebro (condutores de energia entre os neurônios), pois foi o ato de fazer com as mãos que levou nossa espécie humana ao potencial cerebral que possuímos hoje. O prazer surge também na identificação com o que escrevi, pois ao ver o texto digitado perdemos um pouco a identidade. É muito prazeroso receber um cartão ou uma dedicatória em um livro que a pessoa escreveu à mão. Melhor ainda é saber que escrever à mão ajuda a ativar o cérebro, é o que revela um recente estudo publicado na revista “The Journal of Learning Disabilities”. Essa prática também me dá a boa vantagem de não ser mais um na massa que segue digitando tudo, me vejo aqui singular e não serializado. ![]() Estas três atividades, as quais podem tornarem-se hábitos, isto é, produzirem aquela sensação de que está faltando algo na vida, na semana, no dia, quando não as realizamos, não são tão fáceis de serem assimiladas por nós, pois a evolução de nossa espécie nos conduziu a criarmos hábitos de mínimo esforço. Assim, nos apegamos a tudo que já vem pronto e que não exige muito de nós. Porém, com a nossa ociosidade mórbida, perdemos tudo que ao longo dos cem mil anos de existência humana adquirimos com a evolução. Que eu nunca me canse de ler, de correr e de escrever! |
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