Comportamento infantil de 8 a 12 anos – O fim da infânciaPublicado em 08/05/2020 Entre os 8 e os 12 anos a criança vai construir o final de sua infância. Ainda denominamos esta fase de Latência. Anteriormente, dos seis aos sete anos, a latência deu entrada para a busca do conhecimento. Agora a Latência se estrutura quase que preparando a criança para adentrar na pré-adolescência, logo mais aos 12 anos. Entre oito e nove anos, meninos e meninas entram no mundo da fantasia, e nesta, brincam com os entendimentos que vão elaborando do mundo dos adultos que os cercam. Como este mundo ainda tem muita transferência nos membros da família principalmente na psicodinâmica dos pais, elas tendem a viver o que Freud chamou de “novelas familiares”, pois dramatizam esta realidade da família em suas fantasias. Nas meninas a tendência é mais de brincar com suas bonecas e personagens que criam em torno de cenários da família e também do mundo externo. Como, ainda, no cenário das escolas a maioria são professoras mulheres, as crianças tendem a criar ambiência de escola, com seus alunos imaginários e elas como professoras. Já a fantasia dos meninos está em torno do sair e aventurar-se, muito ainda parecido com a dinâmica do masculino na sociedade, onde é dado aos homens esta maior liberdade de ir e vir. Mas vejam que no âmbito da fantasia as crianças vão estruturando reproduções que representam solidificações de papeis, conforme elas vêem e projetam. Neste sentido que a máxima de que as crianças fazem aquilo que vêem, tem muita realidade. Por isto que as meninas no ambiente escolar tendem ao comportamento mais recatado e os meninos são mais espevitados. As fantasias criadas pelos meninos estão muito na ordem de incorporarem personagens de dominação. É incrível que nesta diferenciação da psicodinâmica de meninos e meninas nesta idade, no âmbito educacional, a tendência é de haver uma queixa de problema de aprendizado maior entre os meninos, tanto que os índices chegam de cinco para um entre meninos e meninas. Desenvolvimento da sexualidade No campo da sexualidade há um retorno às fantasias sexuais, porém na perspectiva de reprodução dos encontros amorosos que elas observam no âmbito familiar, dentro também desta perspectiva de reprodução de papeis. Aqui podemos ver a integração de meninos e meninas e também esta reprodução da vivência sexual dos pais mesmo que seja entre o mesmo sexo, pois nesta fase, para a criança, esta trama está muito na ordem da fantasia. Lógico que estamos falando aqui de condutas dentro de uma perspectiva esperada e de um desenvolvimento natural do ambiente educacional de uma criança. Mas sabemos que hoje há varias alterações deste processo principalmente quando há uma precocidade na exposição da sexualidade erótica e também na forte presença dos eletrônicos e ampliação do tempo das crianças na internet, jogos on-line e filmes, retirando das crianças esta bela possibilidade de construção de fantasias para busca de identificações e identidade. Aquilo que para a escola e também aos pais é agito e efervescência, que incomoda tanto e passa a ser um problema educacional e não um sintoma de bom desenvolvimento, é justificado para a utilização de babás eletrônicas que faz com que toda esta fantasia, que gera ação contínua, se torne apatia. Aparentemente um benefício, crianças bem comportadinhas, mas adoecendo aos poucos. Também nesta idade aumenta-se e muito o uso de medicações para controle de ansiedade e hiperatividade. Pois a criatividade hoje está sendo vista como patologia. Entrando mais na metade dos nove anos, as crianças se apresentam com mais domínio de suas vontades e se auto-valorizam mais. Possuem muita atração pelo conhecimento numa busca espontânea e inclusive são muito atraídos pelas leituras de livros de aventuras. Coisa que parece que as famílias no Brasil e as escolas ainda não perceberam. Se percebessem, veríamos um acentuado aumento de crianças nesta idade com livros na mão. Quando pegamos os livros de Pedro Bandeira ou Túlio Costa, escritores que dedicaram parte de suas produções para o público desta faixa etária, vamos ver que são tramas e personagens do cotidiano das crianças, que geralmente está em torno da família, escola e rua. Exatamente por que as crianças saem daquela fantasia interna que reproduzem nas suas brincadeiras e vivenciam as fantasias que descobrem nos livros. Aqui é a fase principal de se fazer grandes leitores. Consolidando relações com terceiros Entre os nove aos e dez anos eles tendem a consolidar amigos mais próximos e apegar-se a eles. São até mais confidentes dos amigos do que entre os familiares. Conseguem guardar segredos. As meninas tendem a ter uma relação com o corpo dentro da perspectiva da sexualidade, pois há mais precocidade das transformações físicas de caráter sexual nas meninas do que nos meninos. Assim, elas tendem a se preservar mais de exporem seus corpos. Os meninos ainda não pontuam aqui muitas transformações de caráter sexual, e com isto tendem a serem comparativamente mais infantis do que as meninas. Nos dez anos as crianças, por se sentirem mais autônomas e gostarem desta condição, tendem a desenvolver manias de doenças, e vamos ver alterações comportamentais como choros, queixas de dores, etc. É uma fase em que vira e mexe eles pedem para ir de volta para a casa quando estão na escola, geralmente com queixas de dores de barriga. O motivo deste comportamento é exatamente por que ao se sentirem mais autônomos vêem seus pais e até professores menos presentes, menos protetores. Porém, tendem a reviver o desejo de afeto e de serem acolhidas, sentimentos de etapas anteriores. Neste sentido que dizemos que é um processo de hipocondria, pois a “possível doença” soa como um chamar a atenção para serem cuidadas. De fato, na cultura brasileira, observamos que as crianças se utilizam do adoecer para chamarem a atenção para si. Lembro-me de quando fui hospitalizado nesta idade e meus pais foram levar chocolate e frutas para mim no hospital, pois fiquei numa enfermaria que só podia ter visitas uma vez por dia na parte da tarde. A sensação de ser amado é incrível. Quem sabe, talvez aqui nesta idade fixasse este tipo de comportamento que traz o benefício esperado, e lá na frente, quando já idosos, a hipocondria vem com força e domina muita gente. É a cultura do adoecer para receber proteção. O fim da infância Ao adentrar o último ano da longa etapa da infância, os onze anos de idade, quando as fantasias já entram numa orbita de realidade e elas já não aceitam tão fácil o que é fantasioso, começa emergir a produção hormonal sexual. Mas nas meninas as alterações são mais intensas e mais visíveis, causando forte alteração de humor. Nos meninos há maior excitação peniana e exploração na masturbação, porém na maioria sem ainda a ejaculação, o que causa acentuada curiosidade e ansiedade também, tornando-os um pouco mais agressivos. Há um forte conflito em não se aceitarem ser vistos como crianças e ao mesmo tempo estão no término da infância. Preferem ser vistos como pré- adolescentes, mas ainda não o são propriamente. Até aqui, um mundo de complexidades e detalhes no desenvolvimento infantil. Nas primeiras idades com mais detalhes a cada meses ou um semestre. Depois na latência as etapas vão se alongando. Lembrando sempre que as relações de desenvolvimento emocional estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento corporal assim como o desenvolvimento cognitivo, agora, ao festejar os doze anos, que a meu ver deveria ser um aniversário de passagem, do término de uma longa temporada para se adentrar em outra nova longa temporada, o corpo começou a fazer novas transformações, a principal delas de ordem hormonal sexual. Vamos nas próximas etapas vivenciar novos comportamentos e com isto também uma outra evolução que é a cognitiva, que sai do concreto operatório e adentra no abstrato/subjetivo. Por tudo isto, é melhor cada família viver com suas crianças como de fato são, sem antecipar etapas. Pois ainda prevalece que até doze anos estamos cuidado de crianças. Não aprecemos o leito do rio, deixemos que ele siga seu curso. Pois o que é 12 anos para que pode chegar aos 110? |
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