A Escola e o Encontro das Neuroses FamiliaresPublicado em 08/10/2024 O ambiente escolar não é um espaço tão simples como possa parecer. Vemos, ao longo de um ano educacional, o adoecimento de muitos professores e funcionários deste sistema. Também muitos são os alunos que, ao longo de tal período, adoecem emocionalmente. No entanto, não podemos atribuir o adoecer emocional no ambiente educacional apenas à falta de estruturas e/ou demandas políticas que, na maioria dos municípios brasileiros, deixa a educação esquecida, como se não fosse prioridade. Mesmo se tivéssemos a educação como prioridade no Brasil, teríamos adoecimentos emocionais a partir deste coletivo. E aqui que foco o tema deste texto. Quando digo que a Escola é um espaço do encontro das neuroses familiares, me refiro ao fato de que, no seio de cada família, habitam estruturas neuróticas pois, se assim não for, não há família nos moldes da nossa estrutura ocidental. Porém, devo estabelecer aqui uma breve descrição, a meu entender, do que é neurose: Neuroses são sentimentos que derivam em comportamentos atípicos que, geralmente, estão associados a demandas negativas e que tiveram seu processo de fixação na estrutura psíquica do indivíduo. Podemos assim, confirmar que o estado “normal” de uma pessoa é ter neuroses particulares, tornando o indivíduo um neurótico, querendo ou não. O coletivo das pessoas na comunidade escolar é o encontro de múltiplas neuroses Pensando que a Escola é o encontro de pessoas derivadas de famílias, o coletivo das pessoas na comunidade escolar é o encontro de múltiplas neuroses. Uns com mais, outros com menos, mas todos com alguma neurose. Assim, ao encontrar-se diante dos desafios de despertar o aprendizado, teremos uma convergência de neuroses manifestas que transformam a Escola num espaço de tensões. Imagine professores passando de 40 a 50 horas semanais em torno de uma comunidade escolar. Imagine as dezenas de crianças que chegam de suas casas com vivências diversas de relacionamentos com diferentes cargas e problemáticas. Profissionais técnicos e o corpo geral de servidores tendo que relacionar com um quantitativo enorme de crianças, também levando para dentro da Escola suas preocupações e neuroses pessoais. O resultado é um campo minado de emoções com forte carga de experiências negativas e fatores mal-elaborados por cada indivíduo nesta configuração. Tenho plena convicção de que os profissionais que atuam no sistema educacional escolar deveriam ser os melhores remunerados, dada a grande carga emocional que absorvem por um longo período de tempo ao longo dos dias e das semanas, além de merecerem espaço de escuta e acolhida de suas próprias demandas emocionais por meio dum processo contínuo de apoio e supervisão. A ilusão de que a escola é um local de liberdade, leveza e alegria, é um mito! A ilusão de que a Escola possa ser um local de liberdade, leveza e alegria, é um mito. Se alguma escola vende esta imagem, está fazendo um jogo publicitário. Contudo, podemos fazer neste campo minado de emoções, um processo de gestão que possa amenizar os conflitos, acolher as diferenças e estabelecer projetos que incluam continuadamente as forças psicológicas características do ambiente escolar. De cara, já podemos entender a emergência de profissionais de Psicologia Educacional para introduzir meios para a comunidade escolar e lidar com esta realidade que é inerente a tal espaço. Sabemos que temos uma lei federal aprovada e sancionada que prevê tais profissionais em cada unidade escolar, seja pública ou privada. Tal lei só não foi ainda sistematizada para se tornar uma realidade. Colocados estes pontos, neste momento podemos indicar profilaxias para que o encontro das neuroses familiares estabelecido na comunidade escolar seja entendido e estabelecido dentro de uma possível convivência favorável ao processo de aprendizado com menor índice de estresse. Sendo assim, aponto aqui alguns passos: 1) Reconhecimento dos agentes administradores do sistema educacional que a Escola é, de fato, um espaço de encontro das neuroses. Muitos negam que portam neuroses pessoais, e este tipo de negação acaba penalizando alguns que as manifestam e viram bodes expiatórios de tal espaço quando incorporam doenças emocionais. 2) Transformar, de fato, o ambiente da Escola em uma estrutura agradável, com estímulos de cores e plena manutenção das estruturas físicas, com força no ambiente higienizado e visivelmente bem-cuidado. 3) Ter uma equipe interdisciplinar que gerencie projetos de integração e trocas de experiências em torno da comunidade escolar, contemplando não apenas quem está dentro da escola diariamente, mas os familiares e toda a comunidade em torno da Escola. Aqui, cabe a equipe de Profissionais da Psicologia para a escuta das manifestações emocionais dentro deste coletivo; 4) Abrir a Escola para ações que beneficiem a comunidade local, onde a mesma possa usufruir de sua estrutura para além dos horários letivos. 5) Ter produções artísticas e esportivas como um mecanismo de promoção e favorecimento da eliminação do estresse acumulado; 6) Revisar a carga horária de trabalho dos profissionais em torno da comunidade escolar, permitindo tempo de pesquisa, estudos continuados numa melhor distribuição de horas em sala de aula e atividades de capacitação pessoal, principalmente para o corpo técnico e de professores; 7) Eliminar as práticas religiosas como válvula de escape para amenizar as manifestações das emoções no ambiente escolar, pois neste coletivo há diversidades na forma de vivenciar e praticar a religião, e o espaço escolar é plural. As práticas religiosas que sejam vividas por cada família conforme suas escolhas pessoais. Lógico que são dezenas de pontos a serem pensados em torno de ações para que as neuroses manifestas neste coletivo sejam acolhidas, entendidas e transformadas. Mas, mesmo que se chegue a um modelo plenamente satisfatório de Escola ideal, continuará havendo as manifestações das neuroses individuais. Pois, se assim não for, podemos ter a certeza que dentro desta Escola hipotética, pessoas vivas ali não se encontram mais. |
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