A
demanda depressiva tem aumentado em tempos da pandemia COVID-19. Mesmo
antes, o Brasil já aferia altos índices de pacientes com transtorno de
depressão, o que já valeu vários artigos que escrevi neste site sobre o tema.
Somos o país na América Latina com o maior índice de quadros com transtorno
depressivo.
A religião da culpa e a ascensão da
depressão
Atualmente
assistimos também a ascensão das religiões fundamentalistas no Brasil e de
setores de diversas religiões com tendência ultra conservadora, desde setores
da Igreja Católica até de religiões estruturais históricas de base cristã e as
derivações destas denominadas Evangélicas, mas não históricas, e que aqui
denomino de seitas. Esta vertente mais conservadora que remete ao
fundamentalismo bíblico e traz luz ao “demônio”, em que tudo é movido pela
força do mal, do pecado e consequentemente da culpa. Estas são tendências que
revitalizam dilemas da idade média, como acreditar que a terra é plana, por
exemplo, negando a ciência.
Este
cenário, que percorre uma rede dinâmica de emergentes fundamentalistas em todo
o mundo, está diretamente relacionado a uma vertente política de extrema
direita, forjada, sem dúvida, para os adeptos do atual presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump. Assim, a ascensão da religião que acentua a culpa traz
também um forte crescimento dos sentimentos depressivos.
A religião ajuda ou prejudica no
tratamento da depressão?
A
religião em si, dentro de uma prática libertadora, decorrente da livre escolha
e consciência pessoal, soma muito com a prevenção e/ou com a cura de doenças
emocionais.
Porém,
a base da prática religiosa no Brasil é judaica/cristã, já que o cristianismo
nasce do judaísmo, Jesus Cristo era judeu. Com sua pregação Jesus, traz um novo
mandamento, sem, no entanto, deixar o mandamento maior dos judeus “amar a Deus
sobre todas as coisas” (judaísmo) “e ao próximo como a ti mesmo”
(cristianismo).
A
antiga regra é a regra acima de tudo, Deus acima de todos. Mas o judaísmo
carrega uma contradição, pois em seu seio nasce a nova regra. Na nova regra,
“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, já é uma
interpretação da lei. A lei que deve estar a serviço do ser humano e não
deixando-o escravo, culposo, sofrido.
A
moral religiosa culposa, que engendra o chicote, a dor e sempre o olhar
persecutório de Deus, só gera depressão e faz aqueles com o quadro depressivo
já avançado, piorar ainda mais.
A
moral religiosa engendrada na prática do amor, da solidariedade, do outro como
o meu próximo, é uma prática altruísta de respeito ao próximo. Uma religião que
previne doenças emocionais e inclusive é um antídoto contra a depressão. E se
caso uma pessoa com esta postura religiosa venha a adquirir um transtorno
depressivo, com certeza terá na religião um forte aliado de cura.
A culpa!
Um
dos principais elementos comportamentais que favorecem a emergência da
depressão é a culpa. Sempre brinco com meus pacientes, que tirem o chicote da
bolsa e vamos picotando a extensão dele, até que não haja mais o chicote.
A
culpa agrava estados obsessivos que podem até contribuir para que a pessoa se
mantenha em depressão obsessivamente, tendo “benefício” dela.
Assim
a religião da prática do amor mútuo é o quadro protetor para que a depressão
não entre e ou que possa sair. A religião de regras rígidas, de culpabilização,
é estímulo para a chegada da depressão e com esta prática o paciente depressivo
dificilmente entrará em um processo de cura.
É
melhor rever seus conceitos religiosos, observando se sua prática o liberta e o
deixa feliz, esperançoso, ou se traz sempre a sensação de erro, de culpa e de
tristeza. Esta avaliação da prática religiosa é fundamental para termos um
olhar preventivo sobre a saúde emocional.