O que podemos aprender com a pandemia COVID-19 (Coronavírus)Publicado em 15/05/2020 Já passaram alguns meses do anúncio da pandemia do coronavírus, e quase dois meses de quarentena no Brasil. Após assistirmos o aumento paulatino do número dos infectados pelo mundo, e o de mortes diárias, sem parar, ainda tenho que ouvir logo pela manhã o presidente Bolsonaro dizer que “...quem quer ficar em casa que fique, mas vamos trabalhar, o Brasil não pode parar...”(Rádio CBN Brasil, 13 de maio 2020). E logo mais à tarde ouvir de uma pessoa de nível de escolaridade superior dizer que estes números de casos e de mortes são inventados. Precisei gravar um vídeo do tema deste texto para o meu canal do Youtube, Abarca Psicólogo, para tentar pelo menos levantar o astral e elaborar ideias para este atual momento que vivemos como sociedade. O filósofo Luiz Felipe Pondé, no programa Provocação, da TV Cultura, apresentado atualmente pelo Marcelo Tas, no dia 06/05/2020, dizia que a humanidade não vai ficar melhor depois do Coronavírus, pois é da humanidade este perfil destrutivo. Ele falava que já passamos por crises piores do que esta e não ficamos melhores. Brincando, Pondé dizia que este otimismo exacerbado é coisa dos “fofinhos”, uma crítica a classe média alta que consegue passar em quarentena com algum recurso, em alusão à realidade da esmagadora população brasileira que mora em situação precária. Concordo sim com o Pondé, particularmente gosto do jeito “escrachado” dele. Faz-nos pensar, é filósofo e dos bons no Brasil. Mas, mesmo assim, quero pontuar brevemente alguns aprendizados que podemos abstrair desta pandemia. São pensamentos que tenho elaborado e, pelo menos, poderão fazer de mim um ser humano melhor: 1) Como humanos não somos todos poderosos assim. Estamos aqui apanhando por um vírus invisível ao olho nu. Somos nada, e ao pó voltaremos. Pior, este vírus chegou pela porta dos que tem dinheiro. Mata rico também. Assim, aprendemos que dinheiro não nos livra da cova. 2) Não existe país mais protegido do que o outro. Somos frágeis em qualquer circunstância. Nosso sonho de consumo de um dia estar em um país melhor e mais protegido, caiu por terra. 3) No ter, não suportamos crises. O dinheiro não traz de fato força emocional. Estamos ligados no famigerado processo de ter, com isto, consumir. Consumidos ficam àqueles que se esqueceram de ser. Ser gente, amar, sentir emoção, sentir gratidão. Sujeitos concentrados no ter, em pandemia, tornam-se transtornados emocionalmente. Só pelo ser nos colocamos com esperança diante de catástrofes, pois esperança é um elemento do ser. Não tenho esperança, pois não posso comprá-la. Sinto a esperança. 4) O estado precisa ser garantia para seu povo. O neo liberalismo não sustenta crises, ao contrário, o capitalismo selvagem, que a meu ver é a expressão direta do neo liberalismo, é quem provoca instabilidades pela desigualdade social. O que de fato está salvaguardando micros, pequenos e médios produtores, é o estado. Reascende a ideia de que as garantias fundamentais de vida humana, por ser direito universal, sejam respaldadas pelo estado. Aliás, aqui vale lembrar que o estado pode ser sim o garantidor da indústria nacional, para que os seus tenham emprego. Até então estávamos escravos da indústria Chinesa e asiática, por mera necessidade do lucro. 5) Junto do estado já está claro que a preservação do SUS é de fundamental importância. Como já vem sendo observado em países que não criaram este sistema de saúde. Nós aqui temos e estamos sucateando para dar lucro à medicina mercantilista. Esta mesma medicina que não consegue nem resguardar o mínimo daqueles que ficaram escravos dela pelos planos de saúdes que não respondem favoravelmente àquilo que vendem. 6) Noventa por cento das mensagens que nos chega pelas redes sociais são falsas. Com isto o jornalismo ético começou a ser atacado, pois a verdade jornalística não interessa ao sistema do capitalismo selvagem, que se esconde num discurso de falsa democracia. Mas jornalismo ético é coisa para democracias evoluídas. Com a pandemia vemos ressurgir a necessidade das pessoas pela busca da informação idônea, assim, quem sabe renasce o jornalismo ético. 7) O Ego político de líderes das nações só colaborou para o avanço da pandemia pelo mundo. Cada um desejando vender a melhor postura sobre a situação. Um ego que nega a evolução do outro. Quem foi o culpado. Sabemos que um dos perfis que é necessário para exercer carreira política é o ego pessoal em alto nível, um mega ego. Costumo dizer que para ser político neste modelo de poder é necessário ter um quadro sociopata, de dizer que será aquele que vai fazer, o “eu prometo”. No Brasil vemos este fenômeno acontecendo entre os governadores. Vejo o pavão com seu leque inflado do governador de São Paulo, João Dória, aproveitando-se da situação para alfinetar o adolescente tardio do ego mais que perfeito do presidente Bolsonaro. Dória todo “fofinho”, como diria Pondé, e eu diria, do riquinho envaidecido. Bolsonaro o adolescente tardio, que ao ser cutucado revida, porém com um perfil grotesco. E que eu saiba, um traço de sociopatia é a fixação do adulto em um período da adolescência, principalmente na fase da “psicopatologia normal da adolescência” tão bem descrita pelo Psiquiatra e Psicanalista Maurício Knobel. Doria X Bolsonaro, e assim sucessivamente em cada estado um ego elevado para tirar lasquinha da crise a seu favor. No estado onde moro, Espírito Santo, o ego do governador Renato Casagrande esta camuflado de socialista, faz-me rir, um socialista rodeado de extrema direitista, com o discurso nada convincente que se derrete todo diante da pressão dos comerciantes. Será que estes todos estarão vivos até a pandemia passar? Provavelmente sim, pois para eles com certeza a “escolha de Sofia” não vai prevalecer. Daí o aprendizado de que precisamos melhorar nossa forma de escolher quem nos governa. 8) Outro Legado que a quarentena está trazendo é o de que viver em família é algo que tínhamos começado a esquecer. Fazer as coisas da casa juntos, almoçar e jantar juntos, enxergar as neuroses reais de cada um juntos, preservar a vida dos membros da família juntos. Estávamos no automático de trabalhar e trabalhar. Aos finais de semana fugir para viagens, praças e eventos. A fuga do olhar tão característico do consumo e do famigerado desejo de ter. Agora podemos nos ver em família. 9) A educação tem muita importância no processo de cidadania. Veja que a forma que as populações reagiram em países com alto índice educacional é bem diferente das nações com baixo desempenho educacional. Também com os estudantes de quarentena e o sistema educacional tentando apresentar conteúdos on-line aos alunos, deflagrou no Brasil a triste realidade de que entorno de 40% dos estudantes não possuem rede de internet que suporte aulas à distância, mostrado a falta de investimento na educação, que no Brasil segue a “cuspe e giz. Enfim, a educação é um caminho de fazer com que uma população respeite direitos constitucionais e respeite critérios de salvaguardar vidas no coletivo. Com educação, não vamos seguir a fala de um líder político psicopata que vai dizer para toda uma nação que tudo isto é conspiração para derrubar o presidente do poder. Aliás, com educação, podemos até votar errado, mas nem tanto como fizemos com o voto no atual presidente. Tudo bem que ele não foi uma unanimidade e a eleição foi bem pareada. Mas educação ajuda e muito a população acreditar na fala de um agente de saúde acima de um líder político. Um agente de saúde pode fazer orientação de prevenção e a comunidade entender e acatar. E como faltam agentes de saúde. 10) A SOLIDARIEDADE é a ferramenta essencial para a superação. Nesta quarentena tenho visto muitos grupos e pessoas saindo do seu quadrado para ajudar pessoas, entidades, famílias menos favorecidas. A solidariedade é, sem dúvida, de todos os aprendizados a que pode ser a grande ferramenta de transformação da história da humanidade. Transformação de uma história marcada pela alta capacidade destrutiva para uma humanidade totalmente focada na capacidade de amar, que está contido no ato da SOLIDARIEDADE. Com estes dez pontos, sei que o Pondé me enquadraria em mais um “fofinho”, mas quem sabe poderemos ver nos próximos anos mudanças acontecerem a partir destes e de milhares de outros olhares de aprendizados que esta pandemia poderá nos proporcionar. |
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