11/11/2024 16:36:58
Vivemos numa Sociedade de Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras à ideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importa é sempre vencer, e a satisfação se dá apenas em conquistar.
A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeados por estímulos ao consumo, os quais são promovidos pela Publicidade. A estética do consumo nos faz sentir constantemente insatisfeitos e com sentimento de menos valia, como se nunca fôssemos suficientemente bons ou completos. Assim, a Publicidade se aproveita das nossas inseguranças, prometendo preencher vazios que o consumo provoca, criando um ciclo vicioso problemático: Quanto mais consumimos, maior parece ser o buraco a ser preenchido.
Quando nos desenvolvemos com apego ao prazer imediato, focamos apenas no "agora", não desenvolvendo nosso potencial de busca. É a máxima do Desejo: O que busco, no que busco não encontro e, assim, continuo desejando. Surge então o sujeito desejante, que, contrário a esta lógica, se preenche com a busca por conhecimento e projetos de vida, conquistas que constroem uma base emocional mais sólida. Este indivíduo terá melhores condições de lidar com a tentação do consumo e a necessidade constante de gratificação imediata. Podemos dizer que, estruturalmente, ao longo da vida, podemos desenvolver a capacidade de lidar com buscas de longo prazo e com as perdas inerentes ao cotidiano, criando uma saúde emocional mais robusta e com menores chances de cair nas armadilhas do consumismo.
Quando começa a construção da capacidade de lidar com as perdas?
No entanto, essa construção começa desde cedo e depende da educação familiar. Crianças e adolescentes que aprendem a lidar com as perdas se estruturam emocionalmente de forma mais saudável. A cada dia, vivemos perdas: A perda do dia que passou, as transições de fase no desenvolvimento humano, renúncias inerentes às escolhas que fazemos, entre outras. Todas perdas decorrentes do processo da Existência. Sempre que escolhemos algo, abrimos mão de outra coisa. A vida, em sua essência, é feita de perdas. A Morte, por exemplo, é uma inevitabilidade que nos confronta do início ao fim. Vivemos com a ideia de que um dia enfrentaremos a morte, mas numa Sociedade que só valoriza a Vida, fugimos tanto deste conceito que passamos a crer na vida eterna.
Quando, no processo educacional, os pais evitam que os filhos experimentem perdas e constantemente satisfazem seus desejos, eles acabam impedindo o desenvolvimento de uma busca saudável por parte da criança. É justamente através da perda que a criança aprende a buscar, e, por meio da busca pelo conhecimento, faz acontecer meios para suprir as perdas.
Se tudo chega facilmente, sem esforço, a criança não tem motivo para construir suas próprias conquistas. Se, ao longo da vida, a pessoa não aprende a lidar com as perdas, ela poderá desenvolver uma estrutura emocional frágil, sempre associada ao desprazer e ao sofrimento dum vazio interior, levando tal fragilidade emocional a possivelmente se manifestar em diversos transtornos. É interessante notar que crianças que enfrentam dificuldades de saúde nos primeiros anos de vida tendem a desenvolver maior resistência no cotidiano. Isso acontece porque os limites impostos pela saúde nos colocam em situações contínuas de perda, muitas vezes com risco de vida.
Se você é uma pessoa que tem dificuldade em lidar com perdas e se apega excessivamente ao consumismo, é importante buscar práticas e hábitos que permitam aprender a abrir mão de certos desejos e viver com menos. A princípio, você pode sentir ansiedade por estar se abstendo de algo, mas com o tempo poderá experimentar uma sensação de prazer diferente, que vem do fortalecimento da sua estrutura emocional.
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11/11/2024 16:36:58 9
Vivemos numa Sociedadede Consumo na qual as perdas são negadas e o ganho é ressaltado, frequentemente associando as primeiras àideia da frustração, enquanto o prazer parece estar no ganho constante. O que importaé sempre vencer,e a satisfação se dá apenas em conquistar. A partir desta dinâmica, somos constantemente bombardeadospor estímulos ao consumo, os quais sãopromovidos pela Publicidade. A ...
Psicologia 06/11/2024 07:57:48
O foco do Novembro Azul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estão diretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao Machismo Estrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens na Sociedade. Por conta deste elemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido a fatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de toque) até a ideia de que fazer este tipo de prevenção é exagero e frescura. Diante desta situação, já me deparei com falas machistas, como “Isso é coisa de mulherzinha, que sempre querem ir a médicos...” e “Vou procurar uma médica para fazer o toque em mim, vai que rola...”, reiterando esta problemática.
É necessário trabalhar a prevenção ao Câncer de Próstata a partir do debate sobre a questão do homem na Sociedade como um todo - e aqui refiro ao todo de uma Sociedade Brasileira calcada num machismo que perpassa pelos homens primeiramente e também por uma posição de submissão de muitas mulheres. Deve-se pontuar, inclusive, esta problemática para as mulheres que ensaiam retrocesso pela indução de muitas seitas cristãs espalhadas pelo Brasil, as quais acentuam a ideia de que a mulher precisa seguir seus maridos e estarem sujeitas à eles, mesmo diante de vastos avanços para a eliminação do Patriarcado. Uma tendência ultraconservadora associada, inclusive, à política dentro da ideologia de extrema direita.
Estrutura machista e o mal que causa ao masculino
Com a estrutura machista, todo poder é dado ao homem. Isto fica evidente nas muitas instituições sociais no Brasil, onde estes ainda representam o gênero dominante, desde a política, poder judiciário, poder público, poder legislativo, universidades, religião, e até escolas de samba. Só para termos uma ilustração clara, na minha profissão de Psicologia, quase a totalidade dos profissionais são mulheres e, ainda, quem afere os melhores resultados financeiros no exercício profissional são os psicólogos.
Sendo assim, este conceito do “homem macho” que habita em nós (homens) por uma longa história de dominação na Sociedade deve ser dissolvido e transformado em um cidadão dignamente masculino e parceiro das cidadãs femininas, se baseando no diálogo pleno com as múltiplas orientações de gênero existentes na Sociedade. Porém, a ideia de dissolver o Machismo Estrutural parece causar forte ameaça ao público masculino adulto por seu apego a uma posição de poder e domínio da qual não querem abrir mão, acentuando esta problemática.
A partir de consultas de avaliação e diagnóstico ao câncer de próstata via método tradicional, tenho certeza que esta demanda não vai avançar. Ficaremos presos apenas ao processo clínico, como se cada homem se resumisse a uma grande próstata. Tenho passado por alguns exames destes anualmente e sei que o profissional ali não está lhe vendo como um cidadão inserido numa Sociedade. Há um olhar focado apenas no específico corporal. Até a leitura dos exames de sangue sugeridos é visto não em sua integralidade, com o processo sendo feito de forma tão rápida que o profissional sequer olha para seu rosto. E isto no meu caso específico, que ainda consigo pagar um plano de saúde. Imagine dentro de um SUS sucateado, que não está dando conta nem das necessidades básicas de saúde por uma miríade de fatores.
Diante destas observações, precisamos falar, sim, das várias instâncias e do fato de que uma pessoa não pode ser vista apenas no específico corporal. Como as campanhas de prevenção a qualquer tipo de doença focam muito no fisiológico, observo que estão atingindo muito pouco a consciência preventiva e de uma conexão integral do ser humano ao todo que compõe seu existir. E, se não nos posicionarmos no pensar a saúde do homem para além do fisiológico, o Novembro Azul pode (deliberadamente ou não) inclusive acentuar o machismo do homem pela via da virilidade e da potência sexual, tipo: -“faço os exames com medo de ‘brochar’... .
Mas como dissolver o Machismo Estrutural?
Você que está lendo este texto, que pode ser um homem ou uma mulher e que pode ter um parceiro homem, ou filhos homens ou alunos homens, parentes homens, etc. Como agir para dissolver a estrutura machista de nosso referencial cultural histórico? Vou passar aqui alguns pontos que podem ajudar:
1) Ao homem, reconhecer seu machismo em teoria e prática, pois uma coisa é o discurso antimachista, outra coisa é a prática. E, à mulher, observar se está enquadrada no patriarcado em que ela muitas vezes ressalta a posição da submissão ao homem.
2) Ao reconhecer, levantar os comportamentos que externam este machismo. Eu já fiz uma lista ampla de comportamentos que pretendo estar antenado para eliminar. E esta atitude deve ser uma pauta nesta construção. Vou lhes dar um exemplo: Tenho tendência de verbalizar palavras como “caralho”, “cacete”, “porra”, entre outras. Até para falar expressando algo que denote muito valor, solto um “bom pra caralho”. Lembro que, numa situação, assistindo ao jogo do meu time de coração (Corinthians) soltei estas falas no meio de um grupo de pessoas que também tinha mulheres, levando minha esposa a chamar minha atenção. Eu refutei. Até que tomei consciência e desejo de eliminar o meu machismo estrutural, entendendo que há peso até na forma de se xingar, ou comentar expressões de fortes sentimentos. É preciso se posicionar para eliminar este comportamento . Este meu exemplo pode ser banal, mas é representativo de uma estrutura. E o que é estrutural no comportamento de uma pessoa é revelado nas formas mais banais, em lapsos de linguagem, chistes, atos falhos, como já nos ensinou Freud em sua construção da teoria psicanalítica.
3) Estando em ambientes de trabalhos, observar se as condições de trabalho são equivalentes entre homens e mulheres, e, se não forem, se posicionar em busca da melhoria deste ambiente.
4) Nas pequenas ações cotidianas, focando em sair da posição de ajudante da parceira conjugal e/ou quando mora com familiares, onde os serviços de manutenção da casa estão sob responsabilidade duma mulher, pois quem é ajudante apenas auxilia o responsável direto por algo, como, por exemplo, o ajudante de pedreiro. Assim, substituir o ajudar em casa por fazer junto, como um compromisso pessoal no coletivo.
5) Para quem tem filhos que vivem juntos em casa, organizar a distribuição de tarefas na manutenção da casa, no fazer as refeições, transformando o lar num compromisso de todos. Esta forma de fazer é muito difícil de acontecer em residências que têm uma funcionária doméstica. Muitos pais acham que se já tem alguém para fazer, então para que levar todos a fazerem, desta forma reinará a estrutura machista. Pior é quando o homem da casa não faz nada dentro de casa por já trazer o dinheiro de sustento da família. Agrava também esta posição de machismo quando a mulher que está na condição de também responsável pela família acredita que, de fato, o homem provedor não deveria fazer nada dentro de casa.
Poderíamos enumerar inúmeros posicionamentos que podem ser listados pelos homens para a dissolução do machismo estrutural, mas o importante é que estes passos e procedimentos sejam elencados por cada um. Mas sei que, se esta iniciativa depender dos homens, não veremos muitas mudanças. As mulheres que podem provocar os homens que estão ao seu redor, pois, no final, a corda do machismo estoura na mão delas. E se há um pequeno avanço no pensar a Sociedade machista em vista de uma derrubada deste adoecer coletivo, devemos muito aos muitos movimentos de mulheres que estão gritando e agindo nesta Sociedade.
Agora, se tudo isto parecer balela ou parecer uma utopia inatingível, aí sim justifica aos homens se colocarem como um animalzinho nas filas de exames e diagnóstico do Câncer de Próstata, para apenas se preocuparem com o aparelho reprodutor masculino e sua virilidade. Restar-lhes-á então apenas este orgulho e a impotência do ser no Coletivo.
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Psicologia 06/11/2024 07:57:48 13
O foco do NovembroAzul, a prevenção do Câncer de Próstata, sempre traz outras demandas que estãodiretamente relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito ao MachismoEstrutural, que ronda a mente da quase totalidade dos homens naSociedade. Por conta desteelemento, até a busca por tal prevenção fica comprometida devido afatores que vão desde conversas homofóbicas sobre os exames (principalmente o de ...
Psicologia 29/10/2024 10:12:54
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se ela deseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmos neste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamos falando, detalhar o que é este conceito.
Considero a saúde emocional o resultado da vivência cotidiana de uma pessoa que é capaz de fazer escolhas por si mesma, preservando sua forma de ser e se colocar no mundo. Lógico que esta capacidade de fazer escolhas é muito relativa, pois o sujeito que deseja, por exemplo, sair matando outras pessoas, estará ferindo uma norma coletiva constitucional em que pessoas não podem matar outras pessoas. Mas, se tomarmos a ideia de escolhas enquanto forma de ser no mundo, identidade pessoal e singularidade na forma de ser, então podemos entender que saber os motivos pela qual está se agindo em diferentes situações do cotidiano, usando da autonomia para a própria escolha e da configuração de um cidadão com melhores condições de pontuar saúde emocional.
Do contrário, quando uma pessoa é regida pelas escolhas de terceiros em vez das próprias, viverá em um processo contínuo de dependência, e, consequentemente, se pré-disporá para uma não-autonomia na sua estrutura e subsequentes decisões, abrindo um campo de possibilidades de sintomas. E tais sintomas são resultados diretos de estruturas emocionais que vamos construindo ao longo dos anos e que eclodem em quadros bem definidos de transtornos. Nesta altura, é possível questionar: Existem pessoas que se encontram na capacidade de viver plenamente a saúde emocional? E a resposta é simples: Sim, existem.
Como viver plenamente a saúde emocional?
Se este caminho não fosse possível, não teria sentido a Psicologia e suas várias formas e tendências de desenvolvimento teórico e técnico. O problema é que confundimos a questão de vivenciar a saúde emocional com não passar por sofrimentos, dúvidas ou problemas. Pelo contrário, o sujeito que se apresenta com saúde emocional não vai negar seus problemas e desafios a superar, mas vai entender os motivos e se posicionar sobre eles, assumindo uma escolha no processo. Exemplo: Pessoas que estão com sintomas de depressão, mas conseguem entender sua situação e busca compreender a origem para se posicionar de modo a sair deste quadro. Neste exemplo, não estou dizendo que uma pessoa com saúde emocional não passe por uma depressão, mas que, ao trilhar o caminho da saúde emocional, a pessoa poderá passar por sintomas que ameacem a sua saúde, mas se colocará na busca se um caminho para sair da situação sintomática. Do contrário, alguém que não se enquadra no esquema de saúde emocional, vai negar a depressão e, consequentemente, não buscará ajuda.
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Psicologia 29/10/2024 10:12:54 21
Se perguntar para qualquer pessoa andando pela rua se eladeseja ter Saúde Emocional, lógico que a resposta será “sim”. Mas, ao pensarmosneste assunto em particular, precisamos colocar com mais clareza do que estamosfalando, detalhar o que é este conceito. Considero a saúde emocional o resultado da vivênciacotidiana de uma pessoa que é capaz de fazerescolhas por si mesma, preservando sua forma de...
Psicologia 22/10/2024 15:31:15
O desmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Não representa apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança de fase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica da pessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todos passamos por este processo e temos marcas em nossa personalidade (ou melhor, em nossa estrutura emocional) decorrentes desta fase.
Desde a fecundação, passando por toda a gravidez até chegar no processo de desmame, mãe e filho estão vinculados numa mesma estrutura psíquica, que podemos chamar de simbiose materno/filial, em que há uma inter-relação mútua. E, mesmo que uma criança não tenha sua mãe biológica, mamando em outra mulher e/ou via mamadeira, a interação simbiótica se dá neste longo ciclo de existir até o desmame. A configuração de mãe, para o entendimento da psicanálise, não está diretamente relacionada apenas ao processo duma relação biológica, pois os vínculos se estabelecem por laços afetivos. Assim, precisamos sempre ressaltar a mãe como aquela que faz presença afetiva e que, inclusive, pode não ser uma pessoa do sexo feminino. Por isso que, quando nos perguntam se um casal homoafetivo masculino pode adotar uma criança ainda bebê, podemos afirmar que sim.
O desmame vai representar a passagem de fase
Dentro das perspectivas da psicanálise a partir de Melane Klein, Winnicott e Dolto, assim como o próprio Lacan, que pouco escreveu sobre crianças, podemos entender que o desmame vai representar a passagem de uma fase de estabelecimento de vínculo estruturante para a entrada no processo da linguagem, das regras e, assim, da socialização. No texto de Lacan “Complexos Familiares” (1932), teremos uma clareza desta configuração e da importância do desmame para a evolução do sujeito na configuração de sua própria estrutura psíquica. Lacan vai dar o nome deste momento de “complexo do desmame”, onde mãe e filho são uma só pessoa. Mas então é possível questionar: “E as crianças abandonadas, que perderam o vínculo com a mãe desde o parto, e ou que foram bruscamente retiradas de suas mães, não vivenciaram este uma só pessoa em mãe e filho?”
Esta pergunta não deixa de ser complexa, pois, de fato, vemos com frequência a interrupção de vínculos de maneira tão catastrófica que podemos até não conseguirmos entender que uma criança desvinculada de sua mãe possa passar por este desmame de forma saudável - isto é, que a projete para novas etapas da vida de forma propulsora, estimuladora. E, de fato, vemos ser instauradas muitas “desestruturas” psíquicas por conta destas interrupções abruptas. Também, em muitos processos nos quais, mesmo tendo todas as estruturas de suporte, logística e referenciais de vínculos aparentemente saudáveis e/ou padronizados num modelo adequado, poderemos ter perdas de vínculos afetivos onde prevaleceu a logística e a funcionalidade materna.
Desta forma, é fundamental que todas as frentes de atendimento às crianças nos primeiros anos de vida sejam configuradas por profissionais com conhecimento da estrutura do desenvolvimento emocional no início da vida de uma criança em suas mais diversas instâncias, desde o atendimento ao pré natal, até ao trabalho de parto (hospital), creches, cuidadores, familiares e/ou profissionais de instituições de acolhimento de passagem. Todos os profissionais devem estar devidamente preparados para a manutenção de laços afetivos.
Por isso, não basta ter uma graduação ou formação técnica para trabalhar com crianças. É preciso ter potencialidade para acolher de maneira que o profissional seja a extensão uterina da mãe pois, da fecundação até ao desmame, a criança estará absorta numa interação interina que vai se romper no desmame. Posto esta demanda, apresentarei aqui algumas prevenções importantes para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável. Lembrando que viável, em psicanálise, não representa livre de traumas e/ou conflitos, mas que possa potencializar a construção de uma estrutura psíquica que se evolua para uma autonomia de identidade, de singularidade.
O que observar para que o processo de desmame aconteça dentro de uma estrutura viável
Na Pediatria, se preconiza o desmame aos 2 anos de idade, levando-se em consideração as demandas biológicas e vitais numa sociedade com altos índices de famílias em estado de pobreza. Este critério colabora para que, pelo menos, o sujeito tenha melhor estrutura fisiológica. Mas, sendo esta uma necessidade fisiológica, é necessário estar atento para que o desmame tardio não esteja carregado de dependência simbiótica e dificuldade de rompimento da criança com sua mãe, criando uma disfunção na autonomia da criança.
Esta demanda também pode se dar mesmo que a criança não seja amamentada no seio materno, mas via mamadeira. Dentro do desenvolvimento da estrutura psíquica onde não podemos ver apenas demandas biológicas, o melhor caminho é desmamar uma criança aos seis meses de idade, ou com a aparição dos dentes, pois deste ponto em diante, o ato de amamentar torna-se sofrível para a mãe. Vale ressaltar que, mesmo que seja um processo via mamadeira, a perspectiva de avanço da criança para desenvolvimentos de novas habilidades e buscas justifica o desmame. Você já deve ter visto muitas crianças bem desenvolvidas apegadas em mamadeiras e até objetos similares, vide a chupeta.
O desmame tem, em si, o rompimento deste ciclo simbiótico para a entrada na relação com terceiros, onde a criança descobrirá que existe um mundo para além da figura materna. Retardar este desmame é potencializar o não-crescimento e não-estabelecimento de novos e outros vínculos. E este processo, quando não ocorre, pode predispor a criança a atrasos em seu desenvolvimento social e cognitivo. Desmamar é se encontrar com o que está ao seu redor, e dar asas a buscas, inclusive pelo conhecimento.
Ao longo dos anos e da evolução das formas de se viver em Sociedade, muitos mitos sobre o processo do desmame foram sendo formados no meio popular, tais quais: A fixação do ser humano ao seio feminino (principalmente nos homens), fator que não tem equivalência com a amamentação e referem a outra demanda na vida do adulto, levando à erotização do ato de amamentar, dificultando ainda hoje para que mulheres ofereçam seus seios aos filhos bebês em ambientes públicos; Que o desmame pode levar a uma fixação alcoólica, por não ter desmamado (ou pelo trauma do desmame), num equívoco grosseiro, visto que o alcoolismo é uma doença de estrutura fisiológica; Fixação ao ato de fumar, como se o indivíduo fumasse para reviver o ato de amamentar quando, na verdade, é um hábito associado às químicas compostas no cigarro para gerar dependência física; dentre muitos outros mitos.
De tudo que discorri aqui neste texto, cabe ressaltar que a maior importância do desmame está categoricamente na construção dum sujeito que é colocado ou impulsionado para a construção de sua autonomia. Lembrando que a autonomia deve ser entendida para cada etapa da vida humana. A autonomia de um bebê de oito meses é diferente de uma criança aos 7 anos, ou de um adolescente de 13 anos, como também de um adulto de 40 anos, e assim sucessivamente. Mas a engrenagem da autonomia está de fato pontuada originariamente no processo de desmame.
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Psicologia 22/10/2024 15:31:15 44
Odesmame tem uma importância estruturante na vida de todas as pessoas. Nãorepresenta apenas uma demanda biológica, configurando uma etapa de mudança defase que terá forte importância na configuração da estrutura psíquica dapessoa, independente da filiação dos seios nos quais foi amamentada. Todospassamos por este processo e temos marcasem nossa personalidade (oumelhor, em nossa estrutura emociona...
Psicopedagogia 15/10/2024 17:40:18
O processo de proibir celular nas escolas já vem sendo adotado por vários países, como Holanda, Dinamarca, Finlândia, Espanha, Suíça, Itália, Portugal e México. Esta decisão é decorrente de diversos estudos longitudinais que apontaram que a presença do celular em sala de aula, e até mesmo com o aluno na escola, trouxe perdas do potencial de concentração e aprendizado. Países que, inclusive, utilizaram o celular num primeiro momento dentro da dinâmica do processo educacional, concluíram que os resultados não foram satisfatórios.
Em 2023, um relatório da UNESCO (setor da ONU focado na Educação) apontou que a simples aproximação dos alunos com o celular já predispunha a distração do processo de aprendizado, provocando impactos negativos, como indicado no PISA (Relatório de avaliação internacional de estudantes) daquele ano. A partir deste relatório, a UNESCO indicou aos países a retirada dos celulares nas escolas junto da revisão de eletrônicos e internet no processo educacional.
Após o resultado de tal estudo, a Prefeitura do Rio de Janeiro (então sob a gestão de Paes) realizou, por meio da Secretaria Municipal de Educação, uma consulta pública entre as famílias usuárias do sistema municipal, chegando ao seguinte resultado: 83% apoiaram a proibição do celular, 11% apoiaram parcialmente e 6% foram contra. Tais dados levaram o município a proibir o celular nas escolas municipais, sendo a primeira iniciativa do tipo no Brasil.
Atualmente, o Ministério da Educação, sob a gestão do Ministro Camilo Santana, está com a elaboração de um projeto de lei para proibir o uso do celular nas escolas públicas e privadas do Brasil em andamento. Como não temos uma regulamentação federal sobre esta demanda, um projeto de lei específico sobre este tema vai colaborar para o respaldo jurídico das instituições de ensino em proibir tais aparelhos nas escolas, especialmente diante do fato de que há famílias que defendem o celular nas escolas como forma de ter acesso aos filhos por alguma eventualidade ou intercorrência. Desta forma, a ausência de critérios definidos em lei federal coloca o corpo pedagógico, por muitas vezes, em rota de colisão com as famílias dos alunos, resultando até em ocorrências de ameaças de processo judicial para tal liberação.
Motivos do porque sou a favor da proibição
Eu sou defensor da proibição do celular nas escolas, em todos os ambientes e situações. Desde salas de aula até espaços de convívio extraclasse. E, aqui, trago alguns argumentos para defender esta ideia:
1) Com o celular na bolsa ou bolso, mesmo que esteja desligado, o aluno fica ligado ao desejo de usar o aparelho, pois está o tempo todo conectado fora do ambiente escolar. Ao chegar na escola, mesmo que tenha as regras de proibição, a dependência criada pelo uso intenso no cotidiano faz deslocar tal para o manuseio do celular. Se esta pulsão acontece até com adultos, imagine com crianças e adolescentes, os quais têm forte tendência a criar dependências de hábitos prazerosos por ainda não estarem plenamente maduros para escolhas mais criteriosas e que requerem autodisciplina.
2) Mesmo que não se use em sala de aula, as crianças e adolescentes tendem a se fixar no celular e esquecem de interagirem com os colegas quando estão em atividades abertas na escola e/ou intervalos. Isto tem trazido muitos problemas até mesmo nas empresas, onde ninguém mais se comunica com os colegas de trabalho nos intervalos por estarem ligados ao celular.
3) Imaginar que crianças e adolescentes já estão aptos a entenderem e seguirem uma regra livremente, por plena consciência, é desconhecer o desenvolvimento psicológico destas duas faixas etárias. A autonomia para a livre escolha de procedimentos e hábitos só será possível plenamente na vida adulta. Mesmo assim, é preciso identificar no meio adulto quem, de fato, atingiu um nível de maturidade plena para ser autônomo nas suas ações.
4) Lembrar que a inclusão do celular no sistema de ensino já foi testada e os resultados não foram satisfatórios. Precisamos entender que o processo de aprendizado se dá pela entrada nas teorias e na percepção dos conhecimentos na vivência prática do que foi ensinado. Como temos uma escola ainda muito restritiva e conteudista na forma de desenvolver o processo de aprendizado, cria-se nos alunos um forte processo de desestímulo ao aprendizado. E, ao recorrerem à internet, vão encontrar mil tutoriais de que são dinâmicos e quase fazem pensar que o professor não serve para nada. Assim, a presença do aparelho vai acentuar o desinteresse por aquilo que o professor está propondo e distanciando o aluno desta relação professor/aluno para o aprendizado.
Toda esta temática tem emergido a simples e clara noção de que o aprendizado se dá por vias muito simples e por interatividade dinâmica com o que se está ensinando e aprendendo. E sem dúvida que, se esta proposta do Governo Federal for aprovada no Congresso Nacional, muitos professores terão que rever a forma de se posicionarem na transmissão de conteúdo por não estarem com forte dinâmica no processo educacional e acabarem se escorando no celular como um falso recurso de aprendizado. Da mesma forma, as escolas precisarão se reinventar para melhor dinâmica de conteúdos em sala de aula.
Mas então as escolas não poderão usar a tecnologia de informação com os alunos no processo educacional?
Uma coisa é o celular, outra coisa é a tecnologia para o aprendizado. Para isso, as escolas precisam ter seus laboratórios de pesquisa estruturados e alunos beneficiados com equipamentos para tal finalidade. Mas é diferente de um celular, que representa mais um órgão do corpo humano na atualidade e coloca o sujeito conectado com o mundo na palma de sua mão. Tendo na escola um espaço de manuseio de interfaces de conexão, configura-se em uma outra perspectiva de processo de interação com a tecnologia. É utilizar a Tecnologia a serviço do aprendizado, não tornar o aprendizado um escravo da Tecnologia.
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Psicopedagogia 15/10/2024 17:40:18 38
O processo de proibir celularnas escolas já vem sendoadotado por vários países, como Holanda, Dinamarca, Finlândia, Espanha, Suíça, Itália, Portugale México. Esta decisão é decorrente de diversos estudoslongitudinais que apontaram que a presençado celular em sala de aula, e até mesmo com o aluno naescola, trouxe perdas do potencial de concentração e aprendizado. Países que, inclusive, utilizaram ...
Psicologia 08/10/2024 09:44:40
O ambiente escolar não é um espaço tão simples como possa parecer. Vemos, ao longo de um ano educacional, o adoecimento de muitos professores e funcionários deste sistema. Também muitos são os alunos que, ao longo de tal período, adoecem emocionalmente.
No entanto, não podemos atribuir o adoecer emocional no ambiente educacional apenas à falta de estruturas e/ou demandas políticas que, na maioria dos municípios brasileiros, deixa a educação esquecida, como se não fosse prioridade. Mesmo se tivéssemos a educação como prioridade no Brasil, teríamos adoecimentos emocionais a partir deste coletivo. E aqui que foco o tema deste texto.
Quando digo que a Escola é um espaço do encontro das neuroses familiares, me refiro ao fato de que, no seio de cada família, habitam estruturas neuróticas pois, se assim não for, não há família nos moldes da nossa estrutura ocidental.
Porém, devo estabelecer aqui uma breve descrição, a meu entender, do que é neurose: Neuroses são sentimentos que derivam em comportamentos atípicos que, geralmente, estão associados a demandas negativas e que tiveram seu processo de fixação na estrutura psíquica do indivíduo. Podemos assim, confirmar que o estado “normal” de uma pessoa é ter neuroses particulares, tornando o indivíduo um neurótico, querendo ou não.
O coletivo das pessoas na comunidade escolar é o encontro de múltiplas neuroses
Pensando que a Escola é o encontro de pessoas derivadas de famílias, o coletivo das pessoas na comunidade escolar é o encontro de múltiplas neuroses. Uns com mais, outros com menos, mas todos com alguma neurose. Assim, ao encontrar-se diante dos desafios de despertar o aprendizado, teremos uma convergência de neuroses manifestas que transformam a Escola num espaço de tensões.
Imagine professores passando de 40 a 50 horas semanais em torno de uma comunidade escolar. Imagine as dezenas de crianças que chegam de suas casas com vivências diversas de relacionamentos com diferentes cargas e problemáticas. Profissionais técnicos e o corpo geral de servidores tendo que relacionar com um quantitativo enorme de crianças, também levando para dentro da Escola suas preocupações e neuroses pessoais. O resultado é um campo minado de emoções com forte carga de experiências negativas e fatores mal-elaborados por cada indivíduo nesta configuração.
Tenho plena convicção de que os profissionais que atuam no sistema educacional escolar deveriam ser os melhores remunerados, dada a grande carga emocional que absorvem por um longo período de tempo ao longo dos dias e das semanas, além de merecerem espaço de escuta e acolhida de suas próprias demandas emocionais por meio dum processo contínuo de apoio e supervisão.
A ilusão de que a escola é um local de liberdade, leveza e alegria, é um mito!
A ilusão de que a Escola possa ser um local de liberdade, leveza e alegria, é um mito. Se alguma escola vende esta imagem, está fazendo um jogo publicitário. Contudo, podemos fazer neste campo minado de emoções, um processo de gestão que possa amenizar os conflitos, acolher as diferenças e estabelecer projetos que incluam continuadamente as forças psicológicas características do ambiente escolar.
De cara, já podemos entender a emergência de profissionais de Psicologia Educacional para introduzir meios para a comunidade escolar e lidar com esta realidade que é inerente a tal espaço. Sabemos que temos uma lei federal aprovada e sancionada que prevê tais profissionais em cada unidade escolar, seja pública ou privada. Tal lei só não foi ainda sistematizada para se tornar uma realidade.
Colocados estes pontos, neste momento podemos indicar profilaxias para que o encontro das neuroses familiares estabelecido na comunidade escolar seja entendido e estabelecido dentro de uma possível convivência favorável ao processo de aprendizado com menor índice de estresse. Sendo assim, aponto aqui alguns passos:
1) Reconhecimento dos agentes administradores do sistema educacional que a Escola é, de fato, um espaço de encontro das neuroses. Muitos negam que portam neuroses pessoais, e este tipo de negação acaba penalizando alguns que as manifestam e viram bodes expiatórios de tal espaço quando incorporam doenças emocionais.
2) Transformar, de fato, o ambiente da Escola em uma estrutura agradável, com estímulos de cores e plena manutenção das estruturas físicas, com força no ambiente higienizado e visivelmente bem-cuidado.
3) Ter uma equipe interdisciplinar que gerencie projetos de integração e trocas de experiências em torno da comunidade escolar, contemplando não apenas quem está dentro da escola diariamente, mas os familiares e toda a comunidade em torno da Escola. Aqui, cabe a equipe de Profissionais da Psicologia para a escuta das manifestações emocionais dentro deste coletivo;
4) Abrir a Escola para ações que beneficiem a comunidade local, onde a mesma possa usufruir de sua estrutura para além dos horários letivos.
5) Ter produções artísticas e esportivas como um mecanismo de promoção e favorecimento da eliminação do estresse acumulado;
6) Revisar a carga horária de trabalho dos profissionais em torno da comunidade escolar, permitindo tempo de pesquisa, estudos continuados numa melhor distribuição de horas em sala de aula e atividades de capacitação pessoal, principalmente para o corpo técnico e de professores;
7) Eliminar as práticas religiosas como válvula de escape para amenizar as manifestações das emoções no ambiente escolar, pois neste coletivo há diversidades na forma de vivenciar e praticar a religião, e o espaço escolar é plural. As práticas religiosas que sejam vividas por cada família conforme suas escolhas pessoais.
Lógico que são dezenas de pontos a serem pensados em torno de ações para que as neuroses manifestas neste coletivo sejam acolhidas, entendidas e transformadas. Mas, mesmo que se chegue a um modelo plenamente satisfatório de Escola ideal, continuará havendo as manifestações das neuroses individuais. Pois, se assim não for, podemos ter a certeza que dentro desta Escola hipotética, pessoas vivas ali não se encontram mais.
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Psicologia 08/10/2024 09:44:40 32
O ambiente escolar não é um espaço tão simples como possa parecer.Vemos, ao longo de um anoeducacional, o adoecimento de muitos professores e funcionários deste sistema.Também muitos são os alunosque, ao longo de tal período, adoecememocionalmente. Noentanto, não podemos atribuir o adoecer emocional no ambiente educacionalapenas à falta de estruturas e/oudemandas políticas que, na maioria dos mu...
Psicologia 01/10/2024 14:59:31
No artigo que publiquei neste site no dia 17/09/2024, "Ser mãe é profissão?", falei sobre a atividade de ser mãe enquanto profissão e as dificuldades que emergem desta posição de mulher mãe. No artigo do dia 23/09/2024, "Quando ser mãe é sofrimento", desenvolvi os aspectos de sofrimento que uma mulher vivencia em torno do ser mãe. Agora, vou falar do prazer em ser mãe. E, para esta demanda, trarei também na forma de tópicos como tal prazer evolui na construção de uma identidade materna para a vida de uma mulher.
Primeiramente, a pergunta: É possível ser mãe pontuando mais prazer que sofrimento? Posso garantir que sim. No entanto, é ousadia um homem que nunca será mãe afirmar isso de maneira tão categórica. Lógico que não tenho lugar de fala nesta demanda, mas tenho lugar de escuta. Minha clínica psicológica dimensionada na pluralidade entre crianças em tenra idade até idosos, perfazendo diferentes faixas etárias num mesmo dia de atendimento e tendo mulheres como maioria desta demanda clínica - visto que ainda são delas o legado da busca por ajuda e apoio psicológico, num reflexo do machismo que faz com que a maioria quase que absoluta dos homens fujam de um apoio psicológico em nossa Sociedade.
Sendo assim, vejo-me na condição de pontuar alguns elementos que me levam a confirmar que, sim, é possível pontuar mais prazer do que sofrimento na vivência das mulheres em serem mães. Porém vou descrever aqui alguns passos ou elaborações que uma mulher mãe precisa passar, elaborar e vivenciar, como:
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Psicologia 01/10/2024 14:59:31 40
No artigo que publiquei nestesite no dia 17/09/2024, "Ser mãe é profissão?", faleisobre a atividade de ser mãe enquanto profissão e as dificuldades que emergemdesta posição de mulher mãe. No artigo do dia 23/09/2024, "Quando ser mãe é sofrimento", desenvolvi os aspectos desofrimento que uma mulher vivencia em torno do ser mãe. Agora, vou falar doprazer em ser mãe. E, para esta demanda, trarei tam...
Psicologia 23/09/2024 13:50:21
Neste texto, vou enumerar alguns pontos, dentre milhares de outros possíveis, que entendo como demandas que mulheres carregam na condição de mães e que as colocam em situação de sofrimento no exercício desta função. Seguirei uma sequência didática, lembrando que esta, na vida cotidiana, não diz respeito a uma visão universalizada, mas me parece muito relevante por sua natureza quase comum no exercício da maternidade:
Fórmulas mágicas para despistar um possível sofrimento materno
A partir destes pontos, vale observar que duas “fórmulas mágicas” foram criadas pela Sociedade para despistar estas formas de sofrimento e inibir as mulheres na verbalização coletiva de tais mazelas: A primeira, consiste na disseminação do mito do amor materno incondicional, o encanto de ser mãe independente de problemáticas; A segunda, por sua vez, consiste na noção de que ser mãe é um designo de Deus para prover e manter a família como principal elemento estruturante da criação divina. Desta forma, poucas são as mulheres que verbalizam seus pensamentos e revelam seus sentimentos negativos no processo educacional dos filhos, pois, se assim o fizerem, correm o risco de serem condenadas e vistas como péssimas mães. Consequentemente, ficam reprimindo um sentimento até explodir num sintoma emocional.
O melhor caminho para lidar com os percalços e pesos inerentes ao processo da maternidade dentro da Sociedade é comunicar este sofrimento e estabelecer laços com outras mulheres mães, se encontrando a partir da troca de experiências. Isto leva ao reconhecimento de que ser mãe também é vivenciar sofrimentos, e que o mito do amor materno é uma estratégia machista de sedução para que as mulheres continuem cultivando o orgulho divido em serem mães, e assim correndo o risco de passarem a vida apenas nesta condição e apenas cumprindo um papel designado por uma Sociedade que as enxerga de maneira extremamente restrita.
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Psicologia 23/09/2024 13:50:21 56
Neste texto, vou enumeraralguns pontos, dentremilhares de outros possíveis, que entendo como demandasque mulheres carregam na condição de mães e que as colocam em situação de sofrimento no exercício desta função. Seguireiuma sequência didática,lembrando que esta, na vida cotidiana, não diz respeitoa uma visão universalizada, mas me parecemuito relevante por sua naturezaquase comum no exercício da...
Psicologia 17/09/2024 14:47:34
Na Sociedade pautada no machismo estrutural em que vivemos, o papel de cuidado do filho é delegado para as mulheres. As mães acabam se acumulando na função quase como no exercício de um ofício titular a partir da condição patriarcal imposta nesta estrutura machista na qual a mulher está implicada, levando-a assumir o papel de cuidadora mesmo que não queira, não raramente em decorrência da plena ausência do pai na educação dos filhos. E esta lógica assume uma configuração ainda mais cruel quando tal mulher mãe esta em processo de separação conjugal e há uma ausência mais forte ainda do pai, ex marido. Igualmente agravante é quando, de fato, a mulher vive sozinha com filhos para cuidar. Sendo assim, se torna lógico que ser mãe não é um exercício profissional, porém, na prática, é como se fosse.
Sabemos que, nos atuais parâmetros sociais, a mulher é a que mais tem perdas de sua própria liberdade, também sofrendo mais pelas múltiplas formas de assédio (tanto moral quanto sexual) e agressão (vide o próprio feminicídio). Porém, mesmo diante destas circunstâncias, a mulher precisa delimitar seus diferentes papéis na Sociedade enquanto cidadã, profissional, mãe, esposa etc. Pois, se assim não o fizer, estará incorporando o papel da maternidade como uma obrigação que vai evoluir para uma postura profissional, levando a várias problemáticas na relação com seus filhos, tais quais:
1) Ao ser apenas mãe, vai estender seu trabalho profissional para dentro de casa, continuando num processo de produção e metas a serem atingidas. Assim, vai desconectar-se do sentido materno na relação com seus filhos e criar forte bloqueio nos laços afetivos com os filhos. Além de, ao longo dos anos, construir um estresse de trabalho sem ter um parâmetro diferencial entre ambientes profissional e familiar, também predispondo um possível Transtorno de Burnout. E quem vai perder com tudo isso é a mulher e os próprios filhos, que não conseguirão sentir nesta, uma posição de vínculo afetivo diante desta conduta.
2) Nesta não-delimitação de seus diferentes papéis, também acaba fazendo o jogo de sustentação de ser aquilo que a Sociedade machista quer dela: ser apenas mãe, distanciando cada vez mais o homem pai de sua função paterna. É sustentar uma estrutura que, de fato, a escraviza.
3) Ao ter a visão do filho visto como um trabalho / profissão mãe, criar filhos passa a ser enfadonho, penoso, um labor desgastante. Assim, o cansaço no ser mãe aumenta de forma exponencial, causando, por muitas vezes, aquela sensação de não desejar nem retornar para casa mais.
É sempre bom lembrar que filhos partem, mas a mulher permanece.
Ainda prevalece, nesta posição de ser mãe, a escolha de ser. Mesmo que a maternidade e a criança cheguem sem desejar, assumir a condição de ser mãe vai fazer a diferença no estado emocional de uma mulher. E, se esta escolha estiver clara na ideia de simbolizar mais um elemento da vivência da mulher e não apenas a única vivência, a condição de ser mãe no momento em que é preciso assumir tal posição será de muito prazer, sim. Os desprazeres naturais de toda escolha acontecerão, sem sombra de dúvidas. Mas, ao ser escolhido, se mantido na posição de mãe quando colocada esta condição, fará enorme diferença.
Aí sim, a mulher conseguirá se colocar com afetos e carinhos diante dos filhos, se posicionar em regras e limites, brincar com o filho e usufruir deste brincar, criando o filho para a construção de sua autonomia. Desta maneira, um dia, não será mais a mãe na condição de estrutura para o filho, mas sim uma amiga. Parceira para com um indivíduo que, quando adulto, seguirá seu caminho. Do contrário, se a mulher se desfaz de sua identidade para se colocar apenas na condição de mãe, terá instituído um grande desprazer na relação com os filhos e na não-percepção de si mesma como mulher.
É sempre bom lembrar que filhos partem, mas a mulher permanece. Se, ao longo da trajetória como mãe, a mulher esqueceu de si mesma enquanto mulher, ficará vazio ao filho partir e se terá apenas o tal do “ninho vazio”.
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Psicologia 17/09/2024 14:47:34 94
Na Sociedade pautada no machismo estrutural em que vivemos, o papel decuidado do filho é delegado para as mulheres.As mães acabam se acumulando na função quase comono exercício de um ofício titular apartir da condição patriarcal imposta nesta estrutura machista na qual a mulher está implicada, levando-aassumir o papel de cuidadora mesmo que não queira,não raramente em decorrência da plena ausênci...
Psicologia 09/09/2024 09:25:42
Para falar de Setembro Amarelo, sempre trago elementos voltados para os aspectos da Psicologia e como os profissionais da saúde mental lidam com esta temática. Mas, neste texto em particular, começarei com um testemunho familiar de quem teve pessoas próximas que se suicidaram.
De início, indico o filme “Elena”, dirigido por Petra Costa, também diretora do documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020. Porém, pouco ouvimos falar deste filme, assim como pouco são os pronunciamentos ou publicações de familiares falando sobre suicídio no seio da família por representar uma demanda de muito sofrimento para os envolvidos. Petra Costa fala do suicídio de sua irmã, fazendo uma narrativa bem esclarecedora sobre a experiência deste tipo de ocorrência em família ao partir de sua experiência pessoal para desenvolver uma perspectiva social e de saúde pública. Vale a pena conferir.
Identifiquei-me muito com este filme por também ter vivenciado experiência similar a partir do suicídio do meu irmão, Edson. Na época, ele tinha 22 anos e eu, 21. Dormíamos no mesmo quarto e tínhamos muitas atividades em conjunto na cidade onde nascemos e morávamos. Fiquei três dias em claro procurando por meu irmão ao lado de nossos respectivos amigos. Edson era de muitos amigos e muito extrovertido, trabalhador e parceiro. Um episódio que assustou a todos na época, pois o perfil dele não condizia em nada com o que se falava do perfil de um suicida potencial. Passaram-se, pelo menos, 20 anos para que minha mãe recuperasse seu emocional e, até hoje, temos dificuldade de falarmos a respeito em nosso núcleo familiar e de amizades.
Logo em seguida, parti para estudar Psicologia após uma forte ascensão como técnico agrícola na época, levando muitos a acreditarem que eu desejava seguir este caminho em função do ocorrido. No entanto, acredito que este episódio referente ao meu irmão só fortaleceu um desejo, pois o fôlego necessário para sair de uma carreira profissional já bem sucedida ainda bem novo no intuito de começar um curso longo e complexo (como em algumas universidades ainda é), de fato só foi possível com tal ocorrência.
Desta maneira, abordar o suicídio discutindo apenas o ato, é ineficaz por não atingir o problema em sua essência.
Ao longo de meus quase 34 anos de exercício profissional, atendi muitos pacientes suicidas em potencial e uma quantidade enorme de pacientes que, se não tratassem a depressão, estariam hoje mortos pelo suicídio. Sabemos que 80% dos que chegam ao suicídio são pessoas que estavam com tal condição. Sendo assim, a razão primária para o Setembro Amarelo, é a prevenção de enfermidades referentes à saúde mental no coletivo e o avanço no tratamento da depressão.
Mas, apesar de presenciarmos avanços no tratamento de depressão, também observo muita especulação medicamentosa a partir do alto índice de pacientes que não conseguem metabolizar a medicação psiquiátrica de maneira a pontuar resultados. Pior ainda: Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), apenas 5,1% dos pacientes com depressão fazem psicoterapia. Diante destes dois dados, vemos muitos pacientes medicados, ou que “estão se tratando”, cometendo suicídio. Os índices de melhoria dos sintomas da depressão, associando medicação psiquiátrica e psicoterapia com psicólogas(os), chegam a mais de 60% de eficácia. Desta maneira, abordar o suicídio discutindo apenas o ato, é ineficaz por não atingir o problema em sua essência. Temos um longo caminho a percorrer nas políticas de saúde pública para a demanda da saúde mental.
Meu índice de pacientes que chegaram a cometer suicídio é zero. Pontuo este dado não para me gabar, mas para evidenciar o quão importante a psicoterapia é para o tratamento da depressão. E, no meu caso em particular, este índice positivo se deve ao fato de que tais casos de risco desenvolveram uma boa psicoterapia, baseada nos instrumentos teóricos e técnicos da Psicanálise. E aqui vale frisar que a maioria das indicações dos médicos psiquiatras é de Terapia Cognitiva Comportamental, por apresentarem maior eficácia em relação a outras modalidades de psicoterapia.
Vale frisar que isso se deve pelo fato de que, em diversos casos, o profissional que manuseia a teoria psicanalítica comete o erro de analisar o paciente com depressão como se este estivesse em uma análise livre, chegando até a negar o suporte medicamentoso psiquiátrico. A meu ver, se, nas pesquisas, o método psicanalítico está com baixa eficácia no tratamento da depressão, é porque os profissionais responsáveis por manusear este método podem o estar fazendo de forma equivocada.
Psicoterapia para todos, ainda é um tabu!
Mas quantos são os equipamentos públicos, tanto na área da Saúde quanto da Educação, que estão oferecendo profissionais de Psicologia para o amplo atendimento da população? Até os planos de saúde estão dificultando este acesso aos seus clientes, delimitando quantidades irrisórias de sessões por ano, mesmo cientes que a maioria dos casos pode levar anos de tratamento. A psicoterapia para o tratamento da depressão tem recomendação mínima de uma sessão semanal (o ideal sendo duas), o que pode perpassar de 40 a 50 sessões no período de um ano. No entanto, muitos planos de saúde delimitam o tratamento a, aproximadamente, 20 sessões. E isto se agrava quando os planos de saúde burocratizam o ressarcimento de valor aos pacientes, sempre exigindo laudos e mais laudos. A partir destas noções, falar seriamente de Setembro Amarelo é falar desta logística social da saúde.
Podemos delimitar aqui algumas orientações para que a prevenção ao suicídio aconteça no seio familiar:
1) Não ter receio de falar sobre o suicídio na família;
2) Observar se, dentre os familiares, há pessoas desenvolvendo a depressão - e podemos fazer esta percepção pelo olhar - mesmo que, ao abordarmos tal pessoa, estejamos errados. Aqui, vale o ditado popular: “Melhor errar pelo excesso de cuidado do que pela falta.”
3) Se atentar à falta de contato afetivo. Prestar atenção em pessoas que, estando no núcleo familiar, ficam à parte de todos sem interação social, isolados em seus quartos e/ou cantinhos e alheios aos movimentos cotidianos da família. É necessário provocar o aproximar-se;
4) Identificar o sofrimento emocional por qualquer motivo que seja e insistir em levar a pessoa a uma entrevista psicológica e/ou avaliação psiquiátrica.
5) Não associar depressão a frescura e/ou ausência de Deus. Como somos um país de maioria da população cristã e de viés conservador, há uma narrativa religiosa ampla de que Deus vai curar todos os males a partir da fé. A partir desta ideia, corre-se o risco de não acontecer o milagre almejado e a depressão da pessoa ir se aprofundando cada vez mais quando o tratamento adequado pode ser uma forma do milagre acontecer.
6) Promover um ambiente familiar com o mínimo de repressão, lembrando que, aqui, repressão é diferente de limites. Fazer do ambiente familiar um local de alegria, de encontros saudáveis e sem opressão, a qual leva ao sofrimento.
7) Evitar brigas e discussões diante dos filhos, principalmente expondo questões pessoais de cada um e também gerando agressividade para com o outro. Pois as crianças e adolescentes captam internamente estes conflitos e passam a desenvolver o processo depressivo em silêncio e em isolamento.
8) Por final, dentre
muitas outras opções que poderia listar aqui, deixo uma que tem sido, de fato, motivo de muita
autoagressão, baixa autoestima e campo aberto para depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes, que é o acesso livre e intenso à internet e redes
sociais. Este campo deve ser planejado e
monitorado, com horários definidos de entrada e saída, sempre tendo um adulto próximo. Lógico que, aqui, os
adultos dentro de uma casa, precisam se avaliar se também não estão viciados nas
redes sociais. Cuidado com o o acesso livre e intenso à internet e redes sociais!
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Psicologia 09/09/2024 09:25:42 189
Para falar de Setembro Amarelo, sempre tragoelementos voltados para os aspectos da Psicologiae como os profissionais da saúde mental lidam com esta temática. Mas, neste texto em particular, começareicom um testemunho familiar de quem teve pessoas próximas que se suicidaram. De início,indico o filme “Elena”, dirigidopor Petra Costa, também diretorado documentário “Democracia emVertigem”, indicado...
Psicologia 26/08/2024 14:45:36
No dia 27 de Agosto de 1962, a profissão de Psicólogo foi regulamentada, sendo anualmente celebrada desde então. Há 62 anos, uma profissão que vem crescendo em número de profissionais e demanda. Graças ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e seus regionais espalhados pelo Brasil, os CRPs (Conselhos Regionais de Psicologia), temos hoje uma profissão atuante em diversas áreas do conhecimento e dos serviços. São várias especialidades que o sistema CFP reconhece e concede titulação por meio de especialidades regulamentadas e/ou provas de títulos.
Tive uma participação muito direta no sistema Conselho de Psicologia entre 2005 a 2013. Chegava de São Paulo, onde atuei no CRP 06 entre 1991 e 1995. Depois, iniciei minhas atuações no estado do Espírito Santo pela cidade de Pinheiros, seguindo com Nova Venécia, São Mateus, Linhares e, enfim, Vitória. Em 2005, participei da comissão de transferência do Conselho de Minas Gerais (CRP 04), ao qual o Estado do Espírito Santo pertencia, para constituir o CRP 16, que passou a representar o estado e para o qual fui eleito nos primeiros dois mandatos. Vi o nascimento da estruturação do Conselho de Psicologia no Espírito Santo, representando o interior do estado enquanto residia em São Mateus.
Minha participação nesta caminhada se deu por meio da Comissão de Comunicação do Conselho, a qual teve uma ação ímpar na conquista por direitos à cidadania e regulamentações do marco referencial da Comunicação no Brasil. Fui eleito em assembleia estadual no Espírito Santo, na Conferência Estadual de Comunicação para representar o estado na Primeira Conferência Nacional de Comunicação durante o Governo do Presidente Lula, em 2009. Tivemos uma vantagem de representatividade que estabeleceu laços incríveis para o Espírito Santo, pois o Jornalista Rodrigo Binot, o qual assessorava a comunicação do CRP 16 na mesma Assembleia Estadual de Comunicação, fora eleito delegado para Brasília pelo Sindicato dos Jornalistas, somando forças com o Professor Dr. Edgard Rebouças, da Faculdade de Comunicação da UFES e também delegado da Conferência Nacional de Comunicação e assessor do CRP 16 na Comissão de Comunicação que eu presidia. Dedico então tempo a esta pauta da Comunicação, participando junto do Sistema CFP nos processos de determinação de Classificação Indicativa para programas de TV e outros meios de comunicação, tornando-a uma normativa, assim como na discussão de limites para Publicidade Infantil, com a qual avançamos para proteger este grupo-alvo.
Outra contribuição possível nestes anos de atuação como conselheiro no CRP 16 foi por meio da participação na Comissão de Educação Inclusiva, na qual pudemos desenvolver grandes eventos anuais concentrados no mês de Abril no intuito de atentar a Sociedade à necessidade de regulamentações de leis para uma escola que caiba todos os mundos. Destas ações, evolui-se para a conquista da lei federal que garante um profissional de Psicologia e de Assistência Social em cada escola pública e particular. Este projeto foi recentemente aprovado como lei no Congresso Nacional e sancionado pelo Governo Federal, mas ainda não regulamentado para ação de fato.
O crescimento contínuo da Psicologia
Atualmente, as pautas de conquistas da Psicologia, principalmente nas demandas públicas, continuam sendo fortalecidas no Conselho Federal, nos posicionando com uma grande diferença dentre muitos outros Conselhos profissionais. Temos, na Psicologia, pautas bem definidas de criação de ações da categoria com foco na construção dum país marcado pelo exercício da Cidadania, pelo foco no Bem Público, qualidade de vida de seus cidadãos e no acesso irrestrito a estes pontos. E, hoje, atuamos com muita força no combate à homofobia, transfobia, feminicídio, racismo, etc. A Psicologia se encontra num movimento de crescimento contínuo, sendo um dos três cursos mais procurados para vestibulares, tendo média do Enem de 800 pontos nas universidades públicas.
Porém, ainda percebemos um grande número de cursos de Psicologia espalhados pelo Brasil que não oferecem uma formação de qualidade. Uma aluna no último período do curso me relatou que escolheu fazer estágio em clínica para crianças e adultos, tendo apenas trinta minutos de supervisão com um profissional para os seis pacientes que atende, com o agravante de tal dinâmica ser realizada em grupo com outros estagiários. Uma defasagem notável. E, infelizmente, o CFP ainda não conquistou o poder de participar das avaliações (e até aberturas) de cursos de Psicologia no Brasil, por ser responsabilidade direta do Ministério da Educação (MEC).
No entanto, as maiores ameaças para a Psicologia regulamentada e levada a sério dentro de uma perspectiva ética, a meu ver, dizem respeito à entrada cada vez maior de agentes na área da saúde mental que não possuem qualificação para atuarem neste território. Me refiro aos psicoterapeutas, psicanalistas, terapeutas holísticos, consteladores familiares, psicopedagogos e demais agentes que estão com clínicas abertas à deriva, sem nenhum processo de fiscalização em suas vendas de intervenções clínicas. Eles podem fazer tudo e de tudo enquanto nós, psicólogos, por sermos regulamentados, somos sempre alvos de fiscalização e penalização.
Neste campo, ainda estamos muito pouco articulados, e, pior ainda, parece-me que não é uma prioridade do sistema CFP. Mas, se entendermos o quanto este tópico - ao qual me refiro como “Psicaretagem” - causa estragos absurdos aos cidadãos que se sujeitam a estas práticas, teríamos que avançar mais no cuidado para que estas não sejam naturalizadas no referencial da Sociedade Brasileira. Sei que todo e qualquer Psicóloga(o) pode causar estragos em seu exercício profissional, e, em especial, afetar a estrutura emocional. Mas, se assim o Psicólogo atuar, descumprindo preceitos éticos da categoria garantidos pelos CRPs, podemos ser denunciados, pois a população tem onde denunciar. E se o estrago é feito por um “psicareta”, a quem o cidadão poderá recorrer? Se o Sistema CFP não entrar nesta demanda com mais determinação, daremos um tiro no pé da categoria.
Vemos o debate das psicoterapias serem reconhecidas como intervenção em saúde emocional, principalmente para as demandas de planos de saúde, os quais reconhecem apenas as atuações dos psicólogos como consulta psicológica, sem autorizar procedimentos psicoterápicos a longo prazo. Mas, aqui, o risco é que esta pauta entre no Congresso Nacional pelo lobby dos evangélicos com uma ótica fundamentalista e de costumes tradicionais para que psicoterapeutas, psicanalistas e ou psicopedagogos não-Psicólogos possam ter o direito de atuarem nos serviços gerais de saúde, tanto pública como privada. Assim, veremos a profissão da Psicologia se dissolver de significações.
Ressalvas entre os que nomino “psicaretas”
Quero aqui apenas fazer uma ressalva da Psicanálise e dos Psicanalistas, com os quais não podemos, de fato, enquadrar no mesmo referencial de “psicaretas” em sua totalidade. Participo de sociedades de psicanálise (ao menos de duas que julgo éticas) focadas no atendimento de pessoas. A diferença destes, em relação àqueles que descrevo como “psicaretas”, é o fato de que não vendem tratamentos emocionais e até cura, como se fossem psicólogos, mas atendem dentro de um processo de formação contínua e numa dimensão muito interna de ciclo analítico como um encontro das partes e conhecimento.
Também uma ressalva aqui às psicopedagogas(os) não Psicólogas(o) que as(o) conheço e faço parceria com interdisciplinar, mas que são Pedagogas(o) graduadas(o) e que não vendem a ideia de serem clínicos ou que vão tratar crianças com disfunções no processo de aprendizado. Mas está cheio de “psicopedagogos” que se enquadram no meu conceito ‘psicaretas’ por venderem aos pais que até são Psicólogas(os).
Este texto de hoje vem com esta a gratidão por termos no Brasil uma profissão da Psicologia com respaldo e regulamentação do CFP, o qual confere garantias ao usuário da saúde emocional e também traz uma pauta de reivindicação para a nossa categoria na defesa contra os “psicaretas” que rondam na ameaça da própria profissão e, ao mesmo tempo, da própria Sociedade.
Comemoro mais este ano da Psicologia enquanto profissão e meus quase 34 anos como psicólogo com a boa notícia de que meu filho, Helder Manacô, ingressou agora no curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) na cidade de Vitória da Conquista. Agora, soma também com meu filho Samuel Iauany, Doutor em Psicologia atuante na cidade de Ribeirão Preto (SP), que hoje faz parte do Grupo de Estudos Psicanálise Contextualizada na qual coordeno.
Que venham mais muitos anos de atuação minha como Psicólogo, ofício ao qual tenho orgulho de pertencer e atuar. E que, a cada ano, possamos fortalecer a Psicologia no Brasil como Ciência e Profissão, protegendo a sociedade dos “psicaretas”.
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Comentário de Anônimo em 27/08/2024 18:48:24 | |
Muito honrado em ter acompanhado essa brilhante trajetória ??????
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Psicologia 26/08/2024 14:45:36 161
No dia27 de Agosto de 1962, a profissão de Psicólogo foi regulamentada, sendo anualmente celebrada desde então.Há 62 anos, uma profissãoque vem crescendo em número deprofissionais e demanda. Graças ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e seus regionais espalhados peloBrasil, os CRPs (Conselhos Regionais de Psicologia),temos hoje uma profissão atuante em diversas áreas do conhecimento e dos serv...
Psicologia 21/08/2024 14:16:05
A Humanidade desenvolveu-se ao longo da História a partir da perspectiva de conquistas. Somos marcados pelo legado da aposta, entendendo aqui a ideia desta enquanto arriscar-se em um projeto, lançar-se em um objetivo sem saber se teremos sucesso ou não. É um conceito diferente daquele dos jogos de azar, mas não sem correlação, pois, uma vez que evoluímos ao longo da História a partir de nossa alta potencialidade de assumir riscos, de alguma forma também desenvolvemos um hábito muito atrativo de jogar com a sorte. Mas, aqui, nosso pensamento está direcionado à ideia de que viver é uma aposta.
Se pensarmos a partir da visão do psicanalista Lacan e seu processo de elaboração do que constitui o sujeito do desejo, teremos a busca incessante por uma configuração que nos dê singularidade no processo da subjetividade. Isto é: vamos construindo o nosso núcleo pessoal do existir ao longo de nossa existência - o sujeito desejante – que, em Lacan, vai se dar na configuração de uma constituição que perpassa de “um significante para outro significante”, conceito que vamos encontrar no Seminário 16 de Lacan, intitulado “De um Outro ao outro”, o qual ilustra a construção da estrutura psíquica do indivíduo a partir do encontro com o outro para alcançar uma singularidade. Assim, o encontrar-se com o outro é uma condição primordial na existência humana, que pode dar (ou não) o resultado que se espera na realização dos nossos desejos, configurando uma aposta.
Podemos relacionar esta busca humana com a ideia deste jogo de azar a partir da observação de diferentes ideias de conquistas pessoais, como, por exemplo, conquistas financeiras a partir do desejo do sucesso - que, numa linguagem capitalista, podemos colocar com o conceito pinçado por Karl Marx: “Mais valia” como reflexo da busca incessante do ter. A partir de uma comparação homóloga, Lacan, no Seminário 16, relaciona o “mais” da Mais valia marxista com o que, na psicanálise, ele nomeia “mais-de-fazer", que é a busca pelas realizações dos desejos internos que, incessante e insaciável, sempre nos remete a uma perda, uma falta que nos projeta continuamente à procura de algo mais.
Cultivar expectativas, projetar, se arriscar, é um bom caminho.
Se pararmos para pensar, diante de demandas sociopolíticas e cenários caóticos - que incluem um aumento assustador da fome na maioria das nações, crescimento da violência urbana, guerras (entre nações e civis), catástrofes naturais e previsões sobre o clima nada animadoras para o futuro - poderíamos dizer que as pessoas não desejariam mais terem filhos diante dum futuro tão incerto. Porém, não é o que observamos, visto que os filhos continuam sendo desejados. A cada dia, aumenta a busca pela gravidez, especialmente no caso de mulheres com dificuldade de engravidar. Neste caso, podemos dizer que a aposta pela vida está marcada no desejo de ter filhos para deixar um legado genético e uma continuidade na História. E qual é certeza que alguém que gera um filho tem do sucesso no processo educacional deste? É uma aposta.
Da mesma maneira, fico pensando quão representativos e dependentes de sorte são os casos de empresários que se arriscam em iniciar um negócio em pleno cenário de crise econômica. Uma pulsão que passa pela estrutura psíquica, colocando o empresário diante de uma escolha de risco que representa exatamente esta ideia da aposta.
Das diversas apostas da vida, a única certeza é que viver é uma aposta. Aqueles que vão se configurando em um apego ao real, ao aqui e agora, querendo pontuar o gozo momentâneo buscando sempre prazeres imediatos, se predispõem a não pontuarem prazer algum e caírem em um vazio existencial com uma projeção pessimista de vida. Começam não a apostar, mas recuar, se isolando e provocando a morte psíquica a partir da construção duma mente em sofrimento emocional que vai desembocar em sintomas de transtornos emocionais.
Para uma construção da saúde emocional e prevenção às doenças emocionais, cultivar expectativas, projetar, se arriscar, é um bom caminho. É dar vazão ao apostar na vida, para viver a vida como uma aposta. E quem aposta sempre tem a perspectiva de ganhar e, se perder, retorna ao campo da aposta novamente com o desejo de tentar novamente. Aí sim temos uma mente que pulsa de fazer do sujeito, um sujeito desejante.
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Psicologia 21/08/2024 14:16:05 99
A Humanidade desenvolveu-se ao longo da História a partirda perspectiva de conquistas. Somos marcados pelo legado da aposta, entendendo aqui a ideia desta enquanto arriscar-se em um projeto,lançar-se em um objetivo sem saber se teremos sucessoou não. É um conceitodiferente daquele dos jogos de azar, mas não sem correlação, pois, uma vez que evoluímos ao longo da História apartir de nossa alta po...
Psicologia 13/08/2024 15:47:49
Jogos de aposta são hábitos milenares na Humanidade. Mesmo que, no Brasil, as casas de apostas ainda sejam proibidas, os brasileiros continuam apostando, desde as apostas regulamentadas através do sistema Caixa Econômica aos atuais jogos de apostas esportivas e outros que vão surgindo em plataformas digitais. O proibido torna-se mais apetitoso, atraente. E isso se deve ao fato de que o principal fator que leva as pessoas a apostarem repetidamente é o prazer de se esperar pelo resultado positivo (que dificilmente chega), pois imaginam que um dia vão ganhar e criam um hábito no processo.
Um dos mecanismos que plataformas de apostas e jogos digitais criaram para atrair o público é facilitar o ganho em um primeiro momento, estimulando o iniciante até que o processo se torne altamente catártico, para então, quando a pessoa está já em um nível de dependência do jogo ou da aposta, dificultar novas vitórias. Assim, o dinheiro ganho inicialmente será gasto em novas apostas, levando a instaurar um ciclo vicioso em querer continuar apostando que leva ao endividamento pessoal e coloca a dependência em apostas em pé de comparação com a alcoólica e química.
Como identificar uma pessoa viciada em jogos de aposta
Os principais sintomas para identificar uma pessoa viciada em jogos de aposta são:
1) Sentimento de que vai ganhar sempre;
2) Argumento de que se está gastando pouco dinheiro, mesmo com todos ao redor percebendo um endividamento crescente;
3) Tempo prolongado do dia monitorando o celular para acompanhar a aposta desenvolvida e/ou buscando novas apostas;
4) Superendividamento. Este é um fator que já pude monitorar em clínica por ocasião de um paciente que pediu emprestado para vários amigos e até no próprio banco por conta de uma super aposta que supostamente resolveria sua vida financeira para sempre. Mas, nesta super aposta, o sujeito perdeu tudo e teve que vender o próprio carro para pagar os empréstimos.
5) Quando não se aposta, a ansiedade se manifesta com força, e, ao se propor a romper com o ciclo de dependência de apostas, apresenta sintomas de abstinência parecidos com o de dependência alcoólica e química.
No passado, a dependência em jogos de apostas atingia pessoas acima de 45 anos e, geralmente, estava relacionado com jogos de bingos. Hoje, a dependência tem atingido mais aos jovens por conta do acesso livre às plataformas digitais de apostas.
Mas, diante deste cenário, o que fazer?
No caso de adolescentes e jovens que ainda estão dependentes dos pais, não permitir entrar em jogos onde há necessidade de comprar produtos para potencializar maior poder de competitividade. Esta é uma estratégia para atingir os adolescentes (e até crianças) em que os jogos liberam créditos diante dos acertos, posteriormente limitando o avanço do jogador se este não comprar mais recursos para continuar. Hoje, estes mecanismos de disputa online entre vários competidores leva aqueles que não investem a ficar para trás na competição, provocando sentimentos de derrota e não-pertencimento ao grupo.
Limitar a navegação para crianças e adolescentes de canais YouTube nos quais há especialistas “ensinando” suas estratégias de ganhos nestes jogos. Nestes casos, o especialista vai apresentando os resultados de sucesso financeiro decorrente do jogar, e este movimento cria uma alta expectativa na criança e no adolescente em querer se tornar um jogador de ponta. Desta forma, monitorar e limitar o tempo de uso pode colaborar para a não-fixação da necessidade.
No caso de adultos, é importante definir valor fixo a ser gasto no mês para jogos de apostas; ou estabelecer critérios pessoais de só entrar em jogos que não tenham a necessidade de compras de produtos para fortalecimento do jogo e possível potencial para vitória; assim como definir tempo de uso de tais jogos.
Em caso de não conseguir criar critérios e observar que os sintomas de dependência estão evoluindo, comunicar a pessoas próximas para pedir auxílio no controle e, ao mesmo tempo, procurar por um tratamento para esta dependência.
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Psicologia 13/08/2024 15:47:49 93
Jogos de aposta são hábitos milenares na Humanidade. Mesmo que, noBrasil, as casas de apostasainda sejam proibidas, os brasileiros continuamapostando, desde as apostas regulamentadas através do sistemaCaixa Econômica aos atuais jogos de apostasesportivas e outros que vão surgindo em plataformas digitais. O proibido torna-se mais apetitoso, atraente. E issose deve ao fato de que o principal fator ...
Psicologia 08/08/2024 15:15:59
Tema gerador para formação com pais e comunidade escolar da Escola Comunitária Rural Municipal São João Bosco - Jaguaré / Espírito Santo, no dia 10/08/2024.
Os principais impactos das redes sociais na adolescência são:
1. Perda de habilidades manuais, por ser uma atividade parada;
2. Diminuição da capacidade cognitiva, por não estabelecer elaboração de conhecimentos;
3. Isolamento social;
4. Paralisia psicomotora, por ser uma atividade que requer pouca ação e acarreta em consequente acúmulo de energia;
5. Auto-agressividade como forma de descarregar a energia acumulada, para sentir que esta vai para algum lugar;
6. Apego a notícias falsas e acentuada busca no campo de fofocas e notícias negativas;
7. Tendência a dependência de jogos eletrônicos, por estes serem muito estimuladores a cumprimento de metas;
8. Possível desenvolvimento de Depressão, Ansiedade e/ou tendências suicidas.
9. Baixa autoestima.
10. Baixa perspectiva para o amanhã.
A pergunta que surge então é: Por quê o adolescente é tão vulnerável às redes sociais e ao apego aos eletrônicos e à internet?
E a resposta é relativamente clara: Por ser uma fase de transição e busca por identificações pessoais em meio a muitas incertezas e na qual também se tende ao apego às imagens de ídolos. A etapa de vida que, no âmbito comportamental, o indivíduo mais parece dono do seu saber, mas na verdade se revela muito inseguro, muitas vezes se utilizando de posições radicais e ataques para esconder a própria fragilidade.
As 3 fases da adolescência
Torna-se mais fácil entender a adolescência sistematizando-a em 3 etapas distintas:
1. Pré adolescência - de 11 a 13 anos
2. Adolescência – de 14 a 17 anos
3. Adolescência adulta – de 17 a 22 anos
No ensino fundamental 2, que atinge do sexto ao nono ano, observa-se a pré-adolescência e a adolescência normal, que são fases de muitas instabilidades. Na pré-adolescência, os lutos: Perda do corpo infantil; Perda dos pais de criança; Perda da identidade de criança e surgimento das alterações hormonais. Na adolescência propriamente dita, os conflitos decorrentes de um “falso self”, que dá a ideia de que já podem ser donos de si mesmos, o que os deixa em risco e vulneráveis.
Assim, aos adultos, pais e educadores, cabe estar atentos, acolhedores e participativos, pois na fase em que mais é preciso presença, a tendência dos responsáveis é tratar adolescentes como se estes já pudessem seguir sozinhos e já não precisassem tanto de suporte. Desta forma, o campo para a dependência eletrônica e a tendência aos riscos e impactos das redes sociais na adolescência aumenta.
Quem vitimizará o adolescente instável? Observe que os maiores abusos a vulneráveis acontecem na adolescência, seja pelo assédio dos traficantes, assédio sexual e até mesmo aquele vindo do comércio. O que não é diferente para as redes sociais e todas as plataformas de internet.
O que fazer?
Desta forma, cabe aos pais algumas posturas em relação ao cuidado com adolescentes:
1. Estarem próximos e participativos;
2. Se envolverem com o mundo deles;
3. Estarem atualizados nas redes sociais e participarem do acesso com os filhos;
4. Controlar e monitorar o que fazem nas redes;
5. Colocar limite de tempo para uso na semana e aos finais de semana;
6. Inserir os adolescentes nas tarefas da casa e na atividade profissional dos pais;
7. Estarem com projetos pessoais de vida ativos;
Aos pais, cabe também a capacidade de servir de espelho aos filhos, podendo, sim, persuadir pelo exemplo. Os pais precisam mostrar aos filhos adolescentes que eles possuem projetos pessoais e, assim, também precisam manusear as redes sociais e as tecnologias. Se necessário, vale pedir aos filhos para ensinarem o manuseio destas.
O que vemos atualmente são pais que abandonam seus filhos no cotidiano e os deixam à mercê da escravidão digital, especialmente das redes sociais. Em contraposição, pais que amam os filhos, cuidam. Zelam, orientam, colocam limites e estão juntos na caminhada. Assim, as ameaças serão atenuadas e a tecnologia e as redes sociais estarão a serviço e a favor do processo educacional.
Obs.: Este texto foi utilizado concomitante à apresentação da palestra, como também apresentado em vídeo, disponível no meu canal do YouTube Abarca Psicólogo e no formato de banners com sequência da mesma temática, postados no Instagram @abarcapsicologo. Com o objetivo de colaborar com os pais na percepção do potencial que a tecnologia e as redes sociais têm a favor do processo de educação dos filhos.
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Psicologia 08/08/2024 15:15:59 165
Tema gerador para formação com pais e comunidade escolar daEscola Comunitária Rural MunicipalSão João Bosco - Jaguaré / Espírito Santo, no dia 10/08/2024. Os principais impactos das redes sociais na adolescência são: 1. Perda de habilidades manuais, por ser uma atividadeparada;2. Diminuição da capacidade cognitiva, por não estabelecer elaboração de conhecimentos;3. Isolamento social;4. Paralisia ...
Sexualidade 05/08/2024 14:41:45
O aumento da manifestação em torno da bissexualidade está relacionado com a maior abertura que vemos na Sociedade para que os adolescentes possam verbalizar sentimentos, sendo percebida nos movimentos sociais, os quais debatem mais sobre o tema e levam a um encorajamento nos adolescentes em se manifestar acerca deste tópico. Tal demanda de respostas tem aumentado principalmente na adolescência propriamente dita, que vai dos 14 aos 17 anos de idade.
O conceito da bissexualidade já foi abordado por Freud, o qual, em suas elaborações sobre sexualidade dentro da psicanálise entre 1900 a 1920, coloca o ser humano como aquele que transita entre hetero a homosexualidade, configurando-o como ser fundamentalmente bissexual. Diante desta perspectiva, a condução sexual não está necessariamente atrelada à estrutura fisiológica masculina ou feminina em si, mas à dinâmica de estabelecimento dos vínculos amorosos. Assim, não visualizamos nossas conduções sexuais como pautadas apenas no campo da atração fisiológica, pois dependerá de muitos outros fatores que definem um vínculo afetivo. E, quando a estrutura de identificação transita entre tendências hetero e homo, podemos dizer que a pessoa se encontra na condução de orientação como bissexual.
As escolhas na adolescência e suas dualidades
Considerando que a adolescência é uma etapa da vida calcada na busca e na construção de uma identidade, estando situada entre uma fase infantil passada e outra adulta que virá, as escolhas aqui realizadas sempre passam por indefinições, dualidades e inseguranças que culminam em posições absolutas e outras de extrema incerteza. Assim, no campo da orientação sexual não será diferente. Ao nominar-se bissexual, o adolescente está dizendo que, de fato, não tem clareza de sua posição. Pode ser que, ao nominar-se como tal, estará assumindo esta orientação também para a vida adulta, num movimento inverossímil por definição.
Desta forma, o caminho mais lógico para pais e educadores é o acolhimento da posição deste adolescente sem críticas, teorias e posições duma sexualidade que apresenta-se calcada na unilateralidade da estrutura fisiológica. Muitos são os pais que se desesperam ao ouvir do filho adolescente que estão numa condução bissexual, principalmente os pais com pautas de costumes muito conservadoras. Sabemos que, mesmo em famílias regradas na normatividade heterossexual por princípios religiosos, a condução bissexual ou homossexual se dará da mesma forma, apenas levando os adolescentes a se afastarem e a assumirem posicionamentos escondidos dos pais.
A posição bissexual no discurso de muitos adolescentes também está, muitas vezes, associada ao receio de serem excluídos de círculos sociais e/ou isolados do núcleo familiar, assim como no temor de serem condenados e/ou agredidos pela manifestação da posição que estão vivendo. Assim, assumir-se bissexual pode facilitar para que tais adolescentes declarem sua homossexualidade diante dum ambiente que tem abertura para as diferentes formas de condução da sexualidade, em contraposição a ambientes com forte posicionamento homofóbico e conservador, levando-os a se posicionarem como heteros. Desta forma, o dizer-se bissexual na adolescência passa a ser uma forma de defesa que usa posicionamentos diferentes conforme a conveniência. No entanto, este dizer, também por muitas vezes, é para si mesmo, pro silêncio interior que pode levar o adolescente a se sentir sufocado, levando-o a se manifestar apenas para seus amigos mais próximos e não para seus familiares.
Como auxiliar o adolescente neste período de escolhas
Se a adolescência é uma etapa de construção duma identidade pessoal, é crucial que os pais, professores, parentes e amigos se posicionem com, pelo menos, três pontos básicos para auxiliar o adolescente na navegação deste período:
1) Os adultos que estão próximos de adolescentes precisam quebrar tabus pessoais em torno das demandas de condução de orientação sexual.
2) Acolher a demanda do adolescente sem condenar e/ou querer disciplinar em torno do que o adulto acredita (ou já definiu) para si mesmo.
3) Não reprimir e/ou moralizar, como se aquela conduta fosse uma doença ou perversão, considerando que a ambivalência dos adolescentes é uma das características mais preponderantes desta etapa de vida.
A fase da adolescência é, de todas as fases do desenvolvimento humano, aquela que mais precisa de presença e acolhimento por parte dos adultos, estabelecendo uma relação de abertura e troca de saberes, pois os adolescentes já possuem muitas informações. Com tempo e apoio num ambiente favorável, o adolescente tornar-se-á um adulto com posições melhor definidas. E, se, de fato, tal adolescente definir-se no futuro como bissexual (em sua vida adulta), o fará sem ter precisado passar pelos possíveis traumas duma educação repressora.
Hoje, posso constatar que muitos adultos moralizadores acerca de demandas de orientação sexual e posicionados como homofóbicos e/ou defensores fanáticos da heterossexualidade, apresentam conflitos pessoais com a própria sexualidade, transferindo estes dilemas para os mais indefesos. Neste caso, a adolescência passa a ser alvo preferencial por ser uma fase cujas demandas de sexualidade eclodem com força e vitalidade, ecoando nos adultos ao mexer com elementos que, em suas respectivas adolescências, foram traumáticas e/ou não tiveram resoluções adequadas.
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Sexualidade 05/08/2024 14:41:45 259
Oaumento da manifestação em torno da bissexualidade está relacionado com a maior aberturaque vemos na Sociedade para que os adolescentes possam verbalizar sentimentos, sendo percebida nosmovimentos sociais, os quais debatem mais sobre o tema e levam a um encorajamento nos adolescentes em semanifestar acerca deste tópico. Tal demanda de respostas tem aumentadoprincipalmente na adolescência propria...
Religião 30/07/2024 15:07:40
A Religião é um fenômeno humano que permeia grande parte da população mundial, nas suas mais diversas formas e práticas. Pouco mais de 2% se declaram ateus, e 11% que não praticam religião. No Brasil, o índice de ateus declarados chega a 1%. Das religiões praticadas no planeta, em torno de 30% creem na ressurreição e/ou vida eterna, e as demais, são de base espiritualistas que creem em reencarnação. Segundo o IBGE, quase 87% da população no Brasil se denomina cristã, sendo 64,5% Católicos e 22,2% evangélicos - levando-se em conta que, no meio evangélico, há muitas fragmentações doutrinais e de tendências.
As principais religiões do planeta seguem um fio condutor comum, a “regra de ouro” que prega a prática do Amor ao próximo, como ocorre no Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, Hinduísmo e Budismo. Porém, nos planos sociopolítico e socioeconômico, observa-se que alguns grupos específicos de cada uma destas religiões acabam usufruindo do fanatismo para, em nome da religião, manipularem massas por interesses políticos e econômicos. Geralmente, são grupos que tendem a pautas de costumes ultraconservadores. Assim, pelo desconhecimento sobre os fundamentos das religiões, criam uma série de preconceitos, especialmente em torno das religiões que não estão diretamente ligadas ao eixo dos países colonizadores ocidentais.
Em países com baixo índice educacional e processos de extrema pobreza associados a histórias de exploração colonialista, o caminho para emergir “lobos disfarçados de cordeiros” aumenta vertiginosamente. E, nas religiões totalitárias, que representam quase que a estirpe de uma nação, os lobos proliferam. Desta maneira, a religião se torna alvo de usurpadores da boa vontade alheia.
E eis que surge a pergunta: Como podemos identificar estes lobos?
1) Aqueles que enriquecem rapidamente, mesmo tendo a liderança religiosa como base de trabalho, cuja missão é expandir o alcance da religião. Fator que está diametralmente oposto às propostas dos fundadores das principais religiões do mundo, nas quais a prática pregada é do desapego, do serviço e da humildade;
2) Aqueles que tendem a ser autoritários e dominadores, contradizendo os ensinamentos da busca por unidade e fraternidade, escuta e participação.
3) Aqueles que atuam como arma de cativar pelo emocional e pela culpabilização, sempre explorando um erro do fiel a ser pago em alguma penitência.
4) Aqueles que criam regras rígidas para as vidas dos outros, mas contradizem o que pregam em suas práticas pessoais diante do que exigem de seus fiéis.
5) Aqueles que se aproximam de agentes e instâncias políticas para conquistarem poderes e direitos voltados aos interesses específicos de suas corporações. Este fator é muito notório para conquistas de direitos de liberação de meios de comunicação e favorecimentos de isenção de tributos.
6) Aqueles que pregam a prosperidade que o fiel conquistará e se posicionam como promotores de milagres, até com promessas de cura. Aqui, o foco em arrecadar dinheiro dos fiéis é intenso.
Estes listados são apenas alguns indícios, dentre inúmeros outros. Trago esta demanda, neste momento, por ser a prática religiosa um dos elementos que mais interferem na estrutura emocional de uma pessoa, sendo campo fértil para emergir os que tiram proveito desta dinâmica complexa.
Ficar atento a estes pontos pode colaborar para a perceber se o espaço em que se dá a vivência da prática religiosa está sendo influenciada por um lobo disfarçado de cordeiro. Como diz o ditado popular, “O Diabo também veste batina” (ou um terno pastoral).
A prática religiosa vivenciada por escolha livre e consciente, a partir do conhecimento da doutrina seguida e da história da religião da qual se participa, é o melhor caminho para se defender de lobos. Pois, se houver consciência de escolha e conhecimento sobre esta, torna-se mais fácil identificar os charlatões.
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Religião 30/07/2024 15:07:40 93
A Religião é um fenômeno humano que permeia grande parte da população mundial,nas suas mais diversas formas e práticas. Pouco mais de 2% se declaram ateus, e11% que não praticam religião. No Brasil, o índice de ateus declarados chega a1%. Das religiões praticadas no planeta, em torno de 30% creem na ressurreiçãoe/ou vida eterna, e as demais, são de base espiritualistas que creem em reencarnação. ...
Psicologia 23/07/2024 14:08:27
Num passado recente, no meio leigo às demandas do comportamento humano, era quase um absurdo dizer que uma criança pudesse estar com sintomas de depressão e/ou ansiedade. Hoje, esta realidade mudou e já percebemos famílias procurando avaliar as crianças quando estas, desde o início, começam a apresentar algum sintoma.
Crianças desenvolvem transtornos emocionais desde o primeiro ano de idade, e isto é um fato. E os meios para se identificar disfunções emergentes estão, cada vez mais, sendo utilizados por pediatras, psiquiatras infantil, neuropediatras e psicólogos.
Estou no campo da Psicologia Clínica e lido profissionalmente com crianças há 33 anos, (além dos 3 anos na clínica-escola, durante a graduação). Durante este tempo, aprendi que comunicar aos pais o diagnóstico de transtorno emocional dum filho era quase uma comunicação de morte, levando muitos a se fecharem e apenas fazerem vista grossa, deixando pra lá. Ao longo dos anos, fui definindo uma postura de só iniciar um diagnóstico infantil diante da certeza de que os pais aceitariam os resultados, comunicando (até hoje) da seguinte forma: O diagnóstico é como uma cirurgia para detectar algo que esta disfuncional. Se, diante deste procedimento, os pais falarem que está tudo bem ou que podem resolver depois, estariam levando o filho após a intervenção com uma ferida aberta sem tratamento.
Por outro lado, também vemos hoje uma precipitação em definir diagnósticos e intervenções que, em consultas de 10 minutos, já estabelecem códigos de transtornos que necessitam de avaliação interdisciplinar (em alguns casos até com exames neurológicos), chegando a resultados categóricos de maneira rápida. Esta demanda é muito percebida nos quadros do espectro autista e/ou disfunções de aprendizado, como também é o caso da TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).
Há uma pressão dos pais para que a criança tenha um laudo constando o transtorno, permitindo que reivindiquem um auxiliar de turma no acompanhamento diferenciado à criança. Também há muitos profissionais que acabam não seguindo critérios de avaliação que exigem tempo para alcançar uma conclusão fidedigna. É muito comum receber crianças que já chegam com um diagnóstico redutivo, mas os pais gostariam de desenvolver um diagnóstico mais claro e interdisciplinar. No entanto, esta é uma realidade pouco comum, vista especialmente nos pais mais esclarecidos.
Avaliar com calma e numa intervenção interdisciplinar é o melhor caminho.
Avaliar uma criança apenas pelos sintomas emergentes que ela está apresentando pode levar a erros de longo prazo e, pior ainda, à estigmatização da criança. É comum pais chegarem com laudos desenvolvidos anos atrás, com a crença de que o filho é aquilo e pronto. Por este motivo, ao apresentar um laudo após um processo claro de intervenção, faço a leitura ponto por ponto, explicando com o máximo de detalhe possível e de maneira acessível.
Muitas vezes, é preciso fazer laudos específicos conforme o profissional que estará manuseando as informações. Por exemplo: quando apresento o laudo aos pais, vou dar ênfase também na psicodinâmica da família, nos aspectos mais íntimos da família a partir de fatores que possam estar contribuindo para o sintoma da criança. Mas, se o mesmo laudo apresentado aos pais tiver que ser apresentado à escola, foco nas demandas que dizem respeito à escola. Do contrário, estarei expondo a família e suas intimidades a terceiros.
Por estas e muitas outras questões que implicam um laudo psicológico infantil, creio que não seja possível realizar uma avaliação precisa em apenas uma entrevista, inclusive pelo fato de que outros profissionais também precisarão ser ouvidos. Na prática da clínica psicológica, dificilmente conseguiremos fechar um laudo por menos de dois anos, visto que, duma primeira avaliação até delimitação de uma nomenclatura para o sintoma, o processo posterior de intervenção poderá evoluir para caminhos que não sabemos. Muitos foram os casos nos quais sintomas dum quadro que parecia definitivo foram eliminados em menos de seis meses de intervenção. Não que a intervenção em si desencadeou a “cura” do sintoma, mas o simples fato da família ter dado atenção à criança e procurado ajuda profissional em junção a mudanças nos processos educacionais durante o cotidiano surtiu efeito sobre o quadro da criança. Assim, o diagnóstico inicial foi diluído.
Avaliar com calma e numa intervenção interdisciplinar é o melhor caminho. Mas, neste nosso país, quem consegue encontrar e bancar um processo destes? Assim, acabamos sempre presenciando um crescimento vertiginoso de crianças “laudadas”, escolas desesperadas para lidarem com tantos diagnósticos e famílias perdidas, sem saber, de fato, se a criança está sendo avaliada e/ou tratada de forma adequada.
Apenas deixo o alerta aqui, de que avaliações a toque de caixa, de forma relâmpago, devem ser vistas com desconfiança. Neste sentido, muitas vezes é melhor desconsiderar o avaliado.
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Psicologia 23/07/2024 14:08:27 100
Numpassado recente, no meio leigo às demandas do comportamento humano, era quase um absurdo dizer que uma criançapudesse estar com sintomas de depressão e/ou ansiedade. Hoje, esta realidademudou e já percebemos famíliasprocurando avaliar as crianças quandoestas, desde o início, começama apresentar algumsintoma. Criançasdesenvolvem transtornos emocionais desde o primeiro ano de idade, e isto é um...
Politícia e Sociedade 16/07/2024 13:44:03
Na Psicologia e na Psiquiatria, temos o dilema dos tratamentos à dependência química que preconizam o processo de redução de danos. Quando a dependência diz respeito à maconha, tem-se a trava da proibição da venda deste produto no Brasil. Minha preocupação sobre este tema está relacionada ao quanto a demanda da maconha mexe com as famílias brasileiras no campo comportamental, onde parece haver uma batalha entre o Bem e o Mal, como um fantasma no coletivo que nomeia nesta droga os males maiores para jovens a partir da ameaça da dependência química.
Somada esta problemática aos conflitos de ordem religiosa, que levam pessoas a posições ultraconservadoras, tem-se uma contraposição na qual indivíduos vivem sendo contrários à maconha, porém, na prática, convivem com o uso quase que corriqueiro desta no cotidiano. Conheci, inclusive, lideranças religiosas que, nas pregações doutrinárias, demonizam a maconha mas, na prática, usavam e/ou iam até comunidades para comprar maconha - chegando até mesmo a adquirir para familiares no intuito de que os mesmos não se envolvessem com bocas de tráfico. Uma temática que divide opiniões e cega para as realidades do alcoolismo, da dependência em medicações psiquiátricas e pornografia.
Na discussão da dependência, a grande maldita continua sendo a maconha.
Liberar ou não o uso da maconha?
O Supremo Tribunal Federal decidiu em plenária, agora em Junho de 2024, que o porte de até 40 gramas de maconha não configura crime e deve ser caracterizado como infração administrativa sem consequência penal. Tal decisão é assertiva na medida em que distingue o que é caracterizado como uso pessoal e o que é tráfico. Muitas pessoas vibraram com esta decisão, vendo nela um avanço. Outras, nem tanto, principalmente aqueles que estão apegados a pautas de costumes conservadores.
Se, por um lado, a definição do quantitativo do porte de até 40 gramas como infração em vez de crime pode dar equilíbrio social para o olhar desta demanda que, no Brasil, pune mais os pobres e negros, ela traz outros pontos que aqui nomino paradoxos:
Primeiramente, ao liberar o porte de até 40 gramas como usuários em um país onde a venda da maconha é proibida, estamos diante de um forte contraditório de lei, pois libera como usuário, mas onde e como este usuário adquire a maconha? A lei que proíbe vender, libera usar. Porém, podemos entender a intenção de não ver o usuário como traficante. Mas, onde então a pessoa usuária vai comprar? Parece que, aqui, entra o faz-de-conta. É proibido, mas acha-se em todos os lugares.
Em segundo lugar, há a falácia inerente na ideia de que o usuário que portar até 40 gramas tenderá à mesma equidade de valor e respeito, uma vez que tal classificação servirá para pobres e ricos igualmente. Porém, visto que há diferentes tipos de maconha e com valores distintos, mantém-se uma separação entre pobres e ricos, visto que pobres provavelmente não consumirão a maconha pristina, enquanto o rico terá acesso à maconha de maior qualidade, “da boa”, que pode chegar a mais de R$60,00 por grama, totalizando mais de R$2.400,00 nas 40 gramas tidas como infração. Desta maneira, a diferença existe de maneira a sujeitar o pobre ao esquema do tráfico que foi estrategicamente montado nas regiões periféricas das cidades brasileiras, ao contrário dos ricos, que terão acessos por vias menos arriscadas e expostas e com valor monetário mais alto. E aqui vale ressaltar que muitos dos “peixes grandes” do tráfico sequer residem em tais comunidades periféricas, piorando a situação.
Seguidamente, aqueles que forem pegos com mais de 40 gramas de maconha poderão ser enquadrados como criminosos, intensificando a busca por estoques volumosos. Assim, podemos prever que as buscas policiais com este objetivo se darão principalmente em comunidades periféricas, uma vez que não vemos policiais realizando batidas em condomínios de classe média alta com esta finalidade. Para aqueles que são usuários desta classe social, em algum lugar haverá um estoque do produto sem risco de descoberta por estarem em áreas “nobres” da cidade. Sendo assim, podemos perceber que tais contradições só vão continuar a manter a criminalização dos pobres.
Sabemos que a classe média alta no Brasil gosta muito de uma maconha como “lazer”, se deslocando até comunidades periféricas para adquiri-la ou recebendo o produto em casa. Também sabemos, como citei acima, que vários traficantes não moram nas comunidades periféricas. Diante destas constatações, minha hipótese é que há uma estratégia para despistar a Sociedade e o olhar da Lei a partir da criação do “bode expiatório” do tráfico. Assim, acontece a estigmatização da favela e/ou comunidades periféricas como local de bandidos do tráfico. Parece-me que, nas comunidades periféricas, temos os porta-vozes dos donos do tráfico que, geralmente, são aqueles que possuem uma alta capacidade para o uso da força e que, destemidos e irreverentes, encarnam a tipologia “bandido”. E quem leva a fama é a comunidade periférica como um todo.
A maior força destruidora é a ignorância.
A descriminalização das até 40 gramas é mais um capítulo atrativo para esta novela de liberação da maconha, mantendo as mesmas questões de sempre em voga. Não seria melhor legalizar a venda da maconha com critérios que envolvessem Ministério da Agricultura, Ministério da Saúde, Anvisa e órgãos pertinentes para que o processo fosse melhor qualificado e esta demanda entrasse dentro de um projeto público, como já acontece em alguns países? Com este atraso no avanço desta pauta, estamos até perdendo sobre o uso medicinal da maconha. Lógico que, defender a não-liberação atrai muitos adeptos do negacionismo científico. Aquilo que parece um avanço é apenas mais uma trava nesta novela sobre a liberação desta substância.
Aqueles que, em nome de uma religião, argumentos de dependência ou pautas de costumes conservadores na Sociedade, insistem em ver a maconha como um sério problema para a saúde emocional, se esquecem que dependência é causada até por remédios psiquiátricos, doces, objetos religiosos e práticas religiosas, bebida alcoólica, pornografia, entre tantos outros.
Esta trava de abertura e avanço do tema no Brasil é artimanha para esconder gente que se veste de cordeiro, que se diz do “Bem” e que representa uma força de interesse econômico poderosa. Por enquanto, vamos discutir os paradoxos das 40 gramas. E, assim, vemos aumentar ainda mais a cegueira coletiva para perceber as outras destruidoras dependências que estão relacionadas com coisas legalizadas. A maior força destruidora é a ignorância.
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Politícia e Sociedade 16/07/2024 13:44:03 128
NaPsicologia e na Psiquiatria, temos o dilema dos tratamentos à dependênciaquímica que preconizam o processode redução de danos. Quando a dependência diz respeito à maconha, tem-se a trava da proibiçãoda venda deste produto no Brasil. Minha preocupação sobre estetema está relacionada ao quanto a demanda da maconha mexe com as famílias brasileiras no campo comportamental, ondeparece haver uma bata...
Psicologia 08/07/2024 14:34:41
É pelo processo de perda que adentramos o mundo do Conhecimento. E este processo se dá desde o parto e se estrutura ao longo de nossas vidas até, enfim, chegarmos à morte. E, aqui, você pode estar se perguntando: “Como assim?”
Ao nascer, o bebê terá que aprender a buscar o seio materno com o objetivo de se alimentar. Lógico que não fará isso aleatoriamente, necessitando de estímulos para tal. Porém, uma coisa é certa: Se o seio materno (ou quem lhe oferece a mamadeira) não chegar, o bebê vai chorar de fome. Esta busca, que é biológica, já se configura nos primeiros processos de conhecimento, se dando, de fato, pela perda do útero que o supria espontaneamente para aprender a conquistar sua alimentação.
Depois, para cada etapa do desenvolvimento humano, as perdas desencadeiam necessidades de conhecimento. Primeiro, vem o processo de aprender andar ao perder plenamente os braços que acolhem. Depois, a perda de quem sistematicamente cuidava do xixi e cocô que a criança eliminava indiscriminadamente conduz à necessidade de aprender a dominar as glândulas de controle, configurando outro processo de aprendizado. E assim em diante.
Chega o tempo de ir para a escola e as demandas do conhecimento tomam conta da criança, que adentra um espaço amplo e de convívio com múltiplas diferenças. Uma experiência que, para muitas crianças, chega a ser traumática. Aqui, posso trazer dois exemplos muito comum:
O primeiro exemplo é da criança que, já nos primeiros anos de alfabetização, não consegue aprender a ler, escrever, e fazer contas matemáticas por dificuldade de estabelecer vínculo com os professores. Isso se deve a um processo de uma perda do referencial de ensino em que a referência deixa de ser os pais e passa a ser outras pessoas, desconhecidas. Por isso mesmo, a necessidade de se ter professores nas primeiras séries de aprendizado sistematizado, com forte capacidade de estabelecerem vínculos afetivos para atenuar esta transição;
O segundo, que remete à dificuldade dos pais em entregarem as crianças ao processo educacional, principalmente quando as crianças descobrem pessoas muito afetuosas e acolhedoras na escola, começando uma identificação que conduz os pais aos ciúmes e a uma rivalização com os professores. Esta dinâmica atrapalha o rompimento do vínculo referencial e cria dificuldades no processo de aprendizado por deixar a criança dividida neste jogo.
Desafios na fase da busca do conhecimento
Consequentemente, quando as necessidades das crianças em serem protegidas e acolhidas plenamente na afetividade e quando adentram no que a Psicanálise a partir de Freud chama de “Período de Latência” - período entre sete e 11 anos, em que a criança mergulha na busca pelo conhecimento - é exigido muito dos professores, pais, parentes e amigos, pois as crianças ficam extremamente curiosas, falantes e desejosas do conhecimento. Mas, no meio do caminho para esta libertação ao aprendizado, há empecilhos. Vide os equipamentos eletrônicos, e, atualmente com muita expressividade, o celular e os jogos online. E, aqui, novamente, você pode estar se perguntando: “Nossa, mas isto não é uma evolução?”
E a resposta é: “Sim, é uma evolução.” No entanto, é uma evolução que vai requer de quem cuida, educa e oferece suporte de estímulos às crianças. Requer atenção em monitorar, controlar tempo de uso e função destes recursos fantásticos dentro das perspectivas do desejo exploratório da criança nesta bela fase da busca do conhecimento. Do contrário, o equipamento eletrônico volta a ser uma babá protetiva que deixa a criança regressiva no seu mundo, sem fazer conexão com a realidade em que está inserida e com aqueles que estão ao seu redor. Os resultados deste encontro intenso com os eletrônicos já começam a aparecer com as disfunções cognitivas e baixo desejo de busca pelo conhecimento por parte das crianças.
É preciso perder para conhecer
É preciso perder para conhecer. Logo, colocar limites, estabelecer regras e desenvolver um cotidiano no qual a criança entenda que ela precisa se sujeitar a regras e limites é um meio de colocá-la em franco processo de perdas, pois são estes compromissos e concessões que alimentam a busca por conhecimento. Crianças cujo ambiente educacional familiar tem o NÃO como um conceito descartável terão dificuldades em serem desbravadores do conhecimento. Toda regra tem sua exceção, mas eu não arriscaria pré-dispor uma criança, neste ambiente do não NÃO, pois vai na contramão para o aprendizado.
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Psicologia 08/07/2024 14:34:41 554
É peloprocesso de perda que adentramos o mundo do Conhecimento. E este processo se dá desde o parto e se estrutura ao longo denossas vidas até, enfim, chegarmos à morte. E, aqui, você pode estar se perguntando: “Como assim?” Aonascer, o bebê terá que aprender a buscar o seio materno com o objetivo de sealimentar. Lógico que não fará issoaleatoriamente, necessitando de estímulos para tal. Porém, ...
Psicologia 02/07/2024 10:00:12
A Síndrome de Burnout (ou Síndrome do Esgotamento Profissional) é um distúrbio emocional causado por diversos fatores que se comunicam entre si, tais quais: Exaustão extrema, estresse, esgotamento físico, excesso de trabalho e tarefas difíceis que a pessoa não se vê capaz de realizar mesmo sendo exigida para tal. No Brasil, cerca de 30% dos trabalhadores na ativa já estão com sintomas desta síndrome, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho.
Burnout significa o trabalho externo que faz sofrer (Burn – queima e Out – exterior). A concepção do trabalho na cultura ocidental entra como uma pressão social, uma obrigatoriedade. Diante desta perspectiva e da evolução tecnológica associada à tendência do ser humano em buscar o mínimo esforço, trabalhar com metas rígidas e contínuas, de fato, tende a desenvolver patologias como esta síndrome.
Sintomas
Os principais sintomas da Síndrome de Burnout, são:
Físicos – Cansaço excessivo físico; dor de cabeça frequente; alteração de apetite; insônia; dificuldade de concentração; pressão alta; dores musculares; problemas gastrointestinais; alteração de batimento cardíaco.
Emocionais – Sentimento de fracasso e insegurança; negativismo constante; sentimento de derrota e desesperança; sentimento de incompetência; alteração repentina de humor; isolamento.
Tratamento
Para caracterizar Burnout, é necessário que os sintomas físicos estejam diretamente associados aos emocionais. E aqui surge uma dúvida central: Há tratamento?
Quando há sintomas de ansiedade e/ou depressão com recorrência e que impedem o indivíduo de agir, haverá necessidade de apoio medicamentoso psiquiátrico, sim. Mas, como já sabemos que remédio não pensa e tratamentos só na base medicamentosa não evoluem, é necessária a psicoterapia com profissional Psicóloga(o), pelo menos, uma vez por semana até a pessoa se restabelecer. Quando a síndrome está no início, o processo pode ser mais rápido até chegar na alta. Mas, se já estiver em nível avançado, passa a ser uma síndrome com muita dificuldade de tratamento, visto que a pessoa já incorporou hábitos ao longo da sua vida profissional que, de fato, levam muito tempo para serem refeitos.
Quando o profissional tiver que entrar em licença, poderá, sim, desenvolver atividades de lazer sem problemas, pois estas são necessárias ao tratamento. Infelizmente, muita gente, e até empresários, ficam com a mentalidade de que se uma pessoa estiver de licença de saúde do trabalho, ela tem que ficar confinada dentro de casa.
Prevenção!
E eis que vem outra dúvida igualmente importante: É possível prevenir?
Toda e qualquer doença de caráter emocional é passível de prevenção. Porém, vivemos em uma Sociedade onde o adoecer é o aprendizado. Desde a infância, tiramos grandes vantagens em adoecer, pois crianças doentes não vão à escola, melhoram suas alimentações e até recebem mais atenção dos pais e familiares. Nossa cultura valoriza o adoecimento. No entanto, a prevenção é um santo processo para viver a vida dentro de uma perspectiva saudável, com olhar positivo e inclusive, não gastar tanto dinheiro com cuidados médicos.
Sendo assim, podemos prevenir o Burnout das seguintes formas:
1) Definir objetivos profissionais a curto/médio/longo prazo;
2) Manter atividades periódicas de lazer;
3) Desenvolver atividades fora da rotina;
4) Afastar-se de pessoas negativistas, no trabalho e fora dele;
5) Conversar com pessoas, ter amigos, socializar-se;
6) Desenvolver programa de atividade física com frequência;
7) Ter melhor controle sobre bebida alcoólica e tabaco;
8) Dormir, pelo menos, 8 horas por noite, desenvolvendo a higiene do sono.
Sem dúvida, há um movimento mundial pela diminuição da jornada de trabalho em função do avanço assustador de profissionais em sofrimento com esta síndrome. Porém, pensar na diminuição da jornada de trabalho requer também pensar em sistemas públicos que garantam lazer e o desenvolvimento do ócio criativo, que preconiza a capacidade de se estar sem trabalhar e ocupar o tempo com inteligência.
Também cabe às empresas, desde pequenas até as grandes, cuidar para que o ambiente de trabalho tenha seu esquema interessante, permitindo que os profissionais se sintam bem no ambiente tanto física como emocionalmente. Ainda neste quesito, vale pontuar que, no Brasil, tudo que diz respeito ao gasto de recursos com pessoas é enxergado como despesa, e não investimento. Porém, a despesa real é ver um trabalhador qualificado e que agrega valor à empresa ter que se afastar por uma síndrome que pode, sim, ter procedimentos de gestão para prevenção ao adoecer.
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Psicologia 02/07/2024 10:00:12 212
A Síndrome de Burnout (ouSíndrome do Esgotamento Profissional) é um distúrbio emocional causado pordiversos fatores que se comunicam entre si, tais quais: Exaustão extrema,estresse, esgotamento físico, excesso de trabalho e tarefas difíceis que a pessoa não se vê capaz de realizar mesmosendo exigida para tal. No Brasil, cerca de 30% dos trabalhadores na ativajá estão com sintomas desta síndrome, ...
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