Há
muito tempo insisto em defender a importância da leitura de livros na vida
humana. Mais do que simplesmente falarmos da importância da leitura para o
processo educacional na pré-escola até a universidade, mantenho a ideia de que
a leitura é estrutural para o ser humano e por isso vai além do processo
educacional, é para toda a vida.
A leitura de livros na vida dos brasileiros
Estamos
em um país onde o índice de leitura de livros é muito baixo, com média de 2,3
livros anuais por pessoa, um dos piores índices do Ocidente. O que é resultado
de uma colonização que estava mais preocupada em explorar as riquezas do
Brasil, em usurpar os povos primitivos que aqui já habitavam para mais de 25
mil anos, os povos indígenas, que foram dizimados pela coroa portuguesa. Depois
tem o genocídio, o maior da história ocidental, através da escravização por
mais de 300 anos. A escravização no Brasil, teoricamente, teve fim com a lei
áurea, contudo, não repercutiu em liberdade e possibilidade da autonomia
produtiva aos negros escravizados restando-lhes outras formas de escravização,
por tornarem-se mão de obra barata para as elites dominantes criadoras da
colonização.
Hoje
temos uma população em que 75% são analfabetos funcionais, que sabem escrever o
nome e poucas palavras e não conseguem ler e interpretar um parágrafo, segundo
índices do IBGE.
Diante
deste cenário, pensar no hábito de leitura para a população brasileira ainda é
um devir, quase uma utopia. Por isso que é difícil conscientizar que o ato de
ler livros é importante, pois omodus vivendido coletivo
brasileiro é servir, trabalhar e seguir normas impostas pela elite dominante.
O legado da nossa espécie Homo Sapiens
Mesmo
assim, lembro que a nossa espécie Sapiens evoluiu na condição de simbolizar.
Isto é, pensa e transforma seu pensamento em símbolos, objetos, produtos. Somos
pensamento que transforma-se, pela habilidade manufaturada, em objetos de
realidade.
O
processo de simbolização se dá principalmente pela palavra. Esta palavra que
depois de falada foi transformada em símbolos de escrita. Temos nosso alfabeto
e todo sistema de conjugação das letras, das palavras e das ideias. Pela minha
capacidade de simbolização estou escrevendo este artigo.
Palavras
jogadas no papel viram história escrita, registrada. No passado, nossas
histórias eram contadas, hoje são escritas. O lugar de registro do pensamento
humano está configurado em um dos mais importantes símbolos, que é o livro. O
registro da mais antiga biblioteca no planeta é a da universidade de
Alexandria, datada com mais de 10 mil anos. Nela, os livros eram guardados em
rolos de pergaminhos, você pode ver esta história registrada no filme
“Alexandria”, que narra o episódio do conflito da Igreja Católica da época com
a universidade, no antigo dilema das ameaças da ciência sobre a religião e a
fé.
A importância da leitura de livros na vida
das pessoas
Ler
um livro é colocar-se nas nossas raízes como humanos e ao mesmo tempo um
mecanismo de nos fazermos partícipes de nossa ancestralidade, como também nos
coloca na potencialização sistemática do que temos de diferente de todos os
animais, que é a simbolização.
Pela
leitura potencializamos nossa memória,
por isso que ler é uma forma de prevenção a doenças degenerativas do cérebro.
Pela leitura, estimulo meu potencial de
imaginação, de criatividade e mantenho meu cérebro em plena sinapse e
alimentação dos neurônios.
Insisto
que a melhor leitura é aquela que é desprovida da necessidade de conhecimento
profissional, educacional, pois não remete a uma obrigação. A leitura livre de
compromisso é aquela que leva-nos a criar hábitos, principalmente se for
associado como lazer. Neste sentido, a leitura da literatura é um excelente
caminho.
A leitura e as outras formas de obter
conhecimento
Quando
comparamos o poder da leitura de um livro ao hábito de assistirmos séries e
filmes, por exemplo, percebemos que na leitura temos o cenário descrito, somos
nós que construímos, podemos até imaginar o processo de sonoplastia. Nas séries
e filmes, que não deixa de ser um bom lazer, temos o cenário e a sonoplastia já
definida, exige menos potencialidades.
A
leitura pode ser comparada também à escuta por rádio, podcasts, audiobooks, o
que traz muitas diferenças, pois quando estamos ouvindo remetemos a nossa
ancestralidade do falar, “histórias contadas”. Isto é muito bom, mas na leitura
adentro no processo da evolução humana pelo registro da palavra e da história
sintetizada no livro.
Das três formas que normalmente buscamos
conhecimento: leitura, audiovisual, áudios (palavra escrita, palavra visual,
palavra falada) o que nos dá mais potencialidade da memória, criatividade e
sinapse cerebral, ainda é a leitura.
Com
a emergência dos processos digitais, previu-se o término do livro impresso, o
que ainda não se concretizou, pelo contrário, o livro impresso passa a ser um
objeto de comercialização que aumentou. Já vemos emergir os ebooks, livros
digitais, juntamente com ose-readers, leitores digitais, que para
se tornar interessante simula a leitura em um livro físico, com uma tecnologia
que não deixa o leitor saturado de ler na forma digital. Mas o livro, seja
digital ou físico, ainda é um recurso poderoso para o fomento e
manutenção de nossa força de pensamento, que nos difere de todos os outros
animais.