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O dilema da Psicanálise no Brasil

Publicado em 11/04/2025

O que é a Psicanálise? É a teoria criada por Freud que, ao longo dos anos, foi sistematizando conceitos e procedimentos do exercício clínico, tendo seu marco zero reconhecido na publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, de 1900. Porém, antes mesmo, Freud estava construindo a teoria para estruturação de uma técnica e, de lá para cá, a Psicanálise se consolidou como uma das muitas metodologias existentes no campo da Psicologia.


O grande corte epistemológico de Freud foi o conceito do inconsciente, o qual trouxe uma guinada na forma de ouvir o ser humano, até então entendido por demandas situacionais do “aqui e agora”. Este conceito colocou Freud, inclusive, em uma posição de referência para a Filosofia. Em muitos manuais e artigos históricos da Filosofia, Freud e a Psicanálise são citados como marcos no desenvolvimento dessa ciência humana.


A Psicanálise como prática profissional no Brasil


O problema é que, no Brasil, a Psicanálise virou profissão sem ser estruturada como ofício, pois não há graduação formal nesta área e não há uma autarquia federativa que legitima a Psicanálise como uma função profissional parametrizada. Neste caso, para o campo de atendimento clínico na área da Saúde Mental e Emocional, temos a Psicologia e a Psiquiatria como ciências e profissões reconhecidas. Lógico que, em todas as áreas da saúde, assim como em muitas outras áreas do conhecimento, múltiplas teorias existentes são incorporadas como recursos para que profissionais melhorem seus atendimentos a pacientes e clientes. No entanto, como atendimento sistematizado no campo da saúde mental, as estruturas metodológica e legalmente reconhecidas no Brasil são estas citadas, assim como alguns setores de intervenção da Neurologia.


Sendo assim, o grande dilema da Psicanálise no Brasil na atualidade diz respeito a uma enorme proliferação de escolas e instituições psicanalíticas que engloba pessoas de diferentes áreas de conhecimento que se intitulam psicanalistas após seu período de formação, como se estivessem exercendo um ofício formal. Pior ainda: Viabiliza também a expansão do exercício da Psicanálise para um público leigo, esteticamente legitimando até mesmo pessoas sem nível superior de formação que já abrem clínicas e se auto-intitulam psicanalistas.


Religião, formações e distorções do ofício psicanalítico


Como Freud, em sua época, mantinha relacionamento de trocas de ideias com estudiosos de várias áreas do conhecimento principalmente no campo das ciências humanas, incluindo até pastores que com ele estudavam — hoje houve um grande aumento no contingente de pastores evangélicos que buscam a Psicanálise como ferramenta para se estabelecerem enquanto referências de tratamento emocional às pessoas de sua cultura religiosa. Assim, garante-se que aquele “psicanalista” ligado à igreja não vai desviar a fé do fiel e ministrará um tratamento que não questiona tal prática. Isto ocorre porque, no bojo da obra de Freud, a religião sempre foi um tema crítico que coloca seu autor como inimigo da religião aos olhos de muitos da prática judaica e cristã. Vale ressaltar que a Psicanálise, na sua essência, não vai questionar a religião em si ou as convicções do indivíduo, mas o que o sujeito busca e como ele deseja se preencher na sua prática religiosa.


Quando recebo pacientes que trazem trajetórias de sujeição a tratamentos psicanalíticos vindos de líderes religiosos, automaticamente sei que terei muito conflito em potencializar o recurso analítico de interpretações — que consiste na pessoa em análise ter epifanias a partir de suas próprias falas, elaborando por conta própria suas demandas internas com cautela por saber que estes estavam com pseudo profissionais e ainda buscam orientação, solução ou luz que venham de fora para dentro.


Formações sérias, regulamentação e recomendações finais


Por outro lado, temos múltiplas escolas de Psicanálise que apresentam uma estrutura institucional e regimental bem definida, com integrantes que passam por uma formação que não se dá na forma de aula, mas no processo de vivenciar a prática. Analisar, ser analisado, estudar entre os parceiros deste coletivo, participar de seminários, grupos de leitura, escrever artigos e encontros de cartéis temáticos por interesses comuns, entre outras atividades. Desta maneira, podemos dizer que estaremos diante de uma pessoa que está inserida no contexto da Psicanálise e até evoluindo para ser um psicanalista, o que representa alguém que exerce a teoria e técnica dentro de uma perspectiva ampla.


Lembrando que a Psicanálise também é ramificada em múltiplas abordagens e correntes que vão desde os freudianos aos pós-freudianos, lacanianos e, inclusive, aqueles que partiram para um processo grupal, como elaborou os seguidores da Psicanálise Bion. Há uma miríade de escolas, incluindo americanas, inglesas, francesas, argentinas, e, no Brasil, podemos entender que está se multiplicando em várias estratificações. O que leva a maiores dilemas ainda, pois quem pode dizer que esta ou aquela forma de vivenciar o processo de formação do psicanalista é a mais correta?


Muitas escolas de Psicanálise não se comunicam umas com as outras e até se questionam, algumas chegando até a se atacarem. Porém, se o profissional que se sente psicanalista estiver realmente vinculado a uma instituição de Psicanálise que tenha história e procedimentos claros e bem definidos, é um atenuante substancial. O dilema maior está nos que se auto-intitulam psicanalistas por terem feito um cursinho aos finais de semana por um tempo.


Eu mesmo, quando procuro um profissional para me analisar, escolho um profissional graduado em Psicologia e que atue com a Psicanálise para não correr o risco de me sujeitar a um não-profissional sem regulamentação. Mesmo que seja um profissional que se auto intitule psicanalista, procuro saber se possui inscrição no Conselho Regional de Psicologia, justamente pelo fato de que a Psicanálise não é profissão regulamentada, mas sim uma metodologia.


Hoje, o Conselho Federal de Psicologia está numa campanha ampla de defesa da psicoterapia para profissionais da Psicologia. Isto ocorre devido ao fato de muitas outras profissões estarem oferecendo propostas diversas de psicoterapias por ser um nicho de mercado em alta em uma Sociedade cada vez mais adoecida emocionalmente. Assim, é preciso termos regulamentação clara na forma da lei, pois temos neste país a forte tendência de cada um se achar no direito de atuar da forma que melhor entender.


Veja que essa demanda acontece também com profissionais de diferentes áreas, como educadores físicos, fisioterapeutas, engenheiros, e até médicos. Vemos profissionais exercendo procedimentos especializados fora de suas áreas nativas pela oportunidade que se apresenta diante de uma demanda ampla, numa dinâmica que seria equivalente a um profissional da Psicologia prescrever medicação psiquiátrica aos seus pacientes.


Diante do que trago como dilema da Psicanálise no Brasil, a indicação que faço é que, quando você for procurar um psicanalista, o faça buscando um profissional da Psicologia que manuseie a Psicanálise como teoria e técnica. Pelo menos, isso reduzirá consideravelmente as chances de que você caia nas mãos de um agente que parece um profissional, mas não é.


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