Psicanálise Contextualizada 11/04/2025 15:27:56
O que é a Psicanálise? É a teoria criada por Freud que, ao longo dos anos, foi sistematizando conceitos e procedimentos do exercício clínico, tendo seu marco zero reconhecido na publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, de 1900. Porém, antes mesmo, Freud já estava construindo a teoria para estruturação de uma técnica e, de lá para cá, a Psicanálise se consolidou como uma das muitas metodologias existentes no campo da Psicologia.
O grande corte epistemológico de Freud foi o conceito do inconsciente, o qual trouxe uma guinada na forma de ouvir o ser humano, até então entendido por demandas situacionais do “aqui e agora”. Este conceito colocou Freud, inclusive, em uma posição de referência para a Filosofia. Em muitos manuais e artigos históricos da Filosofia, Freud e a Psicanálise são citados como marcos no desenvolvimento dessa ciência humana.
A Psicanálise como prática profissional no Brasil
O problema é que, no Brasil, a Psicanálise virou profissão sem ser estruturada como ofício, pois não há graduação formal nesta área e não há uma autarquia federativa que legitima a Psicanálise como uma função profissional parametrizada. Neste caso, para o campo de atendimento clínico na área da Saúde Mental e Emocional, temos a Psicologia e a Psiquiatria como ciências e profissões reconhecidas. Lógico que, em todas as áreas da saúde, assim como em muitas outras áreas do conhecimento, múltiplas teorias existentes são incorporadas como recursos para que profissionais melhorem seus atendimentos a pacientes e clientes. No entanto, como atendimento sistematizado no campo da saúde mental, as estruturas metodológica e legalmente reconhecidas no Brasil são estas citadas, assim como alguns setores de intervenção da Neurologia.
Sendo assim, o grande dilema da Psicanálise no Brasil na atualidade diz respeito a uma enorme proliferação de escolas e instituições psicanalíticas que engloba pessoas de diferentes áreas de conhecimento que se intitulam psicanalistas após seu período de formação, como se estivessem exercendo um ofício formal. Pior ainda: Viabiliza também a expansão do exercício da Psicanálise para um público leigo, esteticamente legitimando até mesmo pessoas sem nível superior de formação que já abrem clínicas e se auto-intitulam psicanalistas.
Religião, formações e distorções do ofício psicanalítico
Como Freud, em sua época, mantinha relacionamento de trocas de ideias com estudiosos de várias áreas do conhecimento — principalmente no campo das ciências humanas, incluindo até pastores que com ele estudavam — hoje houve um grande aumento no contingente de pastores evangélicos que buscam a Psicanálise como ferramenta para se estabelecerem enquanto referências de tratamento emocional às pessoas de sua cultura religiosa. Assim, garante-se que aquele “psicanalista” ligado à igreja não vai desviar a fé do fiel e ministrará um tratamento que não questiona tal prática. Isto ocorre porque, no bojo da obra de Freud, a religião sempre foi um tema crítico que coloca seu autor como inimigo da religião aos olhos de muitos da prática judaica e cristã. Vale ressaltar que a Psicanálise, na sua essência, não vai questionar a religião em si ou as convicções do indivíduo, mas o que o sujeito busca e como ele deseja se preencher na sua prática religiosa.
Quando recebo pacientes que trazem trajetórias de sujeição a tratamentos psicanalíticos vindos de líderes religiosos, automaticamente sei que terei muito conflito em potencializar o recurso analítico de interpretações — que consiste na pessoa em análise ter epifanias a partir de suas próprias falas, elaborando por conta própria suas demandas internas com cautela — por saber que estes estavam com pseudo profissionais e ainda buscam orientação, solução ou luz que venham de fora para dentro.
Formações sérias, regulamentação e recomendações finais
Por outro lado, temos múltiplas escolas de Psicanálise que apresentam uma estrutura institucional e regimental bem definida, com integrantes que passam por uma formação que não se dá na forma de aula, mas no processo de vivenciar a prática. Analisar, ser analisado, estudar entre os parceiros deste coletivo, participar de seminários, grupos de leitura, escrever artigos e encontros de cartéis temáticos por interesses comuns, entre outras atividades. Desta maneira, podemos dizer que estaremos diante de uma pessoa que está inserida no contexto da Psicanálise e até evoluindo para ser um psicanalista, o que representa alguém que exerce a teoria e técnica dentro de uma perspectiva ampla.
Lembrando que a Psicanálise também é ramificada em múltiplas abordagens e correntes que vão desde os freudianos aos pós-freudianos, lacanianos e, inclusive, aqueles que partiram para um processo grupal, como elaborou os seguidores da Psicanálise Bion. Há uma miríade de escolas, incluindo americanas, inglesas, francesas, argentinas, e, no Brasil, já podemos entender que está se multiplicando em várias estratificações. O que leva a maiores dilemas ainda, pois quem pode dizer que esta ou aquela forma de vivenciar o processo de formação do psicanalista é a mais correta?
Muitas escolas de Psicanálise não se comunicam umas com as outras e até se questionam, algumas chegando até a se atacarem. Porém, se o profissional que se sente psicanalista estiver realmente vinculado a uma instituição de Psicanálise que tenha história e procedimentos claros e bem definidos, é um atenuante substancial. O dilema maior está nos que se auto-intitulam psicanalistas por terem feito um cursinho aos finais de semana por um tempo.
Eu mesmo, quando procuro um profissional para me analisar, escolho um profissional graduado em Psicologia e que atue com a Psicanálise para não correr o risco de me sujeitar a um não-profissional sem regulamentação. Mesmo que seja um profissional que se auto intitule psicanalista, procuro saber se possui inscrição no Conselho Regional de Psicologia, justamente pelo fato de que a Psicanálise não é profissão regulamentada, mas sim uma metodologia.
Hoje, o Conselho Federal de Psicologia está numa campanha ampla de defesa da psicoterapia para profissionais da Psicologia. Isto ocorre devido ao fato de muitas outras profissões estarem oferecendo propostas diversas de psicoterapias por ser um nicho de mercado em alta em uma Sociedade cada vez mais adoecida emocionalmente. Assim, é preciso termos regulamentação clara na forma da lei, pois temos neste país a forte tendência de cada um se achar no direito de atuar da forma que melhor entender.
Veja que essa demanda acontece também com profissionais de diferentes áreas, como educadores físicos, fisioterapeutas, engenheiros, e até médicos. Vemos profissionais exercendo procedimentos especializados fora de suas áreas nativas pela oportunidade que se apresenta diante de uma demanda ampla, numa dinâmica que seria equivalente a um profissional da Psicologia prescrever medicação psiquiátrica aos seus pacientes.
Diante do que trago como dilema da Psicanálise no Brasil, a indicação que faço é que, quando você for procurar um psicanalista, o faça buscando um profissional da Psicologia que manuseie a Psicanálise como teoria e técnica. Pelo menos, isso reduzirá consideravelmente as chances de que você caia nas mãos de um agente que parece um profissional, mas não é.
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Psicanálise Contextualizada 11/04/2025 15:27:56 31
O que é a Psicanálise? É a teoria criada por Freud que, aolongo dos anos, foi sistematizando conceitos e procedimentos do exercícioclínico, tendo seu marco zero reconhecido na publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, de 1900.Porém, antes mesmo, Freud já estavaconstruindo a teoria para estruturação de uma técnica e, de lá para cá, aPsicanálise se consolidou como uma das muitas metodologias e...
Psicopedagogia 07/04/2025 17:29:14
Com quem ficam as crianças quando não estão na escola? No modelo tradicional, em que a educação infantil ocorre apenas em meio período, estas costumavam ficar com parentes, babás, empregadas domésticas ou até mesmo famílias amigas formadas por alguém que não trabalhasse fora de casa.
A mudança no cuidado infantil ao longo do tempo
Hoje, a realidade é outra. A grande maioria das famílias não conta mais com parentes adultos em casa, pois a maioria trabalha. Ter uma babá ou empregada doméstica tornou-se um recurso de luxo para quem pode pagar. Mesmo para aqueles que detém condições financeiras, cresce a dificuldade de confiar em funcionários do lar, visto que esses profissionais muitas vezes não possuem qualificação ou vocação para cuidar de crianças. Em um tempo em que brincar na rua já é quase uma história do passado, as crianças ficam confinadas em casa, entretidas por uma "babá eletrônica" na palma da mão.
Diante desse cenário que vem se configurando ao longo dos anos, a escola de período integral tornou-se uma necessidade tanto para oferecer suporte às famílias, cujos pais precisam trabalhar, quanto para garantir estímulos educacionais. As crianças matriculadas em escolas de tempo integral são expostas a uma grade curricular voltada para o estímulo educacional, a socialização e o desenvolvimento de múltiplas habilidades.
Essa necessidade se aplica a todas as crianças, tanto as que frequentam a rede pública de ensino quanto as que estudam em escolas particulares. Mesmo em famílias estruturadas que oferecem atividades extracurriculares fora do horário escolar, ainda sobra muito tempo ocioso para as crianças, as quais acabam sem companhia para brincar e interagir. Como resultado, passam horas presas a uma tela, hipnotizadas por conteúdos sedutores e perdendo potencialidades cognitivas devido à falta de experiências práticas e vivências.
Alguns municípios e estados já começaram a introduzir escolas de período integral com boa formatação pedagógica, incluindo aulas, monitorias, lazer, esportes e atividades de produção artístico-cultural. Tenho indicado a algumas famílias, inclusive àquelas cujos filhos estudam em escolas particulares tradicionais, que considerem matriculá-los em escolas públicas de período integral. Os resultados têm sido positivos na formação das crianças. Além de ficarem afastadas das telas por mais tempo, estão protegidas em uma instituição de ensino enquanto seus familiares podem se dedicar ao trabalho para melhorar a estrutura econômica da família.
Desafios e perspectivas do modelo integral
Algumas escolas particulares já estão se estruturando para oferecer o sistema integral, mas os altos custos dificultam a manutenção deste modelo. Em alguns estados, professores e profissionais da educação têm sido melhor remunerados no sistema público do que nas escolas particulares, justamente porque a educação integral é um processo caro e reduz a margem de lucro dos comerciantes da educação.
Para que a escola integral cumpra, de fato, seus objetivos educacionais, é essencial que, ao longo do dia, as crianças participem de atividades tanto em sala de aula quanto em espaços esportivos e de produção artística e cultural. Também é importante que contem com momentos de monitoria para realizarem suas tarefas escolares na própria instituição. O ideal é que as disciplinas sejam ministradas de forma interativa, permitindo que as aulas sejam mais que uma simples transmissão de conteúdo, tornando-se experiências semelhantes a laboratórios de aprendizado.
No estado do Espírito Santo, onde resido, observei que as escolas de período integral são estruturadas dessa forma e têm entregado bons resultados. Além disso, os professores são melhor remunerados. No entanto, esse modelo tem sido mais aplicado ao ensino fundamental II e ao ensino médio. Já nas escolas públicas municipais, que atendem crianças do ensino fundamental I, o processo ainda é muito amador e sujeito às intervenções de gestões locais frequentemente influenciadas por interesses políticos e financeiros.
Nas escolas particulares, as de regime integral atendem um público muito reduzido, majoritariamente da classe B alta. Aos poucos, observa-se um aumento na oferta de escolas integrais e maior conscientização das famílias sobre os benefícios deste modelo. As crianças ficam melhor assistidas na escola que em casa, sem estímulo educacional adequado.
Ainda persiste a ideia de que crianças pequenas devem permanecer o maior tempo possível perto das mães. Contudo, mesmo para quem tem essa opção, recomendo considerar a escola integral para os bem pequenininhos, pois a Sociedade já não enxerga as mulheres como únicas responsáveis pelo bem-estar dos filhos em tempo integral.
Muitas mães que optam por ficar em casa acabam sobrecarregadas e se sentindo limitadas nessa posição. É verdade que algumas famílias ainda conseguem estabelecer uma rede de apoio, mas a sociedade tecnológica exige cada vez mais conhecimento e habilidades para cuidar de crianças 24 horas por dia. No passado, muitas mães abriram mão de trabalhar para cuidar dos filhos, mas, naquela época, havia o suporte de vizinhos e a rua ainda era um espaço seguro para as crianças brincarem. Esse cenário já não condiz com a realidade da maioria das cidades brasileiras, inclusive as de menor porte.
Que sejam bem-vindas as escolas de período integral! Que o Brasil acelere esse processo na rede pública de ensino. No médio prazo, os benefícios serão visíveis na formação estrutural das crianças e nos índices de desempenho educacional no cenário nacional.
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Psicopedagogia 07/04/2025 17:29:14 34
Com quem ficam as crianças quando não estão na escola? No modelotradicional, em que a educação infantil ocorre apenas em meio período,estas costumavam ficar com parentes,babás, empregadas domésticas ou até mesmo famílias amigas formadas poralguém que não trabalhasse fora de casa. A mudança no cuidado infantil ao longo do tempo Hoje, a realidade é outra. A grande maioria das famílias não conta ma...
Psicologia 27/03/2025 18:24:46
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aqueles que por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente a eles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossem autossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescência surgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estrutura social, geopolítica e cultural que definem seus traços e características
Sabemos que cada indivíduo constrói sua identidade dentro de sua singularidade e individualidade, o que justifica o processo de psicoterapia individual para que cada pessoa se encontre consigo mesma. Porém, a psicanálise nos mostra que o indivíduo está inserido no coletivo. O que escutamos enquanto analistas está impregnado de cenas e cenários do cotidiano, e, na adolescência, isso não é diferente.
O impacto do meio social na saúde mental
Quando falamos de um adulto, podemos atribuir-lhe responsabilidade direta por seus atos, sim, mas sempre considerando o meio social no qual está inserido. Não podemos dizer que aquele que não quer trabalhar, no Brasil, é pobre, pois a maioria absoluta dos trabalhadores continua pobre mesmo com todo o labor, conseguindo, no máximo, sobreviver ao dia a dia. Isso ocorre por vivermos em uma estrutura social marcada por um grande disparate econômico entre trabalhadores e empresários. Da mesma forma, não podemos atribuir uma crise emocional (como o pânico) simplesmente a uma desestruturação psíquica individual, pois os adultos são também vítimas do meio em que vivem. Ambientes sociais com altos índices de criminalidade e baixa segurança pública podem desencadear transtornos emocionais.
Se, nem dentre os adultos, podemos analisar comportamentos psicológicos de forma isolada, na adolescência isso é ainda menos adequado. Sabemos que essa fase é uma transição entre infância e a vida adulta, durando de 10 a 12 anos (aproximadamente dos 11 aos 22 anos). Mesmo assim, é somente por volta dos 29 anos que o indivíduo pode ser considerado plenamente adulto. Portanto, pensar a adolescência e falar sobre adolescentes exige um olhar para os agentes que sustentam sua vida. Esse olhar precisa ser amplo, indo além dos pais ou responsáveis legais, incluindo parentes, amigos, professores, autoridades públicas e representantes sociais que compõem o núcleo de vivência do adolescente. Todo o ecossistema.
Quando episódios traumáticos envolvendo adolescentes chocam a opinião pública, tendemos a analisar os casos de forma isolada, focando apenas nos adolescentes envolvidos. Assim, a visão sobre a adolescência se torna unilateral, destacando apenas aspectos negativos. Criticamos o adolescente isoladamente para não enxergar nossa própria participação nesses episódios. Negamos nossa relação com a adolescência porque não queremos confrontar nossa própria adolescência mal resolvida— o que chamo de "ecos da adolescência".
Na série da Netflix, “Adolescência”, que tem sido amplamente comentada nas redes sociais, o foco é colocado no adolescente, mas a narrativa nos leva a questionar como eles chegaram àquela situação. Queremos enxergar o adolescente, mas não os adultos que permitiram que ele chegasse ali, de uma forma ou de outra.
O papel dos adultos na construção da adolescência
O que o Poder Público está fazendo para dar suporte aos adolescentes no campo educacional? As escolas públicas que os acolhem a partir dos 11 anos estão descontextualizadas da realidade, oferecendo um ensino que já não atende às necessidades dessa faixa etária. No ensino privado, repete-se a fórmula dos modelos antigos, com promessas que nunca se concretizam. Além da educação, o que está sendo oferecido em termos de esporte, saúde pública, trabalho e outras áreas essenciais?
No campo jurídico, há um abandono na aplicação das regras de proteção aos adolescentes. Veja as redes sociais, comandadas por grupos estrangeiros, sem critérios de segurança adequados. Eventos noturnos ocorrem sem fiscalização sobre a presença de adolescentes nesses ambientes. Os conselhos tutelares, que deveriam garantir essa proteção, parecem existir apenas "para inglês ver", com pouca estrutura e efetividade. No campo legislativo, o que nossos políticos têm mostrado além da busca por benefícios pessoais?
E quanto aos pais e adultos, que supostamente passaram por uma adolescência bem resolvida? Muitos estão mais viciados em telas e redes sociais do que os próprios adolescentes. O abandono do adolescente dentro de casa ocorre tanto nas classes mais altas, devido ao excesso de benefícios, quanto nas mais baixas, pela falta de suporte. Assim, a adolescência hoje é uma questão que atravessa todas as classes sociais, cada uma com suas particularidades, mas todas marcadas pela negligência do olhar e do cuidado. E cuidar não se resume à estrutura material, mas sim a um compromisso afetivo, um vínculo real com aqueles que pertencem ao núcleo familiar e comunitário.
A dependência emocional dos adolescentes nos assusta pelos sintomas que emergem — sintomas desestruturantes e chocantes, que desafiam nossa capacidade de enxergar a realidade. Talvez os adolescentes estejam gritando através desses sintomas para que possamos, como adultos, finalmente vê-lo.
Mas há mais elementos favoráveis à vivência adolescente hoje do que desfavoráveis. O problema é que tais pontos positivos não ganham visibilidade, pois o que gera audiência é o espetáculo traumático.
Fica a pergunta: Você tem observado práticas adolescentes inspiradoras ao seu redor? Tem notado os ambientes onde adolescentes vivem experiências positivas de criatividade e alegria? Esses ambientes promovem um desenvolvimento saudável?
E você, como adulto, como tem convivido com os adolescentes à sua volta? Tem feito amizade com eles? Participado de suas atividades? Ou sua vida adulta hoje se resume a trabalho e a ver o tempo passar olhando para o celular? Aí é mais fácil dar foco às mazelas dos adolescentes.
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Psicologia 27/03/2025 18:24:46 78
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aquelesque por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente aeles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossemautossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescênciasurgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estruturasocial, geopolítica e cultural que definem seus ...
Politícia e Sociedade 20/03/2025 13:50:29
Podemos ligar a Saúde Mental com a Política? E, a partir desta perspectiva, como a Democracia pode interferir no plano da Saúde Mental?
Trago este tema pois há uma tendência dentre os profissionais no campo da saúde mental de adotarem certa neutralidade de posicionamento político em função da atuação profissional. Há uma confusão quanto ao limite existente entre se posicionar politicamente na Sociedade e influenciar pacientes do sistema da saúde mental, tanto no âmbito público e/ou privado. Eis que surge a questão: O Psicólogo pode ter uma posição quanto à sua percepção política?
Na atuação direta como Psicólogo, preciso ter respeito sobre as diferentes escolhas e visões dos diferentes pacientes que atendo, tanto quando estou atuando no processo clínico individual quanto em uma intervenção institucional. É preciso não se posicionar por um lado específico, pois não estarei em um campo de ação política direta, como na partidária. Mas isto não anula ter uma visão política e um lado de escolha, principalmente quando diz respeito ao processo eleitoral ou à atuação partidária.
Já passei por situações muito constrangedoras no início de minha carreira profissional, pois atuava numa cidade pequena com clínica particular para crianças adolescentes e adultos, e participei de um grupo político para eleger um prefeito novo na cidade, a qual estava polarizada em dois políticos tradicionais que nunca queriam sair da prefeitura há anos. E, neste processo externo à clínica, houve tentativa de depreciar minha ação como Psicólogo ao colocarem pessoas como pacientes para investigar se eu estava fazendo campanha para o meu candidato dentro do atendimento clínico. Como sempre soube separar estas instâncias, entre a ação profissional específica e a minha postura como cidadão implicado com o município, soube perceber e manter um posicionamento de neutralidade.
Em outro município, também como cidadão envolvido na campanha de um prefeito que poderia representar renovação política local por meio de processos eleitorais arraigados, o clima era tão pesado que chegava ao ponto de famílias locais nem se falarem, chegando ao ponto em que fui até ameaçado de morte. Mas, como tinha clínica particular em outro município próximo, os mesmos que me ameaçavam na cidade onde estava apoiando candidato, eram meus pacientes na clínica da outra cidade.
O Impacto da Polarização na Sociedade
O Brasil, após a campanha de Bolsonaro contra Lula e a polarização da discussão política como disputa de torcidas de futebol, viu o tensionamento sobre o debate político se tornar arraigado ao extremo, a ponto de familiares e amigos de longa data cortarem laços terminantemente. Até então, sempre me posicionei politicamente nas cidades nas quais morei, até atuando em partido político na condição de cidadão por entender que a política partidária é um caminho de colaborar, sim, na construção de leis justas e solidárias dentro de um referencial democrático.
No entanto, o diálogo político tornou-se inviável em qualquer instância, pois sempre haverá uma dinâmica de ataque e defesa entre lados, sem elaborações mais substanciais. Saudade hoje daqueles tempos em que uma família podia colocar seus adesivos nos carros disponíveis durante o período eleitoral, mesmo que fossem votos divergentes. Agora, este movimento se tornou impensável. Com isso, começamos a ver as divisões familiares e os ataques emocionais e, consequentemente, o crescente processo de adoecimento emocional nas famílias.
Nosso Brasil ficou politicamente burro. Quem é a Direita, quem é a Esquerda, e quem é o Centrão, num personagem político ou financeiro? Diante deste quadro, o exercício clínico passa a requerer do profissional muito mais cuidado.
A Psicanálise e a Realidade Social
Freud, em seu clássico texto “Mal estar na civilização”(1929), já nos alertava sobre as ambivalências no processo de construção cultural e na polarização entre vida e morte com regras morais de ordem pública e/ou religiosa que determinem o controle egóico sobre as pulsões (eros e thanatos – vida e morte), apontando que o desejo de uma Humanidade que pudesse ter uma convivência no coletivo e, ao mesmo tempo, atendendo às necessidades pessoais, gerando sempre os conflitos entre o Bem Comum e individual. Freud cultivou, sim, a esperança de uma Humanidade que cultuasse e vivesse o Bem Comum, principalmente em um período no qual a Europa estava contaminada por guerras e poderes ditatoriais. A Psicanálise em si, a partir de Freud tem um olhar voltado para o bem estar individual no campo emocional, mas numa perspectiva coletivista, onde processos internos pessoais são influenciados por demandas externas culturais e vice-versa.
Assim, para quem manuseia a Psicanálise, dificilmente verá alguém que não tenha como parâmetro no coletivo a prática da Democracia, ou, numa linguagem psicanalítica, em que o direito a desejar é para todos e todas. Desta maneira, diante do atual cenário paranoico da política brasileira, já vemos pessoas dizendo que psicanálise é coisa de comunista. Quem sabe, por isso mesmo a ascensão das psicoterapias comportamentais, muito utilizadas para controles de massas populares no regime nazista. Hoje, até líderes religiosos são denominados comunistas quando preconizam o bem comum e ações de solidariedades para os menos favorecidos em uma homilia ou pregação. Desta forma, se instaura uma insanidade coletiva, e, com isso, um crescimento paulatino dos sintomas patológicos mentais nos indivíduos.
Pelo modelo democrático, podemos visualizar o Bem Comum. Já por modelos políticos autoritários/totalitários, vemos a busca do bem para si e/ou grupos específicos que se unem para defender e proteger seus patrimônios e convicções enviesadas. Pela Democracia, se visualiza uma partilha que, inclusive, é preconizada na Bíblia - principalmente no livro “Atos dos Apóstolos” - e, pelos sistemas ditatoriais, se evidencia o medo de perder privilégios pessoais ao pensar em tal partilha.
Mas chego no ponto de meu desejo inicial nesse texto de hoje, de vermos que o adoecer mental na sociedade brasileira dá-se pela polaridade intransigente de idéias, na qual não se debate, pensa ou reflete sobre nada, em que pensamentos se tornam hermeticamente fechados e o egocentrismo está em primeiro plano. Também por vermos um país que se intitula democrático, no governo para o bem comum, tendo 59 milhões de brasileiros na faixa da pobreza. Mais de 50% dos brasileiros estão na classe D e E. Assim, ao preconizarmos que somos um país democrático simplesmente por que votamos, sem perceber que Democracia é o exercício da deliberação do Bem Comum, os índices denunciam uma realidade drástica de diferença social, e contradiz o discurso estabelecido, gerando um fator altamente favorável ao desenvolvimento de doenças emocionais, levando a índices assoladores indicando que 60% da população demonstra estar com ansiedade e/ou depressão.
Mesmo a psicanálise, a partir de Freud, tendo um olhar de bem estar na perspectiva de uma Humanidade que conjuga o Bem Comum, ao longo dos anos muitos psicanalistas se posicionaram com neutralidade, como se as demandas políticas e o sistema de governo não fossem elementos que influenciam na estrutura psíquica das pessoas. Mas esta postura é decorrente da elitização da psicanálise que, de alguma forma, foi se prestando ao serviço de uma elite dominante que representa parte dos que temem a Democracia. Tanto é verdade que o golpe militar de 1964 no Brasil, basicamente sustentado pela oligarquia ruralista, não difere muito da tentativa de golpe do Oito de Janeiro, também financiada por alguns setores da elite brasileira.
O Papel da Psicanálise
Com isto, a psicanálise e o psicanalista não vão entrar nas escolhas pessoais dos pacientes. Faço um paralelo com o pastor que não vai receber em sua igreja apenas pessoas que pensam em uma única condução política, ou no Padre que excluiria quem diverge de seu pensamento político. As Igrejas são para todos que as buscam, assim como o processo psicoterapêutico. Não vou colocar juízo de valores ou direcionamento sobre a prática política que os pacientes seguem. Porém, se na prática política e desejo de Sociedade, estiver prevalecendo um sintoma comportamental que remete a um transtorno comportamental, surge a necessidade de se pontuar e interpretar.
Segundo Freud, a Psicanálise é o Social, e, pelo seu olhar, poderemos colaborar na leitura da Sociedade também no campo da Política, pois o ser humano expressa seus desejos e pulsões neste campo, podendo transferir suas neuroses e paranoias para a prática política. De fato, pessoas com um controle obsessivo muito intenso, com estruturas plenamente egoístas, tendem ao domínio e ao controle, prato cheio para os autoritários; Conversamente, pessoas com maior potencial de vínculos positivos e tendências mais altruístas, tendem a se solidarizar e partilhar mais. Lógico que há muitas variações comportamentais que farão com que as pessoas se vinculem à política de forma perversa ou com foco no Bem Comum, mas pontuo aqui duas vertentes que, a meu ver, são as mais comuns.
Diante disso tudo, os conceitos de Saúde Mental, Política e Democracia estão intrinsecamente conectados, tornando impossível a escuta de um paciente sem observar as forças culturais sobre ele exercidas como propulsores na construção da estrutura psíquica. Neutralidade em psicanálise não é uma realidade absoluta, e uma prática preconizada por Freud. Por isso, a política brasileira e a falsa democracia em que vivemos tem predisposto os brasileiros ao sofrimento emocional. Pois a demanda emocional não está apenas relacionada à individualidade de cada pessoa dentro de seu restrito círculo familiar. Assim, a ética da psicanálise é de ir de encontro a estas percepções e integrar as demandas pessoais internas à realidade em que cada um está inserido. Mesmo que possam nos confundir com comunistas.
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Politícia e Sociedade 20/03/2025 13:50:29 58
Podemosligar a Saúde Mental com a Política? E, a partir desta perspectiva, como a Democracia pode interferir no plano daSaúde Mental? Tragoeste tema pois há uma tendência dentre os profissionais no campo da saúdemental de adotarem certa neutralidade de posicionamento políticoem função da atuação profissional. Há uma confusão quanto ao limite existente entre se posicionarpoliticamente na Sociedad...
Psicanálise Contextualizada 12/03/2025 13:56:09
Minha trajetória com a psicanálise iniciou-se com Freud e os pós-freudianos Melanie Klein e Winnicott. No entanto, há pouco tempo comecei a visualizar novas possibilidades para o meu exercício profissional, dentro da perspectiva lacaniana.
Entro em Lacan através do “De um Outro ao Outro” (livro 16)¹. Após a leitura deste seminário, posso dizer que Lacan já habita meu fazer psicológico, tanto para a clínica quanto para meu processo analítico pessoal, sem deixar de fazer vínculo desta teoria com o social, uma demanda que o próprio Seminário 16 como cordas para puxar. Esse processo se deu ao participar do Coletivo Psicanálise & Cultura de Vila Velha – ES, ao longo dos dois anos consecutivos de estudo em Cartel.
O objeto a e suas implicações na clínica psicanalítica
Aqui, gostaria de pontuar um tópico específico que diz respeito à clínica psicanalítica, embora o Seminário 16 tenha feito emergir muitos outros tópicos e deixado lastros para novas elaborações.
Lacan aponta que “A essência da teoria psicanalítica é um discurso sem fala” (LACAN, 2008, p. 14), o que já introduz um nó em minha mente, fazendo-me questionar: ‘O que estou fazendo aqui?’. Porém, com esse quase enigma, vemos um desfecho na construção do objeto a, no qual Lacan, ao longo deste Seminário, vai criando referenciais comparativos e analogias. E, falando de analogias, , “...a conta certa para nos fazer perceber que não é o significado que está no interior, mas exatamente o significante. É com ele que lidamos quando se tratar daquilo que nos importa, isto é, da relação do discurso com a fala na eficiência analítica” (LACAN 2008, p.16).
Lacan traz a homologia da mais-valia em Marx e do que ele mesmo define como o mais-de-gozar: “É de um nível homólogo calcado em Marx que partirei para introduzir hoje o lugar em que temos de situar a função essencial do objeto a” (LACAN, 2008, p. 16). Em Marx, Lacan situa a mais-valia a partir da absolutização do mercado, que marca a prevalência da lógica do valor, e para a Psicanálise, o mais-de-gozar, que marca a prevalência da linguagem: “O mais-de-gozar é uma função da renúncia ao gozo sob o efeito do discurso. É isso que dá lugar ao objeto a (...) assim, o mais-de-gozar é aquilo que permite isolar a função do objeto (a)” (LACAN, 2008, p. 19). Ou seja, essa função do objeto a é homóloga à da mais-valia; nesse sentido, ambas geram um movimento contínuo de furto de satisfação, que se desdobra em um movimento incessante de produção e falta.
A ética no exercício psicanalítico: Entre o Furo e a Transferência
Ao longo do seminário, Lacan nos conduz a diferentes percepções de estruturas que nunca conseguem chegar a um fechamento definitivo, deixando-as sempre em aberto, colocando em prática o próprio furo de que ele tanto fala. Assim, Lacan relaciona a psicanálise com a aposta e o jogo, quando se refere a Pascal, quando explora a relação infinita entre o 1 e o 2 na matemática, e quando aponta para aquilo que é a falta, evidenciada pelas instituições de poder. Porém, para cada referência neste processo de construção, abre-se um leque enorme de possibilidades. Mas, aqui, quero simplesmente conduzir essa reflexão ao desfecho sem fim da proposta de Lacan neste seminário, trazendo o que considero uma cartilha de conduta analítica, que entendo como ética no exercício psicanalítico:
“...devemos admitir que somente a repetição é interpretável na análise, e é isso que tomamos por transferência. Por outro lado, o fim que aponto como a captação do próprio analista na exploração do a, é exatamente isso que constitui o ininterpretável. É por isso que interpretá-la, como já se viu, como foi até impresso, é, propriamente, abrir a porta, convidar para esse lugar do acting out.” (LACAN 2008, p. 338)
Estudar o Seminário 16, entendendo que este pode ser uma porta escancarada para adentrar em Lacan, proporcionou-me a possibilidade de perceber que meu próprio processo analítico estava se dando como uma demanda de postura profissional, de estar em análise. Como podemos entender que a formação do analista se dá no estabelecimento de laços de trabalho, o “De um outro ao outro” me coloca na posição de ir para a minha própria análise, pensando no furo e rastreando onde habita o objeto a em mim, em um processo contínuo de interpretações nas duas instâncias que se comunicam: analista/analisando. Na configuração em torno do Seminário 16, Lacan nos aponta uma ética para o processo analítico:
Nesta citação de Lacan, podemos fazer um retorno a Freud, quando, ao ler o caso clínico de Dora², desenvolve uma reflexão/avaliação de sua atuação, no qual ele posiciona a psicanálise de uma maneira que, a meu ver, fala sobre a ética do psicanalista:
Neste sentido, em ambos os casos, me parece que está em questão escutar sem pressupor nada, deixando que a própria significação daquilo que é ouvido, falado e visto advenha dos encadeamentos significantes da narrativa do analisante.
O Cartel 16, como anotei em minha agenda, não se fecha, escancara ainda mais a porta para o mergulho no Real, Simbólico e Imaginário, que é constantemente preconizado na obra de Lacan. Lacan nos transporta para essa dimensão quando apresenta a imagem da maçã, na relação entre Adão e Eva, ao desenvolver a representação de S1, S2 e a: “...A mulher, aqui em S1, que se faz causa do desejo, a, é o sujeito de quem convém dizermos que, com a oferta, conseguiu criar a procura. O homem nunca morderia essa história, se primeiro não lhe oferecessem a maçã, ou seja, o objeto a” (LACAN, 2008, p. 381). Já que “consumir” a maçã é o mesmo que “renunciar” a algo tão grandioso e completo quanto o paraíso.
De nó em nó, algumas poesias³ brotaram a partir do estudo de Lacan, dentre elas, uma que dialoga com essa minha construção e na qual encerro esta apresentação.
Um nó
Pulso no desejo que busco,
Busco no encontro do outro,
Encontro-me no que não encontro.
Continuo vagando em busca do gozo
Deste gozo que não goza,
Mas pulsa o desejo de gozar.
Caio no vazio de um existir,
Suplico que alguém possa me vir,
E ao chegar consiga entrar em mim.
Ao chegar de algum lugar este alguém,
Ao se apresentar não vejo ninguém.
Nego encontrar-me
Espero no além.
Restabeleço nova busca,
Novo impulso me conduz
Aos prazeres que nunca encontro.
Saio do real.
Adentro no imaginário
E continuo simbolizando.
(ABARCA, 2024, p.83)
REFERÊNCIAS
1 LACAN,Jacques. O seminário, livro 16: de um outro ao outro. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
2 FREUD, Sigmund. Histórias Clínicas - Cinco casos paradigmáticos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. (Obras incompletas de Sigmund Freud)
3 ABARCA, Gerson. Outono. Vitória: Outras Falas, 2024.
* Este texto possui uma abordagem mais técnica e está voltado para os referenciais da clínica psicanalítica, diferenciando-se um pouco dos textos que geralmente publico aqui no site. Normalmente, priorizo o leitor leigo em psicologia e psicanálise, buscando apresentar a teoria e a prática de forma menos técnica. Neste caso, porém, o texto traz uma especificidade teórica e técnica, com o intuito de despertar o interesse daqueles que não são da área a se aproximarem da leitura dos pensadores da psicanálise. Ao mesmo tempo, compartilho o trabalho desenvolvido em grupos de parceiros, evidenciando o compromisso com a qualidade e a ética do meu exercício profissional.
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Psicanálise Contextualizada 12/03/2025 13:56:09 63
Minhatrajetória com a psicanálise iniciou-se com Freud e os pós-freudianos MelanieKlein e Winnicott. No entanto, há pouco tempo comecei a visualizar novaspossibilidades para o meu exercício profissional, dentro da perspectivalacaniana. Entroem Lacan através do “De um Outro ao Outro” (livro 16)¹. Após a leitura desteseminário, posso dizer que Lacan já habita meu fazer psicológico, tanto para acl...
Psicologia 05/03/2025 14:51:06
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Psicologia 05/03/2025 14:51:06 91
Carnaval é tempo de colocar as repressões do cotidiano para passear. Tempo de abrir as grades que encadeiam nossas fantasias para fantasiar na rua. Tempo de afrouxar o autocontrole ou, como denomina a psicanálise freudiana, de soltar o supereu ou superego, o qual normatiza e nos enquadra por fatores morais, civis, religiosos e econômicos, mas também por castas, classes sociais e até gênero e/ou r...
Psicologia 27/02/2025 17:49:01
Os transtornos emocionais são sintomas que a mente desenvolve ao longo dos anos e que, há muito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversas variações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algum transtorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estes transtornos e, quem sabe, até nos autodiagnosticar. Existem transtornos para tudo, mas os mais relatados e comuns, que de fato ocorrem na clínica psicológica e que são mais frequentes na maioria dos consultórios psiquiátricos, incluem: Transtorno de Pânico, Ansiedade, Depressão, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e transtornos alimentares, como Bulimia e Anorexia.
Ao desconsiderarmos as possíveis causas diagnósticas que podem integrar um sintoma - como fatores relacionados a um quadro de saúde física, perdas parentais (luto), acidentes, fatores genéticos e cognitivos - percebemos que, na maior parte dos diagnósticos, não conseguimos identificar uma causa específica. Desta forma, observo, na minha clínica psicológica e dentro do referencial da escuta psicanalítica, que os transtornos emocionais são sintomas que refletimos ou que refletem elementos inconscientes que emergem para nos alertar. Prefiro entender que, ao longo da nossa história de vínculos afetivos com outros, na família e na sociedade, desenvolvemos sintomas, que, eventualmente, emergem como um vulcão em erupção.
Mas, de fato, criamos esses transtornos?
Acredito que sim. Muitas vezes, para permanecermos na mesma posição onde precisamos nos fixar. Em outras, para tirar vantagem nas relações com os outros. Ou porque fomos educados sob um forte apelo repressor, onde as emoções e os pensamentos não puderam se manifestar. No entanto, em algum momento, essas emoções se manifestam em forma de sintomas, causando uma série de problemas, visto que cada sintoma, sendo codificado entre as diferentes categorias emocionais, envolve, sim, sofrimento. A clínica psicológica, com referencial teórico e técnico da psicanálise, vê nos sintomas a emergência do inconsciente, isto é, aquilo ao qual até então não tínhamos acesso ou resistimos em sentir.
Assim, a psicoterapia e/ou análise são formas de ajuda profissional ao paciente para que este possa se encontrar com as fantasias desenvolvidas na forma de sintomas emocionais. O processo leva o paciente, primeiramente, a escutar os sintomas, vê-los, senti-los e mapeá-los. Depois, é conduzido a pensar no porquê, ao longo da sua história, foi preciso criar um sintoma emocional e como saber conversar com sua própria fantasia. No entanto, isso leva tempo, pois, no primeiro momento, o paciente reluta em entender ou aceitar que se trata de uma fantasia construída ao longo dos anos. Essa resistência é agravada quando o paciente já tem um diagnóstico definido e uma orientação médica de que precisará de medicação para sempre, e que a medicação dificilmente sairá do paciente.
Esse é um ponto que frequentemente gera conflito entre a visão da psiquiatria, encravada no código internacional das doenças emocionais - com apoio de laboratórios que sustentam essas pesquisas de resultados dos transtornos - e a psicanálise, que acredita na possibilidade de ouvir os sintomas, elaborá-los e assim reposicionar-se, levando à melhora do quadro.
Lidar com os sintomas emocionais é possível
Sempre digo aos meus pacientes que eles são tão criativos que conseguem até criar sintomas emocionais, acreditar na própria criação e fazer com que muitos ao seu redor também acreditem. Contudo, essa minha posição pode nos levar a uma tentativa de banalizar os transtornos emocionais. É importante lembrar que um transtorno emocional precisa ser tratado com respeito, sendo necessária uma avaliação psiquiátrica e o uso de medicação em muitos casos. Em alguns quadros, o transtorno emocional se torna uma característica permanente do indivíduo, o que pode exigir medicação contínua. Em casos de transtornos psicóticos, por exemplo, uma boa condução medicamentosa e psicoterapêutica pode permitir que o paciente leve uma vida normal, mesmo com o transtorno definitivo. Eu atendo pacientes esquizofrênicos que aprenderam a lidar com o transtorno e convivem bem em sociedade.
No entanto, no cotidiano e no processo de interação, todos nós temos resquícios de transtornos emocionais. Mesmo quando associado a medicamentos, o tratamento pode levar à alta medicamentosa. Esse processo ajuda o paciente a não negar os sintomas, mas a se encontrar com eles, entender o motivo pelo qual os criou e desfazer a fantasia que os originou. Lembre-se de que, na maioria dos casos, o tratamento não é a eliminação dos sintomas, mas sim a capacidade de dialogar com eles. Se o sintoma criado for monstruoso para o paciente e o levar a temer vê-lo, o tratamento pode permitir que ele enfrente seu próprio monstro.
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Psicologia 27/02/2025 17:49:01 74
Os transtornos emocionais são sintomas que a mentedesenvolve ao longo dos anos e que, hámuito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversasvariações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algumtranstorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estestranstor...
Psicologia 20/02/2025 14:53:54
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Psicologia 20/02/2025 14:53:54 70
Uma problemática que, aparentemente, é vista como irrisória na saúde sexual masculina, é o aumento do número de homens que precisam amputar o pênis, tendo como principal fator, o Câncer. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, a partir de informações hospitalares do SUS, a média de homens que necessitam amputar o pênis por ano passa dos 480 casos. Como a incidência equivale a uma ...
Psicologia 13/02/2025 17:42:37
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Psicologia 13/02/2025 17:42:37 110
Esta é uma questão de difícil resposta, pois podemos ter namoros que, aos olhos de quem está diretamente envolvido na relação, pode estar sendo avaliado como muito favorável, mesmo que represente uma relação tóxica e/ou imatura aos olhos de terceiros. Como posso dizer que, no namoro em que um dos parceiros apresenta sintomas emocionais patológicos, aquela relação não vai dar certo ou não s...
Religião 06/02/2025 13:42:27
O filme Conclave, grande concorrente ao Oscar de 2025 que está em exibição nas salas dos cinemas pelo Brasil, tem a direção de Edward Berger e faz uma adaptação do romance de Robert Harris, trazendo algumas demandas de reflexão para as perspectivas da Igreja Católica no planeta. Aqui, quero apenas pontuar algumas questões que emergiram após ter assistido ao filme. Assim, não trago uma reflexão sobre o filme em sua estrutura técnica, pois, de fato, não é minha área, apesar de amar a arte cinematográfica.
Tendo atuado muito ativamente na Igreja Católica, vindo a participar de representações internas em escala nacional e eventos tanto na América Latina quanto na Europa, ao assistir Conclave enquanto Cristão Leigo, saí com a ideia de que o diretor trouxe uma perspectiva de renovação para esta instituição que tem força e representatividade em todo o planeta e, no Brasil, com certeza é uma das instituições mais estruturadas e respeitadas no imaginário popular. Mesmo dentre os maiores críticos e opositores dos dogmas católicos, há um respeito na forma de se comunicar, inclusive as pontuações mais incisivas.
Um sopro de possibilidade de mudanças
Parece uma profecia, desta capacidade que a arte cinematográfica tem de antever o futuro. Pode não ter sido intenção da produção do filme algumas provocações, mas confesso que me agradou e acredito que tenha despertado nos praticantes do Catolicismo um sopro de possibilidade de mudanças, principalmente para quem sempre esteve na militância de grupos mais progressistas da Igreja Católica. Lógico que, para aqueles pertencentes à linha mais conservadora ou com tendências de extrema direita ideológica, o filme deve ter incomodado e muito.
Mas este é um dos dilemas que o filme traz, a disputa interna entre Cardeais de todo o mundo no processo de conclave para a eleição do novo Papa. Aquela cena antiga que víamos desde criança quando havia uma eleição para o novo Papa, da chaminé do Vaticano exalando a fumaça preta ou branca dizendo a situação da seleção do novo Papa. Eu mesmo vivenciei esta cena pelos telejornais após a morte do Papa Paulo VI e, depois da morte breve do Papa João Paulo I, depois na eleição do Papa Francisco. A praça de São Pedro, no Vaticano, cheia de fiéis esperando em oração para que o Espírito Santo soprasse para a nomeação do novo Papa e com ele novas perspectivas para a Igreja Católica no planeta.
Muitos Católicos ainda acreditam que, no Conclave, a eleição do novo Papa se dá de forma amistosa e que é o desejo de Deus que prevalece de fato, mas o filme traz a noção de que este processo é de muitos conflitos e jogos de interesses, onde cada grupo pensa conforme suas necessidades geopolíticas e tendências ideológicas. Disputas de poder a partir de estruturas econômicas e capacidades intelectuais. Conclave traz, dentro de uma ficção cinematográfica, a ideia de que o poder na Igreja é disputado milimetricamente, fazendo emergir contradições que, supostamente, um praticante religioso fervoroso dificilmente possa imaginar que exista.
Um Papa com a face de um Deus múltiplo pode ser uma representação mais próxima do Cristianismo.
No entanto, um elemento que muito me chamou a atenção foi o desfecho do processo eleitoral, dentre os muitos debates entre extremistas de direita e liberais e até com uma vertente socialista, surge enfim um Papa que aglutina a junção de muitas possibilidades, principalmente na questão de gênero. Fez-me lembrar de um trecho da música cantada por Pepeu Gomes e Baby Consuelo “...e Deus é menina e menino, sou masculino e feminino...”. Eis que surge um Papa com esta nova possibilidade.
De fato, se as principais religiões do planeta se abrissem para a eliminação das mensagens punitivas e repressivas, exaltando a livre relação humana a partir do princípio do amor mútuo, poderíamos ter novas perspectivas de mudança comportamental extremas entre os povos. Um Papa com a face de um Deus múltiplo pode ser uma representação mais próxima do Cristianismo na sua essência.
Vale a pena assistir ao filme.
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Religião 06/02/2025 13:42:27 216
Ofilme Conclave, grande concorrente ao Oscar de 2025 que está em exibição nas salasdos cinemas pelo Brasil, tem a direção de Edward Berger e faz uma adaptação doromance de Robert Harris, trazendo algumas demandas de reflexão para asperspectivas da Igreja Católica no planeta. Aqui, quero apenas pontuar algumasquestões que emergiram após ter assistido ao filme. Assim, não trago umareflexão sobre o ...
Psicologia 18/12/2024 07:37:06
Este tema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento, “Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicano do século XIV Maitre Eckhart que diz:
"O pai sorri para o filho
E o filho sorri para o pai
E o sorriso faz nascer o prazer
E o prazer faz nascer a alegria
E a alegria faz nascer o amor."
Lembro-me de quando meu filho Hélder Manacô, ainda bem, pequeno dizia “sórri” e todos riam desta forma de expressar o sorrir. E, no poema do frade, o amor nasce da alegria, que vem do prazer engendrado pelo sorriso.
O sorriso é expressão que só pode ser resultado e sintoma de encontro, encontrar-se.
Na canção de Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Rosa sem espinho e dor”. Mãe que acolheu sorrindo, encantou como rosa sem espinho, fez brotar maternagem, para lembrarmos do Psicanalista Inglês Donald Winnicotti sobre as mães suficientemente boas, cuja imagem espelha o amor pela ponta final de um sorriso. Desde o início do sorriso da fecundação, ao sorriso de um ser em movimento no útero, ao sorriso do filho nos seios após um grito de dor, da dor do parto. Um encontrar-se, para outro projetar-se, espelhar.
Há um pai, que sorri para o filho, e, no reflexo espelhar, há um filho que sorri para seu pai. Encontrar-se com este terceiro, fazendo romper a simbiótica relação mãe/filhos no longo círculo do parto ao desmame, pois há um terceiro.
Fazer laços pelo ambiente onde o amor triunfou, a alegria inundou e o prazer do sorriso fez-se cotidiano. Nascer para novos encontros, espalhar-se em comunidade. Redes de apoio e de encontrar-se. E, como poetiza Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Ajudar quem quer viver”. Fazer a História acontecer, de uma Sociedade poder viver a construção do amor e virar Civilização do Amor.
Quimera? Utopia? Fantasia?
Não fosse possível, não justificaria viver em função de promover no outro o encontra-se consigo mesmo no resgate de um amor, que, muitas vezes, pode parecer escondido ou até inexistente, por não se ter vivido em ambiente que potencializou o Amar. E, pela escuta psicanalítica, no processo de mão dupla entre analista e analisado, o sorriso pode brotar. Sintoma maior de uma alma onde habita o amor e o desejo de amar. Assim, como na construção incansável de levar os pais ou aqueles que se fazem pais, restabelecer ambiência que prevaleça o cuidado na alegria do prazer de se revitalizar o sorriso entre os olhares dos que habitam a mesma casa, comunidade, cidade, estado, nação e nosso habitat maior, o planeta Terra na sua infinita cosmologia.
Vamos fazer deste meu querer aquele que engendra o desejo do poeta Milton Nascimento: “Tudo o mais que eu queria é cumplicidade”.
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Psicologia 18/12/2024 07:37:06 1197
Estetema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento,“Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicanodo século XIV Maitre Eckhart que diz: "O pai sorri para ofilho E o filho sorripara o paiE o sorriso faz nascer o prazer E oprazer faz nascer a alegria E a alegria faz nascer o amor." Lembro-mede quando meu filho Hélder Manacô, ain...
Politícia e Sociedade 09/12/2024 17:06:42
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Politícia e Sociedade 09/12/2024 17:06:42 921
É possível um país com um abismo entre pobres e ricos que alcança uma diferença de renda de 14,4 vezes ter saúde emocional? Hoje em dia, quando se fala sobre projetos sociais para diminuir a pobreza, e até mesmo iniciativas solidárias focadas nos mais pobres, muitas vezes surgem críticas de que são ações de esquerda. Lembro-me duma situação em que uma pessoa acreditava que o padre de sua paróquia,...
Politícia e Sociedade 04/12/2024 08:47:35
Geralmente, ao longo de nossas vidas, passamos por muitos lugares: bairros, cidades, estados e países. E, após um certo tempo, surge a pergunta: qual a marca que deixei por onde passei?
Este artigo vem de encontro a esta pergunta. Fui inspirado a escrevê-lo a partir de uma solicitação de um amigo de Piraju-SP, Valberto Zanatta, que atualmente é vereador na cidade, para que eu e minha esposa, Maria Celina, recebêssemos o título de Cidadão de Piraju-SP pelos relevantes trabalhos que prestamos no município durante os anos de 1991 a 1994. Após 30 anos, retornaremos a essa cidade para sermos homenageados pelas marcas que deixamos no referencial coletivo daquela comunidade. O interessante é que encontraremos duas gerações: aquelas pessoas que estavam lá naquela época e hoje são adultas, com seus filhos criados, e muitos jovens da cidade, que nem sequer haviam nascido quando minha esposa e eu morávamos em Piraju.
Piraju-SP marcou o início de minha carreira profissional como psicólogo e também o início de meu casamento com Maria Celina. Foi nesta cidade que geramos nosso primeiro filho, Samuel Iauany, que nasceu em 1992, na maternidade deste município.
Ficamos felizes em saber que deixamos marcas positivas naquela cidade e que hoje somos reconhecidos publicamente com o título de Cidadão Pirajuense.
Essa pergunta, de fato, não pode deixar de ecoar em nossa jornada de vida: qual a marca que deixei e deixarei por onde passei e passarei?
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Politícia e Sociedade 04/12/2024 08:47:35 924
Geralmente,ao longo de nossas vidas, passamos por muitos lugares: bairros, cidades,estados e países. E, após um certo tempo, surge a pergunta: qual a marca que deixei por onde passei? Esteartigo vem de encontro a esta pergunta. Fui inspirado a escrevê-lo a partir deuma solicitação de um amigo de Piraju-SP, Valberto Zanatta, que atualmente évereador na cidade, para que eu e minha esposa, Maria Ce...
Psicologia 25/11/2024 17:50:33
Muito tem se falado sobre a saúde emocional e processos de prevenção dos transtornos mentais. Mas observo que não estamos dando atenção aos hábitos pessoais que vamos adquirindo ao longo de nossas vidas, muitos deles nos conduzindo a tais transtornos.
Os hábitos pessoais são caracterizados por comportamentos que fazemos de forma repetida no cotidiano. Dia após dia, ano após ano, vamos repetindo os mesmos hábitos. Se não ficarmos atentos, vivemos mais por repetições de hábitos do que por consciência destes e atitudes que escolhemos vivenciar a cada dia.
Muitos animais tendem a criar hábitos, principalmente os domesticáveis. Aqui, vale muito os treinamentos comportamentais de animais domésticos para terem o maior número de hábitos repetidos a cada dia, o que torna mais fácil a convivência destes com os humanos. Outros animais não-domésticos vivem com hábitos codificados a nível cerebral, a ponto de espécies inteiras repetirem coletivamente o mesmo comportamento sem passar por treinamento, numa repetição de estrutura genética codificada. Por exemplo: As tartarugas marinhas, ao serem desovadas na praia, automaticamente caminham rumo ao mar até sentirem o toque de suas patas na areia da praia. Este processo dos filhotes faz memória cerebral a ponto de voltarem a desovar depois de 25 anos na mesma praia de origem, mesmo sem treinamento para tal.
Um cachorro cria o hábito de dormir no canto de uma parte da casa e dificilmente conseguimos fazer ele sair deste canto quando quer dormir após a consolidação deste costume. Sendo ele domesticável, é possível treiná-lo para dormir em outro canto que não invada a privacidade de quem também mora na casa. Porém, muitos cachorros conseguem até fazer seus donos dormirem no chão para que fiquem na cama, pois assim lhes foi permitido.
No caso dos humanos, é diferente. Podemos ser treinados para fazer as coisas do cotidiano de forma controlada / imposta, ou por processo de conscientização. Por exemplo, escovar os dentes, que se for imposto controle, poderá levar o sujeito a só fazer se alguém mandar, ao contrário de fazê-lo por consciência da higiene bucal. Por isso, que neste exemplo específico do escovar os dentes, quando a família traz elementos lúdicos às crianças, fazendo com que entendam a importância da ação, não precisarão de alguém para ficar lembrando-as deste hábito. Lembro-me que tinha muita dificuldade em escovar meus dentes quando criança, mas, depois que assisti uma palestra na pré-escola de uma dentista que fez uma linda exposição sobre os perigos da não-escovação, fiquei preocupado com os efeitos negativos. Daí para frente, nunca mais deixei de escovar os dentes. E quantos foram os hábitos a nós impostos e que, na vida adulta, abandonamos por escolhas pessoais. Porém, há muitos outros hábitos que repetimos sem pensar por anos e anos de controle comportamental educacional dos pais.
Até aqui, parece que nem entrei no tema de nosso texto. Mas, para pensarmos em hábitos, precisamos entender como estes são introduzidos e se manifestam em nossas vidas. Hábitos podem ser destrutivos e construtivos. Podem promover saúde (física e emocional), ou destruir nosso corpo e levar-nos a transtornos emocionais. Se, por exemplo, a pessoa aprendeu desde criança a ir dormir muito tarde e, ao longo dos anos, sempre dormiu poucas horas de sono noturno, além dos prejuízos no desenvolvimento fisiológico, surge a predisposição para doenças fica um campo aberto. E, no movimento contrário, a pessoa que foi se habituando a dormir oito horas de sono noturno ao longo dos anos terá mais defesas fisiológicas e prevenção à saúde emocional.
Quando colocam a pessoa em estado de dependência, principalmente de substâncias químicas (lícitas e/ou ilícitas); quando há apego a eletrônicos que leva às perdas cognitivas, afastamento social e/ou depressão; quando o sono não faz ciclo de oito horas noturna e, ao longo dos anos, perde-se a subjetividade, acesso aos sonhos e consequente perda de produção das substâncias neuronais que promovem a regulação do humor e estímulo para agir no cotidiano; quando, ao longo da história pessoal, não se cultivou afetos entre entes queridos e ou amizades, por fazer parte de um processo educacional funcional que sempre prioriza a logística do existir.
Hoje, podemos dizer que uma exagerada dose de bebida alcoólica em um final de semana vai bloquear a produção de químicas neuronais de estímulo, podendo desencadear depressão, como também o não respeito ao hábito de sono noturno de oitos horas. Também a dependência dos eletrônicos, principalmente do celular ligado nas redes sociais até altas horas da noite, que faz o desenvolvimento da ansiedade e também das perdas produtivas e de criatividade. A vida sedentária, na qual a atividade física está descartada e há falta de presença em grupos de pessoas e amigos além do ambiente de trabalho. Pior é quando a pessoa se apega às notícias sempre negativas, e não se aprofunda nos fatos, onde a alienação e a percepção de mundo passa apenas pelo viés da crueldade que pode desenvolver pânicos e desesperança em relação ao futuro.
O hábito de não estudar e permanecer acomodado no que faz na prática sem aprofundar-se e o buscar conhecimentos que retiram do indivíduo recursos intelectuais e estratégias de pensar saídas em situações críticas. É muito complexo o tratamento de transtornos emocionais em pessoas que estão sem potencial de conhecimento por estarem estagnadas no processo de aprendizado e busca de conhecimentos. Com recursos de potencial do saber diverso, a pessoa consegue encontrar mais recursos em si mesma para auto percepção dos motivos que levaram a desencadear um transtorno emocional, e potencializa ações para sair do transtorno.
Quando, pelo transtorno, a pessoa passa a pautar sua existência, como, por exemplo, uma fobia social ou transtorno do sono, que pode levar ao hábito de nunca querer sair de casa; quando a depressão leva a pessoa a uma rotina de ficar deitada por muito tempo do dia ou ficar isolada em um canto da casa, sempre estar antenada às notícia ruins; quando uma ansiedade leva a hábitos alimentares como meio de se acalmar, podendo, inclusive, cair na obesidade; quando a ansiedade leva a pessoa a se tornar consumista compulsiva; quando pelo transtorno obsessivo compulsivo, desenvolve-se um apego à prática religiosa de repetições simbólicas e/ou apegos à objetos religiosos, chegando também a desenvolver hábitos de limpeza e de trancafiar a casa.
Podemos entender que hábitos podem, sim, desenvolver transtornos emocionais. O problema é quando tais transtornos formam hábitos, tornando mais difícil o processo de saída destes. Há um ditado popular que diz ser mais fácil criar uma nova religião do que eliminar um hábito.
Não podemos esquecer que, antes de sermos humanos, somos fundamentalmente animais. Temos forte tendência de vivermos como tal, movidos por necessidades meramente fisiológicas imediatas. A sapiência que pode fazer a diferença pelo nosso potencial de simbolização e consequente estrutura para o pensar, muitas vezes, não é utilizado e desta forma corremos sempre o risco de vivermos movidos pelas necessidades básicas do cotidiano.
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Psicologia 25/11/2024 17:50:33 1139
Muito tem se falado sobre a saúde emocional e processosde prevenção dos transtornos mentais. Mas observo que não estamosdando atenção aos hábitos pessoais que vamos adquirindo ao longode nossas vidas,muitos deles nos conduzindo a tais transtornos. Os hábitospessoais são caracterizados por comportamentos que fazemos de forma repetidano cotidiano. Dia após dia,ano após ano, vamos repetindo os mesm...
Politícia e Sociedade 18/11/2024 10:26:52
A Lei Federal 14759 de 2023 transformou o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra em feriado nacional, 12 anos após sua institucionalização. Esta é uma luta de longa data, remetendo desde o tráfico de negros pelos navios negreiros, incluindo mais de 600 rebeliões de escravos em alto mar registradas, tendo 26 casos registrados nos quais as tripulações tomaram o controle dos navios e retornaram para suas regiões africanas. Assim, o movimento revolucionário sempre foi baseado na resistência à escravidão e, se observarmos o quantitativo de quilombos que ainda hoje resistem no Brasil - segundo o IBGE são 494 quilombos espalhados no território brasileiro com uma população que chega a 1,3 milhões - entendemos a atualidade dos movimentos negro, que diz respeito à posição de um povo que vivia em seus territórios no Continente Africano e que foi transformado em mercadoria após capturado por colonizadores europeus para força de trabalho escravo.
Foram 360 anos de tráfico negreiro no Brasil e 136 anos de uma falsa abolição, pois foi lhes dada a liberdade sem a possibilidade de terem terras para plantar. Saem das porteiras que os escravizavam e retornam para trabalharem para seus ex proprietários. E percebemos estes ecos vividamente nos tempos atuais.
Hoje, temos um grande número de movimentos negros no Brasil, tendo destaque o Movimento Negro Unificado MNU, UNEGRO Brasil, e centenas de coletivos que estudam e buscam a ancestralidade da diáspora africana no Brasil anterior à escravatura. Temos as teses de doutorados nas ciências humanos, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Filosofia, História, etc, produzidas por pesquisadores negros e negras nas Universidades Federais do Brasil, graças ao incremento das cotas raciais. E não é à toa que muitos questionam as cotas raciais, pois elas causam exatamente a eclosão da verdade do Brasil escravocrata.
Desta forma, o feriado de 20 de novembro se difere de outros feriados no Brasil devido ao caráter de conquista dos movimentos negro ao longo da História. Enquanto nos demais feriados apenas curtimos a possibilidade de celebração simbólica e tempo livre (levando muitos empresários a reclamarem dos mesmos), este feriado faz emergir as barbáries de um país genocida, racista e que ainda colhe trágicos dados sociais pela gritante diferença socioeconômica. Para mim, este é o principal de todos os feriados, pois faz-nos lembrar da memória social que o país tentou apagar da História Oficial. Sendo assim, quero então trazer três pontos cruciais que fazem deste feriado motivo de incômodo, dentre tantos outros:
A estimativa é que 14 milhões de escravos morreram ao longo do período de tráfico pelos navios negreiros no Atlântico, tendo cerca de 60% dessas mortes ocorridas em alto mar. Nos 360 anos de tráfico registrado, foram capturados em torno de 24 milhões de africanos dentre diferentes países. Mas nossa história colonialista evidencia recorrentemente apenas o genocídio provocado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, que levou à morte 7 milhões de Judeus (metade do que aconteceu com o tráfico negreiro). O Brasil foi o país mais escravista das Américas, recebendo aproximadamente 40% dos escravos vendidos dentre os países americanos, com uma perspectiva de aproximadamente 5 milhões de escravos.
O processo foi tão cruel que, nas embarcações oficiais, tinha o “Livro dos Mortos”, o qual computava o quantitativo de escravos mortos durante o translado no Atlântico e que causou, inclusive, a mudança da rota marítima dos cardumes de Tubarões, que devoravam os escravos mortos jogados em alto mar. Muitos escravos entravam em depressão e, uma vez estando no Brasil, sua expectativa de vida era de 33 anos de idade. Se levantarmos o número de negros que morreram por chibatadas, falta de estrutura de moradia e trabalho intenso diário, não vamos obter respostas claras. Mas, com certeza, o genocídio continuou e continua até hoje, mas agora sob os punhos da polícia militar brasileira e da ausência do estado nas comunidades periféricas, onde a população negra chega a 70%. No livro “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves, podemos visualizar este cruel genocídio da colônia imperial brasileira.
Aqui, temos outro elemento que constrange muitos cristãos, e, no Brasil, em especial os Católicos. Porém o posicionamento dos cristãos também não foi nada adequado ao Cristianismo nos países da América. Nos Estados Unidos, os vilões cristãos eram os pastores da Reforma Protestante vinculados ao Presbiterianismo, como retrata tão bem a escritora Maryse Condé em seu livro, “Eu, Tituba – Bruxa negra de Salém”, romance que parte de um episódio real da história da escravatura dos Estados Unidos e mostra o quanto as Igrejas Cristãs nos Estados Unidos também estavam atreladas à escravatura institucionalizada.
Em 1452 o Papa Nicolau V expediu uma Bula Papal que autorizava a captura de pagãos, incrédulos e ditos inimigos de Cristo. Assim, a Coroa Portuguesa, sob proteção divina, estava livre para invadir países da África e capturar seus cidadãos como escravos. O Papa Nicolau V era tido como humanista e defensor do Renascimento, mas não conduziu sua visão então iluminada para os povos da África. Para que houvesse respaldo, criaram teses teológicas baseadas na ideia de que, no episódio em que Caim matou Abel, este foi expulso do Éden e seguiu para regiões da África, se estabelecendo e condenando seus descendentes (os negros) à perdição. Outra defesa teológica, também presente no Velho Testamento, vem do episódio em que Cam é amaldiçoado pelo pai Noé, após o dilúvio. Cam viu Noé deitado nu após ter-se embriagado, e foi contar aos irmãos. Assim, Cam teria partido com sua maldição imposta por Noé para regiões da África.
Durante a escravatura no Brasil, muitos Bispos e Padres ganhavam benefícios financeiros com o tráfico negreiro. Em torno de cinco das maiores congregações religiosas da época, compraram escravos e favoreceram os trâmites logístico para a Coroa Portuguesa, como foi o caso da Congregação dos Beneditinos, que tinham mais de mil escravos para trabalhar em fazendas de propriedade da Congregação entre Rio de Janeiro e São Paulo. Muitos conventos de países da América Latina prestavam suporte ao recebimento dos capturados, onde eram trocados seus nomes de origem por nomes cristãos e batizados. Tais serviços eram remunerados pela Corte.
Sabemos que, em todas as religiões de base Cristã, há lideranças religiosas que sempre defenderam a liberdade e lutaram contra qualquer forma de escravidão. No entanto, estas são ações individuais e de grupos isolados, que acabam não representando a postura das instituições em si, tanto no Catolicismo como nas diferentes Igrejas da reforma protestante, ou o que hoje chamamos Evangélicos. A História oficial poupou estas instituições que, direta ou indiretamente, colaboraram com a escravatura no Brasil. Para quem está vinculado a uma religião de base cristã, sabemos que é preciso estar inteirado da história da religião que segue, e se posicionar a partir da consciência que carrega. Mas falar destes episódios que aqui apenas estou pincelando brevemente, traz, sem dúvida alguma, muito incômodo para quem pratica religião.
Quando o Brasil já tinha 70% da sua população entre negros, pardos, mestiços e indígenas por volta de 1870, a saída política e econômica foi o projeto de branqueamento, com o incentivo da Coroa de financiar as viagens de imigrantes europeus. A ideia principal seria estabelecer um branqueamento paulatino, à medida em que europeus fossem se envolvendo com os negros. Porém, argumentos que camuflavam esta intenção, dizendo que os europeus já estavam adaptados ao processo de industrialização, ajudando a modernização do Brasil. Muitos receberam até garantias de empregos e terras para produzirem. O Brasil tinha que desfazer a ideia de um país africano no cenário comercial mundial. E, para respaldar ainda mais esta estratégia, intelectuais, ao longo da História subsequente, criaram o sentimento nacional de existência da democracia racial no país. Este pensamento e sentimento ainda hoje é muito veiculado na produção musical, filmes e novelas. Continuamos acreditando que somos um país abençoado por Deus, e que não temos guerras e que o racismo estrutural é um mito.
Diante de todos estes tópicos apresentados, o feriado de 20 de novembro ser celebrado nacionalmente pela primeira vez a partir de 2024, faz criar novas perspectivas, vislumbrar um pais da igualdade de direitos, um pais antirracista. Porém, as sequelas destes 360 anos de tráfico negreiro e subsequente falsa abolição, até agora percebida na realidade do povo brasileiro, são imensuráveis. Mas só podemos vislumbrar um futuro se olharmos para a História com a noção clara de como chegamos neste ponto. E este olhar faz sofrer, chorar e enojar. Este processo de conquista de direitos sociais e reparações históricas sobre o sofrimento dos negros da diáspora africana no Brasil precisa ecoar na voz dos muitos movimentos sociais que incansavelmente estão gritando, denunciando e reivindicando direitos. Este 20 de novembro é a força e a esperança na construção de uma nação livre das desigualdades sociais.
Os índices de depressão e doenças emocionais no Brasil não surgem do nada. São resultado de uma história de genocídio, destruição de laços familiares e culturas. Só uma ação voltada para a reconstrução da dignidade de todos os cidadãos deste país, dentro da ideia de equidade de direitos e condições dignas de vida, poderá reverter esta trajetória que nos condena ao fracasso enquanto nação. Ser profissional de Psicologia apenas voltando o olhar para demandas individuais, sem estar conectado com a História e a realidade que nos rodeia, é, no mínimo, mais um ato colonialista elitizante.
Hoje, nosso maior problema social é o racismo que impera na política, religiões cristãs e na exclusão social. Não existe sociedade antirracista sem igualdade de direitos. E uma Democracia não se sustenta onde há desigualdade social.
Bibliografia
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020.
CONDÉ, Maryse. Eu, Tituba. Bruxa negra de Salem. 8. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2021.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
GOMES, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares, volume 1. 1. ed. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019.
GOMES, Laurentino. Escravidão: da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de dom João ao Brasil, volume 2. 1. ed. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2021.
GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. 21. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2019.
LEWIS, Isaac Warden. Os apartados no Brasil Império. Manaus: Editora Mundo Novo, 2016.
NASCIMENTO, Abdias do. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 3. ed. São Paulo: Perspectivas, 2016.
SANTOS, Ynaê Lopes dos. Racismo brasileiro: uma história da formação do país. 1. ed. São Paulo: Todavia, 2022.
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Politícia e Sociedade 18/11/2024 10:26:52 916
ALei Federal 14759 de 2023 transformou o Dia Nacional de Zumbi e daConsciência Negra em feriadonacional, 12 anos após sua institucionalização. Esta é uma luta de longa data, remetendo desde o tráfico de negros pelosnavios negreiros, incluindo mais de 600 rebeliões de escravos em alto mar registradas, tendo 26 casosregistrados nos quais as tripulações tomaramo controle dos navios e retornara...
Psicologia 11/11/2024 15:14:55
Vivemos numa Sociedade de Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras à ideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importa é sempre vencer, e a satisfação se dá apenas em conquistar.
A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeados por estímulos ao consumo, os quais são promovidos pela Publicidade. A estética do consumo nos faz sentir constantemente insatisfeitos e com sentimento de menos valia, como se nunca fôssemos suficientemente bons ou completos. Assim, a Publicidade se aproveita das nossas inseguranças, prometendo preencher vazios que o consumo provoca, criando um ciclo vicioso problemático: Quanto mais consumimos, maior parece ser o buraco a ser preenchido.
Quando nos desenvolvemos com apego ao prazer imediato, focamos apenas no "agora", não desenvolvendo nosso potencial de busca. É a máxima do Desejo: O que busco, no que busco não encontro e, assim, continuo desejando. Surge então o sujeito desejante, que, contrário a esta lógica, se preenche com a busca por conhecimento e projetos de vida, conquistas que constroem uma base emocional mais sólida. Este indivíduo terá melhores condições de lidar com a tentação do consumo e a necessidade constante de gratificação imediata. Podemos dizer que, estruturalmente, ao longo da vida, podemos desenvolver a capacidade de lidar com buscas de longo prazo e com as perdas inerentes ao cotidiano, criando uma saúde emocional mais robusta e com menores chances de cair nas armadilhas do consumismo.
Quando começa a construção da capacidade de lidar com as perdas?
No entanto, essa construção começa desde cedo e depende da educação familiar. Crianças e adolescentes que aprendem a lidar com as perdas se estruturam emocionalmente de forma mais saudável. A cada dia, vivemos perdas: A perda do dia que passou, as transições de fase no desenvolvimento humano, renúncias inerentes às escolhas que fazemos, entre outras. Todas perdas decorrentes do processo da Existência. Sempre que escolhemos algo, abrimos mão de outra coisa. A vida, em sua essência, é feita de perdas. A Morte, por exemplo, é uma inevitabilidade que nos confronta do início ao fim. Vivemos com a ideia de que um dia enfrentaremos a morte, mas numa Sociedade que só valoriza a Vida, fugimos tanto deste conceito que passamos a crer na vida eterna.
Quando, no processo educacional, os pais evitam que os filhos experimentem perdas e constantemente satisfazem seus desejos, eles acabam impedindo o desenvolvimento de uma busca saudável por parte da criança. É justamente através da perda que a criança aprende a buscar, e, por meio da busca pelo conhecimento, faz acontecer meios para suprir as perdas.
Se tudo chega facilmente, sem esforço, a criança não tem motivo para construir suas próprias conquistas. Se, ao longo da vida, a pessoa não aprende a lidar com as perdas, ela poderá desenvolver uma estrutura emocional frágil, sempre associada ao desprazer e ao sofrimento dum vazio interior, levando tal fragilidade emocional a possivelmente se manifestar em diversos transtornos. É interessante notar que crianças que enfrentam dificuldades de saúde nos primeiros anos de vida tendem a desenvolver maior resistência no cotidiano. Isso acontece porque os limites impostos pela saúde nos colocam em situações contínuas de perda, muitas vezes com risco de vida.
Se você é uma pessoa que tem dificuldade em lidar com perdas e se apega excessivamente ao consumismo, é importante buscar práticas e hábitos que permitam aprender a abrir mão de certos desejos e viver com menos. A princípio, você pode sentir ansiedade por estar se abstendo de algo, mas com o tempo poderá experimentar uma sensação de prazer diferente, que vem do fortalecimento da sua estrutura emocional.
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Psicologia 11/11/2024 15:14:55 1156
Vivemos numa Sociedadede Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras àideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importaé sempre vencer,e a satisfação se dá apenas em conquistar. A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeadospor estímulos ao consumo, os quais sãopromovidos pela Publicidade. A ...
Psicologia 06/11/2024 07:57:48
O foco do Novembro Azul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estão diretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao Machismo Estrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens na Sociedade. Por conta deste elemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido a fatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de toque) até a ideia de que fazer este tipo de prevenção é exagero e frescura. Diante desta situação, já me deparei com falas machistas, como “Isso é coisa de mulherzinha, que sempre querem ir a médicos...” e “Vou procurar uma médica para fazer o toque em mim, vai que rola...”, reiterando esta problemática.
É necessário trabalhar a prevenção ao Câncer de Próstata a partir do debate sobre a questão do homem na Sociedade como um todo - e aqui refiro ao todo de uma Sociedade Brasileira calcada num machismo que perpassa pelos homens primeiramente e também por uma posição de submissão de muitas mulheres. Deve-se pontuar, inclusive, esta problemática para as mulheres que ensaiam retrocesso pela indução de muitas seitas cristãs espalhadas pelo Brasil, as quais acentuam a ideia de que a mulher precisa seguir seus maridos e estarem sujeitas à eles, mesmo diante de vastos avanços para a eliminação do Patriarcado. Uma tendência ultraconservadora associada, inclusive, à política dentro da ideologia de extrema direita.
Estrutura machista e o mal que causa ao masculino
Com a estrutura machista, todo poder é dado ao homem. Isto fica evidente nas muitas instituições sociais no Brasil, onde estes ainda representam o gênero dominante, desde a política, poder judiciário, poder público, poder legislativo, universidades, religião, e até escolas de samba. Só para termos uma ilustração clara, na minha profissão de Psicologia, quase a totalidade dos profissionais são mulheres e, ainda, quem afere os melhores resultados financeiros no exercício profissional são os psicólogos.
Sendo assim, este conceito do “homem macho” que habita em nós (homens) por uma longa história de dominação na Sociedade deve ser dissolvido e transformado em um cidadão dignamente masculino e parceiro das cidadãs femininas, se baseando no diálogo pleno com as múltiplas orientações de gênero existentes na Sociedade. Porém, a ideia de dissolver o Machismo Estrutural parece causar forte ameaça ao público masculino adulto por seu apego a uma posição de poder e domínio da qual não querem abrir mão, acentuando esta problemática.
A partir de consultas de avaliação e diagnóstico ao câncer de próstata via método tradicional, tenho certeza que esta demanda não vai avançar. Ficaremos presos apenas ao processo clínico, como se cada homem se resumisse a uma grande próstata. Tenho passado por alguns exames destes anualmente e sei que o profissional ali não está lhe vendo como um cidadão inserido numa Sociedade. Há um olhar focado apenas no específico corporal. Até a leitura dos exames de sangue sugeridos é visto não em sua integralidade, com o processo sendo feito de forma tão rápida que o profissional sequer olha para seu rosto. E isto no meu caso específico, que ainda consigo pagar um plano de saúde. Imagine dentro de um SUS sucateado, que não está dando conta nem das necessidades básicas de saúde por uma miríade de fatores.
Diante destas observações, precisamos falar, sim, das várias instâncias e do fato de que uma pessoa não pode ser vista apenas no específico corporal. Como as campanhas de prevenção a qualquer tipo de doença focam muito no fisiológico, observo que estão atingindo muito pouco a consciência preventiva e de uma conexão integral do ser humano ao todo que compõe seu existir. E, se não nos posicionarmos no pensar a saúde do homem para além do fisiológico, o Novembro Azul pode (deliberadamente ou não) inclusive acentuar o machismo do homem pela via da virilidade e da potência sexual, tipo: -“faço os exames com medo de ‘brochar’... .
Mas como dissolver o Machismo Estrutural?
Você que está lendo este texto, que pode ser um homem ou uma mulher e que pode ter um parceiro homem, ou filhos homens ou alunos homens, parentes homens, etc. Como agir para dissolver a estrutura machista de nosso referencial cultural histórico? Vou passar aqui alguns pontos que podem ajudar:
1) Ao homem, reconhecer seu machismo em teoria e prática, pois uma coisa é o discurso antimachista, outra coisa é a prática. E, à mulher, observar se está enquadrada no patriarcado em que ela muitas vezes ressalta a posição da submissão ao homem.
2) Ao reconhecer, levantar os comportamentos que externam este machismo. Eu já fiz uma lista ampla de comportamentos que pretendo estar antenado para eliminar. E esta atitude deve ser uma pauta nesta construção. Vou lhes dar um exemplo: Tenho tendência de verbalizar palavras como “caralho”, “cacete”, “porra”, entre outras. Até para falar expressando algo que denote muito valor, solto um “bom pra caralho”. Lembro que, numa situação, assistindo ao jogo do meu time de coração (Corinthians) soltei estas falas no meio de um grupo de pessoas que também tinha mulheres, levando minha esposa a chamar minha atenção. Eu refutei. Até que tomei consciência e desejo de eliminar o meu machismo estrutural, entendendo que há peso até na forma de se xingar, ou comentar expressões de fortes sentimentos. É preciso se posicionar para eliminar este comportamento . Este meu exemplo pode ser banal, mas é representativo de uma estrutura. E o que é estrutural no comportamento de uma pessoa é revelado nas formas mais banais, em lapsos de linguagem, chistes, atos falhos, como já nos ensinou Freud em sua construção da teoria psicanalítica.
3) Estando em ambientes de trabalhos, observar se as condições de trabalho são equivalentes entre homens e mulheres, e, se não forem, se posicionar em busca da melhoria deste ambiente.
4) Nas pequenas ações cotidianas, focando em sair da posição de ajudante da parceira conjugal e/ou quando mora com familiares, onde os serviços de manutenção da casa estão sob responsabilidade duma mulher, pois quem é ajudante apenas auxilia o responsável direto por algo, como, por exemplo, o ajudante de pedreiro. Assim, substituir o ajudar em casa por fazer junto, como um compromisso pessoal no coletivo.
5) Para quem tem filhos que vivem juntos em casa, organizar a distribuição de tarefas na manutenção da casa, no fazer as refeições, transformando o lar num compromisso de todos. Esta forma de fazer é muito difícil de acontecer em residências que têm uma funcionária doméstica. Muitos pais acham que se já tem alguém para fazer, então para que levar todos a fazerem, desta forma reinará a estrutura machista. Pior é quando o homem da casa não faz nada dentro de casa por já trazer o dinheiro de sustento da família. Agrava também esta posição de machismo quando a mulher que está na condição de também responsável pela família acredita que, de fato, o homem provedor não deveria fazer nada dentro de casa.
Poderíamos enumerar inúmeros posicionamentos que podem ser listados pelos homens para a dissolução do machismo estrutural, mas o importante é que estes passos e procedimentos sejam elencados por cada um. Mas sei que, se esta iniciativa depender dos homens, não veremos muitas mudanças. As mulheres que podem provocar os homens que estão ao seu redor, pois, no final, a corda do machismo estoura na mão delas. E se há um pequeno avanço no pensar a Sociedade machista em vista de uma derrubada deste adoecer coletivo, devemos muito aos muitos movimentos de mulheres que estão gritando e agindo nesta Sociedade.
Agora, se tudo isto parecer balela ou parecer uma utopia inatingível, aí sim justifica aos homens se colocarem como um animalzinho nas filas de exames e diagnóstico do Câncer de Próstata, para apenas se preocuparem com o aparelho reprodutor masculino e sua virilidade. Restar-lhes-á então apenas este orgulho e a impotência do ser no Coletivo.
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Psicologia 06/11/2024 07:57:48 912
O foco do NovembroAzul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estãodiretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao MachismoEstrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens naSociedade. Por conta desteelemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido afatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de ...
Psicologia 29/10/2024 10:12:54
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se ela deseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmos neste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamos falando, detalhar o que é este conceito.
Considero a saúde emocional o resultado da vivência cotidiana de uma pessoa que é capaz de fazer escolhas por si mesma, preservando sua forma de ser e se colocar no mundo. Lógico que esta capacidade de fazer escolhas é muito relativa, pois o sujeito que deseja, por exemplo, sair matando outras pessoas, estará ferindo uma norma coletiva constitucional em que pessoas não podem matar outras pessoas. Mas, se tomarmos a ideia de escolhas enquanto forma de ser no mundo, identidade pessoal e singularidade na forma de ser, então podemos entender que saber os motivos pela qual está se agindo em diferentes situações do cotidiano, usando da autonomia para a própria escolha e da configuração de um cidadão com melhores condições de pontuar saúde emocional.
Do contrário, quando uma pessoa é regida pelas escolhas de terceiros em vez das próprias, viverá em um processo contínuo de dependência, e, consequentemente, se pré-disporá para uma não-autonomia na sua estrutura e subsequentes decisões, abrindo um campo de possibilidades de sintomas. E tais sintomas são resultados diretos de estruturas emocionais que vamos construindo ao longo dos anos e que eclodem em quadros bem definidos de transtornos. Nesta altura, é possível questionar: Existem pessoas que se encontram na capacidade de viver plenamente a saúde emocional? E a resposta é simples: Sim, existem.
Como viver plenamente a saúde emocional?
Se este caminho não fosse possível, não teria sentido a Psicologia e suas várias formas e tendências de desenvolvimento teórico e técnico. O problema é que confundimos a questão de vivenciar a saúde emocional com não passar por sofrimentos, dúvidas ou problemas. Pelo contrário, o sujeito que se apresenta com saúde emocional não vai negar seus problemas e desafios a superar, mas vai entender os motivos e se posicionar sobre eles, assumindo uma escolha no processo. Exemplo: Pessoas que estão com sintomas de depressão, mas conseguem entender sua situação e busca compreender a origem para se posicionar de modo a sair deste quadro. Neste exemplo, não estou dizendo que uma pessoa com saúde emocional não passe por uma depressão, mas que, ao trilhar o caminho da saúde emocional, a pessoa poderá passar por sintomas que ameacem a sua saúde, mas se colocará na busca se um caminho para sair da situação sintomática. Do contrário, alguém que não se enquadra no esquema de saúde emocional, vai negar a depressão e, consequentemente, não buscará ajuda.
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Psicologia 29/10/2024 10:12:54 1125
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se eladeseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmosneste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamosfalando, detalhar o que é este conceito. Considero a saúde emocional o resultado da vivênciacotidiana de uma pessoa que é capaz de fazerescolhas por si mesma, preservando sua forma de...
Psicologia 22/10/2024 15:31:15
O desmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Não representa apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança de fase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica da pessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todos passamos por este processo e temos marcas em nossa personalidade (ou melhor, em nossa estrutura emocional) decorrentes desta fase.
Desde a fecundação, passando por toda a gravidez até chegar no processo de desmame, mãe e filho estão vinculados numa mesma estrutura psíquica, que podemos chamar de simbiose materno/filial, em que há uma inter-relação mútua. E, mesmo que uma criança não tenha sua mãe biológica, mamando em outra mulher e/ou via mamadeira, a interação simbiótica se dá neste longo ciclo de existir até o desmame. A configuração de mãe, para o entendimento da psicanálise, não está diretamente relacionada apenas ao processo duma relação biológica, pois os vínculos se estabelecem por laços afetivos. Assim, precisamos sempre ressaltar a mãe como aquela que faz presença afetiva e que, inclusive, pode não ser uma pessoa do sexo feminino. Por isso que, quando nos perguntam se um casal homoafetivo masculino pode adotar uma criança ainda bebê, podemos afirmar que sim.
O desmame vai representar a passagem de fase
Dentro das perspectivas da psicanálise a partir de Melane Klein, Winnicott e Dolto, assim como o próprio Lacan, que pouco escreveu sobre crianças, podemos entender que o desmame vai representar a passagem de uma fase de estabelecimento de vínculo estruturante para a entrada no processo da linguagem, das regras e, assim, da socialização. No texto de Lacan “Complexos Familiares” (1932), teremos uma clareza desta configuração e da importância do desmame para a evolução do sujeito na configuração de sua própria estrutura psíquica. Lacan vai dar o nome deste momento de “complexo do desmame”, onde mãe e filho são uma só pessoa. Mas então é possível questionar: “E as crianças abandonadas, que perderam o vínculo com a mãe desde o parto, e ou que foram bruscamente retiradas de suas mães, não vivenciaram este uma só pessoa em mãe e filho?”
Esta pergunta não deixa de ser complexa, pois, de fato, vemos com frequência a interrupção de vínculos de maneira tão catastrófica que podemos até não conseguirmos entender que uma criança desvinculada de sua mãe possa passar por este desmame de forma saudável - isto é, que a projete para novas etapas da vida de forma propulsora, estimuladora. E, de fato, vemos ser instauradas muitas “desestruturas” psíquicas por conta destas interrupções abruptas. Também, em muitos processos nos quais, mesmo tendo todas as estruturas de suporte, logística e referenciais de vínculos aparentemente saudáveis e/ou padronizados num modelo adequado, poderemos ter perdas de vínculos afetivos onde prevaleceu a logística e a funcionalidade materna.
Desta forma, é fundamental que todas as frentes de atendimento às crianças nos primeiros anos de vida sejam configuradas por profissionais com conhecimento da estrutura do desenvolvimento emocional no início da vida de uma criança em suas mais diversas instâncias, desde o atendimento ao pré natal, até ao trabalho de parto (hospital), creches, cuidadores, familiares e/ou profissionais de instituições de acolhimento de passagem. Todos os profissionais devem estar devidamente preparados para a manutenção de laços afetivos.
Por isso, não basta ter uma graduação ou formação técnica para trabalhar com crianças. É preciso ter potencialidade para acolher de maneira que o profissional seja a extensão uterina da mãe pois, da fecundação até ao desmame, a criança estará absorta numa interação interina que vai se romper no desmame. Posto esta demanda, apresentarei aqui algumas prevenções importantes para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável. Lembrando que viável, em psicanálise, não representa livre de traumas e/ou conflitos, mas que possa potencializar a construção de uma estrutura psíquica que se evolua para uma autonomia de identidade, de singularidade.
O que observar para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável
Na Pediatria, se preconiza o desmame aos 2 anos de idade, levando-se em consideração as demandas biológicas e vitais numa sociedade com altos índices de famílias em estado de pobreza. Este critério colabora para que, pelo menos, o sujeito tenha melhor estrutura fisiológica. Mas, sendo esta uma necessidade fisiológica, é necessário estar atento para que o desmame tardio não esteja carregado de dependência simbiótica e dificuldade de rompimento da criança com sua mãe, criando uma disfunção na autonomia da criança.
Esta demanda também pode se dar mesmo que a criança não seja amamentada no seio materno, mas via mamadeira. Dentro do desenvolvimento da estrutura psíquica onde não podemos ver apenas demandas biológicas, o melhor caminho é desmamar uma criança aos seis meses de idade, ou com a aparição dos dentes, pois deste ponto em diante, o ato de amamentar torna-se sofrível para a mãe. Vale ressaltar que, mesmo que seja um processo via mamadeira, a perspectiva de avanço da criança para desenvolvimentos de novas habilidades e buscas justifica o desmame. Você já deve ter visto muitas crianças bem desenvolvidas apegadas em mamadeiras e até objetos similares, vide a chupeta.
O desmame tem, em si, o rompimento deste ciclo simbiótico para a entrada na relação com terceiros, onde a criança descobrirá que existe um mundo para além da figura materna. Retardar este desmame é potencializar o não-crescimento e não-estabelecimento de novos e outros vínculos. E este processo, quando não ocorre, pode predispor a criança a atrasos em seu desenvolvimento social e cognitivo. Desmamar é se encontrar com o que está ao seu redor, e dar asas a buscas, inclusive pelo conhecimento.
Ao longo dos anos e da evolução das formas de se viver em Sociedade, muitos mitos sobre o processo do desmame foram sendo formados no meio popular, tais quais: A fixação do ser humano ao seio feminino (principalmente nos homens), fator que não tem equivalência com a amamentação e referem a outra demanda na vida do adulto, levando à erotização do ato de amamentar, dificultando ainda hoje para que mulheres ofereçam seus seios aos filhos bebês em ambientes públicos; Que o desmame pode levar a uma fixação alcoólica, por não ter desmamado (ou pelo trauma do desmame), num equívoco grosseiro, visto que o alcoolismo é uma doença de estrutura fisiológica; Fixação ao ato de fumar, como se o indivíduo fumasse para reviver o ato de amamentar quando, na verdade, é um hábito associado às químicas compostas no cigarro para gerar dependência física; dentre muitos outros mitos.
De tudo que discorri aqui neste texto, cabe ressaltar que a maior importância do desmame está categoricamente na construção dum sujeito que é colocado ou impulsionado para a construção de sua autonomia. Lembrando que a autonomia deve ser entendida para cada etapa da vida humana. A autonomia de um bebê de oito meses é diferente de uma criança aos 7 anos, ou de um adolescente de 13 anos, como também de um adulto de 40 anos, e assim sucessivamente. Mas a engrenagem da autonomia está de fato pontuada originariamente no processo de desmame.
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Psicologia 22/10/2024 15:31:15 1145
Odesmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Nãorepresenta apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança defase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica dapessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todospassamos por este processo e temos marcasem nossa personalidade (oumelhor, em nossa estrutura emociona...
Psicopedagogia 15/10/2024 17:40:18
O processo de proibir celular nas escolas já vem sendo adotado por vários países, como Holanda, Dinamarca, Finlândia, Espanha, Suíça, Itália, Portugal e México. Esta decisão é decorrente de diversos estudos longitudinais que apontaram que a presença do celular em sala de aula, e até mesmo com o aluno na escola, trouxe perdas do potencial de concentração e aprendizado. Países que, inclusive, utilizaram o celular num primeiro momento dentro da dinâmica do processo educacional, concluíram que os resultados não foram satisfatórios.
Em 2023, um relatório da UNESCO (setor da ONU focado na Educação) apontou que a simples aproximação dos alunos com o celular já predispunha a distração do processo de aprendizado, provocando impactos negativos, como indicado no PISA (Relatório de avaliação internacional de estudantes) daquele ano. A partir deste relatório, a UNESCO indicou aos países a retirada dos celulares nas escolas junto da revisão de eletrônicos e internet no processo educacional.
Após o resultado de tal estudo, a Prefeitura do Rio de Janeiro (então sob a gestão de Paes) realizou, por meio da Secretaria Municipal de Educação, uma consulta pública entre as famílias usuárias do sistema municipal, chegando ao seguinte resultado: 83% apoiaram a proibição do celular, 11% apoiaram parcialmente e 6% foram contra. Tais dados levaram o município a proibir o celular nas escolas municipais, sendo a primeira iniciativa do tipo no Brasil.
Atualmente, o Ministério da Educação, sob a gestão do Ministro Camilo Santana, está com a elaboração de um projeto de lei para proibir o uso do celular nas escolas públicas e privadas do Brasil em andamento. Como não temos uma regulamentação federal sobre esta demanda, um projeto de lei específico sobre este tema vai colaborar para o respaldo jurídico das instituições de ensino em proibir tais aparelhos nas escolas, especialmente diante do fato de que há famílias que defendem o celular nas escolas como forma de ter acesso aos filhos por alguma eventualidade ou intercorrência. Desta forma, a ausência de critérios definidos em lei federal coloca o corpo pedagógico, por muitas vezes, em rota de colisão com as famílias dos alunos, resultando até em ocorrências de ameaças de processo judicial para tal liberação.
Motivos do porque sou a favor da proibição
Eu sou defensor da proibição do celular nas escolas, em todos os ambientes e situações. Desde salas de aula até espaços de convívio extraclasse. E, aqui, trago alguns argumentos para defender esta ideia:
1) Com o celular na bolsa ou bolso, mesmo que esteja desligado, o aluno fica ligado ao desejo de usar o aparelho, pois está o tempo todo conectado fora do ambiente escolar. Ao chegar na escola, mesmo que tenha as regras de proibição, a dependência criada pelo uso intenso no cotidiano faz deslocar tal para o manuseio do celular. Se esta pulsão acontece até com adultos, imagine com crianças e adolescentes, os quais têm forte tendência a criar dependências de hábitos prazerosos por ainda não estarem plenamente maduros para escolhas mais criteriosas e que requerem autodisciplina.
2) Mesmo que não se use em sala de aula, as crianças e adolescentes tendem a se fixar no celular e esquecem de interagirem com os colegas quando estão em atividades abertas na escola e/ou intervalos. Isto tem trazido muitos problemas até mesmo nas empresas, onde ninguém mais se comunica com os colegas de trabalho nos intervalos por estarem ligados ao celular.
3) Imaginar que crianças e adolescentes já estão aptos a entenderem e seguirem uma regra livremente, por plena consciência, é desconhecer o desenvolvimento psicológico destas duas faixas etárias. A autonomia para a livre escolha de procedimentos e hábitos só será possível plenamente na vida adulta. Mesmo assim, é preciso identificar no meio adulto quem, de fato, atingiu um nível de maturidade plena para ser autônomo nas suas ações.
4) Lembrar que a inclusão do celular no sistema de ensino já foi testada e os resultados não foram satisfatórios. Precisamos entender que o processo de aprendizado se dá pela entrada nas teorias e na percepção dos conhecimentos na vivência prática do que foi ensinado. Como temos uma escola ainda muito restritiva e conteudista na forma de desenvolver o processo de aprendizado, cria-se nos alunos um forte processo de desestímulo ao aprendizado. E, ao recorrerem à internet, vão encontrar mil tutoriais de que são dinâmicos e quase fazem pensar que o professor não serve para nada. Assim, a presença do aparelho vai acentuar o desinteresse por aquilo que o professor está propondo e distanciando o aluno desta relação professor/aluno para o aprendizado.
Toda esta temática tem emergido a simples e clara noção de que o aprendizado se dá por vias muito simples e por interatividade dinâmica com o que se está ensinando e aprendendo. E sem dúvida que, se esta proposta do Governo Federal for aprovada no Congresso Nacional, muitos professores terão que rever a forma de se posicionarem na transmissão de conteúdo por não estarem com forte dinâmica no processo educacional e acabarem se escorando no celular como um falso recurso de aprendizado. Da mesma forma, as escolas precisarão se reinventar para melhor dinâmica de conteúdos em sala de aula.
Mas então as escolas não poderão usar a tecnologia de informação com os alunos no processo educacional?
Uma coisa é o celular, outra coisa é a tecnologia para o aprendizado. Para isso, as escolas precisam ter seus laboratórios de pesquisa estruturados e alunos beneficiados com equipamentos para tal finalidade. Mas é diferente de um celular, que representa mais um órgão do corpo humano na atualidade e coloca o sujeito conectado com o mundo na palma de sua mão. Tendo na escola um espaço de manuseio de interfaces de conexão, configura-se em uma outra perspectiva de processo de interação com a tecnologia. É utilizar a Tecnologia a serviço do aprendizado, não tornar o aprendizado um escravo da Tecnologia.
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Psicopedagogia 15/10/2024 17:40:18 1230
O processo de proibir celularnas escolas já vem sendoadotado por vários países, como Holanda, Dinamarca, Finlândia, Espanha, Suíça, Itália, Portugale México. Esta decisão é decorrente de diversos estudoslongitudinais que apontaram que a presençado celular em sala de aula, e até mesmo com o aluno naescola, trouxe perdas do potencial de concentração e aprendizado. Países que, inclusive, utilizaram ...
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