Quem me despertou para
este tema foi o Psicólogo Psicanalista Samuel Iauany, quando, no mês de outubro
de 2020, escrevi o texto sobre a criança que vive dentro de mim. Em resposta,
Samuel manda uma mensagem dizendo “o inconsciente não envelhece”.
De
fato, que nossos registros inconscientes, das estruturas de vínculos afetivos,
dos processos de introjeção e projeção, das articulações transferenciais que
fazemos com o mundo e as pessoas ao longo da nossa existência, acumulam
registros em nosso inconsciente desde a tenra idade. Uns dizem que isso ocorre
até na vida intrauterina, como o demonstram os estudos da psicanálise de
Piamontelli na dimensão do Eu pele a partir de Didier Anzieu. Podemos de fato constatar
que o inconsciente não envelhece.
O inconsciente é o armazenamento de nossa história!
Para
quem já trilhou ou está trilhando processo psicanalítico na forma de análise,
como faço com meus pacientes desde as crianças até os adultos, assim também
como me sujeito ao processo analítico continuamente, pode observar que
constantemente lembramos cenas de nossa infância e juventude.
Geralmente os elementos
mais determinantes dos sentimentos e emoções que pautamos no nosso cotidiano em
análise estão cravados na nossa memória inconsciente, que no processo criado
por Freud pela associação livre, em que o inconsciente vai sendo desvendado,
decifrado e interpretado pela fala espontânea, num contínuo processo
regressivo, vamos sempre trazendo a criança dentro de nós. Assim, o
inconsciente não envelhece, estamos em contínuo processo de degustar nossa
infância.
A mente e a analogia do iceberg
O
próprio Freud dizia que a análise e o método psicanalítico são como o trilhar
do arqueólogo em busca do descobrir fragmentos do passado. Freud comparou a
mente como umIceberg, no qual o que conhecemos de nós mesmos é
apenas a ponta, aquilo que conseguimos ver, que pode representar até, quem
sabe, 10% da nossa percepção, que é o consciente. O que não vemos, que chega na
ordem de 90% é o que chamamos de inconsciente, e é exatamente aquilo que não
enxergamos de nós mesmos que nos derruba. Assim como aconteceu com o Titanic,
onde o comandante do navio não observou que a montanha de gelo estava próxima
de seu navio, o que resultou no afundamento do mesmo.
Muita
gente chega para um processo de psicoterapia com receio de ficar preso no
passado e até com a fantasia de regredir e não mais sair do passado. Isto
acontece por que a maioria das pessoas buscam o psicólogo (a) para resolver
problemas emergentes ou consertar o “casco da embarcação” que foi estourado
pela parte não revelada do iceberg, o inconsciente. Poucos, neste Brasil,
procuram o psicólogo para livremente desenvolver o processo de análise livre.
Geralmente só acontece
com quem já estudou a Psicanálise ou já tem processo educacional e conhecimento
do mesmo para se propor a análise livre. O fato é que o processo de entrada em
uma análise de base psicanalítica leva tempo, pois, se o paciente, no início de
um tratamento chega com sintomas de transtornos emocionais e, muitos, já com
medicação psiquiátrica, a primeira etapa é levar para suporte e apoio, fazer o
paciente elaborar seu conflito inicial para posteriormente entrar em uma
análise. Na minha experiência clínica, esta é uma realidade com muitos casos.
O inconsciente não envelhece !
Mas
desde o início de uma psicoterapia, que visa a acolhida do problema e a
terapêutica para a evolução e melhora do quadro clínico inicial, até a
instalação de uma análise livre, o objeto de percepção é teoricamente a
psicanálise e, tecnicamente, também a psicanálise, pois constantemente
ouvimos os sintomas emergentes, as falas do consciente pelas cenas do
cotidiano, mas atentos para devolver ao paciente traços de seu inconsciente o
qual passa, muitas vezes, despercebido. É nesta devolutiva da fala do paciente
para que ele mesmo tenha seus próprios insights que a criança
e o adolescente são revitalizados, relembrados.
Desta
forma, podemos constatar e conduzir a fala do Psicólogo Samuel Iauany, que o
inconsciente não envelhece. Por este motivo que observo um forte
rejuvenescimento nas pessoas que são analisadas ou no sujeito analisado.