Quando adolescentes dizem ser bissexuaisPublicado em 05/08/2024 O aumento da manifestação em torno da bissexualidade está relacionado com a maior abertura que vemos na Sociedade para que os adolescentes possam verbalizar sentimentos, sendo percebida nos movimentos sociais, os quais debatem mais sobre o tema e levam a um encorajamento nos adolescentes em se manifestar acerca deste tópico. Tal demanda de respostas tem aumentado principalmente na adolescência propriamente dita, que vai dos 14 aos 17 anos de idade. O conceito da bissexualidade já foi abordado por Freud, o qual, em suas elaborações sobre sexualidade dentro da psicanálise entre 1900 a 1920, coloca o ser humano como aquele que transita entre hetero a homosexualidade, configurando-o como ser fundamentalmente bissexual. Diante desta perspectiva, a condução sexual não está necessariamente atrelada à estrutura fisiológica masculina ou feminina em si, mas à dinâmica de estabelecimento dos vínculos amorosos. Assim, não visualizamos nossas conduções sexuais como pautadas apenas no campo da atração fisiológica, pois dependerá de muitos outros fatores que definem um vínculo afetivo. E, quando a estrutura de identificação transita entre tendências hetero e homo, podemos dizer que a pessoa se encontra na condução de orientação como bissexual. As escolhas na adolescência e suas dualidades Considerando que a adolescência é uma etapa da vida calcada na busca e na construção de uma identidade, estando situada entre uma fase infantil passada e outra adulta que virá, as escolhas aqui realizadas sempre passam por indefinições, dualidades e inseguranças que culminam em posições absolutas e outras de extrema incerteza. Assim, no campo da orientação sexual não será diferente. Ao nominar-se bissexual, o adolescente está dizendo que, de fato, não tem clareza de sua posição. Pode ser que, ao nominar-se como tal, estará assumindo esta orientação também para a vida adulta, num movimento inverossímil por definição. Desta forma, o caminho mais lógico para pais e educadores é o acolhimento da posição deste adolescente sem críticas, teorias e posições duma sexualidade que apresenta-se calcada na unilateralidade da estrutura fisiológica. Muitos são os pais que se desesperam ao ouvir do filho adolescente que estão numa condução bissexual, principalmente os pais com pautas de costumes muito conservadoras. Sabemos que, mesmo em famílias regradas na normatividade heterossexual por princípios religiosos, a condução bissexual ou homossexual se dará da mesma forma, apenas levando os adolescentes a se afastarem e a assumirem posicionamentos escondidos dos pais. A posição bissexual no discurso de muitos adolescentes também está, muitas vezes, associada ao receio de serem excluídos de círculos sociais e/ou isolados do núcleo familiar, assim como no temor de serem condenados e/ou agredidos pela manifestação da posição que estão vivendo. Assim, assumir-se bissexual pode facilitar para que tais adolescentes declarem sua homossexualidade diante dum ambiente que tem abertura para as diferentes formas de condução da sexualidade, em contraposição a ambientes com forte posicionamento homofóbico e conservador, levando-os a se posicionarem como heteros. Desta forma, o dizer-se bissexual na adolescência passa a ser uma forma de defesa que usa posicionamentos diferentes conforme a conveniência. No entanto, este dizer, também por muitas vezes, é para si mesmo, pro silêncio interior que pode levar o adolescente a se sentir sufocado, levando-o a se manifestar apenas para seus amigos mais próximos e não para seus familiares. Como auxiliar o adolescente neste período de escolhas Se a adolescência é uma etapa de construção duma identidade pessoal, é crucial que os pais, professores, parentes e amigos se posicionem com, pelo menos, três pontos básicos para auxiliar o adolescente na navegação deste período: 1) Os adultos que estão próximos de adolescentes precisam quebrar tabus pessoais em torno das demandas de condução de orientação sexual. 2) Acolher a demanda do adolescente sem condenar e/ou querer disciplinar em torno do que o adulto acredita (ou já definiu) para si mesmo. 3) Não reprimir e/ou moralizar, como se aquela conduta fosse uma doença ou perversão, considerando que a ambivalência dos adolescentes é uma das características mais preponderantes desta etapa de vida.
A fase da adolescência é, de todas as fases do desenvolvimento humano, aquela que mais precisa de presença e acolhimento por parte dos adultos, estabelecendo uma relação de abertura e troca de saberes, pois os adolescentes já possuem muitas informações. Com tempo e apoio num ambiente favorável, o adolescente tornar-se-á um adulto com posições melhor definidas. E, se, de fato, tal adolescente definir-se no futuro como bissexual (em sua vida adulta), o fará sem ter precisado passar pelos possíveis traumas duma educação repressora. Hoje, posso constatar que muitos adultos moralizadores acerca de demandas de orientação sexual e posicionados como homofóbicos e/ou defensores fanáticos da heterossexualidade, apresentam conflitos pessoais com a própria sexualidade, transferindo estes dilemas para os mais indefesos. Neste caso, a adolescência passa a ser alvo preferencial por ser uma fase cujas demandas de sexualidade eclodem com força e vitalidade, ecoando nos adultos ao mexer com elementos que, em suas respectivas adolescências, foram traumáticas e/ou não tiveram resoluções adequadas. |
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