O conceito de Psicologia
das Múltiplas Competências vem sendo trabalhado por diferentes autores em
diferentes áreas do conhecimento. Edgar Morin, em seu livro “Sete pilares para
a educação”, e também no seu texto “A cabeça bem feita”, além de todo o
conjunto de sua obra como filósofo traz o debate das múltiplas capacidades que
um indivíduo pode potencializar em sua vida ao longo da trajetória escolar. Com
isso, ele propôs mudanças no currículo educacional francês, visando
potencializar conhecimentos com a capacidade de executar.
Outros
tantos ligados à Filosofia e educação estão insistindo nas múltiplas
competências. Outro exemplo é Yves de La Taille, através de seus estudos pela
USP de São Paulo, pelos quais ele pinça a ideia do saber que se aprende
fazendo.
Conhecimento, habilidades e atitudes
Neste
cenário, temos também muitas abordagens no meio administrativo empresarial que
estão utilizando os conceitos de conhecimento, habilidades e atitudes, no que
já ficou caracterizado como C.H.A do executivo.
Qual é seu C.H.A? Esta é a busca que
muitos departamentos de gestão estratégica de pessoas fazem para rastrear novos
talentos para dentro da empresa.
Ao
longo de minha experiência em gestão estratégica de pessoas, que comecei a
desenvolver a partir da minha formação de MBA em Desenvolvimento Humano pela
Fundação Getúlio Vargas, comecei a me dedicar em construir um método de
identificação das habilidades e atitudes para jovens em processo de escolha de
um curso superior, e, consequentemente, uma profissão futura. Ele serve também
para executivos e ou empresas que precisam selecionar pessoas para funções de
gerência na organização.
Intitulei
este processo com o conceito da “Psicologia
das múltiplas competências”, em que o sujeito constrói as habilidades e
atitudes que necessita ter para sua ação profissional. O conhecimento em si,
por ser inerente ao exercício profissional, é necessário, é condição primeira,
mas as habilidades para agir e fazer valer na prática o conhecimento, são
pontos nodais para percepção de perfil profissional.
Geração digitalizada e especializada
Nossa
espécie Sapiens possui potencialidades múltiplas e competências
codificadas. Com a evolução da espécie, fomos desenvolvendo habilidades para
chegarmos ao mínimo esforço possível. Hoje, chegamos a um patamar de baixo uso
de nossas habilidades e consequente esfriamento do ânimo para atitudes de
informação, é a geração digitalizada.
Outro
fator que vai paralisando nossas ações é o afunilamento do conhecimento a
partir das especialidades, para várias áreas de ação profissional temos dezenas
de especialidades. Nos tornamos eficazes em um área e somente nela.
Atividades manuais para potencializar os resultados
É
sempre bom lembrar que nosso cérebro chegou onde chegou pelas habilidades
manuais. Quando executamos atividades com as mãos causamos sinapses cerebrais e
provocamos a produção de substâncias químicas que nos colocam ativos, bem
humorados e dispostos. A atitude de fazer acontecer é uma reação ou resultado
de um cérebro em plena funcionalidade. Mas com o desenvolvimento tecnológico e
a digitalização estamos desenvolvendo poucas habilidades manuais e perdendo
potencialidades tanto do fazer quanto da cognição.
Quando,
em um dia de descanso, o profissional passa a maior parte deste dia dormindo ou
no celular, na tv/computador, preso em séries da netflix e outros sistemas de
geração de filmes em série, está descansando de forma pouco criativa, pois os
conteúdos digitais já estão prontos e não exige esforço e desenvolvimento de
habilidades, e consequentemente remetem à falta de atitude, o sujeito fica estagnado.
Para desenvolver as múltiplas competências
Para o
desenvolvimento das múltiplas competências a partir dos referenciais do
Conhecimento, Habilidades e Atitudes (C.H.A), o sujeito precisa saber ocupar
seu tempo com a busca de conhecimento tanto daquilo que faz na profissão ou
especialidade quanto no ato de executar outros conhecimentos que adquire. A
execução é o desenvolvimento da habilidade, aquela ação que faz o conhecimento
se transformar em ato. É preciso ter também ações que exijam o sair da zona de
conforto para o desenvolvimento da atitude, do impulso para o ato de fazer.
Assim, atentos à estas três dimensões as múltiplas competências começam a
transbordar no sujeito.
No meu
método da Psicologia das Múltiplas Competências, observamos, como
eu já disse, as habilidades e atitudes a partir do que o sujeito já desenvolve
ou para aquilo que pretende desenvolver, na transparência dos dados construído
pelo próprio sujeito, que pontua por ele mesmo as habilidades e atitudes que
precisa ter diante do que se propõe, terá uma percepção das potencialidades
desenvolvidas, das potencialidades que ainda precisam ser desenvolvidas e das
potencialidades que nunca conseguirá desenvolver, mas que poderá rastrear
apoios para se superar. E também dos mecanismos de atitude intrinsecamente
ligados ao emocional e personalidade, aqui está também o reconhecimento dos
próprios limites. Neste método os quatro eixos de medida são: emocional,
personalidade, cognição e perfil.
Na era
do TI, poucos vão desejar desenvolver as múltiplas competências, pois este
desejo e trajetória requer muito esforço, foco e prospecção. Mas os poucos que
conseguem, fazem a diferença no meio da massa acomodada. Uma massa que agora
trilha o caminho mais animalesco de nossa espécie: o não pensar/fazer. Se não
múltipla potencializarmos, logo logo estaremos andando de quatro e lambendo a
língua em um aparelho digital.