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Quando o homem precisa amputar o pênis

Publicado em 20/02/2025

Uma problemática que, aparentemente, é vista como irrisória na saúde sexual masculina, é o aumento do número de homens que precisam amputar o pênis, tendo como principal fator, o Câncer. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, a partir de informações hospitalares do SUS, a média de homens que necessitam amputar o pênis por ano passa dos 480 casos.
  
Como a incidência equivale a uma pequena parcela do público masculino, estes números  parecem não assustar. Eu mesmo nunca tive informação de pessoas próximas de mim que  tenham passado por este procedimento, levando à expressão, “Isso não vai acontecer comigo”.
 
O principal fator que leva ao câncer do pênis é a falta de higiene, o não uso de preservativo e a falta de observação sobre as condições do órgão - se está com alguma ferida, infecção ou coloração diferenciada. Interessante que, no mundo masculino, o pênis é quase que um troféu de estimação e, mesmo assim, há uma tendência por parte dos homens em não cuidarem muito deste. Parece que a maior preocupação é se o pênis está potente.

O impacto da amputação peniana
 
Diante de uma sociedade estruturada sob o auspício do machismo, a perda do pênis de fato  traz uma alteração comportamental avassaladora ao homem. Se já é insuportável quando o  homem se depara com disfunções sexuais, como a ejaculação precoce - na qual muitos se  sentem oprimidos por não conseguirem terminar uma relação sexual satisfazendo a outra  pessoa, trazendo angústia após o ato sexual e ansiedade nas preliminares - imaginem no  cenário em que se vê diante da amputação de seu próprio pênis. 

Já atendi muitos homens que tiveram disfunções sexuais graves, vários deles com o sintoma de disfunção erétil. E, de fato, há uma grande dificuldade de se colocar diante de um quadro onde o homem se vê impossibilitado de uma performance sexual nos padrões impostos a ele, de sempre ser potente, viril. Diante de situações que agravam o desempenho sexual, geralmente observamos sintomas da depressão que emerge da perda da virilidade. Já para homens que ainda apresentam ereção sexual, quando o quadro é da ejaculação precoce, o sintoma mais comum é a ansiedade. Aliás, o acompanhamento dos quadros de ejaculação precoce são muito complexos, pois há uma busca por resposta imediata e o sintoma muitas vezes é decorrente de uma estrutura psíquica já movida pela ansiedade e/ou por um histórico de comportamento machista que vê o sexo apenas como um ato para satisfação pessoal, sem se preocupar com o prazer da outra pessoa. 

O prazer vai além da virilidade!

Mas, no caso específico de uma amputação peniana, o quadro se agrava, pois é a morte real da sua virilidade, da sua potência. Principalmente quando o homem é movido simbolicamente  pelo seu pênis. Como a quase totalidade dos casos de câncer no pênis é decorrente da falta de cuidado e higiene pessoal, isto equivale a dizer que, além de um sujeito ser movido pelo pênis, também revela uma despreocupação com a saúde pessoal, principalmente de seu órgão  corporal de maior honra. O que não é nada estranho, tendo em vista que, para o homem  machista, higiene e cuidado são coisas de mulher. 

Mesmo que os homens acreditem que uma catástrofe corporal desta nunca vai acontecer com  ele, há sempre um ponto de interrogação sobre sua potência, no sentido de ter que sempre  dar conta no ato sexual. E se acontecer de não dar? Uma fantasia do fracasso. Também a  fantasia de que pode fraturar o pênis, mesmo não sendo um órgão com estrutura óssea, leva  muitos homens ao receio na relação e até se limitarem na forma da atividade sexual. Viver na expectativa de um fracasso sexual por alguma disfunção peniana é, de fato, a grande  característica do homem de estrutura machista. Pior é quando tal homem se encontra com uma mulher que tem muito desejo sexual e se posiciona no ato sexual com muita determinação. Mulheres assim geralmente levam o homem a temer o ato sexual por imaginar que não vão dar conta em função desta característica. 

Desconstruir o machismo é cuidar de si mesmo

A morte do pênis por uma amputação é, assim, o pior dos cenários, é a representatividade da perda total de sua maior honra, que é a suposta força que o pênis lhe confere. 

Como não se deixar levar por esta fantasia de poder a partir de um órgão genital? Só na medida em que o homem conseguir dissolver seu machismo estrutural e se ver em suas muitas possibilidades de poder, de habilidades, do que simplesmente se ver com um pênis de poder. É conseguir se relacionar com o Outro numa perspectiva de parceria, onde o prazer do encontro não esteja apenas na resposta corporal sexual. Por isso que, ao definir uma relação amorosa, o melhor caminho é para além de uma relação de classificação hetero ou homossexual, mas sim afetiva, pois o encontro não será penas medido pelo poder peniano, e sim por todos os sentimentos e motivos que provoca o encontro amoroso. Com certeza, esta mudança de posição, já vai levar o homem a se cuidar mais, e, assim, correr menos risco de uma perda do pênis, além de dissolver a fantasia que ele só é homem se seu pênis for viril. Quando de fato o homem se desfaz de suas fantasias de poder sexual, poderá até viver sem um pênis.



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