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Comportamento infantil de 6 e 7 anos – A busca do conhecimento

Publicado em 30/04/2020


Chegamos à idade que representa a fase de corte no processo de desenvolvimento da criança. Do nascimento até os cinco anos, a criança estava em seu processo de formação do ego, onde todas as suas emoções se davam pela percepção corporal, e seu entendimento de mundo e construção de suas elaborações emocionais e identidade passavam por sua própria estrutura nas etapas da boca (oral), das fezes (anal) e dos genitais (fálica). Esse primeiro momento denominamos de narcisismo primário ou primeira infância. Agora vamos observar que a criança faz um corte na identificação e percepção de mundo a partir de si mesma, ela entra no narcisismo secundário ou na segunda infância. Sai de seu auto-ego e passa para o ideal de ego. Aqui inicia a sistematização da auto-estima, que se concretiza na sua capacidade de aprender. Freud denominou esta etapa de latência.


A criança cria certa repulsa às questões genitais e associadas com as questões morais e a prevalência da estética corporal, em que ela começa a se perceber enquanto um todo e não por partes, associado ao seu desenvolvimento de pensamento concreto, sendo mais objetiva nas suas percepções, ela vai transferir suas energias para a cultura, através da evolução para o aprendizado sistematizado. Se antes era o superego o moralizador e disciplinador, agora é pela formação que vai se dar o controle das pulsões sexuais. Assim, a criança entra em um período onde as suas energias são colocadas em um campo de busca de conhecimento, ficam latentes, como que adormecidas. Depois serão reavivadas na pré-adolescência, após os 12 anos.


Início do sexto ano – desenvolvimento do mecanismo de sublimação


No início do sexto ano a criança desenvolve um mecanismo denominado na psicanálise de sublimação, pelo qual ela transfere sua energia psíquica para algo sublime. Aqui ela entra no mundo da cultura que, no processo de ocidentalização, se dá pela educação sistematizada. Lógico que ela também já começa a se envolver concretamente com todas as formas de expressão cultural decorrentes de seu meio, não sendo apenas do processo educacional. É aqui que ela começa de fato a introjetar hábitos familiares, sistemas morais que partem da família e do coletivo ao qual pertence.


Sua energia psíquica também será deslocada para outras pessoas que não fazem parte do círculo de convivência central dela, principalmente familiares. Ela começa a se identificar com os professores, amigos da escola ou do círculo religioso e das outras atividades coletivas que participa.


Aqui, inicia uma angústia do processo de separação de uma etapa primária para esta secundária. Na primeira etapa, a criança criou uma identificação direta com seus parentes, a família é o núcleo existencial. Nesta nova etapa este núcleo passa a ser ameaçado, pois, com as novas projeções que a criança faz com seus novos vínculos pode causar uma comparação entre o que imaginava ter em casa e o que realmente tem. Depara-se com mulheres e homens piores e melhores que seus progenitores. O pai, até então o grande símbolo de herói, é ameaçado por outros heróis, como por exemplo, algum professor ou outras autoridades. A mãe até então que supria e cuidava, pode ser comparada a outras mulheres que lhe darão mais afeto. Os aprendizados que a escola começa a introduzir podem ser questionados com os que a família até então introduziu. A moral familiar pode ser questionada, por exemplo, quando a criança participa de um projeto educacional sobre a preservação e o cuidado de se economizar a água, quando chega à sua casa e vê que há um grande desperdício de água, ela começa a questionar a idoneidade de orientação da família. Não é a toa que vemos muitas famílias querendo ter o direito de não precisarem colocar os filhos em escolas, para que possam ser educados em casa. A ameaça pode ser menor, porém a criança poderá ser cerceada desta potencialidade de construção e elaboração cognitiva a partir desta quebra com o núcleo familiar. Sabemos que na evolução de uma pessoa, família de base é um estágio, é passageira. Tudo bem que na vida adulta o sujeito vai ter uma base desta construção que passa pela família, mas partirá para a construção de uma nova família. E é aos seis e sete anos que este rompimento começa a acontecer de forma sistematizada.


Comportamento infantil no início da vida escolar


Na escola começa a emergir algumas dificuldades deste processo de rompimento com a família. Muitos pais criam conflitos com a escola e querem ter voz e vez dentro do processo educacional. Aqui, as escolas públicas conseguem ter certa blindagem por dois motivos, o primeiro por ter uma demanda bem alta em relação às escolas particulares e assim não dá muita abertura para que as necessidades protecionistas de cada família em conflito sejam acolhidas, e o segundo motivo, o de os usuários das escolas públicas serem, nesta faixa etária, provenientes de famílias menos abastadas e com menor protecionismo educacional. Por isto que nas minhas assessorias como Psicólogo Educacional sempre digo aos diretores de escola que mantenham firmes os procedimentos educacionais e sigam criteriosamente o regimento interno, caso contrário, darão margem para se adaptarem a cada família e ai a escola passa a ser um provocador intenso das angustias inerentes deste processo de desenvolvimento o qual a criança está passando.


Outro fator que aparece nesta etapa dos seis anos. É o encontro com o sucesso ou o fracasso educacional. Se os conflitos de transição destas duas etapas de vida forem superados através do entendimento da escola sobre este processo de comparação entre um núcleo familiar e o núcleo educacional, e se as famílias tiverem uma força de desejo sobre o processo educacional dos filhos, vendo a escola como aliada e não como inimiga, então o sucesso educacional pode acontecer naturalmente. Do contrário, se este processo é rivalizado entre família e escola e tanto os pais como os educadores não entendem desta evolução gradual da criança, os conflitos sobressaem ao aprendizado e o fracasso é eminente.


Etapa da busca constante por conhecimento


Com seis anos a criança entra na pré-alfabetização, mesmo que hoje entra no primeiro ano, que no passado era a pré-escola, terá que ser introduzida no processo educacional aos poucos. Exatamente por que está neste conflito de rompimento, de comparações e novas identificações. Já aos sete anos a criança está pronta para a alfabetização propriamente dita, pois tanto a nível emocional como a nível cognitivo ela já consegue entrar na regra do outro, sai de seu mundo com mais facilidade e consegue ter mais abertura para o encontro com amigos e os trabalhos em equipe. Não adianta querer forçar a barra de antecipar processos educacionais para idades mais tenras. Escolas tentam se gabar por terem crianças que sabem ler e escrever ainda bem cedo, tipo aos quatro anos, isto é pura papagaiada. As crianças podem ser animaizinhos se assim os adultos quiserem. Mas o processo de encontro dela mesma com o conhecimento é outra coisa, é dela por ela mesma. Faz parte do processo de maturação, que envolve tanto o cognitivo como o emocional.


Aos seis anos a criança vive na ambivalência de sentimentos acerca da relação entre as etapas anteriores de super proteção e a nova etapa de busca de conhecimento. Já inicia jogos de disputa, mas ainda numa relação direta com outra criança, tipo dominó, dama. As regras mais elaboradas entram depois dos sete anos. Aceita aos seis anos as regras dos outros com mais facilidade e tem melhor manuseio de tempo e espaço.


Já aos sete anos cria mais autonomia nas ações e consegue entender regras dentro de uma dimensão coletiva. Nesta etapa se justifica colocar as crianças em esportes que requerem maior nível de interação em grupos e de regras mais complexas. Ela sai de seu próprio mundo e já consegue perceber o outro.


Em síntese, gosto muito de comparar os seis e sete anos com a etapa da criança que entra no túnel do tempo em busca do conhecimento. A escola tem um significado fabuloso nestas idades. O interesse pelo conhecimento, ou mesmo a falta dele, brota aqui com toda a força.



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