Ser mãe é profissão?Publicado em 17/09/2024 Na Sociedade pautada no machismo estrutural em que vivemos, o papel de cuidado do filho é delegado para as mulheres. As mães acabam se acumulando na função quase como no exercício de um ofício titular a partir da condição patriarcal imposta nesta estrutura machista na qual a mulher está implicada, levando-a assumir o papel de cuidadora mesmo que não queira, não raramente em decorrência da plena ausência do pai na educação dos filhos. E esta lógica assume uma configuração ainda mais cruel quando tal mulher mãe esta em processo de separação conjugal e há uma ausência mais forte ainda do pai, ex marido. Igualmente agravante é quando, de fato, a mulher vive sozinha com filhos para cuidar. Sendo assim, se torna lógico que ser mãe não é um exercício profissional, porém, na prática, é como se fosse. Sabemos que, nos atuais parâmetros sociais, a mulher é a que mais tem perdas de sua própria liberdade, também sofrendo mais pelas múltiplas formas de assédio (tanto moral quanto sexual) e agressão (vide o próprio feminicídio). Porém, mesmo diante destas circunstâncias, a mulher precisa delimitar seus diferentes papéis na Sociedade enquanto cidadã, profissional, mãe, esposa etc. Pois, se assim não o fizer, estará incorporando o papel da maternidade como uma obrigação que vai evoluir para uma postura profissional, levando a várias problemáticas na relação com seus filhos, tais quais: 1) Ao ser apenas mãe, vai estender seu trabalho profissional para dentro de casa, continuando num processo de produção e metas a serem atingidas. Assim, vai desconectar-se do sentido materno na relação com seus filhos e criar forte bloqueio nos laços afetivos com os filhos. Além de, ao longo dos anos, construir um estresse de trabalho sem ter um parâmetro diferencial entre ambientes profissional e familiar, também predispondo um possível Transtorno de Burnout. E quem vai perder com tudo isso é a mulher e os próprios filhos, que não conseguirão sentir nesta, uma posição de vínculo afetivo diante desta conduta. 2) Nesta não-delimitação de seus diferentes papéis, também acaba fazendo o jogo de sustentação de ser aquilo que a Sociedade machista quer dela: ser apenas mãe, distanciando cada vez mais o homem pai de sua função paterna. É sustentar uma estrutura que, de fato, a escraviza. 3) Ao ter a visão do filho visto como um trabalho / profissão mãe, criar filhos passa a ser enfadonho, penoso, um labor desgastante. Assim, o cansaço no ser mãe aumenta de forma exponencial, causando, por muitas vezes, aquela sensação de não desejar nem retornar para casa mais.
É sempre bom lembrar que filhos partem, mas a mulher permanece.
Ainda prevalece, nesta posição de ser mãe, a escolha de ser. Mesmo que a maternidade e a criança cheguem sem desejar, assumir a condição de ser mãe vai fazer a diferença no estado emocional de uma mulher. E, se esta escolha estiver clara na ideia de simbolizar mais um elemento da vivência da mulher e não apenas a única vivência, a condição de ser mãe no momento em que é preciso assumir tal posição será de muito prazer, sim. Os desprazeres naturais de toda escolha acontecerão, sem sombra de dúvidas. Mas, ao ser escolhido, se mantido na posição de mãe quando colocada esta condição, fará enorme diferença. Aí sim, a mulher conseguirá se colocar com afetos e carinhos diante dos filhos, se posicionar em regras e limites, brincar com o filho e usufruir deste brincar, criando o filho para a construção de sua autonomia. Desta maneira, um dia, não será mais a mãe na condição de estrutura para o filho, mas sim uma amiga. Parceira para com um indivíduo que, quando adulto, seguirá seu caminho. Do contrário, se a mulher se desfaz de sua identidade para se colocar apenas na condição de mãe, terá instituído um grande desprazer na relação com os filhos e na não-percepção de si mesma como mulher. É sempre bom lembrar que filhos partem, mas a mulher permanece. Se, ao longo da trajetória como mãe, a mulher esqueceu de si mesma enquanto mulher, ficará vazio ao filho partir e se terá apenas o tal do “ninho vazio”. |
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