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Inclusão, o discurso longe da prática

Publicado em 18/09/2015



Chega o final de ano e muitos alunos começam a ficar desesperados ao verem que não conseguirão passar de ano sem ter que encarar uma recuperação. Pais desesperados procuram Psicólogos para psicodiagnósticos, em busca de laudos que justifiquem uma avaliação diferenciada  por parte da escola.
Escolas, muitas delas, ou a quase totalidade, sem nenhum critério de monitoramento aos alunos com baixo desempenho educacional. Desde as escolas públicas até particulares. As públicas geralmente caem no mito de que a inclusão não funciona mesmo, e tendem a aprovar para se ver livre dos alunos problemas e melhorar as estatísticas dos governos. As escolas particulares neste final de ano, preocupadas em angariar novos alunos para o próximo ano letivo, tendem a gastar com as publicidades enfocando os alunos aprovados nos vestibulares. Se for numa universidade pública, é sinal de mais sucesso.
Mas, em cada início de ano letivo, os pais prometem para si mesmos que irão acompanhar melhor os filhos na escola, principalmente aqueles com maior dificuldade. As escolas seduzem aos pais prometendo o mundo e o fundo, principalmente um olhar diferenciado ao aluno problema, ainda mais se este estiver saindo de  outra escola cujo desempenho foi abaixo do esperado. Vão dizer: “aqui nós somos diferentes, temos isto, temos aquilo”. É uma maravilha. Assim estabelece o dilema pais x escola.
     A escola se possui critérios de inclusão procura os pais desde os primeiros sintomas de dificuldade do aluno, mas muitas vezes não recebem a devida atenção. Só no final do ano, que estes pais desligados vão procurar ajuda. Outras escolas, menos atentas e sem critérios de educação inclusiva, nas reuniões de pais, em época de entrega das notas do bimestre,  jogam toda responsabilidade na família, levando-nos ao sentimento de culpa e consequente tortura para com os filhos.
Os Pais, se atentos, estabelecem parcerias com a escola e rastreiam caminhos, transformando o que poderia ser um sério problema em uma solução, pela parceria. Mas os pais, menos preocupados, aqueles que acreditam que educação é problema da escola, tendem a atacar os professores e saem na defesa dos filhos.
Sabemos que escola é o espaço das neuroses partilhadas. Nela se encontram diferentes estruturas familiares com várias facetas culturais, religiosas e sociais. Escola é o campo das diferenças. Se este ambiente não é entendido como um mundo onde caiba muitos mundos, a zona de atrito das relações humanas neste contexto chega ao ponto da intolerância. Por isto que as reclamações são intensas e a sensação de que uma hora as escolas vão explodir. Não é a toa que o número de professores com sintomas emocionais e estresse é altíssimo.
O primeiro ato para se trilhar a educação inclusiva, é o caminho da percepção da cultura organizacional da comunidade escolar para se observar as diversidades que nela estão contidas.
O segundo ato para a inclusão é o sentimento de solidariedade aos que possuem dificuldades para o processo educacional, principalmente dos mais vitimizados, as crianças e adolescentes. É preciso que os educadores estejam revestidos de um profundo amor pelo ser humano e pela educação.
O terceiro ato inclusivo é sair da teoria e ir para a prática. A convenção internacional de Salamanca (1994) para a educação inclusiva aponta caminhos claros e objetivos, cuja dificuldade de aplicação está na questão política, para as escolas públicas; e na necessidade da lucratividade para as redes particulares de ensino.
Sou resultado de uma história educacional, que investiu tudo para que eu não fosse nada. Cenas como:
Em 1974 passei de ano, da terceira série para a quarta. Entrei de férias, e no primeiro dia do ano letivo seguinte, chega uma senhora brava na porta da sala e pergunta sobre a minha pessoa à professora. Esta, também estressada, fala em voz alta: -“aquele magrelinho alí…”. Levam-me para outra sala de aula, com outros alunos e fiquei mais estranho do que peixe fora d’agua. Depois de três dias, fiquei sabendo que estava novamente na terceira série. Ao chegar em casa chorando, meu pai pediu-me calma e que contasse o que estava acontecendo. Ao relatar todos os detalhes para ele, no dia seguinte foi  comigo até a escola para que a diretora explicasse o ocorrido. A diretora falou que eu tinha passado de ano, mas era muito fraquinho para estar na quarta série. Meu pai, imediatamente exigiu que eu retornasse para a quarta série, se não ele iria acionar as autoridades, e ainda fez o seguinte comentário com a diretora: - “se ele estava tão fraco assim, por que deram notas azuis, seria mais coerente se realmente ele tivesse levado notas vermelhas.”
Fiquei aliviado, e com a certeza de que meu pai era meu herói. Por incrível que pareça depois que retornei para a quarta série, na primeira prova de matemática tirei 9,5. No português, tinha sempre as melhores ideias da sala, mas só tirava vermelho, pois nem eu mesmo entendia o que escrevia. Hoje, ao acompanhar crianças e adolescentes com dislexia, entendo que quando criança era portador de uma dislexia leve, e que a escola nem imaginava, mesmo na época ser um problema com possibilidade de acompanhamento especializado, pelo menos nos Estados Unidos e Europa já havia programas de acompanhamentos diferenciados para dislexos. Pena que até hoje no Brasil,  muitas escolas estão dando cabeçada na questão da dislexia, e olha que já estou com 51 anos.
Mesmo assim, tornei-me Psicólogo, e pior ainda, escritor - é mole! -
Sabe como virei escritor? Quando descobri que nas editoras existem os revisores de textos. Aqueles que dificilmente vão escrever um livro, provavelmente poderiam ser bons professores de português. Conheço poucos professores de português que escrevem livros, é que as regras impedem a criatividade. Assim, pude perceber que se escrevesse "nóis vai, nóis vamo, nóis fica”, alguém iria colocar em um português correto.
Hoje   sinto-me muito incluído, e por isto luto pela inclusão. O problema é que teremos que reinventar a roda na educação brasileira, que está amarrada em uma grade curricular com excesso de conteúdos e com falta de espaço para que os conteúdos sejam percebidos pelos alunos na prática. Além de termos um enorme quantitativo de professores sem formação adequada para estarem em sala de aula, principalmente com o aumento dos cursos de pedagogia à distância (EAD) . O cenário atual não é muito animador aos alunos que estão enquadrados em algum quadro que requer um olhar diferenciado de ação Inclusiva.


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