O pensamento de Winnicott para pais e educadores | Sobre democraciaPublicado em 02/06/2021 A Psicanálise em Winnicott de fato vai para além das demandas de estrutura psíquica do indivíduo e extrapola os limites da clínica psicológica. Desde o primeiro vídeo no meu canal do Youtube, até os textos que acompanham cada vídeo no meu site (O pensamento de Winnicott), vamos observando a versatilidade e amplitude de extensão para diferentes áreas da sociedade. Aqui, temos a possibilidade de observar alguns fragmentos sobre democracia, num tempo brasileiro onde estamos sob ameaças ao nosso tão frágil sistema democrático. Maturidade humana e democracia“Parece possível encontrar um conteúdo latente importante no termo “democracia”, qual seja, de que uma sociedade democrática é “madura”, quer dizer, que apresenta uma qualidade que é aliada a maturidade individual que caracteriza seus membros saudáveis.” (WINNICOTT, 1950, 2011- p. 250)[1] Assim, a maturidade é, em Winnicott, a chave para poder vivenciar a democracia. Tenho constantemente orientado pais e professores que não é possível esperar a capacidade de exercício democrático entre crianças e adolescentes, pois de fato o processo de organização social pautado na democracia depende de maturidade emocional, que poderá ser vivenciada plenamente na vida adulta. Neste sentido, quando vejo pais e educadores conversando com crianças e adolescentes como se fossem adultos e capazes de seguirem regras estabelecidas no coletivo de forma livre e espontânea, logo concluo que há uma falta de clareza sobre a imaturidade natural destas idades. Lógico que da primeira infância até a adolescência adulta, que chega à casa dos 18 aos 22 anos, há uma evolução na maturidade sim, porém, para cada etapa deve-se observar o grau de maturidade. Podemos localizar que até os sete anos, aproximadamente, a criança se orienta de forma anômala, segue quase que como um espelho aos adultos; depois evolui para o estágio heterônomo, em que segue as regras como elas são colocadas; e chega na adolescência com a heterônomas, mais questionáveis, pois já começa a amadurecer um pouco mais, porém com a imaturidade inerente ao adolescente. Professores que arriscam em definir regras no coletivo a partir das necessidades das crianças e adolescentes poderão cair em uma armadilha de perda total do controle de limites sobre os alunos. Lembro-me do filme Sociedade dos Poetas Mortos, de 1989, um drama adolescente dirigido por Peter Weir com o ator Robin Williams. No drama deste filme, o Professor de literatura, que é interpretado por Robin Williams, cria uma sociedade secreta para recitar poesias com seus alunos de uma escola de internato. O professor cai na armadilha de que estava lidando com jovens cheios do desejo de aprender e que respeitariam as regras discutidas no grupo de forma democrática. O resultado é catastrófico. Nestes dias me surpreendi com um menino de seis anos pagando a conta do restaurante com o cartão de crédito do pai, onde ele até digitava a senha. Aqui encontramos duas armadilhas: o pai acreditar que o filho já está pronto para manusear seu cartão de crédito e o restaurante aceitar uma criança fazer o pagamento passando o cartão do pai, sendo que o pai não estava presente. São muitas as cenas em que nos deparamos com esta falta de percepção dos adultos em identificar as naturais imaturidades de seus filhos.
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