O despertar para o conhecimentoPublicado em 08/07/2024 É pelo processo de perda que adentramos o mundo do Conhecimento. E este processo se dá desde o parto e se estrutura ao longo de nossas vidas até, enfim, chegarmos à morte. E, aqui, você pode estar se perguntando: “Como assim?” Ao nascer, o bebê terá que aprender a buscar o seio materno com o objetivo de se alimentar. Lógico que não fará isso aleatoriamente, necessitando de estímulos para tal. Porém, uma coisa é certa: Se o seio materno (ou quem lhe oferece a mamadeira) não chegar, o bebê vai chorar de fome. Esta busca, que é biológica, já se configura nos primeiros processos de conhecimento, se dando, de fato, pela perda do útero que o supria espontaneamente para aprender a conquistar sua alimentação. Depois, para cada etapa do desenvolvimento humano, as perdas desencadeiam necessidades de conhecimento. Primeiro, vem o processo de aprender andar ao perder plenamente os braços que acolhem. Depois, a perda de quem sistematicamente cuidava do xixi e cocô que a criança eliminava indiscriminadamente conduz à necessidade de aprender a dominar as glândulas de controle, configurando outro processo de aprendizado. E assim em diante. Chega o tempo de ir para a escola e as demandas do conhecimento tomam conta da criança, que adentra um espaço amplo e de convívio com múltiplas diferenças. Uma experiência que, para muitas crianças, chega a ser traumática. Aqui, posso trazer dois exemplos muito comum: O primeiro exemplo é da criança que, já nos primeiros anos de alfabetização, não consegue aprender a ler, escrever, e fazer contas matemáticas por dificuldade de estabelecer vínculo com os professores. Isso se deve a um processo de uma perda do referencial de ensino em que a referência deixa de ser os pais e passa a ser outras pessoas, desconhecidas. Por isso mesmo, a necessidade de se ter professores nas primeiras séries de aprendizado sistematizado, com forte capacidade de estabelecerem vínculos afetivos para atenuar esta transição; O segundo, que remete à dificuldade dos pais em entregarem as crianças ao processo educacional, principalmente quando as crianças descobrem pessoas muito afetuosas e acolhedoras na escola, começando uma identificação que conduz os pais aos ciúmes e a uma rivalização com os professores. Esta dinâmica atrapalha o rompimento do vínculo referencial e cria dificuldades no processo de aprendizado por deixar a criança dividida neste jogo. Desafios na fase da busca do conhecimento Consequentemente, quando as necessidades das crianças em serem protegidas e acolhidas plenamente na afetividade e quando adentram no que a Psicanálise a partir de Freud chama de “Período de Latência” - período entre sete e 11 anos, em que a criança mergulha na busca pelo conhecimento - é exigido muito dos professores, pais, parentes e amigos, pois as crianças ficam extremamente curiosas, falantes e desejosas do conhecimento. Mas, no meio do caminho para esta libertação ao aprendizado, há empecilhos. Vide os equipamentos eletrônicos, e, atualmente com muita expressividade, o celular e os jogos online. E, aqui, novamente, você pode estar se perguntando: “Nossa, mas isto não é uma evolução?” E a resposta é: “Sim, é uma evolução.” No entanto, é uma evolução que vai requer de quem cuida, educa e oferece suporte de estímulos às crianças. Requer atenção em monitorar, controlar tempo de uso e função destes recursos fantásticos dentro das perspectivas do desejo exploratório da criança nesta bela fase da busca do conhecimento. Do contrário, o equipamento eletrônico volta a ser uma babá protetiva que deixa a criança regressiva no seu mundo, sem fazer conexão com a realidade em que está inserida e com aqueles que estão ao seu redor. Os resultados deste encontro intenso com os eletrônicos já começam a aparecer com as disfunções cognitivas e baixo desejo de busca pelo conhecimento por parte das crianças.
É preciso perder para conhecer É preciso perder para conhecer. Logo, colocar limites, estabelecer regras e desenvolver um cotidiano no qual a criança entenda que ela precisa se sujeitar a regras e limites é um meio de colocá-la em franco processo de perdas, pois são estes compromissos e concessões que alimentam a busca por conhecimento. Crianças cujo ambiente educacional familiar tem o NÃO como um conceito descartável terão dificuldades em serem desbravadores do conhecimento. Toda regra tem sua exceção, mas eu não arriscaria pré-dispor uma criança, neste ambiente do não NÃO, pois vai na contramão para o aprendizado. |
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