Todos
tendemos a fugir de doenças, mas todos adoecemos. Somos educados
inconscientemente a ter benefícios com a doença. Desde criança, conseguimos
angariar atenção maior dos pais e familiares quando estamos doentes. Ao mesmo
tempo em que fugimos da doença, somos levados a estarmos doentes.
Lembro
de quando eu era criança e meus pais, que tinham sete filhos, deram maior
atenção a mim nas vezes que fui internado no hospital da cidade. Eu recebia
visitas, ganhava maça - que na época era comida ou fruta de ricos - e ainda
tinha o direito de nem ir para a escola na semana da internação, para se recuperar
em casa, com a TV ligada, comida na mão e muito mimo.
Uma vantagem mentirosa
Esta
é a realidade de muitas famílias no Brasil, que educam os filhos na perspectiva
do apego afetivo. Principalmente quando um filho sofre por algum problema. Este
referencial que muitas crianças vivenciam de serem beneficiadas afetivamente
pela dor decorrente da doença, que faz os pais dedicarem toda a atenção ao
filho doente, gera uma identidade de doença associada a benefícios afetivos de
atenção – algo próximo ao que Freud chama de benefício secundário do sintoma.
Neste
sentido, observo muitos pacientes que na vida adulta vivem em função de uma
doença ou na expectativa de adquirir uma. Estar doente pode ser um benefício e
geralmente quando este perfil incorpora na estrutura de personalidade de um
adulto, o que se desenvolve são doenças de caráter emocional, quase sempre com
a conotação depressiva ou ansiosa. Exatamente aqueles pacientes que mesmo em
tratamento apostam na doença, que ao se sentirem melhor preferem a condição
depressiva ou sofrível, possuem um perfil forjado desde a infância.
Sabemos
que, muitos sujeito desenvolvem a hipocondria na vida adulta, que é a condição
mental de criar doença. São pessoas que constantemente se apegam a médicos em
busca de um diagnóstico por uma possível doença. Aqui temos este perfil de
busca por afeto, que, pela carência afetiva, o único recurso de conquista de
afeto é estar doente.
Eduque para uma vida saudável
É
possível educar os filhos em uma outra perspectiva de vida, a de não estar
doente. Mas, para isto, é necessário a atenção dos pais, estar participativo no
cotidiano dos filhos e promover ações de interatividade afetiva. Uma educação
voltada para a vida, e não para o sofrimento.
Uma
forma de educar que precisa de coragem e dedicação, já que somos imersos na
cultura do apego afetivo e do culto a doença. Não é a toa que o Brasil é o país
com maior índice de pessoas com transtorno depressivo da América Latina.