Escola de período integral para criançasPublicado em 07/04/2025 Com quem ficam as crianças quando não estão na escola? No modelo tradicional, em que a educação infantil ocorre apenas em meio período, estas costumavam ficar com parentes, babás, empregadas domésticas ou até mesmo famílias amigas formadas por alguém que não trabalhasse fora de casa. A mudança no cuidado infantil ao longo do tempo
Hoje, a realidade é outra. A grande maioria das famílias não conta mais com parentes adultos em casa, pois a maioria trabalha. Ter uma babá ou empregada doméstica tornou-se um recurso de luxo para quem pode pagar. Mesmo para aqueles que detém condições financeiras, cresce a dificuldade de confiar em funcionários do lar, visto que esses profissionais muitas vezes não possuem qualificação ou vocação para cuidar de crianças. Em um tempo em que brincar na rua já é quase uma história do passado, as crianças ficam confinadas em casa, entretidas por uma "babá eletrônica" na palma da mão.
Diante desse cenário que vem se configurando ao longo dos anos, a escola de período integral tornou-se uma necessidade tanto para oferecer suporte às famílias, cujos pais precisam trabalhar, quanto para garantir estímulos educacionais. As crianças matriculadas em escolas de tempo integral são expostas a uma grade curricular voltada para o estímulo educacional, a socialização e o desenvolvimento de múltiplas habilidades.
Essa necessidade se aplica a todas as crianças, tanto as que frequentam a rede pública de ensino quanto as que estudam em escolas particulares. Mesmo em famílias estruturadas que oferecem atividades extracurriculares fora do horário escolar, ainda sobra muito tempo ocioso para as crianças, as quais acabam sem companhia para brincar e interagir. Como resultado, passam horas presas a uma tela, hipnotizadas por conteúdos sedutores e perdendo potencialidades cognitivas devido à falta de experiências práticas e vivências.
Alguns municípios e estados já começaram a introduzir escolas de período integral com boa formatação pedagógica, incluindo aulas, monitorias, lazer, esportes e atividades de produção artístico-cultural. Tenho indicado a algumas famílias, inclusive àquelas cujos filhos estudam em escolas particulares tradicionais, que considerem matriculá-los em escolas públicas de período integral. Os resultados têm sido positivos na formação das crianças. Além de ficarem afastadas das telas por mais tempo, estão protegidas em uma instituição de ensino enquanto seus familiares podem se dedicar ao trabalho para melhorar a estrutura econômica da família.
Desafios e perspectivas do modelo integral Algumas escolas particulares já estão se estruturando para oferecer o sistema integral, mas os altos custos dificultam a manutenção deste modelo. Em alguns estados, professores e profissionais da educação têm sido melhor remunerados no sistema público do que nas escolas particulares, justamente porque a educação integral é um processo caro e reduz a margem de lucro dos comerciantes da educação.
Para que a escola integral cumpra, de fato, seus objetivos educacionais, é essencial que, ao longo do dia, as crianças participem de atividades tanto em sala de aula quanto em espaços esportivos e de produção artística e cultural. Também é importante que contem com momentos de monitoria para realizarem suas tarefas escolares na própria instituição. O ideal é que as disciplinas sejam ministradas de forma interativa, permitindo que as aulas sejam mais que uma simples transmissão de conteúdo, tornando-se experiências semelhantes a laboratórios de aprendizado.
No estado do Espírito Santo, onde resido, observei que as escolas de período integral são estruturadas dessa forma e têm entregado bons resultados. Além disso, os professores são melhor remunerados. No entanto, esse modelo tem sido mais aplicado ao ensino fundamental II e ao ensino médio. Já nas escolas públicas municipais, que atendem crianças do ensino fundamental I, o processo ainda é muito amador e sujeito às intervenções de gestões locais frequentemente influenciadas por interesses políticos e financeiros.
Nas escolas particulares, as de regime integral atendem um público muito reduzido, majoritariamente da classe B alta. Aos poucos, observa-se um aumento na oferta de escolas integrais e maior conscientização das famílias sobre os benefícios deste modelo. As crianças ficam melhor assistidas na escola que em casa, sem estímulo educacional adequado.
Ainda persiste a ideia de que crianças pequenas devem permanecer o maior tempo possível perto das mães. Contudo, mesmo para quem tem essa opção, recomendo considerar a escola integral para os bem pequenininhos, pois a Sociedade já não enxerga as mulheres como únicas responsáveis pelo bem-estar dos filhos em tempo integral.
Muitas mães que optam por ficar em casa acabam sobrecarregadas e se sentindo limitadas nessa posição. É verdade que algumas famílias ainda conseguem estabelecer uma rede de apoio, mas a sociedade tecnológica exige cada vez mais conhecimento e habilidades para cuidar de crianças 24 horas por dia. No passado, muitas mães abriram mão de trabalhar para cuidar dos filhos, mas, naquela época, havia o suporte de vizinhos e a rua ainda era um espaço seguro para as crianças brincarem. Esse cenário já não condiz com a realidade da maioria das cidades brasileiras, inclusive as de menor porte. Que sejam bem-vindas as escolas de período integral! Que o Brasil acelere esse processo na rede pública de ensino. No médio prazo, os benefícios serão visíveis na formação estrutural das crianças e nos índices de desempenho educacional no cenário nacional. |
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