Psicologia 25/09/2025 18:51:56
Desde 2013, a campanha do Setembro Amarelo é realizada anualmente com o objetivo de fazer a Sociedade pensar a prevenção do suicídio. Com o passar dos anos, a campanha se aprofundou nas discussões da saúde emocional com maior ênfase na prevenção da depressão. Essa quase mudança de foco ocorreu pela percepção dos estudos dos casos de suicídio, os quais constataram que 80% daqueles que tiraram suas próprias vidas estavam em depressão, mal tratadas ou sem nenhum tratamento. Sendo assim, falar em prevenção ao suicídio passa primeiro pela reflexão sobre as estratégias de prevenção e tratamento da depressão, a qual tem afetado agudamente quase todos os países do planeta e sido caracterizada como uma verdadeira pandemia.
Fatores sociais e econômicos que intensificam a depressão
Múltiplos são os fatores para este fenômeno, mas, dentre os que considero mais relevantes estão: a desigualdade social que impera nos países, criando um abismo entre os 1% mais ricos contra os 99%, que, juntos, possuem o equivalente à riqueza dos 1%, aumentando os índices de depressão de suas populações, como acontece nos EUA e no Brasil. A seguir, a intensa carga produtiva imposta aos trabalhadores, principalmente do meio industrial, levando a intensas discussões sobre reduções da jornada de trabalho (como ocorre no Brasil com o debate sobre a jornada 6x1). Por fim, a noção da depressão enquanto sintoma decorrente de um sistema baseado na cultura de consumo que tem mostrado diversos efeitos sociais nocivos ao longo da História.
Dessa forma, a campanha de prevenção do Setembro Amarelo quase se dissolve diante de um cenário mundial que constantemente convulsiona diante das disfuncionalidades estruturais das sociedades e dos abismos socioeconômicos e ideológicos, fazendo emergir discursos de ódio que elevam a intransigência para o diálogo e o respeito às diferenças, formando um panorama angustiante que promove a depressão.
Entre a conscientização e a mercantilização da saúde mental
Muitos no Brasil já questionam o Setembro Amarelo, principalmente pelo processo cooptativo de mercantilização das campanhas de prevenção, o qual acaba distorcendo seus propósitos originais ao transformar um movimento de conscientização na promoção de clínicas de tratamento psiquiátrico, da indústria farmacêutica e da comercialização dos laudos a partir de diagnósticos precoces. Enquanto o setor público não se estrutura para garantir redes de apoio ao tratamento da depressão com acesso amplo da população aos médicos psiquiatras e ao atendimento psicológico, quem acaba se beneficiando é o setor privado. Diante deste quadro, passamos a enxergar a lógica do “quanto pior a saúde pública, melhor para a saúde privada”, pois, na hora do sufoco, as famílias acabam recorrendo de alguma forma a esta via de atendimento, precisando até de empréstimos para bancar um tratamento particular. Outros fatores, como o aumento dos índices de depressão e suicídio entre adolescentes, também levam ao questionamento da eficácia do Setembro Amarelo enquanto movimento social, numa problemática agravada pelo fato de que apenas uma parcela mínima da população é efetivamente alcançada.
O desafio do SUS e a urgência de uma atuação efetiva do Estado
Em 2019, um estudo do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) revelou que 70% dos brasileiros com depressão não recebem tratamento e, em 2023, pesquisas revelaram que apenas 5% dos brasileiros fazem terapia, sendo que 1 a cada 5 usam medicação psiquiátrica. No período entre agosto de 2022 e agosto de 2024, houve um aumento de 18,6% no consumo de medicação psiquiátrica, segundo o Conselho Federal de Farmácia. Esses dados revelam que o foco para o tratamento da saúde mental ainda gira em torno da medicação, com baixo índice de procura por psicoterapia. E eis que surge a questão: há um movimento comunicacional recorrente por meio das campanhas de conscientização, mas não há evolução para a ampliação dos serviços de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Porém, esses desafios, de alguma forma, são evidenciados porque de fato há uma campanha recorrente e cíclica que serve de base referencial para esta discussão e observação deste ponto que se agrava a cada ano que passa. Desta maneira, o Setembro Amarelo acaba também servindo como um alerta de que o Estado brasileiro precisa estar presente no cuidado aos pacientes com depressão para além do discurso. Precisa de uma atuação prática e ostensiva diante deste quadro evolutivo, investindo em estrutura a partir de algo que já sabemos: é melhor prevenir do que remediar.
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Psicologia 25/09/2025 18:51:56 20
Desde 2013, a campanha do Setembro Amarelo é realizada anualmente com o objetivo de fazer a Sociedade pensar aprevenção do suicídio. Com o passar dos anos, a campanha se aprofundou nasdiscussões da saúde emocional com maior ênfase na prevenção da depressão. Essaquase mudança de foco ocorreu pela percepção dos estudos dos casos de suicídio,os quais constataram que 80% daquelesque tiraram suas própr...
Psicologia 19/09/2025 14:22:24
Pensar o Setembro Amarelo na perspectiva da prevenção à depressão é uma forma que ninguém questiona, até já tendo entrado na expectativa do calendário da população brasileira. Se estamos vendo resultados cotidianos na Sociedade, tanto no que tange à prevenção quanto na melhoria da acolhida ao tratamento com pessoas em depressão, vejo que ainda é cedo para medir, visto que foi a partir de 2013 que a Associação Brasileira de Psiquiatria deu notoriedade a essa campanha.
Sendo assim, considerar aqui a possibilidade de que a depressão possa ser abordada à luz de uma estratégia de mercado pode soar muito estranho, pois a pandemia desta condição assusta a todos e afeta quase todas as famílias brasileiras. Sendo assim, como entender que o mercado produz depressão, sendo que, aparentemente, o mercado teria perdas com o aumento de pessoas sofrendo desta mazela?
O mercado como produtor de depressão?
Aqui, entra uma questão que diz respeito à provocação das pessoas ao consumo, pois uma sociedade consumidora é o que interessa ao mercado. Sabemos que o perfil consumista está ligado a vários fatores, dentre eles a própria cultura do consumo no aspecto social e no circunspecto das famílias. Podemos forjar consumidores desde crianças, dependendo de como a família lida com suas despesas cotidianas (roupas, utensílios domésticos, refeições do cotidiano, doces, estética, festas etc).
Somos uma sociedade que copia muito o estilo de vida norte-americano ao ponto em que, hoje em dia, vemos pessoas querendo até a adoção da bandeira dos EUA como símbolo patriótico brasileiro. É neste modelo de consumo que a publicidade, associada à ideia de sucesso pelo poder aquisitivo, torna-se o referencial. Veja como, para a classe média brasileira, há sempre o sonho de um dia passear na Disney.
Consumo, publicidade e a cultura da morte
Porém, há um fator estratégico não dito que necessita de uma lupa para ser percebido no campo da publicidade e do consumo mercadológico: o adoecimento emocional da população a partir da produção de conteúdos diversos, utilizando de programas e das redes sociais para criar conflito emocional e, principalmente, a depressão. Este processo pode ser observado desde telejornais matinais nos quais o “bom dia” é seguido de cenas repletas de sangue até edições noturnas, nos quais o “durma bem” sucede cenas de conflitos, crimes e catástrofes, entre outras tragédias. As programações com seus intervalos comerciais de maior valor são justamente aquelas que mais promovem a cultura da morte.
A perspectiva de morte e vida, já anunciada por Freud na Psicanálise, é uma boa entrada da qual o mercado se usufrui para estimular o consumo: gerar a pulsão da morte, tendo em vista que, ao nos depararmos com esta, teremos o gatilho para a autodefesa em prol da proteção da vida. Dentro de uma perspectiva do consumo, a produção de subjetividade focada na morte conduz ao desejo pela vida, que é convertida mercadologicamente no desejo de consumir. O vazio interno precisa ser gerado para provocar o desejo de se preencher pelo consumo. Parece uma noção óbvia, mas não é! O que ocorre é que, nesta trama, está contido o adoecer emocional e a depressão vem como um sintoma que grita diante deste processo.
O vazio interno e o desejo de consumir
A depressão, quando já se apresenta na forma estruturada de um transtorno emocional, leva o sujeito ao isolamento e ao desestímulo de ação, numa abertura que a indústria do consumo tenta preencher com o ato de consumir. É preciso ver que, nesta lógica, a depressão se estabelece de maneira sutil e, diante da necessidade interna de constantemente preencher um vazio e eliminar a angústia, conduz a pessoa a fazê-lo com produtos. Surge então a atual necessidade de intervenções estéticas, o intenso desejo de mudar peças de roupas do guarda roupa e até o tradicional boteco do fim de semana. Quando estamos diante da pulsão, compramos (na maioria das vezes sem precisar) e, após a gratificação temporária, o sentimento de vazio e angústia retornam, sinalizando que a depressão está pedindo passagem.
Adoecer emocionalmente é, desta forma, um excelente álibi para esta indústria de consumo. Lojistas adoram receber clientes com sintomas emocionais patológicos, pois já entenderam que pessoas com estrutura emocional desorganizada e com sintomas de transtornos tendem a gastar mais.
Depressão como combustível do consumo
Mas então a depressão vai pegar apenas quem pode consumir? Não, senhor. Hoje, a população brasileira tem nas mãos o celular conectado à internet e, mesmo quem está sem recursos financeiros para consumir, estará consumindo o desejo de ter o que os que podem comprar possuem. Neste caso, a depressão se instaura com força pela impossibilidade de ter, pela impotência aquisitiva. E um dos fatores que também ampliam o lastro da depressão é a diferença social que, no Brasil, é uma das mais fortes: um abismo entre a maioria empobrecida e uma minoria enriquecida. O problema é que, em todas as classes sociais, a publicidade e os conteúdos programáticos de adoecimento que pregam um ilusório sucesso econômico estão na palma da mão de todos, causando a pandemia da depressão. E é esta dinâmica que a indústria do consumo se retroalimenta.
Aqui, concluo com uma pergunta: você está com sintoma de querer comprar sempre, mesmo que não esteja precisando? Se sim, cuidado: a sua depressão pode estar na boca do leão para te engolir.
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Psicologia 19/09/2025 14:22:24 35
Pensaro Setembro Amarelo na perspectiva da prevenção à depressão é uma formaque ninguém questiona, até já tendo entrado na expectativa do calendárioda população brasileira. Se estamos vendo resultados cotidianos na Sociedade,tanto no que tange à prevenção quanto na melhoria da acolhida ao tratamento compessoas em depressão, vejo que ainda é cedo para medir, visto que foi a partirde 2013 que a Asso...
Psicologia 12/09/2025 08:22:46
O ambiente familiar, por muitas vezes, pode ser um foco gerador de depressão. Esta é uma lógica que não queremos reconhecer, pois estamos apegados à ideia da família como o maior patrimônio de uma pessoa, especialmente dentro de um espectro religioso-cristão e dos modelos de igrejas que pregam uma ideia de instituição nuclear perfeita a partir do discurso de Deus, Pátria e Família. Porém, este modelo de Cristianismo parece desconhecer o Evangelho de Jesus Cristo, no qual a família é transposta para uma proposta coletiva universal, formando a problemática atual.
Indiferença digital e isolamento
Vivemos em tempos de internet e celulares nas mãos de todos, levando à quase total indiferença um para com o outro no mesmo ambiente familiar. Os estímulos externos e o mundo do outro passam a ser referência, levando a perda de identificações no mesmo núcleo familiar que geram um vazio pelo sentimento de solidão mesmo dentro do coletivo familiar. O processo de nucleação da família, para o circunspecto de uma família fechada em seu núcleo restrito de pais e filhos, sem conexão com o coletivo social na comunidade em que se encontram, levam à perda da rede de apoio e gerando o isolamento e consequente sensação de fragilidade e insegurança. Associado a isso a violência social estimulada pelas informações sempre dos episódios cruéis gerados pelo jornalismo policialesco.
Educação pela perfeição e culpa
A partir desta visão exigente em associação à questão acima, a família pode promover a depressão quando, no processo educacional, insiste em educar pela perfeição. Assim, teremos a repressão que gera culpas por comportamentos que não refletem o ideal desejado. E, aqui, a culpa é o chicote que estala no sintoma da depressão, numa problemática agravada por outro fator que também pode configurar a família como promotora da depressão: Quando a manifestação do amor se dá de maneira utilitária, numa dinâmica em que não há manifestação gratuita do sentimento amoroso e expressões de afeto são vivenciadas a partir dum processo de troca mediante cumprimento de obrigações ou da conversão do sentimento em bens materiais.
Da mesma forma, quando os filhos ainda são crianças e os pais (ou responsáveis) não se conectam com elas na sua forma de ser e não se comunicam pelo brincar, não ocorre a produção da alegria que pode provocar a boa expectativa dos pais estarem em casa. Pelo contrário, a ausência do lúdico gera nas crianças o desejo de estarem fora de casa e/ou não voltarem para ela. Diante destes fatores e das relações agressivas entre seus membros, a depressão vai se instaurando lentamente. Dia após dia, com a rotina tóxica de ataques e ofensas estereotipadas, o terreno estará fértil para a depressão.
A família moldada pelo capitalismo
Este ciclo de um ambiente familiar gerador da depressão é o legado do processo de industrialização, que chegou para trazer benefícios e tranquilidades às famílias, mas as escravizou na necessidade de fazer a engrenagem do capital acontecer. E a evolução tecnológica da indústria e os avanços da comunicação digital, tornaram as pessoas mais escravas da necessidade de produção e do sucesso econômico que, na verdade, chega para pouquíssimos.
Muitos e muitos fatores do cotidiano de uma família são provocadores do desenvolvimento da depressão. No entanto, sabemos que esta demanda não é gerada apenas pela família ou que esta gera a depressão por si só. Este modelo foi moldado para um sistema fechado nuclear, criado para fazer dar vazão à industrialização na perspectiva capitalista de produção, potencializando a família na sua forma existencial hoje, a tornando ambiente prioritário de desenvolvimento da depressão.
Na perspectiva da Psicanálise, em que somos construídos na estrutura emocional por pulsões de vida e de morte, nossa engrenagem social nos faz polarizados na pulsão de morte, o que eleva ainda mais a produção da depressão a ponto de já podermos dizer que a Humanidade atualmente vivencia a pandemia da depressão. Esta estrutura, forjada na perspectiva do produzir, trabalhar e sobreviver, dá vazão a uma pulsão unilateral que é a morte.
Quando as religiões tentam resgatar a família como um território de vivência do amor, posso entender que há um desejo que está polarizado na pulsão de vida neste movimento. Mas este desejo, de alguma forma, foi cooptado pela estrutura capitalista produtiva para enquadrar as famílias neste esquema, transformando a religião em um processo condenatório de repressão. Uma adaptação que fez até do próprio evangelho uma prática individualizada, não coletiva.
Pulsão de vida como resistência
Mas é pela pulsão de vida que podemos visualizar alguma possibilidade de quebra dessa estrutura patológica, principalmente se houver nas famílias a percepção da armadilha nas quais foram colocadas para, a partir daí, se recolocar na contramão do que o sistema insiste em mantê-las. Neste sentido, a Psicanálise é revolucionária, pois permite pessoas inseridas em família a repensarem suas práticas e, assim, reinventarem posicionamentos onde possam prevalecer ambientes de partilhas em um canal espontâneo de comunicação de afetos sentidos, não cobrados, e fortalecidos na perspectiva de um coletivo aberto para o comunitário.
A correnteza contrária à pulsão de vida é muito forte, mas esta é a única brecha para manter viva a esperança de uma outra construção de família. Quem sabe, estamos chegando num cume para começarmos a cair ao retorno tribal, onde cada um não é de ninguém, mas responsabilidade de todos. Onde filhos, esposos e maridos não sejam propriedades de famílias nucleares, mas pertençam a um povo e um coletivo.
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Psicologia 12/09/2025 08:22:46 49
Oambiente familiar, por muitas vezes, pode ser um foco gerador de depressão. Esta é uma lógica quenão queremos reconhecer, pois estamos apegados à ideia da família como o maiorpatrimônio de uma pessoa, especialmente dentro de um espectro religioso-cristãoe dos modelos de igrejas que pregam uma ideia de instituição nuclear perfeita a partir do discurso de Deus, Pátria e Família.Porém, este modelo ...
Psicologia 04/09/2025 10:16:23
O cotidiano das famílias que seguem em busca da sobrevivência, como ocorre na maioria dos lares brasileiros, faz do dia a dia um desencontro entre aqueles que supostamente estariam mais se encontrando. A correria é tanta que não dá nem tempo de se olhar e, assim, a tendência é que em uma mesma casa, seus membros estejam próximos e muito distantes uns dos outros. Estranhos num mesmo ninho. E esta interação familiar tão cheia de ausências de contato com os que estão no circunspecto de uma casa leva a uma dinâmica na qual olhamos, mas não vemos.
Famílias próximas, mas distantes
Mas esta realidade também se dá no mundo do trabalho, movido por metas a cumprir e também nas escolas movidas por conteúdos a despejar, assim como nos templos religiosos movidos por deuses a encontrar, e nas ruas pela pressa de chegar. No fundo, estamos rodeados por muitos, mas isolados em nós mesmos. Imersos num terreno fértil para a depressão.
O olhar como reflexo da Depressão
A depressão faz sintoma, um deles sendo o olhar entristecido. Se não consegue ver a luz existente no dia, olhar para este dia passa a ser obscuro, cinzento. Assim, o olhar refletirá a expressão de uma depressão que está se instaurando ou já entrou num poço profundo. Quando alguém está movido por muitos impulsos e vontades, dizemos que tem brilho no olhar. Este não é o olhar depressivo.
A depressão pode ser identificada por qualquer pessoa a partir do olhar do próximo. A ausência de um brilho no olhar, do olhar fugidio e profundamente triste, pode ser um alerta de que a pessoa observada está em sofrimento, mesmo que seja uma expressão de ressaca alcoólica (que não deixa de ser uma forma de depressão neurovegetativa).
Setembro Amarelo: um chamado à atenção
Desta maneira, o Setembro Amarelo chega para nos alertar sobre nossa própria saúde emocional e fazermos uma autoanálise com propostas de posicionamentos preventivos. Mas também nos convoca a efetivamente vermos e repararmos familiares, amigos, colegas de trabalho, cidadãos que cruzamos no dia a dia. Notar se há sintomas ao nosso redor de pessoas desenvolvendo e vivenciando a depressão.
Aqui, trago um elemento prático para agir no caminho da prevenção ou tratamento da depressão, que é o ato de olhar para as pessoas, olho no olho, e identificar se há sintoma de sofrimento emocional expresso a partir de seus olhares. Porém, este olhar deve começar em si mesmo, como num espelho para, daí, partir para a percepção daqueles que estão próximos.
Pequenos gestos que transformam
Mas como exercer esta ação dentro desta rotina tão corrida?
Começando a criar meios de conversar com os seus mais próximos, perguntando sobre eles. Criar momentos coletivos de estarem juntos e interagindo. Se alguém está trancafiado no quarto, entre. Mas entre e converse com o intuito de interagir. Sem pedras ou ataques, mas com ação afetiva onde a resistência do outro em se abrir seja dissolvida. Por não ser tão simples, acabamos fugindo destes pequenos gestos.
Mais que articular o jeito perfeito de interagir, é necessário sentir a necessidade de olhar, encontrar e se conectar com os que habitam o mesmo teto, espaço de trabalho, escola, praças e calçadas. E, aqui, vale a tomada de consciência da prevenção e tratamento da depressão. Por isso o Setembro Amarelo tem sua importância enquanto sinal de despertar a consciência.
A partir do momento em que surge a vontade de assumir uma posição ativa de prevenção e/ou curativa, os caminhos são encontrados por cada um, visto que a base desta fórmula é muito simples: encontrar-se no olhar do outro.
Tratamentos de depressão apenas na base medicamentosa psiquiátrica não evoluem, pois o remédio não pensa nem forma relacionamentos ou laços afetivos. Em situações nas quais a medicação for necessária, o estar junto, partilhando e incentivando a melhora, pode levar à depressão ser mais dissolvida com o tempo. Por isso, os processos de psicoterapia com profissionais de psicologia tendem a fazer bons efeitos de melhora no tratamento da depressão, pois há um profissional presente para olhar, ouvir e dialogar.
Prevenção e tratamento lado a lado
Sabemos que prevenir é melhor que remediar. Sendo assim, comece agindo nos espaços que ocupa, promovendo interações em casa, ações coletivas no trabalho, e atividades interativas na escola. Transforme ambientes onde há pessoas em ambientes nas quais pessoas se conectem. Afinal, não somos peças de uma engrenagem, mas a estrutura que as move.
Lembrando que o Setembro Amarelo surgiu com foco inicial na prevenção do suicídio. Porém, como 80% dos que chegam ao suicídio estavam em processo de depressão, o alvo principal deste setembro amarelo passa a ser a prevenção e tratamento da depressão.
E sabemos que um olhar pode salvar, despertar, abrir caminhos. Comece!
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Psicologia 04/09/2025 10:16:23 58
Ocotidiano das famílias que seguem em busca da sobrevivência, como ocorre namaioria dos lares brasileiros, faz dodia a dia um desencontro entre aqueles que supostamente estariam mais seencontrando. A correria é tanta que não dá nem tempo de se olhar e, assim, atendência é que em uma mesma casa, seus membrosestejam próximos e muito distantes uns dos outros. Estranhos num mesmo ninho. E esta interaç...
Psicologia 22/08/2025 08:33:50
A adultização de crianças atualmente figura como o tema da moda, aqui com o conceito de moda se referindo à ideia do evento picante do momento. Convivemos semanalmente com este tipo de notícias bombásticas, que se enquadram dentro de um modelo de noticiário estrategicamente planejado para manter a audiência dos telejornais e das múltiplas redes em suas diferentes plataformas de transmissão. O Felca é a bola da vez, pois apresentou questões sérias que até comprometem a segurança pessoal do mesmo ao denunciar um influenciador digital que se utiliza de imagens de crianças num esquema de expansão da exploração de imagens de crianças cooptadas pelas redes sociais em um processo entre pedófilos e familiares das vítimas.
Mídia, escândalos e o debate social
Esta notícia bombástica está, pelo menos, gerando um amplo debate na Sociedade Civil, chegando ao ponto do Congresso Nacional elaborar uma regulamentação mais criteriosa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes e pelo maior controle das empresas responsáveis pelas plataformas digitais no país. No entanto, pensar a transformação da criança em adulto - o que estão denominando adultização - já é um processo que acontece na própria configuração civilizatória. Trazemos este modelo, inclusive, dos países colonizadores europeus, os quais sempre colocaram as crianças na condição de adultos-miniatura, fato que podemos constatar nas telas de grandes artistas daquela estrutura social.
Raízes históricas da adultização
Desde a Revolução Industrial, que se deu entre 1760 e 1840, a nucleação familiar se traduz no eixo “Pai, Mãe e Filhos” em um modelo cultural que, fechado em si e sem suporte de apoio dentro de uma rede comunicativa, se tornou fator decisivo para a transformação de crianças em em pequenos adultos - processo também agravado pelo avanço da pobreza, que forçava a necessidade de colocá-las como força de trabalho. E, se pensarmos historicamente na relação das crianças com o brincar livremente e com a atividade de interagir ludicamente com os pais, veremos que não houve muita diferença na demanda de vínculo com estes últimos, pois segue o foco no trabalho e nas tarefas de casa como necessidades operacionais.
A perda do brincar e a influência da tecnologia
Uma diferença está no conceito de que, até 30 anos atrás, as crianças tinham as ruas como espaço privilegiado: Saíam, encontravam outras crianças e só retornavam para casa quase à noite. Mesmo em cidades grandes, a rua era lugar de brincar, mas, hoje, as crianças já não podem estar garantidamente livres e seguras fora de suas residências, encontrando-se, em vez disso, nas redes sociais e plataformas online.
Com o advento da TV após o período das aulas, as crianças começaram a se apegar à televisão. Em 1995, lancei meu livro O poder da TV no mundo da criança e adolescente, pela Editora Paulus, no qual apontava que as estatísticas do uso da TV pelas crianças chegavam a quase 5 horas e 30 minutos fora do horário da escola, assistindo conteúdos com caráter de adultização. Hoje, a TV está na palma da mão: é o celular, com a diferença das crianças estarem sendo exploradas por pedófilos na cooptação de imagens espalhadas pela internet. Pior: Com a inoperância dos pais e adultos responsáveis pelas crianças dentro das casas, pois, como ocorria antigamente, os adultos da atualidade, em quase sua maioria absoluta, também não brincam com as crianças e empregam os celulares como babás eletrônicas sem nenhum controle de tempo ou acesso no uso.
Redes sociais, monetização e exploração infantil
Com o processo de monetização das plataformas digitais, em que pessoas podem ganhar dinheiro com vídeos que viralizam na rede a partir da cooptação de muitos seguidores, pais começaram a utilizar as crianças de casa para conseguirem uma fonte de renda na internet. As crianças começaram a adentrar canais de influenciadores digitais e desenvolver uma fantasia de que também poderiam ter suas próprias carreiras de influenciadores como um meio de vida. Ficou muito comum ouvirmos crianças dizendo que já estavam se preparando para serem apresentadores de canais no YouTube ou terem um Instagram de finalidade profissional. Já atendi crianças fixadas neste modelo de ganhar dinheiro e adolescentes que estavam abandonando os estudos para seguir o sonho de investir e prosperar em um canal próprio.
Como o número de visualizações é o objetivo primário e a banalização do Outro associada à sexualização libidinosa como forma de atração se tornaram meras ferramentas, crianças e adolescentes passaram a ser vítimas das redes de pedófilos. De forma ingênua, entram nesta armadilha, seduzidas pela ideia de sucesso — e o sucesso aqui é um espelho refletido dos adultos que vivem por conta de, um dia, terem sucesso na vida, ou com o foco em ganhar dinheiro pela força de trabalho. Mas todo adulto foge do trabalho árduo, que dificilmente o colocará na condição de bem-sucedido economicamente.
Daí, vemos uma cultura que fomenta a dependência dos pais conectados, os quais influenciadores de sucesso e, consequentemente, se alienam na forma de educar seus filhos, chegando ao ponto de incentivá-los a criarem conteúdos atrativos com fins monetários. Hoje, podemos encontrar vídeos de crianças dando aula sobre como pais podem educar seus filhos, meninas influenciando produtos de maquiagem e cosméticos, canais de podcast com crianças desenvolvendo temas de autoajuda. Pais que usam seus filhos, até bebês, para venderem produtos, ou monetizar a partir de marcas de vestuário infantil.
Consequências psicológicas e o papel da família e do Estado
A adultização é a morte da criança em sua essência. É a epítome da infância roubada. Quando as crianças são impedidas de viverem a infância enquanto infância, sendo negado a elas o potencial de fantasiar, estarão sendo conduzidas à morte da sua psique. Pois as crianças vivem imersas mais no mundo da fantasia do que na realidade, e, já na vida adulta, esta realidade é o fator de maior vivência. Quando uma criança vive plenamente o seu potencial fantasioso - que se dá pela capacidade de brincar livremente - conseguirá passar para a vida adulta com uma utilidade transformadora, onde o que era fantasioso se multiplica em sonhos, desejos e projetos.
Um adulto, ao chegar na vida adulta tendo sido negada a potencialidade fantasiosa de criança, terá sua estrutura emocional predisposta a doenças como depressão, ansiedade e a morte do existir. Como a criança é imersa na fantasia, sua predisposição para ser vítima da sedução é enorme, pois não possui a estrutura de um adulto para saber discernir o que é certo ou errado e não possui autonomia de ação, o que a torna uma presa fácil para adultos predadores. A exposição das crianças às redes midiáticas na internet é um campo aberto para a morte da infância e exposição das mesmas a possíveis abusadores.
A decisão de como conduzir o processo educacional das crianças deverá ser dos pais e familiares. Porém, seria um grande benefício para os familiares adultos se tivéssemos leis mais definidas sobre o uso da internet e de maior controle das empresas responsáveis pelas plataformas digitais no Brasil. Assim, o Estado presente estaria fortalecendo a educação de suas crianças dando mais respaldo e proteção às mesmas, mais suporte aos familiares. Basta notar como a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas já ajudou (e muito) as instituições no desenvolvimento educacional.
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Psicologia 22/08/2025 08:33:50 163
A adultização de crianças atualmentefigura como o tema da moda, aqui com o conceitode moda se referindo à ideia do evento picante do momento. Convivemossemanalmente com este tipo de notíciasbombásticas, que se enquadram dentrode um modelo de noticiárioestrategicamente planejado para manter a audiência dos telejornais e das múltiplasredes em suas diferentes plataformas de transmissão. O Felca é a b...
Psicologia 15/08/2025 14:23:43
O Transtorno de Déficit de Atenção não é uma doença e, por isso, não pode ser tratado como se fosse. Coloca-se no quadro de transtorno, porém, não pode ser caracterizado como uma estrutura patológica, devendo ser visto como uma forma de ser. O índice de pessoas com TDAH atinge em torno de 4% da população. No entanto, se descrevêssemos nossos sintomas diários de perda de atenção, seríamos enquadrados no TDAH. É incrível o número de laudos que atualmente aparecem caracterizando este transtorno.
A mais recente moda proveniente de imagens e postagens, principalmente no TikTok, é a de usar chupeta para conseguir “segurar” a TDAH. Porém, o uso de medicações para melhorar a concentração é altíssimo e, inclusive, sem prescrição médica. Concurseiros e estudantes do ensino médio estão apelando para as medicações de controle e foco.
O verdadeiro foco do processo terapêutico
O processo terapêutico para o tratamento de TDAH não visa eliminar o quadro em si, mas potencializar o sujeito diagnosticado com este quadro a aprender a lidar com seu comportamento, que tem como base a hiperatividade e a consequente desatenção. Isso porque os portadores de TDAH possuem geralmente muitas habilidades e potencial de ação que, por conta dessa “sobra” de energia e habilidades, acabam se “atropelando” ao fazer, concentrar-se e desenvolver essas potencialidades.
Após um diagnóstico bem estruturado que, na sua maioria, perpassa uma intervenção interdisciplinar — psicólogo, neurologista, psiquiatra — dar-se-á o processo terapêutico. Geralmente, em um primeiro momento, há a necessidade de um auxílio medicamentoso com ênfase no processo de concentração que precisa ser monitorado por um médico neurologista ou psiquiatra. Isso decorre do fato de que, geralmente, há dificuldade de adaptação a uma ou outra fórmula e/ou princípio medicamentoso, inclusive, com efeitos colaterais comportamentais, como processo obsessivo ou ansiedade generalizada.
A importância da criatividade e da família no tratamento
No campo clínico psicológico, o objetivo é colaborar para que o portador de TDAH evolua na sua potencialidade múltipla, procurando ver e conduzir sua energia psíquica e habilidades cognitivas para o processo de focar em atividades que possam dar sentido e que tenham começo, meio e fim.
Aqui, neste processo psicoterapêutico, cabem, sim, intervenções dirigidas dentro da psicopedagogia, a qual os psicólogos podem exercer com muita clareza. Porém, não basta o estímulo psicopedagógico, sendo necessário também haver uma escuta deste paciente para que ele possa ser entendido na sua estrutura e possa, a partir de sua autopercepção, direcionar escolhas e ações. O despertar criativo nestes quadros é um elemento essencial para a reinterpretação do TDAH a favor do seu portador. Por isso, nestes casos, o profissional psicólogo precisa ter uma potencialidade criativa e recursos disponíveis no consultório para tal empreendimento.
A contínua intervenção junto à família do portador de TDAH é fator preponderante no resultado favorável da intervenção, pois geralmente as famílias estão usando o recurso das telas para amenizar o perfil de “muita energia” do TDAH. Porém, este tipo de ação na família colabora para que o portador torne-se mais confuso e sem estimular suas múltiplas habilidades e potencial cognitivo. Com a intervenção adequada, que se dá com um diagnóstico real, uma intervenção interdisciplinar e um processo terapêutico contínuo em parceria com a família, vemos casos em que o TDAH não necessita, inclusive, de uso medicamentoso, por já conseguir utilizar o TDAH como recurso, ou melhor, utilizando o comportamento hiperativo a seu favor.
O perigo dos diagnósticos apressados
O problema atual no processo de avaliação está em confundir a perda de foco, o hiperfoco ou o hipofoco, sem identificar o fator preponderante que desencadeia estes sintomas. A depressão, a ansiedade e qualquer outro transtorno emocional levam a sintomas de perda de concentração. Confundir uma ansiedade com hiperatividade é um caminho tênue, um olhar quase que de “golpe de vista” ou, como precisaríamos usar no futebol, o “VAR”: é quase uma linha de impedimento por um braço.
Cotidianamente passamos por situações adversas que podem nos colocar em uma perda de concentração. Contudo, não podemos, a partir de um sintoma isolado, caracterizar que existe um sujeito com o perfil de TDAH. Como o diagnóstico detalhado não é feito a toque de caixa ou em uma consulta apenas — e, pior ainda, em consultas relâmpago nas quais o sujeito sai “laudado” —, requerendo um processo diagnóstico que precisa ser construído, muitas vezes, a várias mãos, seguimos vendo diagnósticos relâmpago de TDAH e consequente prejuízo ao paciente, pois será vítima de intervenções medicamentosas equivocadas, receberá uma tarja para seu processo de aprendizado e, pior ainda, poderá bloquear, pela prescrição indevida, todo o potencial criativo e de desenvolvimento cognitivo.
A partir do que trouxe, a pergunta que deixo é: Quer ser mais um nessa massa? Repetir o mesmo de todos na busca por respostas e se autodenominando mais um doente emocional?
Se sim, continue escravo de respostas, medicações e laudos superficiais. Caso contrário, procure uma melhor investigação dos sintomas pelos quais esteja passando — ou que alguém de sua família esteja passando — para fazer um procedimento transparente e sem criar dependências, tanto de medicações quanto de hábitos que lhe tirem a autonomia.
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Psicologia 15/08/2025 14:23:43 84
O Transtorno de Déficit de Atenção não é uma doença e, porisso, não pode ser tratado como se fosse. Coloca-se no quadro de transtorno, porém, não pode ser caracterizado como uma estrutura patológica, devendo ser visto como uma formade ser. O índice de pessoas com TDAH atinge em torno de 4% da população. Noentanto, se descrevêssemos nossossintomas diários de perda de atenção, seríamosenquadrados no...
Psicologia 26/06/2025 10:12:54
A vida adulta carrega em si a crueldade da imersão profunda na realidade do cotidiano. A meu ver, este é um elemento agressivo da saída da vida de criança, levando a um longo período de transição pela adolescência até chegarmos à vida adulta. Tal passagem é tão cruel que há fortes sugestões de que a adolescência se estenda conceitualmente para além dos 26 anos. Hoje, ainda preconizo até os 22 anos, tendo o período de 17 a 22 anos reconhecido como adolescência adulta.
A crueldade do fim da infância e a longa travessia para a
vida adulta
Mas essa crueldade da entrada na vida adulta — que a Organização Mundial da Saúde (OMS) delimita a partir do final da juventude, aos 29 anos — parece fazer com que tudo perca o encanto. A emersão da fantasia infantil, que nos remete sempre ao saudosismo da fase da vida em que não éramos preocupados com nada, entra em um patamar sem flores. E aqui lembro do belo filme A História Sem Fim (1984), dirigido por Wolfgang Petersen, no qual um garoto sobe ao sótão de sua casa, entra em um livro infantil e viaja por essa história. O filme nos coloca diante de um processo de transição entre fantasia e realidade, no qual a criança está em pleno processo de imersão na fantasia.
Fantasia e realidade: o risco de perder o encantamento
Já na entrada da vida adulta, a fantasia parece dar lugar total à realidade. E, se o adulto permanece preso ou imerso na fantasia, algo parece estar fora do lugar. No entanto, entrar na vida adulta torna-se ainda mais cruel quando esquecemos que um dia fomos crianças — não restando sequer as lembranças das fantasias passadas. É comum, no processo de análise, que aqueles analisados não consigam lembrar das cenas da primeira infância num primeiro momento (principalmente entre 1 e 4 anos de idade). Há também aqueles que chegam totalmente absorvidos em um processo regressivo infantil, nos quais a realidade da vida adulta parece desconexa.
A criança esquecida e os
sintomas da vida adulta
Se esquecemos que fomos crianças ao adentrarmos a vida adulta, apresentaremos comportamentos com sintomas, tais quais variações de humor, rigidez comportamental e intolerância ao convívio com crianças. Um dos sintomas mais comuns que observo em adultos que se tornam mães e pais é o cansaço excessivo pelo contato com os filhos, ou uma intolerância em brincar com eles e adentrar sua fantasia.
No início do processo da análise, o analisando se apega à descrição das cenas do cotidiano, como se estivesse relatando uma notícia, descrevendo os fatos sem analisá-los de fato. Depois, com o desenrolar do processo e com o cansaço de falar das mesmas coisas e pessoas, o analisando começa a falar de quem foi, da sua história, e as memórias da infância começam a emergir. Por isso, dizemos que o sujeito analisado vai se tornando mais leve, pois começa a ver e reconhecer a criança que foi e que, aprisionada pelo inconsciente, se manifesta por meio de sintomas comportamentais que finalmente podem ser vistos e reelaborados.
Lembrar, sonhar e viver com
criatividade
Como já nos orientava o psicanalista e pediatra Dr. Donald Winnicott, o que analisamos no adulto é a criança que está dentro dele. Assim, ao lembrar, reviver e elaborar essa criança do passado — que ainda habita o adulto como comportamento e memória — passamos a encarar a realidade cruel com mais suavidade e leveza, pois há a fantasia que podemos deixar se manifestar no cotidiano. Tornamo-nos adultos melhores, que se permitem brincar e sonhar.
Pois infeliz é o adulto que não sonha — esse já não estará mais vivendo. Sonho aqui no sentido de desejar, fantasiar, se permitir brincar na vida e fazer do cotidiano um desafio a ser vivenciado com criatividade. A criatividade é a evolução da fantasia infantil para a vida adulta. Por isso, dizemos que, para viver o dia a dia, é preciso ter muita criatividade e cultivar a arte de viver.
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Psicologia 26/06/2025 10:12:54 176
A vida adulta carrega em si a crueldade da imersão profundana realidade do cotidiano.A meu ver, este é um elemento agressivo da saída da vida de criança, levando aum longo período de transição pela adolescência até chegarmos à vida adulta.Tal passagem é tão cruel que há fortes sugestões de que a adolescência seestenda conceitualmente para além dos 26 anos. Hoje, ainda preconizo até os 22 anos, ten...
Psicologia 06/06/2025 14:51:31
Para o IBGE, a classificação das fases da vida de idosos é: De 60 a 74 anos, considerado idoso; de 75 a 90 anos, considerado ancião e, de 90 anos em diante, velhice extrema. Porém, aqui procuro definir as fases da vida idosa a partir de um referencial que remete às fases anteriores à idosa, onde classifico: idoso bebê, idoso criança, idoso adolescente, idoso jovem, idoso adulto e idoso ancião, num paralelo à classificação do IBGE. O problema é que, aos olhos do IBGE, as faixas etárias idosas compreendem longos períodos (aproximadamente 15 anos, em média) nos quais observo que o idoso passa por muitas variações.
Neste 9 de Junho de 2025, entro nos meus 61 anos. Mas sinto que não me vejo idoso, pois a configuração idosa perpassa uma longa trajetória. Para quem está idoso aos 90 anos, é totalmente diferente de quem está aos 61. Dá uma sensação estranha quando entro em uma fila de idosos e, às vezes, uma pessoa de 80 anos está atrás de mim. Parece que estas filas preferenciais precisam ser revistas ou subdivididas. O problema é que não vai caber tantos caixas no supermercado ou num banco, por exemplo.
O paradoxo de ser "Idoso" aos 60
Ao mesmo tempo em que já posso usufruir de privilégios como estacionamentos e filas preferenciais, não consigo me perceber idoso. Não por estar negando ser idoso — muito pelo contrário, adoro a perspectiva de viver esta fase da vida — mas porque meu pique de fazer as coisas e meu corpo são muito diferentes daqueles de outro idoso que se encontra aos 90 anos. No entanto, acabamos sendo enquadrados no mesmo patamar.
Brincando entre amigos, fiz as seguintes especificações para estas classificações que estou denominando: Os "idosos bebês", grupo no qual me encaixo, são aqueles que estão saindo de uma vida de adulto para uma vida de idoso e aprendendo a se perceber como tal, achando estranho quando nos chamam de "velho", "idoso" ou "coroa". Enfim, vivendo no limiar entre querer manter-se jovem e entender que a vida de idoso chegou.
As novas categorias da vida Idosa
Já os "idosos crianças" são aqueles que se assumem idosos e brincam com essa demanda, já não ficando inconformados e tirando de letra o ser chamado de idoso. São assim, normalmente, aqueles que entram na faixa dos 65 anos.
Classifico como "idosos adolescentes" aqueles que, já se impondo como idosos, esbravejam se necessário e se posicionam com determinação na defesa de seus direitos enquanto idosos. Vale ressaltar que, assim como a adolescência propriamente dita, podemos entender o "idoso adolescente" até os 75 anos, onde empunhará o grito "abaixo o etarismo" e defenderá seu potencial capacitante e possibilidades de fazer.
Do idoso adulto ao velho ancião
Já os "idosos adultos", colocados a partir dos 75 anos, são aqueles que se estabilizaram nas suas posições e já levam a vida com mais parcimônia, sem perder sua postura e brilho. Se colocam com mais clareza sobre sua história e passam até a ser referência aos que lhe rodeiam. Dos 80 até os 90 anos, podemos então adotar a nomenclatura do "idoso sênior". Os "idosos sênior" são aqueles que escutam e opinam quando lhes é dada a palavra. Aqueles que vêem o que os mais novos ao redor não estão vendo e que anunciam a todos que ciclo da vida chegou em seu fim.
A partir dos 90, aí sim, poderia denominar de "velhice propriamente dita" e adjetivar o indivíduo como “velho ancião”, pois alcançar este nível em condições de ter autonomia sobre o que pensar e como agir com força física e projetos ainda a desenvolver é uma quimera para poucos. Eu mesmo desejo chegar aos 115 anos — um desafio às condições biológicas da nossa espécie. Lógico que, desta faixa etária, numa Sociedade em que o consumo e o imediatismo são elementos de estrutura fundamentante, chegar aos 60 anos já é motivo para ser peça descartável.
O início de um novo ciclo
E é aí que surge a principal angústia para os que entram nos 60 anos com a tarja de idoso e, ao mesmo tempo, a possibilidade de serem descartados: É preciso muita determinação para chegar aos 60 anos com a ideia de que se está iniciando um ciclo novo de vida, como o engatinhar de um bebê.
No dia 09/06/2025, chego ao meu primeiro ano de vida de idoso. Um "idoso bebê". Agora já comecei a andar para evoluir a um "idoso criança" e poder me divertir na minha vida idosa como se estivesse, de fato, mergulhando em maravilhosas fantasias. E olha que estou cheio de peraltices para viver.
Eis minha nova definição para as diferentes fases da vida idosa, que pode me potencializar — e nos potencializar — para uma bela trajetória nesta longa vida de idoso, nesta revitalização das fases do desenvolvimento humano. Até chegar aos 60 anos, vejo, sem dúvida, um renascer da vida para um novo ciclo a se vivenciar.
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Psicologia 06/06/2025 14:51:31 227
Para o IBGE, a classificação das fases da vida de idosos é: De 60 a 74anos, considerado idoso; de 75 a 90 anos, considerado ancião e, de 90 anos emdiante, velhice extrema. Porém, aqui procuro definir as fases da vida idosa apartir de um referencial que remete às fasesanteriores à idosa,onde classifico: idoso bebê, idoso criança,idoso adolescente, idosojovem, idoso adultoe idoso ancião, num paralel...
Psicologia 21/05/2025 17:08:24
O luto é um estado de elaboração de uma perda. Podemos vivenciar o luto pela morte de parentes ou amigos, mas também por pessoas que tínhamos como referência em algum campo da vida, como um escritor, músico, ator, entre outros. No entanto, o luto não se restringe à perda de pessoas. Passamos por lutos diversos, como perdas materiais, derrotas em competições, cancelamentos de eventos, entre outros. Sempre que nos deparamos com perdas que nos remetem a sentimentos de vazio, frustração, tristeza, angústia e introspecção, estamos vivenciando o estado de luto.
Na psicanálise a partir de Freud, podemos adentrar o tema do luto compreendendo que vida e morte coexistem em constante tensão. O que impulsiona a vida é, paradoxalmente, a presença da morte. Freud nos apresenta as forças psíquicas de Thanatos (pulsão de morte) e Eros (pulsão de vida) como constitutivas da estrutura psíquica do sujeito que, ao longo de seu desenvolvimento, estará constantemente polarizado entre essas duas pulsões. Quando a pulsão de morte se sobressai à pulsão de vida, podemos compreender que o sujeito está atravessando perdas estruturantes de desejo, especialmente quando lhe falta o fator desejante, ou seja, a pulsão de vida capaz de sobrepor a pulsão de morte.
A cultura da perda como processo de transformação
Aprender a lidar com perdas estruturantes ao longo da vida pode nos colocar em uma posição psíquica desejante e pulsante — principalmente quando essas perdas são compreendidas como etapas de um processo, como passagens. É claro que, nas idades iniciais e até na adolescência, a capacidade de lidar com perdas e vivenciar o luto dependerá não apenas do sujeito, mas também do ambiente que o cerca. Pais, parentes, amigos e, evidentemente, a própria estrutura social em que ele está inserido. Ou seja, a Cultura.
Desde que nascemos, estamos perdendo. Perdemos o útero, depois os seios da mãe, em seguida o corpo infantil, e, logo, perdemos os pais de criança para então termos que conduzir a vida por nós mesmos. Se, nessa trajetória, os ambientes não forem acolhedores e estimulantes, e a Sociedade ao redor valoriza as instabilidades e a morte — tratando-as apenas como tragédias e não como transições — aprender a lidar com as perdas se torna difícil. Assim, o luto deixa de ser passagem e torna-se um sofrimento paralisante.
O luto como porta para o desejo e a vida
Entrar em um novo momento da vida, ao ter que perder processos anteriores, pode ser angustiante. Isso pode levar à paralisia, à perda do desejo e fazer com que o luto se transforme em sintoma de angústia ou depressão — quase eterno. Porém, no próprio processo de elaboração do luto, há a possibilidade de reconexão com o desejo e com a pulsão de vida.
Vivemos em um sistema cultural que prioriza a morte em detrimento da vida. Isso é evidente na forma como as notícias são veiculadas: Há ênfase em catástrofes, homicídios e conflitos entre grupos e nações. Poucas são as notícias que valorizam a vida, o amor e a solidariedade — aspectos ligados à pulsão de vida. Isso ocorre porque o espetáculo do caos atrai mais atenção e ativa nosso temor mais profundo: O medo da morte.
A ancestralidade, a agressividade e o impulso de destruição
Diante de qualquer sinal de ameaça à vida, entramos automaticamente em estado de alerta e defesa. Nesse ato defensivo, muitas vezes atacamos antes de sermos atacados — uma lógica que revela nossa fragilidade e a tentativa de compensá-la com uma atitude de onipotência. Sentimo-nos quase deuses, mas tomados por um medo profundo de morrer. Isso instaura uma cadeia de defesas entre as pessoas, nos tornando, enquanto espécie, destrutivos — pois passamos a destruir aquilo que representa ameaça.
Quando percebemos, já ofendemos, já atacamos. Com isso, resgatamos uma ancestralidade destrutiva: Sobrevivemos por meio da autopreservação e, assim, desenvolvemos uma identidade agressiva por excelência, como já apontou Yuval Harari em seu livro Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. Para tentar amenizar essa herança destrutiva, a Humanidade desenvolveu, ao longo do tempo, formas culturais — como a religião — que promovem o amor. É possível identificar, em várias religiões ao redor do mundo, um fio condutor que prega: “Não faça ao outro o que não gostaria que fizessem a você”.
Psicanálise, esperança e transformação social
Religiões resgatadas da ancestralidade africana, da diáspora forçada pela escravização colonialista, também apontam para o cuidado com o outro, com o meio ambiente e com a coletividade. No Brasil, a ancestralidade indígena e as práticas religiosas dos povos originários revelam esse mesmo respeito — com destaque para a espiritualização da floresta e dos seres vivos como forma de protegê-los. Podemos entender este traço através do indígena Davi Kopenawa e Bruce Albert no livro “A queda do céu”, onde revela a força da espiritualidade Xamã na floresta. Apesar disso, nem mesmo esses movimentos religiosos que defendem o amor e a solidariedade conseguiram conter a fúria defensiva dos sapiens, cuja reação diante da ameaça é a destruição. Em muitas ocasiões, o impulso de vida é usado apenas para evitar a morte, não para fomentar a vida em si.
Freud reconheceu esse fracasso em diversos textos, como O Mal-Estar na Civilização, O Futuro de uma Ilusão, Totem e Tabu. Para ele, tanto o controle pelo Estado (com suas leis) quanto pela religião falham se o ser humano não desenvolver uma auto-percepção de seus movimentos internos, reconhecendo suas pulsões de vida e morte. Essa construção é um processo longo, tanto no nível individual quanto coletivo. Em 1919, na Conferência de Budapeste após a Primeira Guerra Mundial, Freud defendeu a psicanálise como uma ferramenta também social que abre caminhos para pensar a transformação das estruturas psíquicas e sociais a partir da análise e da percepção de si.
A busca por respostas sobre como evitar guerras, destruição ambiental e práticas discriminatórias também é uma expressão da pulsão de vida, que nos impulsiona a não aceitar passivamente uma cultura de morte. As ciências humanas - e aqui destaco a psicanálise, campo em que atuo — são formas de criar novas visões e possibilidades de transformação da realidade. Nesse sentido, é possível, sim, fomentar esperanças a partir da psicanálise. Podemos vislumbrar caminhos de mudança, como nos propôs Paulo Freire — educador brasileiro que levou sua pedagogia da esperança ao mundo — mostrando que é possível caminhar mesmo diante da escuridão, cunhando para isso o termo “esperançar”.
As lutas são imprescindíveis e necessárias para a elaboração das perdas e das passagens. Mas é preciso que essas lutas nos impulsionem a continuar caminhando. Caso contrário, o luto mata a pulsão de vida e fortalece a pulsão de morte.
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Psicologia 21/05/2025 17:08:24 214
O luto é um estado de elaboração de uma perda. Podemosvivenciar o luto pela morte de parentes ou amigos, mas também por pessoas que tínhamos como referência em algum campo da vida, como um escritor, músico,ator, entre outros. No entanto, o luto não se restringe à perda de pessoas.Passamos por lutos diversos, como perdas materiais, derrotas em competições,cancelamentos de eventos, entre outros.Sem...
Psicologia 27/03/2025 18:24:46
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aqueles que por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente a eles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossem autossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescência surgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estrutura social, geopolítica e cultural que definem seus traços e características
Sabemos que cada indivíduo constrói sua identidade dentro de sua singularidade e individualidade, o que justifica o processo de psicoterapia individual para que cada pessoa se encontre consigo mesma. Porém, a psicanálise nos mostra que o indivíduo está inserido no coletivo. O que escutamos enquanto analistas está impregnado de cenas e cenários do cotidiano, e, na adolescência, isso não é diferente.
O impacto do meio social na saúde mental
Quando falamos de um adulto, podemos atribuir-lhe responsabilidade direta por seus atos, sim, mas sempre considerando o meio social no qual está inserido. Não podemos dizer que aquele que não quer trabalhar, no Brasil, é pobre, pois a maioria absoluta dos trabalhadores continua pobre mesmo com todo o labor, conseguindo, no máximo, sobreviver ao dia a dia. Isso ocorre por vivermos em uma estrutura social marcada por um grande disparate econômico entre trabalhadores e empresários. Da mesma forma, não podemos atribuir uma crise emocional (como o pânico) simplesmente a uma desestruturação psíquica individual, pois os adultos são também vítimas do meio em que vivem. Ambientes sociais com altos índices de criminalidade e baixa segurança pública podem desencadear transtornos emocionais.
Se, nem dentre os adultos, podemos analisar comportamentos psicológicos de forma isolada, na adolescência isso é ainda menos adequado. Sabemos que essa fase é uma transição entre infância e a vida adulta, durando de 10 a 12 anos (aproximadamente dos 11 aos 22 anos). Mesmo assim, é somente por volta dos 29 anos que o indivíduo pode ser considerado plenamente adulto. Portanto, pensar a adolescência e falar sobre adolescentes exige um olhar para os agentes que sustentam sua vida. Esse olhar precisa ser amplo, indo além dos pais ou responsáveis legais, incluindo parentes, amigos, professores, autoridades públicas e representantes sociais que compõem o núcleo de vivência do adolescente. Todo o ecossistema.
Quando episódios traumáticos envolvendo adolescentes chocam a opinião pública, tendemos a analisar os casos de forma isolada, focando apenas nos adolescentes envolvidos. Assim, a visão sobre a adolescência se torna unilateral, destacando apenas aspectos negativos. Criticamos o adolescente isoladamente para não enxergar nossa própria participação nesses episódios. Negamos nossa relação com a adolescência porque não queremos confrontar nossa própria adolescência mal resolvida— o que chamo de "ecos da adolescência".
Na série da Netflix, “Adolescência”, que tem sido amplamente comentada nas redes sociais, o foco é colocado no adolescente, mas a narrativa nos leva a questionar como eles chegaram àquela situação. Queremos enxergar o adolescente, mas não os adultos que permitiram que ele chegasse ali, de uma forma ou de outra.
O papel dos adultos na construção da adolescência
O que o Poder Público está fazendo para dar suporte aos adolescentes no campo educacional? As escolas públicas que os acolhem a partir dos 11 anos estão descontextualizadas da realidade, oferecendo um ensino que já não atende às necessidades dessa faixa etária. No ensino privado, repete-se a fórmula dos modelos antigos, com promessas que nunca se concretizam. Além da educação, o que está sendo oferecido em termos de esporte, saúde pública, trabalho e outras áreas essenciais?
No campo jurídico, há um abandono na aplicação das regras de proteção aos adolescentes. Veja as redes sociais, comandadas por grupos estrangeiros, sem critérios de segurança adequados. Eventos noturnos ocorrem sem fiscalização sobre a presença de adolescentes nesses ambientes. Os conselhos tutelares, que deveriam garantir essa proteção, parecem existir apenas "para inglês ver", com pouca estrutura e efetividade. No campo legislativo, o que nossos políticos têm mostrado além da busca por benefícios pessoais?
E quanto aos pais e adultos, que supostamente passaram por uma adolescência bem resolvida? Muitos estão mais viciados em telas e redes sociais do que os próprios adolescentes. O abandono do adolescente dentro de casa ocorre tanto nas classes mais altas, devido ao excesso de benefícios, quanto nas mais baixas, pela falta de suporte. Assim, a adolescência hoje é uma questão que atravessa todas as classes sociais, cada uma com suas particularidades, mas todas marcadas pela negligência do olhar e do cuidado. E cuidar não se resume à estrutura material, mas sim a um compromisso afetivo, um vínculo real com aqueles que pertencem ao núcleo familiar e comunitário.
A dependência emocional dos adolescentes nos assusta pelos sintomas que emergem — sintomas desestruturantes e chocantes, que desafiam nossa capacidade de enxergar a realidade. Talvez os adolescentes estejam gritando através desses sintomas para que possamos, como adultos, finalmente vê-lo.
Mas há mais elementos favoráveis à vivência adolescente hoje do que desfavoráveis. O problema é que tais pontos positivos não ganham visibilidade, pois o que gera audiência é o espetáculo traumático.
Fica a pergunta: Você tem observado práticas adolescentes inspiradoras ao seu redor? Tem notado os ambientes onde adolescentes vivem experiências positivas de criatividade e alegria? Esses ambientes promovem um desenvolvimento saudável?
E você, como adulto, como tem convivido com os adolescentes à sua volta? Tem feito amizade com eles? Participado de suas atividades? Ou sua vida adulta hoje se resume a trabalho e a ver o tempo passar olhando para o celular? Aí é mais fácil dar foco às mazelas dos adolescentes.
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Psicologia 27/03/2025 18:24:46 266
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aquelesque por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente aeles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossemautossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescênciasurgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estruturasocial, geopolítica e cultural que definem seus ...
Psicologia 05/03/2025 14:51:06
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Psicologia 05/03/2025 14:51:06 260
Carnaval é tempo de colocar as repressões do cotidiano para passear. Tempo de abrir as grades que encadeiam nossas fantasias para fantasiar na rua. Tempo de afrouxar o autocontrole ou, como denomina a psicanálise freudiana, de soltar o supereu ou superego, o qual normatiza e nos enquadra por fatores morais, civis, religiosos e econômicos, mas também por castas, classes sociais e até gênero e/ou r...
Psicologia 27/02/2025 17:49:01
Os transtornos emocionais são sintomas que a mente desenvolve ao longo dos anos e que, há muito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversas variações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algum transtorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estes transtornos e, quem sabe, até nos autodiagnosticar. Existem transtornos para tudo, mas os mais relatados e comuns, que de fato ocorrem na clínica psicológica e que são mais frequentes na maioria dos consultórios psiquiátricos, incluem: Transtorno de Pânico, Ansiedade, Depressão, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e transtornos alimentares, como Bulimia e Anorexia.
Ao desconsiderarmos as possíveis causas diagnósticas que podem integrar um sintoma - como fatores relacionados a um quadro de saúde física, perdas parentais (luto), acidentes, fatores genéticos e cognitivos - percebemos que, na maior parte dos diagnósticos, não conseguimos identificar uma causa específica. Desta forma, observo, na minha clínica psicológica e dentro do referencial da escuta psicanalítica, que os transtornos emocionais são sintomas que refletimos ou que refletem elementos inconscientes que emergem para nos alertar. Prefiro entender que, ao longo da nossa história de vínculos afetivos com outros, na família e na sociedade, desenvolvemos sintomas, que, eventualmente, emergem como um vulcão em erupção.
Mas, de fato, criamos esses transtornos?
Acredito que sim. Muitas vezes, para permanecermos na mesma posição onde precisamos nos fixar. Em outras, para tirar vantagem nas relações com os outros. Ou porque fomos educados sob um forte apelo repressor, onde as emoções e os pensamentos não puderam se manifestar. No entanto, em algum momento, essas emoções se manifestam em forma de sintomas, causando uma série de problemas, visto que cada sintoma, sendo codificado entre as diferentes categorias emocionais, envolve, sim, sofrimento. A clínica psicológica, com referencial teórico e técnico da psicanálise, vê nos sintomas a emergência do inconsciente, isto é, aquilo ao qual até então não tínhamos acesso ou resistimos em sentir.
Assim, a psicoterapia e/ou análise são formas de ajuda profissional ao paciente para que este possa se encontrar com as fantasias desenvolvidas na forma de sintomas emocionais. O processo leva o paciente, primeiramente, a escutar os sintomas, vê-los, senti-los e mapeá-los. Depois, é conduzido a pensar no porquê, ao longo da sua história, foi preciso criar um sintoma emocional e como saber conversar com sua própria fantasia. No entanto, isso leva tempo, pois, no primeiro momento, o paciente reluta em entender ou aceitar que se trata de uma fantasia construída ao longo dos anos. Essa resistência é agravada quando o paciente já tem um diagnóstico definido e uma orientação médica de que precisará de medicação para sempre, e que a medicação dificilmente sairá do paciente.
Esse é um ponto que frequentemente gera conflito entre a visão da psiquiatria, encravada no código internacional das doenças emocionais - com apoio de laboratórios que sustentam essas pesquisas de resultados dos transtornos - e a psicanálise, que acredita na possibilidade de ouvir os sintomas, elaborá-los e assim reposicionar-se, levando à melhora do quadro.
Lidar com os sintomas emocionais é possível
Sempre digo aos meus pacientes que eles são tão criativos que conseguem até criar sintomas emocionais, acreditar na própria criação e fazer com que muitos ao seu redor também acreditem. Contudo, essa minha posição pode nos levar a uma tentativa de banalizar os transtornos emocionais. É importante lembrar que um transtorno emocional precisa ser tratado com respeito, sendo necessária uma avaliação psiquiátrica e o uso de medicação em muitos casos. Em alguns quadros, o transtorno emocional se torna uma característica permanente do indivíduo, o que pode exigir medicação contínua. Em casos de transtornos psicóticos, por exemplo, uma boa condução medicamentosa e psicoterapêutica pode permitir que o paciente leve uma vida normal, mesmo com o transtorno definitivo. Eu atendo pacientes esquizofrênicos que aprenderam a lidar com o transtorno e convivem bem em sociedade.
No entanto, no cotidiano e no processo de interação, todos nós temos resquícios de transtornos emocionais. Mesmo quando associado a medicamentos, o tratamento pode levar à alta medicamentosa. Esse processo ajuda o paciente a não negar os sintomas, mas a se encontrar com eles, entender o motivo pelo qual os criou e desfazer a fantasia que os originou. Lembre-se de que, na maioria dos casos, o tratamento não é a eliminação dos sintomas, mas sim a capacidade de dialogar com eles. Se o sintoma criado for monstruoso para o paciente e o levar a temer vê-lo, o tratamento pode permitir que ele enfrente seu próprio monstro.
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Psicologia 27/02/2025 17:49:01 224
Os transtornos emocionais são sintomas que a mentedesenvolve ao longo dos anos e que, hámuito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversasvariações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algumtranstorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estestranstor...
Psicologia 20/02/2025 14:53:54
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Psicologia 20/02/2025 14:53:54 279
Uma problemática que, aparentemente, é vista como irrisória na saúde sexual masculina, é o aumento do número de homens que precisam amputar o pênis, tendo como principal fator, o Câncer. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, a partir de informações hospitalares do SUS, a média de homens que necessitam amputar o pênis por ano passa dos 480 casos. Como a incidência equivale a uma ...
Psicologia 13/02/2025 17:42:37
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Psicologia 13/02/2025 17:42:37 327
Esta é uma questão de difícil resposta, pois podemos ter namoros que, aos olhos de quem está diretamente envolvido na relação, pode estar sendo avaliado como muito favorável, mesmo que represente uma relação tóxica e/ou imatura aos olhos de terceiros. Como posso dizer que, no namoro em que um dos parceiros apresenta sintomas emocionais patológicos, aquela relação não vai dar certo ou não s...
Psicologia 18/12/2024 07:37:06
Este tema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento, “Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicano do século XIV Maitre Eckhart que diz:
"O pai sorri para o filho
E o filho sorri para o pai
E o sorriso faz nascer o prazer
E o prazer faz nascer a alegria
E a alegria faz nascer o amor."
Lembro-me de quando meu filho Hélder Manacô, ainda bem, pequeno dizia “sórri” e todos riam desta forma de expressar o sorrir. E, no poema do frade, o amor nasce da alegria, que vem do prazer engendrado pelo sorriso.
O sorriso é expressão que só pode ser resultado e sintoma de encontro, encontrar-se.
Na canção de Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Rosa sem espinho e dor”. Mãe que acolheu sorrindo, encantou como rosa sem espinho, fez brotar maternagem, para lembrarmos do Psicanalista Inglês Donald Winnicotti sobre as mães suficientemente boas, cuja imagem espelha o amor pela ponta final de um sorriso. Desde o início do sorriso da fecundação, ao sorriso de um ser em movimento no útero, ao sorriso do filho nos seios após um grito de dor, da dor do parto. Um encontrar-se, para outro projetar-se, espelhar.
Há um pai, que sorri para o filho, e, no reflexo espelhar, há um filho que sorri para seu pai. Encontrar-se com este terceiro, fazendo romper a simbiótica relação mãe/filhos no longo círculo do parto ao desmame, pois há um terceiro.
Fazer laços pelo ambiente onde o amor triunfou, a alegria inundou e o prazer do sorriso fez-se cotidiano. Nascer para novos encontros, espalhar-se em comunidade. Redes de apoio e de encontrar-se. E, como poetiza Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Ajudar quem quer viver”. Fazer a História acontecer, de uma Sociedade poder viver a construção do amor e virar Civilização do Amor.
Quimera? Utopia? Fantasia?
Não fosse possível, não justificaria viver em função de promover no outro o encontra-se consigo mesmo no resgate de um amor, que, muitas vezes, pode parecer escondido ou até inexistente, por não se ter vivido em ambiente que potencializou o Amar. E, pela escuta psicanalítica, no processo de mão dupla entre analista e analisado, o sorriso pode brotar. Sintoma maior de uma alma onde habita o amor e o desejo de amar. Assim, como na construção incansável de levar os pais ou aqueles que se fazem pais, restabelecer ambiência que prevaleça o cuidado na alegria do prazer de se revitalizar o sorriso entre os olhares dos que habitam a mesma casa, comunidade, cidade, estado, nação e nosso habitat maior, o planeta Terra na sua infinita cosmologia.
Vamos fazer deste meu querer aquele que engendra o desejo do poeta Milton Nascimento: “Tudo o mais que eu queria é cumplicidade”.
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Psicologia 18/12/2024 07:37:06 1328
Estetema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento,“Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicanodo século XIV Maitre Eckhart que diz: "O pai sorri para ofilho E o filho sorripara o paiE o sorriso faz nascer o prazer E oprazer faz nascer a alegria E a alegria faz nascer o amor." Lembro-mede quando meu filho Hélder Manacô, ain...
Psicologia 25/11/2024 17:50:33
Muito tem se falado sobre a saúde emocional e processos de prevenção dos transtornos mentais. Mas observo que não estamos dando atenção aos hábitos pessoais que vamos adquirindo ao longo de nossas vidas, muitos deles nos conduzindo a tais transtornos.
Os hábitos pessoais são caracterizados por comportamentos que fazemos de forma repetida no cotidiano. Dia após dia, ano após ano, vamos repetindo os mesmos hábitos. Se não ficarmos atentos, vivemos mais por repetições de hábitos do que por consciência destes e atitudes que escolhemos vivenciar a cada dia.
Muitos animais tendem a criar hábitos, principalmente os domesticáveis. Aqui, vale muito os treinamentos comportamentais de animais domésticos para terem o maior número de hábitos repetidos a cada dia, o que torna mais fácil a convivência destes com os humanos. Outros animais não-domésticos vivem com hábitos codificados a nível cerebral, a ponto de espécies inteiras repetirem coletivamente o mesmo comportamento sem passar por treinamento, numa repetição de estrutura genética codificada. Por exemplo: As tartarugas marinhas, ao serem desovadas na praia, automaticamente caminham rumo ao mar até sentirem o toque de suas patas na areia da praia. Este processo dos filhotes faz memória cerebral a ponto de voltarem a desovar depois de 25 anos na mesma praia de origem, mesmo sem treinamento para tal.
Um cachorro cria o hábito de dormir no canto de uma parte da casa e dificilmente conseguimos fazer ele sair deste canto quando quer dormir após a consolidação deste costume. Sendo ele domesticável, é possível treiná-lo para dormir em outro canto que não invada a privacidade de quem também mora na casa. Porém, muitos cachorros conseguem até fazer seus donos dormirem no chão para que fiquem na cama, pois assim lhes foi permitido.
No caso dos humanos, é diferente. Podemos ser treinados para fazer as coisas do cotidiano de forma controlada / imposta, ou por processo de conscientização. Por exemplo, escovar os dentes, que se for imposto controle, poderá levar o sujeito a só fazer se alguém mandar, ao contrário de fazê-lo por consciência da higiene bucal. Por isso, que neste exemplo específico do escovar os dentes, quando a família traz elementos lúdicos às crianças, fazendo com que entendam a importância da ação, não precisarão de alguém para ficar lembrando-as deste hábito. Lembro-me que tinha muita dificuldade em escovar meus dentes quando criança, mas, depois que assisti uma palestra na pré-escola de uma dentista que fez uma linda exposição sobre os perigos da não-escovação, fiquei preocupado com os efeitos negativos. Daí para frente, nunca mais deixei de escovar os dentes. E quantos foram os hábitos a nós impostos e que, na vida adulta, abandonamos por escolhas pessoais. Porém, há muitos outros hábitos que repetimos sem pensar por anos e anos de controle comportamental educacional dos pais.
Até aqui, parece que nem entrei no tema de nosso texto. Mas, para pensarmos em hábitos, precisamos entender como estes são introduzidos e se manifestam em nossas vidas. Hábitos podem ser destrutivos e construtivos. Podem promover saúde (física e emocional), ou destruir nosso corpo e levar-nos a transtornos emocionais. Se, por exemplo, a pessoa aprendeu desde criança a ir dormir muito tarde e, ao longo dos anos, sempre dormiu poucas horas de sono noturno, além dos prejuízos no desenvolvimento fisiológico, surge a predisposição para doenças fica um campo aberto. E, no movimento contrário, a pessoa que foi se habituando a dormir oito horas de sono noturno ao longo dos anos terá mais defesas fisiológicas e prevenção à saúde emocional.
Quando colocam a pessoa em estado de dependência, principalmente de substâncias químicas (lícitas e/ou ilícitas); quando há apego a eletrônicos que leva às perdas cognitivas, afastamento social e/ou depressão; quando o sono não faz ciclo de oito horas noturna e, ao longo dos anos, perde-se a subjetividade, acesso aos sonhos e consequente perda de produção das substâncias neuronais que promovem a regulação do humor e estímulo para agir no cotidiano; quando, ao longo da história pessoal, não se cultivou afetos entre entes queridos e ou amizades, por fazer parte de um processo educacional funcional que sempre prioriza a logística do existir.
Hoje, podemos dizer que uma exagerada dose de bebida alcoólica em um final de semana vai bloquear a produção de químicas neuronais de estímulo, podendo desencadear depressão, como também o não respeito ao hábito de sono noturno de oitos horas. Também a dependência dos eletrônicos, principalmente do celular ligado nas redes sociais até altas horas da noite, que faz o desenvolvimento da ansiedade e também das perdas produtivas e de criatividade. A vida sedentária, na qual a atividade física está descartada e há falta de presença em grupos de pessoas e amigos além do ambiente de trabalho. Pior é quando a pessoa se apega às notícias sempre negativas, e não se aprofunda nos fatos, onde a alienação e a percepção de mundo passa apenas pelo viés da crueldade que pode desenvolver pânicos e desesperança em relação ao futuro.
O hábito de não estudar e permanecer acomodado no que faz na prática sem aprofundar-se e o buscar conhecimentos que retiram do indivíduo recursos intelectuais e estratégias de pensar saídas em situações críticas. É muito complexo o tratamento de transtornos emocionais em pessoas que estão sem potencial de conhecimento por estarem estagnadas no processo de aprendizado e busca de conhecimentos. Com recursos de potencial do saber diverso, a pessoa consegue encontrar mais recursos em si mesma para auto percepção dos motivos que levaram a desencadear um transtorno emocional, e potencializa ações para sair do transtorno.
Quando, pelo transtorno, a pessoa passa a pautar sua existência, como, por exemplo, uma fobia social ou transtorno do sono, que pode levar ao hábito de nunca querer sair de casa; quando a depressão leva a pessoa a uma rotina de ficar deitada por muito tempo do dia ou ficar isolada em um canto da casa, sempre estar antenada às notícia ruins; quando uma ansiedade leva a hábitos alimentares como meio de se acalmar, podendo, inclusive, cair na obesidade; quando a ansiedade leva a pessoa a se tornar consumista compulsiva; quando pelo transtorno obsessivo compulsivo, desenvolve-se um apego à prática religiosa de repetições simbólicas e/ou apegos à objetos religiosos, chegando também a desenvolver hábitos de limpeza e de trancafiar a casa.
Podemos entender que hábitos podem, sim, desenvolver transtornos emocionais. O problema é quando tais transtornos formam hábitos, tornando mais difícil o processo de saída destes. Há um ditado popular que diz ser mais fácil criar uma nova religião do que eliminar um hábito.
Não podemos esquecer que, antes de sermos humanos, somos fundamentalmente animais. Temos forte tendência de vivermos como tal, movidos por necessidades meramente fisiológicas imediatas. A sapiência que pode fazer a diferença pelo nosso potencial de simbolização e consequente estrutura para o pensar, muitas vezes, não é utilizado e desta forma corremos sempre o risco de vivermos movidos pelas necessidades básicas do cotidiano.
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Psicologia 25/11/2024 17:50:33 1274
Muito tem se falado sobre a saúde emocional e processosde prevenção dos transtornos mentais. Mas observo que não estamosdando atenção aos hábitos pessoais que vamos adquirindo ao longode nossas vidas,muitos deles nos conduzindo a tais transtornos. Os hábitospessoais são caracterizados por comportamentos que fazemos de forma repetidano cotidiano. Dia após dia,ano após ano, vamos repetindo os mesm...
Psicologia 11/11/2024 15:14:55
Vivemos numa Sociedade de Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras à ideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importa é sempre vencer, e a satisfação se dá apenas em conquistar.
A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeados por estímulos ao consumo, os quais são promovidos pela Publicidade. A estética do consumo nos faz sentir constantemente insatisfeitos e com sentimento de menos valia, como se nunca fôssemos suficientemente bons ou completos. Assim, a Publicidade se aproveita das nossas inseguranças, prometendo preencher vazios que o consumo provoca, criando um ciclo vicioso problemático: Quanto mais consumimos, maior parece ser o buraco a ser preenchido.
Quando nos desenvolvemos com apego ao prazer imediato, focamos apenas no "agora", não desenvolvendo nosso potencial de busca. É a máxima do Desejo: O que busco, no que busco não encontro e, assim, continuo desejando. Surge então o sujeito desejante, que, contrário a esta lógica, se preenche com a busca por conhecimento e projetos de vida, conquistas que constroem uma base emocional mais sólida. Este indivíduo terá melhores condições de lidar com a tentação do consumo e a necessidade constante de gratificação imediata. Podemos dizer que, estruturalmente, ao longo da vida, podemos desenvolver a capacidade de lidar com buscas de longo prazo e com as perdas inerentes ao cotidiano, criando uma saúde emocional mais robusta e com menores chances de cair nas armadilhas do consumismo.
Quando começa a construção da capacidade de lidar com as perdas?
No entanto, essa construção começa desde cedo e depende da educação familiar. Crianças e adolescentes que aprendem a lidar com as perdas se estruturam emocionalmente de forma mais saudável. A cada dia, vivemos perdas: A perda do dia que passou, as transições de fase no desenvolvimento humano, renúncias inerentes às escolhas que fazemos, entre outras. Todas perdas decorrentes do processo da Existência. Sempre que escolhemos algo, abrimos mão de outra coisa. A vida, em sua essência, é feita de perdas. A Morte, por exemplo, é uma inevitabilidade que nos confronta do início ao fim. Vivemos com a ideia de que um dia enfrentaremos a morte, mas numa Sociedade que só valoriza a Vida, fugimos tanto deste conceito que passamos a crer na vida eterna.
Quando, no processo educacional, os pais evitam que os filhos experimentem perdas e constantemente satisfazem seus desejos, eles acabam impedindo o desenvolvimento de uma busca saudável por parte da criança. É justamente através da perda que a criança aprende a buscar, e, por meio da busca pelo conhecimento, faz acontecer meios para suprir as perdas.
Se tudo chega facilmente, sem esforço, a criança não tem motivo para construir suas próprias conquistas. Se, ao longo da vida, a pessoa não aprende a lidar com as perdas, ela poderá desenvolver uma estrutura emocional frágil, sempre associada ao desprazer e ao sofrimento dum vazio interior, levando tal fragilidade emocional a possivelmente se manifestar em diversos transtornos. É interessante notar que crianças que enfrentam dificuldades de saúde nos primeiros anos de vida tendem a desenvolver maior resistência no cotidiano. Isso acontece porque os limites impostos pela saúde nos colocam em situações contínuas de perda, muitas vezes com risco de vida.
Se você é uma pessoa que tem dificuldade em lidar com perdas e se apega excessivamente ao consumismo, é importante buscar práticas e hábitos que permitam aprender a abrir mão de certos desejos e viver com menos. A princípio, você pode sentir ansiedade por estar se abstendo de algo, mas com o tempo poderá experimentar uma sensação de prazer diferente, que vem do fortalecimento da sua estrutura emocional.
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Psicologia 11/11/2024 15:14:55 1296
Vivemos numa Sociedadede Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras àideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importaé sempre vencer,e a satisfação se dá apenas em conquistar. A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeadospor estímulos ao consumo, os quais sãopromovidos pela Publicidade. A ...
Psicologia 06/11/2024 07:57:48
O foco do Novembro Azul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estão diretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao Machismo Estrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens na Sociedade. Por conta deste elemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido a fatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de toque) até a ideia de que fazer este tipo de prevenção é exagero e frescura. Diante desta situação, já me deparei com falas machistas, como “Isso é coisa de mulherzinha, que sempre querem ir a médicos...” e “Vou procurar uma médica para fazer o toque em mim, vai que rola...”, reiterando esta problemática.
É necessário trabalhar a prevenção ao Câncer de Próstata a partir do debate sobre a questão do homem na Sociedade como um todo - e aqui refiro ao todo de uma Sociedade Brasileira calcada num machismo que perpassa pelos homens primeiramente e também por uma posição de submissão de muitas mulheres. Deve-se pontuar, inclusive, esta problemática para as mulheres que ensaiam retrocesso pela indução de muitas seitas cristãs espalhadas pelo Brasil, as quais acentuam a ideia de que a mulher precisa seguir seus maridos e estarem sujeitas à eles, mesmo diante de vastos avanços para a eliminação do Patriarcado. Uma tendência ultraconservadora associada, inclusive, à política dentro da ideologia de extrema direita.
Estrutura machista e o mal que causa ao masculino
Com a estrutura machista, todo poder é dado ao homem. Isto fica evidente nas muitas instituições sociais no Brasil, onde estes ainda representam o gênero dominante, desde a política, poder judiciário, poder público, poder legislativo, universidades, religião, e até escolas de samba. Só para termos uma ilustração clara, na minha profissão de Psicologia, quase a totalidade dos profissionais são mulheres e, ainda, quem afere os melhores resultados financeiros no exercício profissional são os psicólogos.
Sendo assim, este conceito do “homem macho” que habita em nós (homens) por uma longa história de dominação na Sociedade deve ser dissolvido e transformado em um cidadão dignamente masculino e parceiro das cidadãs femininas, se baseando no diálogo pleno com as múltiplas orientações de gênero existentes na Sociedade. Porém, a ideia de dissolver o Machismo Estrutural parece causar forte ameaça ao público masculino adulto por seu apego a uma posição de poder e domínio da qual não querem abrir mão, acentuando esta problemática.
A partir de consultas de avaliação e diagnóstico ao câncer de próstata via método tradicional, tenho certeza que esta demanda não vai avançar. Ficaremos presos apenas ao processo clínico, como se cada homem se resumisse a uma grande próstata. Tenho passado por alguns exames destes anualmente e sei que o profissional ali não está lhe vendo como um cidadão inserido numa Sociedade. Há um olhar focado apenas no específico corporal. Até a leitura dos exames de sangue sugeridos é visto não em sua integralidade, com o processo sendo feito de forma tão rápida que o profissional sequer olha para seu rosto. E isto no meu caso específico, que ainda consigo pagar um plano de saúde. Imagine dentro de um SUS sucateado, que não está dando conta nem das necessidades básicas de saúde por uma miríade de fatores.
Diante destas observações, precisamos falar, sim, das várias instâncias e do fato de que uma pessoa não pode ser vista apenas no específico corporal. Como as campanhas de prevenção a qualquer tipo de doença focam muito no fisiológico, observo que estão atingindo muito pouco a consciência preventiva e de uma conexão integral do ser humano ao todo que compõe seu existir. E, se não nos posicionarmos no pensar a saúde do homem para além do fisiológico, o Novembro Azul pode (deliberadamente ou não) inclusive acentuar o machismo do homem pela via da virilidade e da potência sexual, tipo: -“faço os exames com medo de ‘brochar’... .
Mas como dissolver o Machismo Estrutural?
Você que está lendo este texto, que pode ser um homem ou uma mulher e que pode ter um parceiro homem, ou filhos homens ou alunos homens, parentes homens, etc. Como agir para dissolver a estrutura machista de nosso referencial cultural histórico? Vou passar aqui alguns pontos que podem ajudar:
1) Ao homem, reconhecer seu machismo em teoria e prática, pois uma coisa é o discurso antimachista, outra coisa é a prática. E, à mulher, observar se está enquadrada no patriarcado em que ela muitas vezes ressalta a posição da submissão ao homem.
2) Ao reconhecer, levantar os comportamentos que externam este machismo. Eu já fiz uma lista ampla de comportamentos que pretendo estar antenado para eliminar. E esta atitude deve ser uma pauta nesta construção. Vou lhes dar um exemplo: Tenho tendência de verbalizar palavras como “caralho”, “cacete”, “porra”, entre outras. Até para falar expressando algo que denote muito valor, solto um “bom pra caralho”. Lembro que, numa situação, assistindo ao jogo do meu time de coração (Corinthians) soltei estas falas no meio de um grupo de pessoas que também tinha mulheres, levando minha esposa a chamar minha atenção. Eu refutei. Até que tomei consciência e desejo de eliminar o meu machismo estrutural, entendendo que há peso até na forma de se xingar, ou comentar expressões de fortes sentimentos. É preciso se posicionar para eliminar este comportamento . Este meu exemplo pode ser banal, mas é representativo de uma estrutura. E o que é estrutural no comportamento de uma pessoa é revelado nas formas mais banais, em lapsos de linguagem, chistes, atos falhos, como já nos ensinou Freud em sua construção da teoria psicanalítica.
3) Estando em ambientes de trabalhos, observar se as condições de trabalho são equivalentes entre homens e mulheres, e, se não forem, se posicionar em busca da melhoria deste ambiente.
4) Nas pequenas ações cotidianas, focando em sair da posição de ajudante da parceira conjugal e/ou quando mora com familiares, onde os serviços de manutenção da casa estão sob responsabilidade duma mulher, pois quem é ajudante apenas auxilia o responsável direto por algo, como, por exemplo, o ajudante de pedreiro. Assim, substituir o ajudar em casa por fazer junto, como um compromisso pessoal no coletivo.
5) Para quem tem filhos que vivem juntos em casa, organizar a distribuição de tarefas na manutenção da casa, no fazer as refeições, transformando o lar num compromisso de todos. Esta forma de fazer é muito difícil de acontecer em residências que têm uma funcionária doméstica. Muitos pais acham que se já tem alguém para fazer, então para que levar todos a fazerem, desta forma reinará a estrutura machista. Pior é quando o homem da casa não faz nada dentro de casa por já trazer o dinheiro de sustento da família. Agrava também esta posição de machismo quando a mulher que está na condição de também responsável pela família acredita que, de fato, o homem provedor não deveria fazer nada dentro de casa.
Poderíamos enumerar inúmeros posicionamentos que podem ser listados pelos homens para a dissolução do machismo estrutural, mas o importante é que estes passos e procedimentos sejam elencados por cada um. Mas sei que, se esta iniciativa depender dos homens, não veremos muitas mudanças. As mulheres que podem provocar os homens que estão ao seu redor, pois, no final, a corda do machismo estoura na mão delas. E se há um pequeno avanço no pensar a Sociedade machista em vista de uma derrubada deste adoecer coletivo, devemos muito aos muitos movimentos de mulheres que estão gritando e agindo nesta Sociedade.
Agora, se tudo isto parecer balela ou parecer uma utopia inatingível, aí sim justifica aos homens se colocarem como um animalzinho nas filas de exames e diagnóstico do Câncer de Próstata, para apenas se preocuparem com o aparelho reprodutor masculino e sua virilidade. Restar-lhes-á então apenas este orgulho e a impotência do ser no Coletivo.
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Psicologia 06/11/2024 07:57:48 1053
O foco do NovembroAzul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estãodiretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao MachismoEstrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens naSociedade. Por conta desteelemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido afatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de ...
Psicologia 29/10/2024 10:12:54
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se ela deseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmos neste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamos falando, detalhar o que é este conceito.
Considero a saúde emocional o resultado da vivência cotidiana de uma pessoa que é capaz de fazer escolhas por si mesma, preservando sua forma de ser e se colocar no mundo. Lógico que esta capacidade de fazer escolhas é muito relativa, pois o sujeito que deseja, por exemplo, sair matando outras pessoas, estará ferindo uma norma coletiva constitucional em que pessoas não podem matar outras pessoas. Mas, se tomarmos a ideia de escolhas enquanto forma de ser no mundo, identidade pessoal e singularidade na forma de ser, então podemos entender que saber os motivos pela qual está se agindo em diferentes situações do cotidiano, usando da autonomia para a própria escolha e da configuração de um cidadão com melhores condições de pontuar saúde emocional.
Do contrário, quando uma pessoa é regida pelas escolhas de terceiros em vez das próprias, viverá em um processo contínuo de dependência, e, consequentemente, se pré-disporá para uma não-autonomia na sua estrutura e subsequentes decisões, abrindo um campo de possibilidades de sintomas. E tais sintomas são resultados diretos de estruturas emocionais que vamos construindo ao longo dos anos e que eclodem em quadros bem definidos de transtornos. Nesta altura, é possível questionar: Existem pessoas que se encontram na capacidade de viver plenamente a saúde emocional? E a resposta é simples: Sim, existem.
Como viver plenamente a saúde emocional?
Se este caminho não fosse possível, não teria sentido a Psicologia e suas várias formas e tendências de desenvolvimento teórico e técnico. O problema é que confundimos a questão de vivenciar a saúde emocional com não passar por sofrimentos, dúvidas ou problemas. Pelo contrário, o sujeito que se apresenta com saúde emocional não vai negar seus problemas e desafios a superar, mas vai entender os motivos e se posicionar sobre eles, assumindo uma escolha no processo. Exemplo: Pessoas que estão com sintomas de depressão, mas conseguem entender sua situação e busca compreender a origem para se posicionar de modo a sair deste quadro. Neste exemplo, não estou dizendo que uma pessoa com saúde emocional não passe por uma depressão, mas que, ao trilhar o caminho da saúde emocional, a pessoa poderá passar por sintomas que ameacem a sua saúde, mas se colocará na busca se um caminho para sair da situação sintomática. Do contrário, alguém que não se enquadra no esquema de saúde emocional, vai negar a depressão e, consequentemente, não buscará ajuda.
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Psicologia 29/10/2024 10:12:54 1269
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se eladeseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmosneste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamosfalando, detalhar o que é este conceito. Considero a saúde emocional o resultado da vivênciacotidiana de uma pessoa que é capaz de fazerescolhas por si mesma, preservando sua forma de...
Psicologia 22/10/2024 15:31:15
O desmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Não representa apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança de fase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica da pessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todos passamos por este processo e temos marcas em nossa personalidade (ou melhor, em nossa estrutura emocional) decorrentes desta fase.
Desde a fecundação, passando por toda a gravidez até chegar no processo de desmame, mãe e filho estão vinculados numa mesma estrutura psíquica, que podemos chamar de simbiose materno/filial, em que há uma inter-relação mútua. E, mesmo que uma criança não tenha sua mãe biológica, mamando em outra mulher e/ou via mamadeira, a interação simbiótica se dá neste longo ciclo de existir até o desmame. A configuração de mãe, para o entendimento da psicanálise, não está diretamente relacionada apenas ao processo duma relação biológica, pois os vínculos se estabelecem por laços afetivos. Assim, precisamos sempre ressaltar a mãe como aquela que faz presença afetiva e que, inclusive, pode não ser uma pessoa do sexo feminino. Por isso que, quando nos perguntam se um casal homoafetivo masculino pode adotar uma criança ainda bebê, podemos afirmar que sim.
O desmame vai representar a passagem de fase
Dentro das perspectivas da psicanálise a partir de Melane Klein, Winnicott e Dolto, assim como o próprio Lacan, que pouco escreveu sobre crianças, podemos entender que o desmame vai representar a passagem de uma fase de estabelecimento de vínculo estruturante para a entrada no processo da linguagem, das regras e, assim, da socialização. No texto de Lacan “Complexos Familiares” (1932), teremos uma clareza desta configuração e da importância do desmame para a evolução do sujeito na configuração de sua própria estrutura psíquica. Lacan vai dar o nome deste momento de “complexo do desmame”, onde mãe e filho são uma só pessoa. Mas então é possível questionar: “E as crianças abandonadas, que perderam o vínculo com a mãe desde o parto, e ou que foram bruscamente retiradas de suas mães, não vivenciaram este uma só pessoa em mãe e filho?”
Esta pergunta não deixa de ser complexa, pois, de fato, vemos com frequência a interrupção de vínculos de maneira tão catastrófica que podemos até não conseguirmos entender que uma criança desvinculada de sua mãe possa passar por este desmame de forma saudável - isto é, que a projete para novas etapas da vida de forma propulsora, estimuladora. E, de fato, vemos ser instauradas muitas “desestruturas” psíquicas por conta destas interrupções abruptas. Também, em muitos processos nos quais, mesmo tendo todas as estruturas de suporte, logística e referenciais de vínculos aparentemente saudáveis e/ou padronizados num modelo adequado, poderemos ter perdas de vínculos afetivos onde prevaleceu a logística e a funcionalidade materna.
Desta forma, é fundamental que todas as frentes de atendimento às crianças nos primeiros anos de vida sejam configuradas por profissionais com conhecimento da estrutura do desenvolvimento emocional no início da vida de uma criança em suas mais diversas instâncias, desde o atendimento ao pré natal, até ao trabalho de parto (hospital), creches, cuidadores, familiares e/ou profissionais de instituições de acolhimento de passagem. Todos os profissionais devem estar devidamente preparados para a manutenção de laços afetivos.
Por isso, não basta ter uma graduação ou formação técnica para trabalhar com crianças. É preciso ter potencialidade para acolher de maneira que o profissional seja a extensão uterina da mãe pois, da fecundação até ao desmame, a criança estará absorta numa interação interina que vai se romper no desmame. Posto esta demanda, apresentarei aqui algumas prevenções importantes para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável. Lembrando que viável, em psicanálise, não representa livre de traumas e/ou conflitos, mas que possa potencializar a construção de uma estrutura psíquica que se evolua para uma autonomia de identidade, de singularidade.
O que observar para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável
Na Pediatria, se preconiza o desmame aos 2 anos de idade, levando-se em consideração as demandas biológicas e vitais numa sociedade com altos índices de famílias em estado de pobreza. Este critério colabora para que, pelo menos, o sujeito tenha melhor estrutura fisiológica. Mas, sendo esta uma necessidade fisiológica, é necessário estar atento para que o desmame tardio não esteja carregado de dependência simbiótica e dificuldade de rompimento da criança com sua mãe, criando uma disfunção na autonomia da criança.
Esta demanda também pode se dar mesmo que a criança não seja amamentada no seio materno, mas via mamadeira. Dentro do desenvolvimento da estrutura psíquica onde não podemos ver apenas demandas biológicas, o melhor caminho é desmamar uma criança aos seis meses de idade, ou com a aparição dos dentes, pois deste ponto em diante, o ato de amamentar torna-se sofrível para a mãe. Vale ressaltar que, mesmo que seja um processo via mamadeira, a perspectiva de avanço da criança para desenvolvimentos de novas habilidades e buscas justifica o desmame. Você já deve ter visto muitas crianças bem desenvolvidas apegadas em mamadeiras e até objetos similares, vide a chupeta.
O desmame tem, em si, o rompimento deste ciclo simbiótico para a entrada na relação com terceiros, onde a criança descobrirá que existe um mundo para além da figura materna. Retardar este desmame é potencializar o não-crescimento e não-estabelecimento de novos e outros vínculos. E este processo, quando não ocorre, pode predispor a criança a atrasos em seu desenvolvimento social e cognitivo. Desmamar é se encontrar com o que está ao seu redor, e dar asas a buscas, inclusive pelo conhecimento.
Ao longo dos anos e da evolução das formas de se viver em Sociedade, muitos mitos sobre o processo do desmame foram sendo formados no meio popular, tais quais: A fixação do ser humano ao seio feminino (principalmente nos homens), fator que não tem equivalência com a amamentação e referem a outra demanda na vida do adulto, levando à erotização do ato de amamentar, dificultando ainda hoje para que mulheres ofereçam seus seios aos filhos bebês em ambientes públicos; Que o desmame pode levar a uma fixação alcoólica, por não ter desmamado (ou pelo trauma do desmame), num equívoco grosseiro, visto que o alcoolismo é uma doença de estrutura fisiológica; Fixação ao ato de fumar, como se o indivíduo fumasse para reviver o ato de amamentar quando, na verdade, é um hábito associado às químicas compostas no cigarro para gerar dependência física; dentre muitos outros mitos.
De tudo que discorri aqui neste texto, cabe ressaltar que a maior importância do desmame está categoricamente na construção dum sujeito que é colocado ou impulsionado para a construção de sua autonomia. Lembrando que a autonomia deve ser entendida para cada etapa da vida humana. A autonomia de um bebê de oito meses é diferente de uma criança aos 7 anos, ou de um adolescente de 13 anos, como também de um adulto de 40 anos, e assim sucessivamente. Mas a engrenagem da autonomia está de fato pontuada originariamente no processo de desmame.
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Psicologia 22/10/2024 15:31:15 1705
Odesmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Nãorepresenta apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança defase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica dapessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todospassamos por este processo e temos marcasem nossa personalidade (oumelhor, em nossa estrutura emociona...
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