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Sobre a proibição de celulares nas escolas

Publicado em 15/10/2024

O processo de proibir celular nas escolas já vem sendo adotado por vários países, como Holanda, Dinamarca, Finlândia, Espanha, Suíça, Itália, Portugal e México. Esta decisão é decorrente de diversos estudos longitudinais que apontaram que a presença do celular em sala de aula, e até mesmo com o aluno na escola, trouxe perdas do potencial de concentração e aprendizado. Países que, inclusive, utilizaram o celular num primeiro momento dentro da dinâmica do processo educacional, concluíram que os resultados não foram satisfatórios.


Em 2023, um relatório da UNESCO (setor da ONU focado na Educação) apontou que a simples aproximação dos alunos com o celular já predispunha a distração do processo de aprendizado, provocando impactos negativos, como indicado no PISA (Relatório de avaliação internacional de estudantes) daquele ano. A partir deste relatório, a UNESCO indicou aos países a retirada dos celulares nas escolas junto da revisão de eletrônicos e internet no processo educacional.


Após o resultado de tal estudo, a Prefeitura do Rio de Janeiro (então sob a gestão de Paes) realizou, por meio da Secretaria Municipal de Educação, uma consulta pública entre as famílias usuárias do sistema municipal, chegando ao seguinte resultado: 83% apoiaram a proibição do celular, 11% apoiaram parcialmente e 6% foram contra. Tais dados levaram o município a proibir o celular nas escolas municipais, sendo a primeira iniciativa do tipo no Brasil.


Atualmente, o Ministério da Educação, sob a gestão do Ministro Camilo Santana, está com a elaboração de um projeto de lei para proibir o uso do celular nas escolas públicas e privadas do Brasil em andamento. Como não temos uma regulamentação federal sobre esta demanda, um projeto de lei específico sobre este tema vai colaborar para o respaldo jurídico das instituições de ensino em proibir tais aparelhos nas escolas, especialmente diante do fato de que há famílias que defendem o celular nas escolas como forma de ter acesso aos filhos por alguma eventualidade ou intercorrência. Desta forma, a ausência de critérios definidos em lei federal coloca o corpo pedagógico, por muitas vezes, em rota de colisão com as famílias dos alunos, resultando até em ocorrências de ameaças de processo judicial para tal liberação.


Motivos do porque sou a favor da proibição 


Eu sou defensor da proibição do celular nas escolas, em todos os ambientes e situações. Desde salas de aula até espaços de convívio extraclasse. E, aqui, trago alguns argumentos para defender esta ideia:


1) Com o celular na bolsa ou bolso, mesmo que esteja desligado, o aluno fica ligado ao desejo de usar o aparelho, pois está o tempo todo conectado fora do ambiente escolar. Ao chegar na escola, mesmo que tenha as regras de proibição, a dependência criada pelo uso intenso no cotidiano faz deslocar tal para o manuseio do celular. Se esta pulsão acontece até com adultos, imagine com crianças e adolescentes, os quais têm forte tendência a criar dependências de hábitos prazerosos por ainda não estarem plenamente maduros para escolhas mais criteriosas e que requerem autodisciplina.


2) Mesmo que não se use em sala de aula, as crianças e adolescentes tendem a se fixar no celular e esquecem de interagirem com os colegas quando estão em atividades abertas na escola e/ou intervalos. Isto tem trazido muitos problemas até mesmo nas empresas, onde ninguém mais se comunica com os colegas de trabalho nos intervalos por estarem ligados ao celular.


3) Imaginar que crianças e adolescentes já estão aptos a entenderem e seguirem uma regra livremente, por plena consciência, é desconhecer o desenvolvimento psicológico destas duas faixas etárias. A autonomia para a livre escolha de procedimentos e hábitos só será possível plenamente na vida adulta. Mesmo assim, é preciso identificar no meio adulto quem, de fato, atingiu um nível de maturidade plena para ser autônomo nas suas ações.


4) Lembrar que a inclusão do celular no sistema de ensino já foi testada e os resultados não foram satisfatórios. Precisamos entender que o processo de aprendizado se dá pela entrada nas teorias e na percepção dos conhecimentos na vivência prática do que foi ensinado. Como temos uma escola ainda muito restritiva e conteudista na forma de desenvolver o processo de aprendizado, cria-se nos alunos um forte processo de desestímulo ao aprendizado. E, ao recorrerem à internet, vão encontrar mil tutoriais de que são dinâmicos e quase fazem pensar que o professor não serve para nada. Assim, a presença do aparelho vai acentuar o desinteresse por aquilo que o professor está propondo e distanciando o aluno desta relação professor/aluno para o aprendizado.


Toda esta temática tem emergido a simples e clara noção de que o aprendizado se dá por vias muito simples e por interatividade dinâmica com o que se está ensinando e aprendendo. E sem dúvida que, se esta proposta do Governo Federal for aprovada no Congresso Nacional, muitos professores terão que rever a forma de se posicionarem na transmissão de conteúdo por não estarem com forte dinâmica no processo educacional e acabarem se escorando no celular como um falso recurso de aprendizado. Da mesma forma, as escolas precisarão se reinventar para melhor dinâmica de conteúdos em sala de aula.


Mas então as escolas não poderão usar a tecnologia de informação com os alunos no processo educacional? 


Uma coisa é o celular, outra coisa é a tecnologia para o aprendizado. Para isso, as escolas precisam ter seus laboratórios de pesquisa estruturados e alunos beneficiados com equipamentos para tal finalidade. Mas é diferente de um celular, que representa mais um órgão do corpo humano na atualidade e coloca o sujeito conectado com o mundo na palma de sua mão. Tendo na escola um espaço de manuseio de interfaces de conexão, configura-se em uma outra perspectiva de processo de interação com a tecnologia. É utilizar a Tecnologia a serviço do aprendizado, não tornar o aprendizado um escravo da Tecnologia.


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