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O amanhã não existe!

Publicado em 30/10/2020

Diante do cenário mundial em torno da pandemia da Covid 19, ouvimos frequentemente falas do tipo: “Este ano de 2020 não existiu, vamos recuperar tudo em 2021...”; “Em 2021 vai ser diferente, pois este ano foi a morte...”; etc. E é por estas e milhares de outras falas do cotidiano das pessoas e também do meu, por onde quer que estejamos, que pensei em falar um pouquinho sobre o amanhã.


Cuidado com “amanhã eu faço!”

Se uma pessoa diz: “amanhã vou começar a correr...”; “amanhã vou começar minha dieta...”; “amanhã vou parar de fumar...”; “amanhã vou usar menos meu celular...”; é sinal de que ela nunca vai começar. Pois o amanhã não existe, e quando chegar o amanhã de hoje, já teremos outro amanhã. É uma lógica tão sutil para a construção do pensamento, que temos de fato a tendência de negarmos o hoje para nos projetarmos no amanhã. É como um círculo vicioso de linguagem e de ação.


Esta descoberta de que o amanhã não existe foi a grande sacada dos criadores do AA (Alcoólicos Anônimos), dois médicos dos Estados Unidos, muito amigos e alcoólatras, e um dia, de tanto beberem wisky um olhou para a cara do outro e disse: “ - Nossa, você está feio, super inchado”. E o a resposta foi: “- Mas você está mais feio do que eu...”. Daí pra frente criaram o AA, onde elaboraram dez passos para a sobriedade e o primeiro deles: “... por hoje, evite o primeiro gole...”. E olha que o AA teve início oficial em 1938 e o nome foi criado pelo jornalista Joe W da revista New Yorker, e espalhou pelo mundo inteiro. Ela é a instituição que possui os melhores resultados para a manutenção da abstinência alcoólica e sobriedade sobre a doença incurável do alcoolismo.


Veja tão simples e tão complexo, apenas por hoje não beber, porém, somos uma espécie que vive se projetando para o amanhã e este fator de construção cultural nos conduz inconscientemente a sempre estarmos desejando o amanhã.


Transtornos mentais

Neste sentido, vamos entender parte do por que o Transtorno da Ansiedade e Transtorno da Depressão é o carro-chefe dos sintomas que mais emergem em períodos de crises sociais, por guerras, catástrofes e pandemias. Queremos fugir do hoje que nos atormenta, e incorporamos a depressão e também ficamos na lembrança do que foi o ontem, e caímos no saudosismo agonizante e consequentemente na depressão.


Com o pé amarrado no ontem, e a cabeça flutuante no amanhã, vivemos sem estar conectados com o hoje. É como dirigir um veículo com a cabeça virada para trás ou apenas olhando para frente sem as mãos no volante, com certeza não vamos chegar a lugar algum. Para dirigir bem um automóvel, é necessário estar olhando para trás pelos espelhos retrovisores, sem, no entanto deixar de olhar para frente, desejosos de chegar onde projetamos a viagem, mas com as mãos no volante. O volante é o nosso hoje, este aqui e agora.


Então, é para viver preso no presente?

Mas você pode estar pensando: “Como assim, o amanhã não existe? Vamos viver presos no presente? E nossos projetos, nossos sonhos, não diz respeito ao amanhã? Aí é que está a chave para a realizações de projetos e sonhos (do amanhã). Do amanhã pois entra na esfera do devir, do desejo e com isto na orbita da fantasia, de subjetividade humana. E é por causa desta subjetividade que nos diferenciamos dos animais que são codificados geneticamente para viverem como vivem.


Projetos e sonhos são perspectivas que podem ou não dar certo. Imagine que você pense “...amanhã vou viajar!”, e logo mais à noite você tem uma parada cardíaca e morre. Nossa, que crueldade. Mas o seu amanhã não vai chegar, pelo menos para você degustar da viagem programada. Será triste para quem ficar para te velar. Tudo bem que se você acredita em “paraíso” celestial e ou acredita em reencarnação, pode ser que seu amanhã poderá ser no inferno ou no céu, ou em alma procurando algum lugar para habitar.


Enfim, esta conversa poderia nunca ter fim. O amanhã não existe na ação, apenas no desejo. Lógico que somos movidos ao desejo que é o que nos coloca em franco processo de busca, de crescimento de conquistas. De fato, quem não deseja o amanhã, ou está doente ou está morto. O problema é que este desejo pode ser atingido se estivermos fazendo ações no hoje, no aqui e no agora, para que o sonho se realize. Do contrário vamos ficar na orbita do desejo, da subjetividade e nada vai acontecer.


Imagine um jovem no terceiro ano do ensino médio desejar cursar uma Universidade Pública, mas no dia a dia não está estudando. Se o sujeito for um gênio, pode até ser que consiga, mas...! Poucos são gênios, ai é melhor estudar dia após dia, para que o desejo da Universidade possa ter a chance de acontecer.


Agir e realizar no coletivo

Lembrando que sonhos (projetos) na vida adulta se estiverem numa esfera muito individual, fechados em si mesmos, tendem a ficar na fantasia de alimentação narcísica, voltado para o próprio umbigo. Por isso é sempre bom lembrar da célebre frase do dramaturgo Bertold Brecht: “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto, é realidade”. Esta analogia de Brecht é a clareza de que nós Sapiens somos coletivos. Por isto que o consumismo nos individualiza e nos transforma em fantasiosos sonhadores sem potencialidades de ação prática, e adoecidos emocionalmente.



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