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Novembro azul | Qual a melhor prevenção ao masculino?

Publicado em 06/11/2024

O foco do Novembro Azul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estão diretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao Machismo Estrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens na Sociedade. Por conta deste elemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido a fatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de toque) até a ideia de que fazer este tipo de prevenção é exagero e frescura. Diante desta situação, já me deparei com falas machistas, como “Isso é coisa de mulherzinha, que sempre querem ir a médicos...” e “Vou procurar uma médica para fazer o toque em mim, vai que rola...”, reiterando esta problemática.


É necessário trabalhar a prevenção ao Câncer de Próstata a partir do debate sobre a questão do homem na Sociedade como um todo - e aqui refiro ao todo de uma Sociedade Brasileira calcada num machismo que perpassa pelos homens primeiramente e também por uma posição de submissão de muitas mulheres. Deve-se pontuar, inclusive, esta problemática para as mulheres que ensaiam retrocesso pela indução de muitas seitas cristãs espalhadas pelo Brasil, as quais acentuam a ideia de que a mulher precisa seguir seus maridos e estarem sujeitas à eles, mesmo diante de vastos avanços para a eliminação do Patriarcado. Uma tendência ultraconservadora associada, inclusive, à política dentro da ideologia de extrema direita.


Estrutura machista e o mal que causa ao masculino


Com a estrutura machista, todo poder é dado ao homem. Isto fica evidente nas muitas instituições sociais no Brasil, onde estes ainda representam o gênero dominante, desde a política, poder judiciário, poder público, poder legislativo, universidades, religião, e até escolas de samba. Só para termos uma ilustração clara, na minha profissão de Psicologia, quase a totalidade dos profissionais são mulheres e, ainda, quem afere os melhores resultados financeiros no exercício profissional são os psicólogos.


Sendo assim, este conceito do “homem macho” que habita em nós (homens) por uma longa história de dominação na Sociedade deve ser dissolvido e transformado em um cidadão dignamente masculino e parceiro das cidadãs femininas, se baseando no diálogo pleno com as múltiplas orientações de gênero existentes na Sociedade. Porém, a ideia de dissolver o Machismo Estrutural parece causar forte ameaça ao público masculino adulto por seu apego a uma posição de poder e domínio da qual não querem abrir mão, acentuando esta problemática.


A partir de consultas de avaliação e diagnóstico ao câncer de próstata via método tradicional, tenho certeza que esta demanda não vai avançar. Ficaremos presos apenas ao processo clínico, como se cada homem se resumisse a uma grande próstata. Tenho passado por alguns exames destes anualmente e sei que o profissional ali não está lhe vendo como um cidadão inserido numa Sociedade. Há um olhar focado apenas no específico corporal. Até a leitura dos exames de sangue sugeridos é visto não em sua integralidade, com o processo sendo feito de forma tão rápida que o profissional sequer olha para seu rosto. E isto no meu caso específico, que ainda consigo pagar um plano de saúde. Imagine dentro de um SUS sucateado, que não está dando conta nem das necessidades básicas de saúde por uma miríade de fatores.


Diante destas observações, precisamos falar, sim, das várias instâncias e do fato de que uma pessoa não pode ser vista apenas no específico corporal. Como as campanhas de prevenção a qualquer tipo de doença focam muito no fisiológico, observo que estão atingindo muito pouco a consciência preventiva e de uma conexão integral do ser humano ao todo que compõe seu existir. E, se não nos posicionarmos no pensar a saúde do homem para além do fisiológico, o Novembro Azul pode (deliberadamente ou não) inclusive acentuar o machismo do homem pela via da virilidade e da potência sexual, tipo: -“faço os exames com medo de ‘brochar’... .


Mas como dissolver o Machismo Estrutural? 


Você que está lendo este texto, que pode ser um homem ou uma mulher e que pode ter um parceiro homem, ou filhos homens ou alunos homens, parentes homens, etc. Como agir para dissolver a estrutura machista de nosso referencial cultural histórico? Vou passar aqui alguns pontos que podem ajudar:


1) Ao homem, reconhecer seu machismo em teoria e prática, pois uma coisa é o discurso antimachista, outra coisa é a prática. E, à mulher, observar se está enquadrada no patriarcado em que ela muitas vezes ressalta a posição da submissão ao homem.


2) Ao reconhecer, levantar os comportamentos que externam este machismo. Eu já fiz uma lista ampla de comportamentos que pretendo estar antenado para eliminar. E esta atitude deve ser uma pauta nesta construção. Vou lhes dar um exemplo: Tenho tendência de verbalizar palavras como “caralho”, “cacete”, “porra”, entre outras. Até para falar expressando algo que denote muito valor, solto um “bom pra caralho”. Lembro que, numa situação, assistindo ao jogo do meu time de coração (Corinthians) soltei estas falas no meio de um grupo de pessoas que também tinha mulheres, levando minha esposa a chamar minha atenção. Eu refutei. Até que tomei consciência e desejo de eliminar o meu machismo estrutural, entendendo que há peso até na forma de se xingar, ou comentar expressões de fortes sentimentos. É preciso se posicionar para eliminar este comportamento . Este meu exemplo pode ser banal, mas é representativo de uma estrutura. E o que é estrutural no comportamento de uma pessoa é revelado nas formas mais banais, em lapsos de linguagem, chistes, atos falhos, como já nos ensinou Freud em sua construção da teoria psicanalítica.


3) Estando em ambientes de trabalhos, observar se as condições de trabalho são equivalentes entre homens e mulheres, e, se não forem, se posicionar em busca da melhoria deste ambiente.


4) Nas pequenas ações cotidianas, focando em sair da posição de ajudante da parceira conjugal e/ou quando mora com familiares, onde os serviços de manutenção da casa estão sob responsabilidade duma mulher, pois quem é ajudante apenas auxilia o responsável direto por algo, como, por exemplo, o ajudante de pedreiro. Assim, substituir o ajudar em casa por fazer junto, como um compromisso pessoal no coletivo.


5) Para quem tem filhos que vivem juntos em casa, organizar a distribuição de tarefas na manutenção da casa, no fazer as refeições, transformando o lar num compromisso de todos. Esta forma de fazer é muito difícil de acontecer em residências que têm uma funcionária doméstica. Muitos pais acham que se tem alguém para fazer, então para que levar todos a fazerem, desta forma reinará a estrutura machista. Pior é quando o homem da casa não faz nada dentro de casa por já trazer o dinheiro de sustento da família. Agrava também esta posição de machismo quando a mulher que está na condição de também responsável pela família acredita que, de fato, o homem provedor não deveria fazer nada dentro de casa.


Poderíamos enumerar inúmeros posicionamentos que podem ser listados pelos homens para a dissolução do machismo estrutural, mas o importante é que estes passos e procedimentos sejam elencados por cada um. Mas sei que, se esta iniciativa depender dos homens, não veremos muitas mudanças. As mulheres que podem provocar os homens que estão ao seu redor, pois, no final, a corda do machismo estoura na mão delas. E se um pequeno avanço no pensar a Sociedade machista em vista de uma derrubada deste adoecer coletivo, devemos muito aos muitos movimentos de mulheres que estão gritando e agindo nesta Sociedade.


Agora, se tudo isto parecer balela ou parecer uma utopia inatingível, aí sim justifica aos homens se colocarem como um animalzinho nas filas de exames e diagnóstico do Câncer de Próstata, para apenas se preocuparem com o aparelho reprodutor masculino e sua virilidade. Restar-lhes-á então apenas este orgulho e a impotência do ser no Coletivo.


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