Psicopedagogia 04/07/2025 08:36:34
A escola é um local de muitas “tribos urbanas”. Dentro do processo civilizatório e de urbanização, o espaço escolar apresenta-se como o maior patrimônio material e imaterial de uma cidade. Aqui, coloco a ideia de patrimônio material como um lugar preservado e de referência (como um monumento ou um museu). Quando passamos por uma escola pública, já a identificamos como um espaço coletivo e de direito de todas e todos.
A Escola como patrimônio material e imaterial
Como patrimônio imaterial, trago a noção subjetiva de representação que a escola carrega em si, pois todos nós temos lembranças fortes das escolas nas quais estudamos quando crianças e adolescentes – memórias favoráveis e desfavoráveis, mas memórias. Na concepção de patrimônio, podemos entender as consequências de, assim, encararmos as escolas, que precisam ser protegidas e preservadas. Não é verdade que, ao passarmos em frente a uma escola pública que está depredada, abandonada, logo temos a sensação de que aquele espaço está esquecido pelo órgão público e também pela própria comunidade?
Também trago aqui a concepção de escola pública como um patrimônio que atinge a maioria esmagadora dos brasileiros num âmbito pessoal, representando 80% da população enquanto as escolas particulares representam 20%. Em resumo, apenas um em cada cinco brasileiros realiza seus estudos numa instituição particular. Minhas lembranças da escola Cândido Rodrigues no Fundamental I, depois da escola Euclides da Cunha no Fundamental II, estão vivas até hoje no meu imaginário, assim como você tem lembranças fortíssimas do lugar no qual estudou.
Memória, identidade e representatividade escolar
Mas e as crianças que estudam em escolas particulares, não terão referência de memória na perspectiva de ser um ícone patrimonial? Terão sim, desde que a escola particular seja uma escola de longo percurso histórico e que preserve a identidade pedagógica originária. Isto se deve ao fato de que muitas escolas particulares, por questões econômicas, acabam mudando de perfil e se adaptando ao mercado, tendo em vista a lucratividade.
Resgatar a escola como patrimônio de uma cidade, de uma comunidade, é ter a percepção de que a construção do legado de uma nação se dá neste espaço por meio do processo educacional. Hoje, o maior investimento para as famílias no Brasil é a Educação. Tudo bem que isso virou um clichê político e todo mundo da política fala disso, mas, na prática, a realidade é outra.
Como a ascensão política (e dos políticos) no Brasil está sob domínio de uma elite socioeconômica, a Educação para todas e todos passa a ser uma bandeira perigosa quando levada às últimas consequências. Pois, se a população brasileira estudar e as escolas públicas forem de alta qualidade, vai faltar mão de obra barata para os trabalhos braçais — aqueles que os filhos das elites jamais farão.
A disputa de narrativas e o imaginário da escola pública
Quando falo de elite, estou falando do 1% da população que detém 99% dos recursos. Porém, essa elite financia políticos abstraídos cooptados nas comunidades periféricas, assim como nas classes B e C. Basta notar como a classe média C + e B no Brasil acredita que são ricos. Basta ter um salário ou uma renda familiar acima dos 10 mil reais mensais que já se comportam como elite.
E é essa classe C + e B que fica eternamente frustrada quando não consegue manter os filhos na escola particular, pois julga que a escola pública é reduto de “bandidos”. Infelizmente, as escolas particulares, em sua quase totalidade, vendem um imaginário de ostentação, emulando uma elite que representa apenas 1% da população. O problema é que essas escolas particulares não estão conseguindo entregar o que estão vendendo enquanto projeto de existência social. No final, acabam perdendo para as escolas públicas no imaginário patrimonial de seus alunos e também na ausência de conteúdos e experiências que, de fato, condizem com os interesses e a realidade de seus clientes.
Caminhos para fortalecer a escola como espaço coletivo
Neste sentido, pensando que a maioria dos usuários da educação brasileira está nas escolas públicas, é nelas que mantenho esta reflexão. Aqui, parto para algumas estratégias para que a população tenha um olhar sobre a escola pública como patrimônio a ser preservado, defendido e ocupado:
1. Ver a escola pública como um espaço plural, pois ali habitam mundos diferentes, tanto no espectro religioso e profissional, quanto cultural. Cada família configura um mundo à parte que, na escola, se reorganiza como um coletivo em torno da educação.
2. Uma escola afeta toda a comunidade, desde o trânsito até o comércio no entorno que se alimenta direta e indiretamente de seu território.
3. A escola é, hoje, o maior símbolo da força coletiva. É praticamente o único espaço em uma comunidade onde todas e todos convivem. Cada grupo específico acaba se fechando em si: religião, esporte, lazer, profissão. Na escola, se aglutinam em torno de uma demanda comum. Por este motivo, há uma forte tendência de desmonte deste espaço público vital. Não é à toa que há uma estratégica destruição do imaginário da escola pública como patrimônio, pois nela a população pode se organizar e se fortalecer. Torna-se uma população perigosa — e, na escola, campo de encontro das múltiplas forças da comunidade, há possibilidade de fortalecimento das lutas por direitos, mobilizações coletivas. Este tipo de equipamento não agrada a uma política de interesses de exploração e dominação.
Desta forma, indico aqui algumas ações que podem colaborar para o fortalecimento da escola como patrimônio material e imaterial, partindo das famílias e/ou grupos organizados na comunidade:
1. Aproximar-se da escola e se oferecer para contribuir na melhoria da estrutura, naquilo que for emergente e necessário, pois a comunidade não pode delegar demandas estruturais apenas ao órgão público. Pode (e deve) reivindicar a ação dos órgãos responsáveis, mas também pode solicitar a participação da comunidade no entorno em suas ações comunitárias e reformas.
2. No quesito da comunidade escolar, entender que a escola não está fechada em si e não é patrimônio do gestor público. Ela é da Sociedade, e a comunidade deve se envolver e se sentir participante desta comunidade escolar.
3. Observar como está o processo de inclusão e as estruturas físicas de acessibilidade, atuando na melhoria deste aspecto — fator que leva muitos alunos ao abandono da escola.
4. Reivindicar que o espaço da escola seja também dinamizado para a comunidade, dentro de um processo planejado e organizado com o órgão público e a gestão vigente. Muitas escolas ficam de portas fechadas à comunidade e não há integração com esporte, lazer e cultura, como um espaço que possa oferecer e favorecer o uso comunitário.
5. Criar ações reivindicatórias para melhoria do entorno da escola no aspecto da segurança pública, pois a escola é alvo de interesses do comércio, do narcotráfico e até da prostituição.
6. Observar interferências religiosas específicas na escola como se, a partir de ações isoladas, houvesse influência de grupos religiosos específicos. A escola é laica e nela deve predominar a abertura para a diversidade. Infelizmente, muitos grupos religiosos querem adentrar a escola para influenciar por meio de uma doutrina específica. Se grupos religiosos adentram a escola, deve ser com o caráter exclusivo de serem mais um participante neste cenário coletivo e comunitário, para favorecer o fortalecimento deste valioso patrimônio — não para conquistar fiéis.
Estes e muitos outros itens poderiam ser enumerados aqui, mas, no momento, trago o principal elemento desta reflexão: Entendermos que a escola é um território de saber e da busca pelo conhecimento. Possui uma força imaginária no coletivo de uma comunidade e, por isso, deve ser uma extensão da comunidade — não apenas um equipamento isolado do mundo. O maior de todos os patrimônios de um país que pretende ter na educação seu principal investimento.
Uma ação pastoral que anuncia e denuncia
Como escrevo este artigo às vésperas de uma palestra para o VII Seminário da Pastoral da Educação da Diocese de São Mateus – ES, no dia 05/07/2025, resta apenas indicar que, para uma ação pastoral que tem como foco os princípios evangélicos a partir das referências da Igreja Católica no Brasil, é preciso preservar a “evangélica opção preferencial pelos pobres” — para que estes deixem de ser pobres.
A ação pastoral não pode se restringir apenas a desenvolver ações para falar de uma espiritualidade cristã e suporte afetivo e espiritual à comunidade escolar. É necessário uma ação profética e evangelizadora de ver, julgar, agir, denunciar e anunciar. Denunciar nas ações diagnósticas e anunciar nas ações interventivas. Do contrário, será mais um grupo religioso tentando cooptar fiéis e/ou favorecendo processos de intervenções para maquiar resultados ou agindo na superficialidade. Hoje, mais que nunca, precisamos de ações pastorais que possam colocar os agentes no “martírio da luta”. Aqui, o martírio é por proposições a uma educação que pulsa vida e libertação. Por ser um campo de monopólio das políticas espoliatórias de domínio econômico, atuar sem incomodar tende a ser o caminho mais fácil.
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Psicopedagogia 04/07/2025 08:36:34 8
A escola é um local de muitas “tribos urbanas”. Dentro doprocesso civilizatório e de urbanização, o espaço escolar apresenta-se como omaior patrimônio material e imaterial de uma cidade. Aqui, coloco a ideia depatrimônio material como um lugar preservado e de referência (como um monumentoou um museu). Quando passamos por uma escola pública, já a identificamos comoum espaço coletivo e de direito de...
Psicologia 26/06/2025 10:12:54
A vida adulta carrega em si a crueldade da imersão profunda na realidade do cotidiano. A meu ver, este é um elemento agressivo da saída da vida de criança, levando a um longo período de transição pela adolescência até chegarmos à vida adulta. Tal passagem é tão cruel que há fortes sugestões de que a adolescência se estenda conceitualmente para além dos 26 anos. Hoje, ainda preconizo até os 22 anos, tendo o período de 17 a 22 anos reconhecido como adolescência adulta.
A crueldade do fim da infância e a longa travessia para a
vida adulta
Mas essa crueldade da entrada na vida adulta — que a Organização Mundial da Saúde (OMS) delimita a partir do final da juventude, aos 29 anos — parece fazer com que tudo perca o encanto. A emersão da fantasia infantil, que nos remete sempre ao saudosismo da fase da vida em que não éramos preocupados com nada, entra em um patamar sem flores. E aqui lembro do belo filme A História Sem Fim (1984), dirigido por Wolfgang Petersen, no qual um garoto sobe ao sótão de sua casa, entra em um livro infantil e viaja por essa história. O filme nos coloca diante de um processo de transição entre fantasia e realidade, no qual a criança está em pleno processo de imersão na fantasia.
Fantasia e realidade: o risco de perder o encantamento
Já na entrada da vida adulta, a fantasia parece dar lugar total à realidade. E, se o adulto permanece preso ou imerso na fantasia, algo parece estar fora do lugar. No entanto, entrar na vida adulta torna-se ainda mais cruel quando esquecemos que um dia fomos crianças — não restando sequer as lembranças das fantasias passadas. É comum, no processo de análise, que aqueles analisados não consigam lembrar das cenas da primeira infância num primeiro momento (principalmente entre 1 e 4 anos de idade). Há também aqueles que chegam totalmente absorvidos em um processo regressivo infantil, nos quais a realidade da vida adulta parece desconexa.
A criança esquecida e os
sintomas da vida adulta
Se esquecemos que fomos crianças ao adentrarmos a vida adulta, apresentaremos comportamentos com sintomas, tais quais variações de humor, rigidez comportamental e intolerância ao convívio com crianças. Um dos sintomas mais comuns que observo em adultos que se tornam mães e pais é o cansaço excessivo pelo contato com os filhos, ou uma intolerância em brincar com eles e adentrar sua fantasia.
No início do processo da análise, o analisando se apega à descrição das cenas do cotidiano, como se estivesse relatando uma notícia, descrevendo os fatos sem analisá-los de fato. Depois, com o desenrolar do processo e com o cansaço de falar das mesmas coisas e pessoas, o analisando começa a falar de quem foi, da sua história, e as memórias da infância começam a emergir. Por isso, dizemos que o sujeito analisado vai se tornando mais leve, pois começa a ver e reconhecer a criança que foi e que, aprisionada pelo inconsciente, se manifesta por meio de sintomas comportamentais que finalmente podem ser vistos e reelaborados.
Lembrar, sonhar e viver com
criatividade
Como já nos orientava o psicanalista e pediatra Dr. Donald Winnicott, o que analisamos no adulto é a criança que está dentro dele. Assim, ao lembrar, reviver e elaborar essa criança do passado — que ainda habita o adulto como comportamento e memória — passamos a encarar a realidade cruel com mais suavidade e leveza, pois há a fantasia que podemos deixar se manifestar no cotidiano. Tornamo-nos adultos melhores, que se permitem brincar e sonhar.
Pois infeliz é o adulto que não sonha — esse já não estará mais vivendo. Sonho aqui no sentido de desejar, fantasiar, se permitir brincar na vida e fazer do cotidiano um desafio a ser vivenciado com criatividade. A criatividade é a evolução da fantasia infantil para a vida adulta. Por isso, dizemos que, para viver o dia a dia, é preciso ter muita criatividade e cultivar a arte de viver.
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Psicologia 26/06/2025 10:12:54 65
A vida adulta carrega em si a crueldade da imersão profundana realidade do cotidiano.A meu ver, este é um elemento agressivo da saída da vida de criança, levando aum longo período de transição pela adolescência até chegarmos à vida adulta.Tal passagem é tão cruel que há fortes sugestões de que a adolescência seestenda conceitualmente para além dos 26 anos. Hoje, ainda preconizo até os 22 anos, ten...
Religião 11/06/2025 15:03:02
A recente divulgação do IBGE sobre o comportamento dos brasileiros em relação à prática religiosa traz informações que nos impedem de entendermos a realidade dos fatos. Principalmente, quando colocam os evangélicos como membros de uma mesma prática religiosa, em uma junção que se dá dentro de um comparativo com os católicos, num foco de “estes em queda, aqueles em crescimento”.
Outros problemas na pesquisa e sistematização dos dados deste levantamento do IBGE dizem respeito aos praticantes de religiões de matriz africana e/ou espírita. Também não há especificações ao se coletar estas informações do povo brasileiro, sugerindo que se denominar espírita e/ou de práticas de matriz africana é algo tido como proibido em um país colonizado com a tarja cristã. Muitos dos que estão em cultos católicos ou de outras denominações cristãs frequentam terreiros e centros espíritas, mas, se interrogados, dirão apenas que são católicos ou evangélicos.
Fragmentação dos Cristãos Não-Católicos
Neste momento, quero apenas pontuar que, ao falar que se é evangélico, entende-se que não se é católico, mas cristão. Porém, o crescimento dos cristãos não-católicos é fragmentado, pois não podemos vê-los com a força que os números sugerem por não pertencerem a uma única instituição que, de fato, os represente. Hoje, no Brasil, aqueles tidos evangélicos que os dados do IBGE apontam como se estivessem crescendo, são vinculados a um perfil pentecostal que se configuram em pequenos grupos fragmentados, seguindo regras e normas específicas conforme cada líder religioso. Lembrando que católicos e evangélicos são cristãos.
Já pude entrar em cultos de igrejas cristãs não-católicas em um mesmo dia, em diferentes lugares e observei que, em cada congregação ou célula com um pregador tido como pastor ou pastora, as condutas, regras e normas eram diferentes. Há ruas e avenidas em muitas cidades no Brasil em que vamos encontrar dezenas de diferentes igrejas cristãs não-católicas.
Institucionalidade versus Proliferação
Desta forma, ao dizer que os “evangélicos” crescem - um enunciado que sugere estarmos diante de uma religião centralizada que se fortalece - caímos no erro de não percebermos que esta crescente não se sustenta enquanto força e contraponto, por exemplo, ao catolicismo, que segue sendo a religião da maioria do povo brasileiro. Porém, aqui sabe-se que há uma instituição definida, com normas e critérios bem-estabelecidos e com a possibilidade de ter diferentes formas de praticar o catolicismo, conforme os carismas das diferentes correntes espirituais com um eixo condutor a partir de um papa, cardeais, arcebispos e padres. Já nos grupos tidos como evangélicos, esta referência se perde. Eis que surge a dúvida: Esta norma vem do grau de igreja quarta, ou quinta, ou sexta, ou décima do quadrado de Jesus? Outro fator que não aparece na apresentação dos números do IBGE é a perda de fieis por parte de congregações cristãs não-católicas diretamente provenientes da Reforma Protestante, como, por exemplo, a Igreja Luterana e a Igreja Presbiteriana.
O que está em alta na prática religiosa brasileira, ao que me parece, são os grupos que prometem soluções, curas e prosperidade. Diante de um povo sedento e cheio de perdas estruturais, sociais e emocionais, a promessa é o que causa, inclusive, uma evasão de fiéis em busca constante por outras denominações religiosas que prometem soluções (até materiais) no aqui e no agora. “Se não obtenho o que oferecem, mudo para outra até achar.” E nunca acha.
A Promessa Religiosa e seus Impactos Psíquicos e Sociais
Esta complexidade e falta de dados para entender a prática religiosa do povo brasileiro traz uma enorme lacuna para a estrutura psíquica dos cristãos brasileiros, pois a prática religiosa está diretamente ligada às estruturas psíquicas internas de uma pessoa. E, se nesta busca religiosa o campo da busca é diverso e indefinido, teremos uma fragmentação social da população e uma fragilidade cultural. Um país dividido pela Fé é campo aberto para a exploração dos privilegiados economicamente e de grupos políticos em busca de poder. Fatores que Freud já apontava em seus textos, como Totem e Tabu.
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Religião 11/06/2025 15:03:02 48
A recente divulgação do IBGE sobre o comportamento dosbrasileiros em relação à prática religiosa traz informações que nos impedem deentendermos a realidade dos fatos. Principalmente, quando colocam osevangélicos como membros de uma mesma prática religiosa, em uma junção que sedá dentro de um comparativo com os católicos, num foco de “estes em queda,aqueles em crescimento”. Outros problemas na pesq...
Psicologia 06/06/2025 14:51:31
Para o IBGE, a classificação das fases da vida de idosos é: De 60 a 74 anos, considerado idoso; de 75 a 90 anos, considerado ancião e, de 90 anos em diante, velhice extrema. Porém, aqui procuro definir as fases da vida idosa a partir de um referencial que remete às fases anteriores à idosa, onde classifico: idoso bebê, idoso criança, idoso adolescente, idoso jovem, idoso adulto e idoso ancião, num paralelo à classificação do IBGE. O problema é que, aos olhos do IBGE, as faixas etárias idosas compreendem longos períodos (aproximadamente 15 anos, em média) nos quais observo que o idoso passa por muitas variações.
Neste 9 de Junho de 2025, entro nos meus 61 anos. Mas sinto que não me vejo idoso, pois a configuração idosa perpassa uma longa trajetória. Para quem está idoso aos 90 anos, é totalmente diferente de quem está aos 61. Dá uma sensação estranha quando entro em uma fila de idosos e, às vezes, uma pessoa de 80 anos está atrás de mim. Parece que estas filas preferenciais precisam ser revistas ou subdivididas. O problema é que não vai caber tantos caixas no supermercado ou num banco, por exemplo.
O paradoxo de ser "Idoso" aos 60
Ao mesmo tempo em que já posso usufruir de privilégios como estacionamentos e filas preferenciais, não consigo me perceber idoso. Não por estar negando ser idoso — muito pelo contrário, adoro a perspectiva de viver esta fase da vida — mas porque meu pique de fazer as coisas e meu corpo são muito diferentes daqueles de outro idoso que se encontra aos 90 anos. No entanto, acabamos sendo enquadrados no mesmo patamar.
Brincando entre amigos, fiz as seguintes especificações para estas classificações que estou denominando: Os "idosos bebês", grupo no qual me encaixo, são aqueles que estão saindo de uma vida de adulto para uma vida de idoso e aprendendo a se perceber como tal, achando estranho quando nos chamam de "velho", "idoso" ou "coroa". Enfim, vivendo no limiar entre querer manter-se jovem e entender que a vida de idoso chegou.
As novas categorias da vida Idosa
Já os "idosos crianças" são aqueles que se assumem idosos e brincam com essa demanda, já não ficando inconformados e tirando de letra o ser chamado de idoso. São assim, normalmente, aqueles que entram na faixa dos 65 anos.
Classifico como "idosos adolescentes" aqueles que, já se impondo como idosos, esbravejam se necessário e se posicionam com determinação na defesa de seus direitos enquanto idosos. Vale ressaltar que, assim como a adolescência propriamente dita, podemos entender o "idoso adolescente" até os 75 anos, onde empunhará o grito "abaixo o etarismo" e defenderá seu potencial capacitante e possibilidades de fazer.
Do idoso adulto ao velho ancião
Já os "idosos adultos", colocados a partir dos 75 anos, são aqueles que se estabilizaram nas suas posições e já levam a vida com mais parcimônia, sem perder sua postura e brilho. Se colocam com mais clareza sobre sua história e passam até a ser referência aos que lhe rodeiam. Dos 80 até os 90 anos, podemos então adotar a nomenclatura do "idoso sênior". Os "idosos sênior" são aqueles que escutam e opinam quando lhes é dada a palavra. Aqueles que vêem o que os mais novos ao redor não estão vendo e que anunciam a todos que ciclo da vida chegou em seu fim.
A partir dos 90, aí sim, poderia denominar de "velhice propriamente dita" e adjetivar o indivíduo como “velho ancião”, pois alcançar este nível em condições de ter autonomia sobre o que pensar e como agir com força física e projetos ainda a desenvolver é uma quimera para poucos. Eu mesmo desejo chegar aos 115 anos — um desafio às condições biológicas da nossa espécie. Lógico que, desta faixa etária, numa Sociedade em que o consumo e o imediatismo são elementos de estrutura fundamentante, chegar aos 60 anos já é motivo para ser peça descartável.
O início de um novo ciclo
E é aí que surge a principal angústia para os que entram nos 60 anos com a tarja de idoso e, ao mesmo tempo, a possibilidade de serem descartados: É preciso muita determinação para chegar aos 60 anos com a ideia de que se está iniciando um ciclo novo de vida, como o engatinhar de um bebê.
No dia 09/06/2025, chego ao meu primeiro ano de vida de idoso. Um "idoso bebê". Agora já comecei a andar para evoluir a um "idoso criança" e poder me divertir na minha vida idosa como se estivesse, de fato, mergulhando em maravilhosas fantasias. E olha que estou cheio de peraltices para viver.
Eis minha nova definição para as diferentes fases da vida idosa, que pode me potencializar — e nos potencializar — para uma bela trajetória nesta longa vida de idoso, nesta revitalização das fases do desenvolvimento humano. Até chegar aos 60 anos, vejo, sem dúvida, um renascer da vida para um novo ciclo a se vivenciar.
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Psicologia 06/06/2025 14:51:31 61
Para o IBGE, a classificação das fases da vida de idosos é: De 60 a 74anos, considerado idoso; de 75 a 90 anos, considerado ancião e, de 90 anos emdiante, velhice extrema. Porém, aqui procuro definir as fases da vida idosa apartir de um referencial que remete às fasesanteriores à idosa,onde classifico: idoso bebê, idoso criança,idoso adolescente, idosojovem, idoso adultoe idoso ancião, num paralel...
Psicanálise Contextualizada 29/05/2025 09:07:13
Olhar na escuta, esta é a minha dinâmica no processo de escuta em psicanálise. Desde um atendimento a bebês junto de suas mães para já intervir em vínculos que possam estar bloqueando a transmissão de afetos materno-filiais, até crianças, adolescentes e adultos. A escuta psicanalítica, na minha perspectiva analítica — que intitulo psicanálise contextualizada — parte da palavra do analisando para entrar na cena. Como costumo pontuar aos meus pacientes: “Preciso ver a cena, toda a cena”. Quase como um Big Brother. Por isso mesmo costumo dizer que psicólogos são meio que fofoqueiros — adoram ouvir uma fofoca — apenas com a diferença de que essas histórias ficam apenas na memória dos pacientes.
O entrar na cena pela palavra dita em setting analítico (nas sessões) se dá de diferentes formas. Por exemplo: As crianças falam pelo brincar, os adolescentes transitam entre verbalizar e jogar, e os adultos o fazem por meio da fala direta. Mas em todas essas formas de comunicar, a cena vem e torna o processo mais transparente, tanto para o psicólogo-analista quanto para o paciente. Quando a fala não faz emergir - não formando uma cena - podemos estar diante de uma expressão fantasiosa que pode estar conectada a um mecanismo de defesa que é ativado quando o paciente não quer se revelar, como um processo de resistência. E é nessa resistência que pode morar o sujeito que não quer que a verdade sobre ele seja revelada.
Freud vai avançar em sua escuta para além do Indivíduo após a Primeira Guerra Mundial, pois, até então, parecia estar em uma redoma, mergulhado na construção de sua teoria e tentando convencer seus colegas médicos de que suas descobertas tinham caráter científico. Sendo Freud um neurologista e pesquisador das enguias marítimas, no seu esquema neurotransmissor, ele rompe com a neurologia laboratorial e parte para construir seu relato de tratamento psíquico — a Psicanálise. Seu maior legado que, de fato, representa um corte epistemológico (um pensamento que é descoberto e faz mudar o rumo de uma forma de pensar), é quando nomeia o Inconsciente. De lá pra cá, tudo que se entende como inconsciente, devemos ao gênio Freud.
Freud: da escuta individual à construção teórica
Mas imagine: Freud precisava manter-se hermético em sua teoria, que era fruto do mergulho em sua escuta clínica. Tanto que temos cinco casos paradigmáticos sobre os quais Freud escreveu sistematicamente, com base na escuta individual de seus pacientes e que podemos encontrar no livro "Histórias Clínicas: Cinco Casos Paradigmáticos da Clínica Psicanalítica", editado pela Editora Autêntica. Nestes casos, a escrita de Freud faz surgir as cenas das sessões. Em alguns momentos, parece que estamos assistindo a um filme a partir da transcrição de Freud sobre a fala de seus pacientes em sessão.
Por isso, escutar a cena, para mim, é um legado que trago de Freud. Um Freud que fala e elabora teoria com transparência no escrever, como se já estivesse exercendo a práxis (teoria e prática), onde a boa teoria emerge da vivência prática. Neste sentido, esse é um dos grandes méritos de Freud — tanto que foi premiado com honrarias equivalentes ao Nobel de Literatura por sua escrita literária, como foi o caso do Prêmio Goethe da cidade de Frankfurt, em 1930.
A cena como legado freudiano
Porém, até então, antes da Primeira Guerra Mundial, Freud estava envolto na construção da Psicanálise. De fato, vemos que ele olhava para as demandas do indivíduo e, no máximo, fazia conexão com pessoas próximas a seus pacientes para compreendê-los. Verás, por exemplo, no caso Dora (em que analisa uma adolescente) que Freud ficou apenas na demanda da histeria — um conceito em franco desenvolvimento na época — mas deixou de ver de forma mais ampla o quanto a adolescente que analisava estava envolvida em uma sociedade que invadia as ingenuidades de uma jovem em processo de definição de sua identidade, sendo inclusive vítima de assédio sexual.
Com as mazelas vividas no pós-Primeira Guerra — tendo inclusive sua família empobrecida e marcada pelos traumas emocionais da guerra, como toda a Viena da época — brota em Freud um olhar para o social, levando-o a instaurar clínicas públicas que viriam a se espalhar pela Europa após 1919. A partir daí, a psicanálise adquire um novo olhar de uma escuta que inclui o indivíduo no contexto social, gerando novos textos de Freud com maior imersão social. Ele chega a afirmar que a psicanálise é o social.
Da escuta individual ao sujeito inserido no social
Hoje, estou empenhado em reescrever a psicanálise para a nossa realidade brasileira e latino-americana. Para isso, revisito conceitos da psicanálise desde Freud, passando pelos pós-freudianos até chegar a Lacan (especialmente a partir de 1933), quando sua influência começa a tomar corpo por meio dos seminários de 1953 em diante. É necessário descolonizar a psicanálise eurocêntrica e pensá-la a partir do seu principal legado — o Inconsciente — em diálogo com os pensadores da diáspora africana no Brasil e da ancestralidade indígena brasileira e latino-americana. É um desafio sair de uma clínica centrada no indivíduo, como se o processo analítico fosse algo isolado dentro do setting terapêutico, desconsiderando o sujeito como extensão de sua cultura e de sua história. Um desafio que já vivencio no meu cotidiano: Escutar a cena e contextualizá-la no ambiente onde ela acontece, desde a microvivência até a macrovivência.
Como escutar um sujeito que não está mais pontuando ereção peniana sem compreender esse sintoma dentro de seu contexto socioeconômico e cultural? Como analisar uma pessoa com disfunção alimentar sem enxergar, em sua estrutura psíquica, a avalanche publicitária do gourmet e os significados regionais atribuídos ao alimento? Enfim, a escuta da cena precisa ser como um filme transmitido, uma novela em desenvolvimento que nunca acaba. Ou um conteúdo da Netflix que obsessivamente repete, repete, mas nunca termina. Faz laço, enlaça e vicia pois, na fala analítica, a repetição tem sentido pleno — assim como fazem muito sentido as voltas e retornos que a história dá, nesse processo cíclico que parece sempre nos devolver ao mesmo lugar.
Contextualizar para escutar
E é aí que entra a geopolítica na escuta, pois entendo que vivemos e nos relacionamos como resultado de políticas instituídas e ideologias traçadas. Sendo assim, como levar as pessoas em processo analítico a identificarem traços de sua própria ideologia — aquilo que representa sua forma de escolher, viver e reconduzir-se pelas estradas que trilham — se essa ideologia está impregnada pela ação política no espectro da geopolítica global?
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Psicanálise Contextualizada 29/05/2025 09:07:13 100
Olhar na escuta, esta é a minha dinâmica no processo de escuta empsicanálise. Desde um atendimento a bebês junto de suas mães para já intervirem vínculos que possam estar bloqueando a transmissão de afetosmaterno-filiais, até crianças, adolescentes e adultos. A escuta psicanalítica, na minha perspectiva analítica — queintitulo psicanálise contextualizada — parte da palavra do analisando para ...
Psicologia 21/05/2025 17:08:24
O luto é um estado de elaboração de uma perda. Podemos vivenciar o luto pela morte de parentes ou amigos, mas também por pessoas que tínhamos como referência em algum campo da vida, como um escritor, músico, ator, entre outros. No entanto, o luto não se restringe à perda de pessoas. Passamos por lutos diversos, como perdas materiais, derrotas em competições, cancelamentos de eventos, entre outros. Sempre que nos deparamos com perdas que nos remetem a sentimentos de vazio, frustração, tristeza, angústia e introspecção, estamos vivenciando o estado de luto.
Na psicanálise a partir de Freud, podemos adentrar o tema do luto compreendendo que vida e morte coexistem em constante tensão. O que impulsiona a vida é, paradoxalmente, a presença da morte. Freud nos apresenta as forças psíquicas de Thanatos (pulsão de morte) e Eros (pulsão de vida) como constitutivas da estrutura psíquica do sujeito que, ao longo de seu desenvolvimento, estará constantemente polarizado entre essas duas pulsões. Quando a pulsão de morte se sobressai à pulsão de vida, podemos compreender que o sujeito está atravessando perdas estruturantes de desejo, especialmente quando lhe falta o fator desejante, ou seja, a pulsão de vida capaz de sobrepor a pulsão de morte.
A cultura da perda como processo de transformação
Aprender a lidar com perdas estruturantes ao longo da vida pode nos colocar em uma posição psíquica desejante e pulsante — principalmente quando essas perdas são compreendidas como etapas de um processo, como passagens. É claro que, nas idades iniciais e até na adolescência, a capacidade de lidar com perdas e vivenciar o luto dependerá não apenas do sujeito, mas também do ambiente que o cerca. Pais, parentes, amigos e, evidentemente, a própria estrutura social em que ele está inserido. Ou seja, a Cultura.
Desde que nascemos, estamos perdendo. Perdemos o útero, depois os seios da mãe, em seguida o corpo infantil, e, logo, perdemos os pais de criança para então termos que conduzir a vida por nós mesmos. Se, nessa trajetória, os ambientes não forem acolhedores e estimulantes, e a Sociedade ao redor valoriza as instabilidades e a morte — tratando-as apenas como tragédias e não como transições — aprender a lidar com as perdas se torna difícil. Assim, o luto deixa de ser passagem e torna-se um sofrimento paralisante.
O luto como porta para o desejo e a vida
Entrar em um novo momento da vida, ao ter que perder processos anteriores, pode ser angustiante. Isso pode levar à paralisia, à perda do desejo e fazer com que o luto se transforme em sintoma de angústia ou depressão — quase eterno. Porém, no próprio processo de elaboração do luto, há a possibilidade de reconexão com o desejo e com a pulsão de vida.
Vivemos em um sistema cultural que prioriza a morte em detrimento da vida. Isso é evidente na forma como as notícias são veiculadas: Há ênfase em catástrofes, homicídios e conflitos entre grupos e nações. Poucas são as notícias que valorizam a vida, o amor e a solidariedade — aspectos ligados à pulsão de vida. Isso ocorre porque o espetáculo do caos atrai mais atenção e ativa nosso temor mais profundo: O medo da morte.
A ancestralidade, a agressividade e o impulso de destruição
Diante de qualquer sinal de ameaça à vida, entramos automaticamente em estado de alerta e defesa. Nesse ato defensivo, muitas vezes atacamos antes de sermos atacados — uma lógica que revela nossa fragilidade e a tentativa de compensá-la com uma atitude de onipotência. Sentimo-nos quase deuses, mas tomados por um medo profundo de morrer. Isso instaura uma cadeia de defesas entre as pessoas, nos tornando, enquanto espécie, destrutivos — pois passamos a destruir aquilo que representa ameaça.
Quando percebemos, já ofendemos, já atacamos. Com isso, resgatamos uma ancestralidade destrutiva: Sobrevivemos por meio da autopreservação e, assim, desenvolvemos uma identidade agressiva por excelência, como já apontou Yuval Harari em seu livro Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. Para tentar amenizar essa herança destrutiva, a Humanidade desenvolveu, ao longo do tempo, formas culturais — como a religião — que promovem o amor. É possível identificar, em várias religiões ao redor do mundo, um fio condutor que prega: “Não faça ao outro o que não gostaria que fizessem a você”.
Psicanálise, esperança e transformação social
Religiões resgatadas da ancestralidade africana, da diáspora forçada pela escravização colonialista, também apontam para o cuidado com o outro, com o meio ambiente e com a coletividade. No Brasil, a ancestralidade indígena e as práticas religiosas dos povos originários revelam esse mesmo respeito — com destaque para a espiritualização da floresta e dos seres vivos como forma de protegê-los. Podemos entender este traço através do indígena Davi Kopenawa e Bruce Albert no livro “A queda do céu”, onde revela a força da espiritualidade Xamã na floresta. Apesar disso, nem mesmo esses movimentos religiosos que defendem o amor e a solidariedade conseguiram conter a fúria defensiva dos sapiens, cuja reação diante da ameaça é a destruição. Em muitas ocasiões, o impulso de vida é usado apenas para evitar a morte, não para fomentar a vida em si.
Freud reconheceu esse fracasso em diversos textos, como O Mal-Estar na Civilização, O Futuro de uma Ilusão, Totem e Tabu. Para ele, tanto o controle pelo Estado (com suas leis) quanto pela religião falham se o ser humano não desenvolver uma auto-percepção de seus movimentos internos, reconhecendo suas pulsões de vida e morte. Essa construção é um processo longo, tanto no nível individual quanto coletivo. Em 1919, na Conferência de Budapeste após a Primeira Guerra Mundial, Freud defendeu a psicanálise como uma ferramenta também social que abre caminhos para pensar a transformação das estruturas psíquicas e sociais a partir da análise e da percepção de si.
A busca por respostas sobre como evitar guerras, destruição ambiental e práticas discriminatórias também é uma expressão da pulsão de vida, que nos impulsiona a não aceitar passivamente uma cultura de morte. As ciências humanas - e aqui destaco a psicanálise, campo em que atuo — são formas de criar novas visões e possibilidades de transformação da realidade. Nesse sentido, é possível, sim, fomentar esperanças a partir da psicanálise. Podemos vislumbrar caminhos de mudança, como nos propôs Paulo Freire — educador brasileiro que levou sua pedagogia da esperança ao mundo — mostrando que é possível caminhar mesmo diante da escuridão, cunhando para isso o termo “esperançar”.
As lutas são imprescindíveis e necessárias para a elaboração das perdas e das passagens. Mas é preciso que essas lutas nos impulsionem a continuar caminhando. Caso contrário, o luto mata a pulsão de vida e fortalece a pulsão de morte.
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Psicologia 21/05/2025 17:08:24 121
O luto é um estado de elaboração de uma perda. Podemosvivenciar o luto pela morte de parentes ou amigos, mas também por pessoas que tínhamos como referência em algum campo da vida, como um escritor, músico,ator, entre outros. No entanto, o luto não se restringe à perda de pessoas.Passamos por lutos diversos, como perdas materiais, derrotas em competições,cancelamentos de eventos, entre outros.Sem...
Psicanálise Contextualizada 06/05/2025 18:35:43
É possível saber se a forma com que os pais estão educando seus filhos poderá representar um legado para toda a vida deles? Enquanto os pais estão em pleno processo educacional na condição dos filhos serem plenamente dependentes deles enquanto crianças e adolescentes, torna-se difícil medir se os filhos levarão alguma memória positiva dos pais, e destes saberem se estão construindo memória positiva nos filhos. Na adolescência, esta é uma realidade bem mais distante, pois emergem os conflitos existenciais dos adolescentes e consequente ataques dos mesmos por busca da autonomia, pois tudo de ruim que acontece a eles é culpa dos pais.
Pode ser que, já quando os filhos estiverem na vida adulta, conseguirão expressar aos pais algum legado que estão levando deles, manifestando ainda em vida estes sentimentos. Mas esta realidade, para muitos filhos adultos que ainda não vingaram na vida profissional e nem como pais, dificilmente será expressa por aqueles nestas condições, sobrando ainda a culpabilização por não terem conseguido chegar a algum lugar melhor na vida.
Quando o patrimônio não traduz afeto
Pensar o legado no campo financeiro é outro elemento que pode trazer pouca memória, a não ser que os pais tenham construído vasto patrimônio e o distribuído aos filhos ainda em vida, mas são poucos aqueles que conseguem realizar esta proeza. E patrimônio, dinheiro, muitas vezes está associado a muito trabalho e pouca presença afetiva. A aritmética “patrimônio = felicidade emocional”, geralmente não coaduna.
Pior é quando os pais estão em idade muito avançada, com sintomas de adoecimentos inerentes à velhice e com necessidade de muitos cuidados, num contexto em que comportamentos infantis e mesmo as neuroses não elaboradas ao longo da vida se manifestam. Aí, a memória deste período que exigiu muito dos filhos nos cuidados e na logística, será de um sofrimento proporcional ao tempo e ao esforço deste cuidado.
Como o ato de educar filhos não traz garantias de nada, e não podemos traçar um parâmetro do que qualifica os pais como melhores ou piores, a conclusão mais realista sobre a educação de filhos e seus legados é que nada é categoricamente certo e muito menos garantido. Felizes os pais que assim agirem no processo educacional, pois se cobrarão menos sobre possíveis fracassos dos filhos em suas trajetórias.
O que realmente permanece na alma dos filhos
Porém, ao pensar no campo da estrutura psíquica que os pais podem estabelecer diante de seus filhos, há algumas vivências que podemos entender que um filho levará para toda a sua vida. Cito aqui algumas:
1) Uma relação marcada pelo vínculo afetivo espontâneo, a memória do amor expresso em caráter recorrente, sentido no dia a dia;
2) As vivências de estar junto, fazer junto e ter participado ativamente do cotidiano e da vida dos filhos;
3) As regras colocadas e valores de fato exercitados na prática cotidiana. Verdades que os pais pregavam e vivenciavam. Pois a expressão maior do Amor é a prática da Verdade. Como já dizia uma das letras cantadas pela banda brasileira Titãs: “...meu pai pedia para eu não mentir, mas nunca me ensinou o que era a verdade...”.
4) O legado da Educação como instrumento libertador e de possibilidade de crescimento como cidadão, se os pais tiveram incentivo pleno e participação absoluta no processo educacional.
Podemos também pensar demandas que conduzem filhos a não levarem nada dos pais, como:
1) Religião, pois a fé/religião está no campo das escolhas pessoais, pior ainda se a religião foi imposta como norma rígida.
2) A educação bancária, do toma lá dá cá e com cobrança de juros, pois o dinheiro não registra rosto nem afeto. Educação movida a bonificações não faz laço afetivo;
3) Regras morais e valores apregoados cujo os pais não vivem na vida pessoal.
Sempre vivemos esta incessante busca em nossa história, e cairemos sempre neste sentimento de identificar quais os legados que levamos para a nossa vida em relação aos nossos pais. Este processo sempre se acentua quando nos colocamos em processo de psicoterapia, principalmente se for de base psicanalítica. Há um momento da análise no qual tudo parece estar relacionado aos pais, até que evoluímos para percepções de nossa própria construção, do que escolhemos ser para nós mesmos.
Aqueles que conseguiram, ao longo da vida, elaborar uma auto percepção de si e uma escolha pessoal na forma de viver a partir do rompimento de vínculo de dependência com os pais, enxergam com mais clareza os legados dos pais que levarão para a vida e os que não levarão. Sofrerá mais e se sentirá mais preso aos pais aqueles que ainda, mesmo adultos, não conseguem se separar em identidade e subjetividade de seus próprios pais. Por este motivo e para esta questão, um processo de psicoterapia se torna muito recomendado.
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Psicanálise Contextualizada 06/05/2025 18:35:43 151
É possível saber se a forma com que os pais estão educandoseus filhos poderá representar um legado para toda a vida deles? Enquantoos pais estão em pleno processo educacional na condição dos filhos seremplenamente dependentes deles enquanto crianças e adolescentes, torna-se difícilmedir se os filhos levarão alguma memória positiva dos pais, e destes saberem se estão construindo memóriapositiva no...
Psicanálise Contextualizada 11/04/2025 15:27:56
O que é a Psicanálise? É a teoria criada por Freud que, ao longo dos anos, foi sistematizando conceitos e procedimentos do exercício clínico, tendo seu marco zero reconhecido na publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, de 1900. Porém, antes mesmo, Freud já estava construindo a teoria para estruturação de uma técnica e, de lá para cá, a Psicanálise se consolidou como uma das muitas metodologias existentes no campo da Psicologia.
O grande corte epistemológico de Freud foi o conceito do inconsciente, o qual trouxe uma guinada na forma de ouvir o ser humano, até então entendido por demandas situacionais do “aqui e agora”. Este conceito colocou Freud, inclusive, em uma posição de referência para a Filosofia. Em muitos manuais e artigos históricos da Filosofia, Freud e a Psicanálise são citados como marcos no desenvolvimento dessa ciência humana.
A Psicanálise como prática profissional no Brasil
O problema é que, no Brasil, a Psicanálise virou profissão sem ser estruturada como ofício, pois não há graduação formal nesta área e não há uma autarquia federativa que legitima a Psicanálise como uma função profissional parametrizada. Neste caso, para o campo de atendimento clínico na área da Saúde Mental e Emocional, temos a Psicologia e a Psiquiatria como ciências e profissões reconhecidas. Lógico que, em todas as áreas da saúde, assim como em muitas outras áreas do conhecimento, múltiplas teorias existentes são incorporadas como recursos para que profissionais melhorem seus atendimentos a pacientes e clientes. No entanto, como atendimento sistematizado no campo da saúde mental, as estruturas metodológica e legalmente reconhecidas no Brasil são estas citadas, assim como alguns setores de intervenção da Neurologia.
Sendo assim, o grande dilema da Psicanálise no Brasil na atualidade diz respeito a uma enorme proliferação de escolas e instituições psicanalíticas que engloba pessoas de diferentes áreas de conhecimento que se intitulam psicanalistas após seu período de formação, como se estivessem exercendo um ofício formal. Pior ainda: Viabiliza também a expansão do exercício da Psicanálise para um público leigo, esteticamente legitimando até mesmo pessoas sem nível superior de formação que já abrem clínicas e se auto-intitulam psicanalistas.
Religião, formações e distorções do ofício psicanalítico
Como Freud, em sua época, mantinha relacionamento de trocas de ideias com estudiosos de várias áreas do conhecimento — principalmente no campo das ciências humanas, incluindo até pastores que com ele estudavam — hoje houve um grande aumento no contingente de pastores evangélicos que buscam a Psicanálise como ferramenta para se estabelecerem enquanto referências de tratamento emocional às pessoas de sua cultura religiosa. Assim, garante-se que aquele “psicanalista” ligado à igreja não vai desviar a fé do fiel e ministrará um tratamento que não questiona tal prática. Isto ocorre porque, no bojo da obra de Freud, a religião sempre foi um tema crítico que coloca seu autor como inimigo da religião aos olhos de muitos da prática judaica e cristã. Vale ressaltar que a Psicanálise, na sua essência, não vai questionar a religião em si ou as convicções do indivíduo, mas o que o sujeito busca e como ele deseja se preencher na sua prática religiosa.
Quando recebo pacientes que trazem trajetórias de sujeição a tratamentos psicanalíticos vindos de líderes religiosos, automaticamente sei que terei muito conflito em potencializar o recurso analítico de interpretações — que consiste na pessoa em análise ter epifanias a partir de suas próprias falas, elaborando por conta própria suas demandas internas com cautela — por saber que estes estavam com pseudo profissionais e ainda buscam orientação, solução ou luz que venham de fora para dentro.
Formações sérias, regulamentação e recomendações finais
Por outro lado, temos múltiplas escolas de Psicanálise que apresentam uma estrutura institucional e regimental bem definida, com integrantes que passam por uma formação que não se dá na forma de aula, mas no processo de vivenciar a prática. Analisar, ser analisado, estudar entre os parceiros deste coletivo, participar de seminários, grupos de leitura, escrever artigos e encontros de cartéis temáticos por interesses comuns, entre outras atividades. Desta maneira, podemos dizer que estaremos diante de uma pessoa que está inserida no contexto da Psicanálise e até evoluindo para ser um psicanalista, o que representa alguém que exerce a teoria e técnica dentro de uma perspectiva ampla.
Lembrando que a Psicanálise também é ramificada em múltiplas abordagens e correntes que vão desde os freudianos aos pós-freudianos, lacanianos e, inclusive, aqueles que partiram para um processo grupal, como elaborou os seguidores da Psicanálise Bion. Há uma miríade de escolas, incluindo americanas, inglesas, francesas, argentinas, e, no Brasil, já podemos entender que está se multiplicando em várias estratificações. O que leva a maiores dilemas ainda, pois quem pode dizer que esta ou aquela forma de vivenciar o processo de formação do psicanalista é a mais correta?
Muitas escolas de Psicanálise não se comunicam umas com as outras e até se questionam, algumas chegando até a se atacarem. Porém, se o profissional que se sente psicanalista estiver realmente vinculado a uma instituição de Psicanálise que tenha história e procedimentos claros e bem definidos, é um atenuante substancial. O dilema maior está nos que se auto-intitulam psicanalistas por terem feito um cursinho aos finais de semana por um tempo.
Eu mesmo, quando procuro um profissional para me analisar, escolho um profissional graduado em Psicologia e que atue com a Psicanálise para não correr o risco de me sujeitar a um não-profissional sem regulamentação. Mesmo que seja um profissional que se auto intitule psicanalista, procuro saber se possui inscrição no Conselho Regional de Psicologia, justamente pelo fato de que a Psicanálise não é profissão regulamentada, mas sim uma metodologia.
Hoje, o Conselho Federal de Psicologia está numa campanha ampla de defesa da psicoterapia para profissionais da Psicologia. Isto ocorre devido ao fato de muitas outras profissões estarem oferecendo propostas diversas de psicoterapias por ser um nicho de mercado em alta em uma Sociedade cada vez mais adoecida emocionalmente. Assim, é preciso termos regulamentação clara na forma da lei, pois temos neste país a forte tendência de cada um se achar no direito de atuar da forma que melhor entender.
Veja que essa demanda acontece também com profissionais de diferentes áreas, como educadores físicos, fisioterapeutas, engenheiros, e até médicos. Vemos profissionais exercendo procedimentos especializados fora de suas áreas nativas pela oportunidade que se apresenta diante de uma demanda ampla, numa dinâmica que seria equivalente a um profissional da Psicologia prescrever medicação psiquiátrica aos seus pacientes.
Diante do que trago como dilema da Psicanálise no Brasil, a indicação que faço é que, quando você for procurar um psicanalista, o faça buscando um profissional da Psicologia que manuseie a Psicanálise como teoria e técnica. Pelo menos, isso reduzirá consideravelmente as chances de que você caia nas mãos de um agente que parece um profissional, mas não é.
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Psicanálise Contextualizada 11/04/2025 15:27:56 185
O que é a Psicanálise? É a teoria criada por Freud que, aolongo dos anos, foi sistematizando conceitos e procedimentos do exercícioclínico, tendo seu marco zero reconhecido na publicação do livro A Interpretação dos Sonhos, de 1900.Porém, antes mesmo, Freud já estavaconstruindo a teoria para estruturação de uma técnica e, de lá para cá, aPsicanálise se consolidou como uma das muitas metodologias e...
Psicopedagogia 07/04/2025 17:29:14
Com quem ficam as crianças quando não estão na escola? No modelo tradicional, em que a educação infantil ocorre apenas em meio período, estas costumavam ficar com parentes, babás, empregadas domésticas ou até mesmo famílias amigas formadas por alguém que não trabalhasse fora de casa.
A mudança no cuidado infantil ao longo do tempo
Hoje, a realidade é outra. A grande maioria das famílias não conta mais com parentes adultos em casa, pois a maioria trabalha. Ter uma babá ou empregada doméstica tornou-se um recurso de luxo para quem pode pagar. Mesmo para aqueles que detém condições financeiras, cresce a dificuldade de confiar em funcionários do lar, visto que esses profissionais muitas vezes não possuem qualificação ou vocação para cuidar de crianças. Em um tempo em que brincar na rua já é quase uma história do passado, as crianças ficam confinadas em casa, entretidas por uma "babá eletrônica" na palma da mão.
Diante desse cenário que vem se configurando ao longo dos anos, a escola de período integral tornou-se uma necessidade tanto para oferecer suporte às famílias, cujos pais precisam trabalhar, quanto para garantir estímulos educacionais. As crianças matriculadas em escolas de tempo integral são expostas a uma grade curricular voltada para o estímulo educacional, a socialização e o desenvolvimento de múltiplas habilidades.
Essa necessidade se aplica a todas as crianças, tanto as que frequentam a rede pública de ensino quanto as que estudam em escolas particulares. Mesmo em famílias estruturadas que oferecem atividades extracurriculares fora do horário escolar, ainda sobra muito tempo ocioso para as crianças, as quais acabam sem companhia para brincar e interagir. Como resultado, passam horas presas a uma tela, hipnotizadas por conteúdos sedutores e perdendo potencialidades cognitivas devido à falta de experiências práticas e vivências.
Alguns municípios e estados já começaram a introduzir escolas de período integral com boa formatação pedagógica, incluindo aulas, monitorias, lazer, esportes e atividades de produção artístico-cultural. Tenho indicado a algumas famílias, inclusive àquelas cujos filhos estudam em escolas particulares tradicionais, que considerem matriculá-los em escolas públicas de período integral. Os resultados têm sido positivos na formação das crianças. Além de ficarem afastadas das telas por mais tempo, estão protegidas em uma instituição de ensino enquanto seus familiares podem se dedicar ao trabalho para melhorar a estrutura econômica da família.
Desafios e perspectivas do modelo integral
Algumas escolas particulares já estão se estruturando para oferecer o sistema integral, mas os altos custos dificultam a manutenção deste modelo. Em alguns estados, professores e profissionais da educação têm sido melhor remunerados no sistema público do que nas escolas particulares, justamente porque a educação integral é um processo caro e reduz a margem de lucro dos comerciantes da educação.
Para que a escola integral cumpra, de fato, seus objetivos educacionais, é essencial que, ao longo do dia, as crianças participem de atividades tanto em sala de aula quanto em espaços esportivos e de produção artística e cultural. Também é importante que contem com momentos de monitoria para realizarem suas tarefas escolares na própria instituição. O ideal é que as disciplinas sejam ministradas de forma interativa, permitindo que as aulas sejam mais que uma simples transmissão de conteúdo, tornando-se experiências semelhantes a laboratórios de aprendizado.
No estado do Espírito Santo, onde resido, observei que as escolas de período integral são estruturadas dessa forma e têm entregado bons resultados. Além disso, os professores são melhor remunerados. No entanto, esse modelo tem sido mais aplicado ao ensino fundamental II e ao ensino médio. Já nas escolas públicas municipais, que atendem crianças do ensino fundamental I, o processo ainda é muito amador e sujeito às intervenções de gestões locais frequentemente influenciadas por interesses políticos e financeiros.
Nas escolas particulares, as de regime integral atendem um público muito reduzido, majoritariamente da classe B alta. Aos poucos, observa-se um aumento na oferta de escolas integrais e maior conscientização das famílias sobre os benefícios deste modelo. As crianças ficam melhor assistidas na escola que em casa, sem estímulo educacional adequado.
Ainda persiste a ideia de que crianças pequenas devem permanecer o maior tempo possível perto das mães. Contudo, mesmo para quem tem essa opção, recomendo considerar a escola integral para os bem pequenininhos, pois a Sociedade já não enxerga as mulheres como únicas responsáveis pelo bem-estar dos filhos em tempo integral.
Muitas mães que optam por ficar em casa acabam sobrecarregadas e se sentindo limitadas nessa posição. É verdade que algumas famílias ainda conseguem estabelecer uma rede de apoio, mas a sociedade tecnológica exige cada vez mais conhecimento e habilidades para cuidar de crianças 24 horas por dia. No passado, muitas mães abriram mão de trabalhar para cuidar dos filhos, mas, naquela época, havia o suporte de vizinhos e a rua ainda era um espaço seguro para as crianças brincarem. Esse cenário já não condiz com a realidade da maioria das cidades brasileiras, inclusive as de menor porte.
Que sejam bem-vindas as escolas de período integral! Que o Brasil acelere esse processo na rede pública de ensino. No médio prazo, os benefícios serão visíveis na formação estrutural das crianças e nos índices de desempenho educacional no cenário nacional.
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Psicopedagogia 07/04/2025 17:29:14 169
Com quem ficam as crianças quando não estão na escola? No modelotradicional, em que a educação infantil ocorre apenas em meio período,estas costumavam ficar com parentes,babás, empregadas domésticas ou até mesmo famílias amigas formadas poralguém que não trabalhasse fora de casa. A mudança no cuidado infantil ao longo do tempo Hoje, a realidade é outra. A grande maioria das famílias não conta ma...
Psicologia 27/03/2025 18:24:46
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aqueles que por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente a eles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossem autossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescência surgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estrutura social, geopolítica e cultural que definem seus traços e características
Sabemos que cada indivíduo constrói sua identidade dentro de sua singularidade e individualidade, o que justifica o processo de psicoterapia individual para que cada pessoa se encontre consigo mesma. Porém, a psicanálise nos mostra que o indivíduo está inserido no coletivo. O que escutamos enquanto analistas está impregnado de cenas e cenários do cotidiano, e, na adolescência, isso não é diferente.
O impacto do meio social na saúde mental
Quando falamos de um adulto, podemos atribuir-lhe responsabilidade direta por seus atos, sim, mas sempre considerando o meio social no qual está inserido. Não podemos dizer que aquele que não quer trabalhar, no Brasil, é pobre, pois a maioria absoluta dos trabalhadores continua pobre mesmo com todo o labor, conseguindo, no máximo, sobreviver ao dia a dia. Isso ocorre por vivermos em uma estrutura social marcada por um grande disparate econômico entre trabalhadores e empresários. Da mesma forma, não podemos atribuir uma crise emocional (como o pânico) simplesmente a uma desestruturação psíquica individual, pois os adultos são também vítimas do meio em que vivem. Ambientes sociais com altos índices de criminalidade e baixa segurança pública podem desencadear transtornos emocionais.
Se, nem dentre os adultos, podemos analisar comportamentos psicológicos de forma isolada, na adolescência isso é ainda menos adequado. Sabemos que essa fase é uma transição entre infância e a vida adulta, durando de 10 a 12 anos (aproximadamente dos 11 aos 22 anos). Mesmo assim, é somente por volta dos 29 anos que o indivíduo pode ser considerado plenamente adulto. Portanto, pensar a adolescência e falar sobre adolescentes exige um olhar para os agentes que sustentam sua vida. Esse olhar precisa ser amplo, indo além dos pais ou responsáveis legais, incluindo parentes, amigos, professores, autoridades públicas e representantes sociais que compõem o núcleo de vivência do adolescente. Todo o ecossistema.
Quando episódios traumáticos envolvendo adolescentes chocam a opinião pública, tendemos a analisar os casos de forma isolada, focando apenas nos adolescentes envolvidos. Assim, a visão sobre a adolescência se torna unilateral, destacando apenas aspectos negativos. Criticamos o adolescente isoladamente para não enxergar nossa própria participação nesses episódios. Negamos nossa relação com a adolescência porque não queremos confrontar nossa própria adolescência mal resolvida— o que chamo de "ecos da adolescência".
Na série da Netflix, “Adolescência”, que tem sido amplamente comentada nas redes sociais, o foco é colocado no adolescente, mas a narrativa nos leva a questionar como eles chegaram àquela situação. Queremos enxergar o adolescente, mas não os adultos que permitiram que ele chegasse ali, de uma forma ou de outra.
O papel dos adultos na construção da adolescência
O que o Poder Público está fazendo para dar suporte aos adolescentes no campo educacional? As escolas públicas que os acolhem a partir dos 11 anos estão descontextualizadas da realidade, oferecendo um ensino que já não atende às necessidades dessa faixa etária. No ensino privado, repete-se a fórmula dos modelos antigos, com promessas que nunca se concretizam. Além da educação, o que está sendo oferecido em termos de esporte, saúde pública, trabalho e outras áreas essenciais?
No campo jurídico, há um abandono na aplicação das regras de proteção aos adolescentes. Veja as redes sociais, comandadas por grupos estrangeiros, sem critérios de segurança adequados. Eventos noturnos ocorrem sem fiscalização sobre a presença de adolescentes nesses ambientes. Os conselhos tutelares, que deveriam garantir essa proteção, parecem existir apenas "para inglês ver", com pouca estrutura e efetividade. No campo legislativo, o que nossos políticos têm mostrado além da busca por benefícios pessoais?
E quanto aos pais e adultos, que supostamente passaram por uma adolescência bem resolvida? Muitos estão mais viciados em telas e redes sociais do que os próprios adolescentes. O abandono do adolescente dentro de casa ocorre tanto nas classes mais altas, devido ao excesso de benefícios, quanto nas mais baixas, pela falta de suporte. Assim, a adolescência hoje é uma questão que atravessa todas as classes sociais, cada uma com suas particularidades, mas todas marcadas pela negligência do olhar e do cuidado. E cuidar não se resume à estrutura material, mas sim a um compromisso afetivo, um vínculo real com aqueles que pertencem ao núcleo familiar e comunitário.
A dependência emocional dos adolescentes nos assusta pelos sintomas que emergem — sintomas desestruturantes e chocantes, que desafiam nossa capacidade de enxergar a realidade. Talvez os adolescentes estejam gritando através desses sintomas para que possamos, como adultos, finalmente vê-lo.
Mas há mais elementos favoráveis à vivência adolescente hoje do que desfavoráveis. O problema é que tais pontos positivos não ganham visibilidade, pois o que gera audiência é o espetáculo traumático.
Fica a pergunta: Você tem observado práticas adolescentes inspiradoras ao seu redor? Tem notado os ambientes onde adolescentes vivem experiências positivas de criatividade e alegria? Esses ambientes promovem um desenvolvimento saudável?
E você, como adulto, como tem convivido com os adolescentes à sua volta? Tem feito amizade com eles? Participado de suas atividades? Ou sua vida adulta hoje se resume a trabalho e a ver o tempo passar olhando para o celular? Aí é mais fácil dar foco às mazelas dos adolescentes.
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Psicologia 27/03/2025 18:24:46 201
Falar da adolescência e dos adolescentes sem considerar aquelesque por eles são responsáveis é atribuir exclusivamente aeles a carga dos atos que vivenciam no cotidiano, como se fossemautossuficientes e já pudessem agir por conta própria. É uma fantasia, como se a adolescênciasurgisse sem um ambiente familiar, uma comunidade ao redor e uma estruturasocial, geopolítica e cultural que definem seus ...
Politícia e Sociedade 20/03/2025 13:50:29
Podemos ligar a Saúde Mental com a Política? E, a partir desta perspectiva, como a Democracia pode interferir no plano da Saúde Mental?
Trago este tema pois há uma tendência dentre os profissionais no campo da saúde mental de adotarem certa neutralidade de posicionamento político em função da atuação profissional. Há uma confusão quanto ao limite existente entre se posicionar politicamente na Sociedade e influenciar pacientes do sistema da saúde mental, tanto no âmbito público e/ou privado. Eis que surge a questão: O Psicólogo pode ter uma posição quanto à sua percepção política?
Na atuação direta como Psicólogo, preciso ter respeito sobre as diferentes escolhas e visões dos diferentes pacientes que atendo, tanto quando estou atuando no processo clínico individual quanto em uma intervenção institucional. É preciso não se posicionar por um lado específico, pois não estarei em um campo de ação política direta, como na partidária. Mas isto não anula ter uma visão política e um lado de escolha, principalmente quando diz respeito ao processo eleitoral ou à atuação partidária.
Já passei por situações muito constrangedoras no início de minha carreira profissional, pois atuava numa cidade pequena com clínica particular para crianças adolescentes e adultos, e participei de um grupo político para eleger um prefeito novo na cidade, a qual estava polarizada em dois políticos tradicionais que nunca queriam sair da prefeitura há anos. E, neste processo externo à clínica, houve tentativa de depreciar minha ação como Psicólogo ao colocarem pessoas como pacientes para investigar se eu estava fazendo campanha para o meu candidato dentro do atendimento clínico. Como sempre soube separar estas instâncias, entre a ação profissional específica e a minha postura como cidadão implicado com o município, soube perceber e manter um posicionamento de neutralidade.
Em outro município, também como cidadão envolvido na campanha de um prefeito que poderia representar renovação política local por meio de processos eleitorais arraigados, o clima era tão pesado que chegava ao ponto de famílias locais nem se falarem, chegando ao ponto em que fui até ameaçado de morte. Mas, como tinha clínica particular em outro município próximo, os mesmos que me ameaçavam na cidade onde estava apoiando candidato, eram meus pacientes na clínica da outra cidade.
O Impacto da Polarização na Sociedade
O Brasil, após a campanha de Bolsonaro contra Lula e a polarização da discussão política como disputa de torcidas de futebol, viu o tensionamento sobre o debate político se tornar arraigado ao extremo, a ponto de familiares e amigos de longa data cortarem laços terminantemente. Até então, sempre me posicionei politicamente nas cidades nas quais morei, até atuando em partido político na condição de cidadão por entender que a política partidária é um caminho de colaborar, sim, na construção de leis justas e solidárias dentro de um referencial democrático.
No entanto, o diálogo político tornou-se inviável em qualquer instância, pois sempre haverá uma dinâmica de ataque e defesa entre lados, sem elaborações mais substanciais. Saudade hoje daqueles tempos em que uma família podia colocar seus adesivos nos carros disponíveis durante o período eleitoral, mesmo que fossem votos divergentes. Agora, este movimento se tornou impensável. Com isso, começamos a ver as divisões familiares e os ataques emocionais e, consequentemente, o crescente processo de adoecimento emocional nas famílias.
Nosso Brasil ficou politicamente burro. Quem é a Direita, quem é a Esquerda, e quem é o Centrão, num personagem político ou financeiro? Diante deste quadro, o exercício clínico passa a requerer do profissional muito mais cuidado.
A Psicanálise e a Realidade Social
Freud, em seu clássico texto “Mal estar na civilização”(1929), já nos alertava sobre as ambivalências no processo de construção cultural e na polarização entre vida e morte com regras morais de ordem pública e/ou religiosa que determinem o controle egóico sobre as pulsões (eros e thanatos – vida e morte), apontando que o desejo de uma Humanidade que pudesse ter uma convivência no coletivo e, ao mesmo tempo, atendendo às necessidades pessoais, gerando sempre os conflitos entre o Bem Comum e individual. Freud cultivou, sim, a esperança de uma Humanidade que cultuasse e vivesse o Bem Comum, principalmente em um período no qual a Europa estava contaminada por guerras e poderes ditatoriais. A Psicanálise em si, a partir de Freud tem um olhar voltado para o bem estar individual no campo emocional, mas numa perspectiva coletivista, onde processos internos pessoais são influenciados por demandas externas culturais e vice-versa.
Assim, para quem manuseia a Psicanálise, dificilmente verá alguém que não tenha como parâmetro no coletivo a prática da Democracia, ou, numa linguagem psicanalítica, em que o direito a desejar é para todos e todas. Desta maneira, diante do atual cenário paranoico da política brasileira, já vemos pessoas dizendo que psicanálise é coisa de comunista. Quem sabe, por isso mesmo a ascensão das psicoterapias comportamentais, muito utilizadas para controles de massas populares no regime nazista. Hoje, até líderes religiosos são denominados comunistas quando preconizam o bem comum e ações de solidariedades para os menos favorecidos em uma homilia ou pregação. Desta forma, se instaura uma insanidade coletiva, e, com isso, um crescimento paulatino dos sintomas patológicos mentais nos indivíduos.
Pelo modelo democrático, podemos visualizar o Bem Comum. Já por modelos políticos autoritários/totalitários, vemos a busca do bem para si e/ou grupos específicos que se unem para defender e proteger seus patrimônios e convicções enviesadas. Pela Democracia, se visualiza uma partilha que, inclusive, é preconizada na Bíblia - principalmente no livro “Atos dos Apóstolos” - e, pelos sistemas ditatoriais, se evidencia o medo de perder privilégios pessoais ao pensar em tal partilha.
Mas chego no ponto de meu desejo inicial nesse texto de hoje, de vermos que o adoecer mental na sociedade brasileira dá-se pela polaridade intransigente de idéias, na qual não se debate, pensa ou reflete sobre nada, em que pensamentos se tornam hermeticamente fechados e o egocentrismo está em primeiro plano. Também por vermos um país que se intitula democrático, no governo para o bem comum, tendo 59 milhões de brasileiros na faixa da pobreza. Mais de 50% dos brasileiros estão na classe D e E. Assim, ao preconizarmos que somos um país democrático simplesmente por que votamos, sem perceber que Democracia é o exercício da deliberação do Bem Comum, os índices denunciam uma realidade drástica de diferença social, e contradiz o discurso estabelecido, gerando um fator altamente favorável ao desenvolvimento de doenças emocionais, levando a índices assoladores indicando que 60% da população demonstra estar com ansiedade e/ou depressão.
Mesmo a psicanálise, a partir de Freud, tendo um olhar de bem estar na perspectiva de uma Humanidade que conjuga o Bem Comum, ao longo dos anos muitos psicanalistas se posicionaram com neutralidade, como se as demandas políticas e o sistema de governo não fossem elementos que influenciam na estrutura psíquica das pessoas. Mas esta postura é decorrente da elitização da psicanálise que, de alguma forma, foi se prestando ao serviço de uma elite dominante que representa parte dos que temem a Democracia. Tanto é verdade que o golpe militar de 1964 no Brasil, basicamente sustentado pela oligarquia ruralista, não difere muito da tentativa de golpe do Oito de Janeiro, também financiada por alguns setores da elite brasileira.
O Papel da Psicanálise
Com isto, a psicanálise e o psicanalista não vão entrar nas escolhas pessoais dos pacientes. Faço um paralelo com o pastor que não vai receber em sua igreja apenas pessoas que pensam em uma única condução política, ou no Padre que excluiria quem diverge de seu pensamento político. As Igrejas são para todos que as buscam, assim como o processo psicoterapêutico. Não vou colocar juízo de valores ou direcionamento sobre a prática política que os pacientes seguem. Porém, se na prática política e desejo de Sociedade, estiver prevalecendo um sintoma comportamental que remete a um transtorno comportamental, surge a necessidade de se pontuar e interpretar.
Segundo Freud, a Psicanálise é o Social, e, pelo seu olhar, poderemos colaborar na leitura da Sociedade também no campo da Política, pois o ser humano expressa seus desejos e pulsões neste campo, podendo transferir suas neuroses e paranoias para a prática política. De fato, pessoas com um controle obsessivo muito intenso, com estruturas plenamente egoístas, tendem ao domínio e ao controle, prato cheio para os autoritários; Conversamente, pessoas com maior potencial de vínculos positivos e tendências mais altruístas, tendem a se solidarizar e partilhar mais. Lógico que há muitas variações comportamentais que farão com que as pessoas se vinculem à política de forma perversa ou com foco no Bem Comum, mas pontuo aqui duas vertentes que, a meu ver, são as mais comuns.
Diante disso tudo, os conceitos de Saúde Mental, Política e Democracia estão intrinsecamente conectados, tornando impossível a escuta de um paciente sem observar as forças culturais sobre ele exercidas como propulsores na construção da estrutura psíquica. Neutralidade em psicanálise não é uma realidade absoluta, e uma prática preconizada por Freud. Por isso, a política brasileira e a falsa democracia em que vivemos tem predisposto os brasileiros ao sofrimento emocional. Pois a demanda emocional não está apenas relacionada à individualidade de cada pessoa dentro de seu restrito círculo familiar. Assim, a ética da psicanálise é de ir de encontro a estas percepções e integrar as demandas pessoais internas à realidade em que cada um está inserido. Mesmo que possam nos confundir com comunistas.
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Politícia e Sociedade 20/03/2025 13:50:29 178
Podemosligar a Saúde Mental com a Política? E, a partir desta perspectiva, como a Democracia pode interferir no plano daSaúde Mental? Tragoeste tema pois há uma tendência dentre os profissionais no campo da saúdemental de adotarem certa neutralidade de posicionamento políticoem função da atuação profissional. Há uma confusão quanto ao limite existente entre se posicionarpoliticamente na Sociedad...
Psicanálise Contextualizada 12/03/2025 13:56:09
Minha trajetória com a psicanálise iniciou-se com Freud e os pós-freudianos Melanie Klein e Winnicott. No entanto, há pouco tempo comecei a visualizar novas possibilidades para o meu exercício profissional, dentro da perspectiva lacaniana.
Entro em Lacan através do “De um Outro ao Outro” (livro 16)¹. Após a leitura deste seminário, posso dizer que Lacan já habita meu fazer psicológico, tanto para a clínica quanto para meu processo analítico pessoal, sem deixar de fazer vínculo desta teoria com o social, uma demanda que o próprio Seminário 16 como cordas para puxar. Esse processo se deu ao participar do Coletivo Psicanálise & Cultura de Vila Velha – ES, ao longo dos dois anos consecutivos de estudo em Cartel.
O objeto a e suas implicações na clínica psicanalítica
Aqui, gostaria de pontuar um tópico específico que diz respeito à clínica psicanalítica, embora o Seminário 16 tenha feito emergir muitos outros tópicos e deixado lastros para novas elaborações.
Lacan aponta que “A essência da teoria psicanalítica é um discurso sem fala” (LACAN, 2008, p. 14), o que já introduz um nó em minha mente, fazendo-me questionar: ‘O que estou fazendo aqui?’. Porém, com esse quase enigma, vemos um desfecho na construção do objeto a, no qual Lacan, ao longo deste Seminário, vai criando referenciais comparativos e analogias. E, falando de analogias, , “...a conta certa para nos fazer perceber que não é o significado que está no interior, mas exatamente o significante. É com ele que lidamos quando se tratar daquilo que nos importa, isto é, da relação do discurso com a fala na eficiência analítica” (LACAN 2008, p.16).
Lacan traz a homologia da mais-valia em Marx e do que ele mesmo define como o mais-de-gozar: “É de um nível homólogo calcado em Marx que partirei para introduzir hoje o lugar em que temos de situar a função essencial do objeto a” (LACAN, 2008, p. 16). Em Marx, Lacan situa a mais-valia a partir da absolutização do mercado, que marca a prevalência da lógica do valor, e para a Psicanálise, o mais-de-gozar, que marca a prevalência da linguagem: “O mais-de-gozar é uma função da renúncia ao gozo sob o efeito do discurso. É isso que dá lugar ao objeto a (...) assim, o mais-de-gozar é aquilo que permite isolar a função do objeto (a)” (LACAN, 2008, p. 19). Ou seja, essa função do objeto a é homóloga à da mais-valia; nesse sentido, ambas geram um movimento contínuo de furto de satisfação, que se desdobra em um movimento incessante de produção e falta.
A ética no exercício psicanalítico: Entre o Furo e a Transferência
Ao longo do seminário, Lacan nos conduz a diferentes percepções de estruturas que nunca conseguem chegar a um fechamento definitivo, deixando-as sempre em aberto, colocando em prática o próprio furo de que ele tanto fala. Assim, Lacan relaciona a psicanálise com a aposta e o jogo, quando se refere a Pascal, quando explora a relação infinita entre o 1 e o 2 na matemática, e quando aponta para aquilo que é a falta, evidenciada pelas instituições de poder. Porém, para cada referência neste processo de construção, abre-se um leque enorme de possibilidades. Mas, aqui, quero simplesmente conduzir essa reflexão ao desfecho sem fim da proposta de Lacan neste seminário, trazendo o que considero uma cartilha de conduta analítica, que entendo como ética no exercício psicanalítico:
“...devemos admitir que somente a repetição é interpretável na análise, e é isso que tomamos por transferência. Por outro lado, o fim que aponto como a captação do próprio analista na exploração do a, é exatamente isso que constitui o ininterpretável. É por isso que interpretá-la, como já se viu, como foi até impresso, é, propriamente, abrir a porta, convidar para esse lugar do acting out.” (LACAN 2008, p. 338)
Estudar o Seminário 16, entendendo que este pode ser uma porta escancarada para adentrar em Lacan, proporcionou-me a possibilidade de perceber que meu próprio processo analítico estava se dando como uma demanda de postura profissional, de estar em análise. Como podemos entender que a formação do analista se dá no estabelecimento de laços de trabalho, o “De um outro ao outro” me coloca na posição de ir para a minha própria análise, pensando no furo e rastreando onde habita o objeto a em mim, em um processo contínuo de interpretações nas duas instâncias que se comunicam: analista/analisando. Na configuração em torno do Seminário 16, Lacan nos aponta uma ética para o processo analítico:
Nesta citação de Lacan, podemos fazer um retorno a Freud, quando, ao ler o caso clínico de Dora², desenvolve uma reflexão/avaliação de sua atuação, no qual ele posiciona a psicanálise de uma maneira que, a meu ver, fala sobre a ética do psicanalista:
Neste sentido, em ambos os casos, me parece que está em questão escutar sem pressupor nada, deixando que a própria significação daquilo que é ouvido, falado e visto advenha dos encadeamentos significantes da narrativa do analisante.
O Cartel 16, como anotei em minha agenda, não se fecha, escancara ainda mais a porta para o mergulho no Real, Simbólico e Imaginário, que é constantemente preconizado na obra de Lacan. Lacan nos transporta para essa dimensão quando apresenta a imagem da maçã, na relação entre Adão e Eva, ao desenvolver a representação de S1, S2 e a: “...A mulher, aqui em S1, que se faz causa do desejo, a, é o sujeito de quem convém dizermos que, com a oferta, conseguiu criar a procura. O homem nunca morderia essa história, se primeiro não lhe oferecessem a maçã, ou seja, o objeto a” (LACAN, 2008, p. 381). Já que “consumir” a maçã é o mesmo que “renunciar” a algo tão grandioso e completo quanto o paraíso.
De nó em nó, algumas poesias³ brotaram a partir do estudo de Lacan, dentre elas, uma que dialoga com essa minha construção e na qual encerro esta apresentação.
Um nó
Pulso no desejo que busco,
Busco no encontro do outro,
Encontro-me no que não encontro.
Continuo vagando em busca do gozo
Deste gozo que não goza,
Mas pulsa o desejo de gozar.
Caio no vazio de um existir,
Suplico que alguém possa me vir,
E ao chegar consiga entrar em mim.
Ao chegar de algum lugar este alguém,
Ao se apresentar não vejo ninguém.
Nego encontrar-me
Espero no além.
Restabeleço nova busca,
Novo impulso me conduz
Aos prazeres que nunca encontro.
Saio do real.
Adentro no imaginário
E continuo simbolizando.
(ABARCA, 2024, p.83)
REFERÊNCIAS
1 LACAN,Jacques. O seminário, livro 16: de um outro ao outro. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
2 FREUD, Sigmund. Histórias Clínicas - Cinco casos paradigmáticos da clínica psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. (Obras incompletas de Sigmund Freud)
3 ABARCA, Gerson. Outono. Vitória: Outras Falas, 2024.
* Este texto possui uma abordagem mais técnica e está voltado para os referenciais da clínica psicanalítica, diferenciando-se um pouco dos textos que geralmente publico aqui no site. Normalmente, priorizo o leitor leigo em psicologia e psicanálise, buscando apresentar a teoria e a prática de forma menos técnica. Neste caso, porém, o texto traz uma especificidade teórica e técnica, com o intuito de despertar o interesse daqueles que não são da área a se aproximarem da leitura dos pensadores da psicanálise. Ao mesmo tempo, compartilho o trabalho desenvolvido em grupos de parceiros, evidenciando o compromisso com a qualidade e a ética do meu exercício profissional.
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Psicanálise Contextualizada 12/03/2025 13:56:09 200
Minhatrajetória com a psicanálise iniciou-se com Freud e os pós-freudianos MelanieKlein e Winnicott. No entanto, há pouco tempo comecei a visualizar novaspossibilidades para o meu exercício profissional, dentro da perspectivalacaniana. Entroem Lacan através do “De um Outro ao Outro” (livro 16)¹. Após a leitura desteseminário, posso dizer que Lacan já habita meu fazer psicológico, tanto para acl...
Psicologia 05/03/2025 14:51:06
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Psicologia 05/03/2025 14:51:06 203
Carnaval é tempo de colocar as repressões do cotidiano para passear. Tempo de abrir as grades que encadeiam nossas fantasias para fantasiar na rua. Tempo de afrouxar o autocontrole ou, como denomina a psicanálise freudiana, de soltar o supereu ou superego, o qual normatiza e nos enquadra por fatores morais, civis, religiosos e econômicos, mas também por castas, classes sociais e até gênero e/ou r...
Psicologia 27/02/2025 17:49:01
Os transtornos emocionais são sintomas que a mente desenvolve ao longo dos anos e que, há muito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversas variações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algum transtorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estes transtornos e, quem sabe, até nos autodiagnosticar. Existem transtornos para tudo, mas os mais relatados e comuns, que de fato ocorrem na clínica psicológica e que são mais frequentes na maioria dos consultórios psiquiátricos, incluem: Transtorno de Pânico, Ansiedade, Depressão, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e transtornos alimentares, como Bulimia e Anorexia.
Ao desconsiderarmos as possíveis causas diagnósticas que podem integrar um sintoma - como fatores relacionados a um quadro de saúde física, perdas parentais (luto), acidentes, fatores genéticos e cognitivos - percebemos que, na maior parte dos diagnósticos, não conseguimos identificar uma causa específica. Desta forma, observo, na minha clínica psicológica e dentro do referencial da escuta psicanalítica, que os transtornos emocionais são sintomas que refletimos ou que refletem elementos inconscientes que emergem para nos alertar. Prefiro entender que, ao longo da nossa história de vínculos afetivos com outros, na família e na sociedade, desenvolvemos sintomas, que, eventualmente, emergem como um vulcão em erupção.
Mas, de fato, criamos esses transtornos?
Acredito que sim. Muitas vezes, para permanecermos na mesma posição onde precisamos nos fixar. Em outras, para tirar vantagem nas relações com os outros. Ou porque fomos educados sob um forte apelo repressor, onde as emoções e os pensamentos não puderam se manifestar. No entanto, em algum momento, essas emoções se manifestam em forma de sintomas, causando uma série de problemas, visto que cada sintoma, sendo codificado entre as diferentes categorias emocionais, envolve, sim, sofrimento. A clínica psicológica, com referencial teórico e técnico da psicanálise, vê nos sintomas a emergência do inconsciente, isto é, aquilo ao qual até então não tínhamos acesso ou resistimos em sentir.
Assim, a psicoterapia e/ou análise são formas de ajuda profissional ao paciente para que este possa se encontrar com as fantasias desenvolvidas na forma de sintomas emocionais. O processo leva o paciente, primeiramente, a escutar os sintomas, vê-los, senti-los e mapeá-los. Depois, é conduzido a pensar no porquê, ao longo da sua história, foi preciso criar um sintoma emocional e como saber conversar com sua própria fantasia. No entanto, isso leva tempo, pois, no primeiro momento, o paciente reluta em entender ou aceitar que se trata de uma fantasia construída ao longo dos anos. Essa resistência é agravada quando o paciente já tem um diagnóstico definido e uma orientação médica de que precisará de medicação para sempre, e que a medicação dificilmente sairá do paciente.
Esse é um ponto que frequentemente gera conflito entre a visão da psiquiatria, encravada no código internacional das doenças emocionais - com apoio de laboratórios que sustentam essas pesquisas de resultados dos transtornos - e a psicanálise, que acredita na possibilidade de ouvir os sintomas, elaborá-los e assim reposicionar-se, levando à melhora do quadro.
Lidar com os sintomas emocionais é possível
Sempre digo aos meus pacientes que eles são tão criativos que conseguem até criar sintomas emocionais, acreditar na própria criação e fazer com que muitos ao seu redor também acreditem. Contudo, essa minha posição pode nos levar a uma tentativa de banalizar os transtornos emocionais. É importante lembrar que um transtorno emocional precisa ser tratado com respeito, sendo necessária uma avaliação psiquiátrica e o uso de medicação em muitos casos. Em alguns quadros, o transtorno emocional se torna uma característica permanente do indivíduo, o que pode exigir medicação contínua. Em casos de transtornos psicóticos, por exemplo, uma boa condução medicamentosa e psicoterapêutica pode permitir que o paciente leve uma vida normal, mesmo com o transtorno definitivo. Eu atendo pacientes esquizofrênicos que aprenderam a lidar com o transtorno e convivem bem em sociedade.
No entanto, no cotidiano e no processo de interação, todos nós temos resquícios de transtornos emocionais. Mesmo quando associado a medicamentos, o tratamento pode levar à alta medicamentosa. Esse processo ajuda o paciente a não negar os sintomas, mas a se encontrar com eles, entender o motivo pelo qual os criou e desfazer a fantasia que os originou. Lembre-se de que, na maioria dos casos, o tratamento não é a eliminação dos sintomas, mas sim a capacidade de dialogar com eles. Se o sintoma criado for monstruoso para o paciente e o levar a temer vê-lo, o tratamento pode permitir que ele enfrente seu próprio monstro.
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Psicologia 27/02/2025 17:49:01 170
Os transtornos emocionais são sintomas que a mentedesenvolve ao longo dos anos e que, hámuito tempo, foram sistematizados por um código internacional de doenças que compreende mais de 350 itens e diversasvariações. Hoje, todos que passam por uma consulta psiquiátrica correm o risco de serem detectados com algumtranstorno emocional. Ao acessar a internet, podemos ler e entender sobre estestranstor...
Psicologia 20/02/2025 14:53:54
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Psicologia 20/02/2025 14:53:54 175
Uma problemática que, aparentemente, é vista como irrisória na saúde sexual masculina, é o aumento do número de homens que precisam amputar o pênis, tendo como principal fator, o Câncer. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, a partir de informações hospitalares do SUS, a média de homens que necessitam amputar o pênis por ano passa dos 480 casos. Como a incidência equivale a uma ...
Psicologia 13/02/2025 17:42:37
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Psicologia 13/02/2025 17:42:37 217
Esta é uma questão de difícil resposta, pois podemos ter namoros que, aos olhos de quem está diretamente envolvido na relação, pode estar sendo avaliado como muito favorável, mesmo que represente uma relação tóxica e/ou imatura aos olhos de terceiros. Como posso dizer que, no namoro em que um dos parceiros apresenta sintomas emocionais patológicos, aquela relação não vai dar certo ou não s...
Religião 06/02/2025 13:42:27
O filme Conclave, grande concorrente ao Oscar de 2025 que está em exibição nas salas dos cinemas pelo Brasil, tem a direção de Edward Berger e faz uma adaptação do romance de Robert Harris, trazendo algumas demandas de reflexão para as perspectivas da Igreja Católica no planeta. Aqui, quero apenas pontuar algumas questões que emergiram após ter assistido ao filme. Assim, não trago uma reflexão sobre o filme em sua estrutura técnica, pois, de fato, não é minha área, apesar de amar a arte cinematográfica.
Tendo atuado muito ativamente na Igreja Católica, vindo a participar de representações internas em escala nacional e eventos tanto na América Latina quanto na Europa, ao assistir Conclave enquanto Cristão Leigo, saí com a ideia de que o diretor trouxe uma perspectiva de renovação para esta instituição que tem força e representatividade em todo o planeta e, no Brasil, com certeza é uma das instituições mais estruturadas e respeitadas no imaginário popular. Mesmo dentre os maiores críticos e opositores dos dogmas católicos, há um respeito na forma de se comunicar, inclusive as pontuações mais incisivas.
Um sopro de possibilidade de mudanças
Parece uma profecia, desta capacidade que a arte cinematográfica tem de antever o futuro. Pode não ter sido intenção da produção do filme algumas provocações, mas confesso que me agradou e acredito que tenha despertado nos praticantes do Catolicismo um sopro de possibilidade de mudanças, principalmente para quem sempre esteve na militância de grupos mais progressistas da Igreja Católica. Lógico que, para aqueles pertencentes à linha mais conservadora ou com tendências de extrema direita ideológica, o filme deve ter incomodado e muito.
Mas este é um dos dilemas que o filme traz, a disputa interna entre Cardeais de todo o mundo no processo de conclave para a eleição do novo Papa. Aquela cena antiga que víamos desde criança quando havia uma eleição para o novo Papa, da chaminé do Vaticano exalando a fumaça preta ou branca dizendo a situação da seleção do novo Papa. Eu mesmo vivenciei esta cena pelos telejornais após a morte do Papa Paulo VI e, depois da morte breve do Papa João Paulo I, depois na eleição do Papa Francisco. A praça de São Pedro, no Vaticano, cheia de fiéis esperando em oração para que o Espírito Santo soprasse para a nomeação do novo Papa e com ele novas perspectivas para a Igreja Católica no planeta.
Muitos Católicos ainda acreditam que, no Conclave, a eleição do novo Papa se dá de forma amistosa e que é o desejo de Deus que prevalece de fato, mas o filme traz a noção de que este processo é de muitos conflitos e jogos de interesses, onde cada grupo pensa conforme suas necessidades geopolíticas e tendências ideológicas. Disputas de poder a partir de estruturas econômicas e capacidades intelectuais. Conclave traz, dentro de uma ficção cinematográfica, a ideia de que o poder na Igreja é disputado milimetricamente, fazendo emergir contradições que, supostamente, um praticante religioso fervoroso dificilmente possa imaginar que exista.
Um Papa com a face de um Deus múltiplo pode ser uma representação mais próxima do Cristianismo.
No entanto, um elemento que muito me chamou a atenção foi o desfecho do processo eleitoral, dentre os muitos debates entre extremistas de direita e liberais e até com uma vertente socialista, surge enfim um Papa que aglutina a junção de muitas possibilidades, principalmente na questão de gênero. Fez-me lembrar de um trecho da música cantada por Pepeu Gomes e Baby Consuelo “...e Deus é menina e menino, sou masculino e feminino...”. Eis que surge um Papa com esta nova possibilidade.
De fato, se as principais religiões do planeta se abrissem para a eliminação das mensagens punitivas e repressivas, exaltando a livre relação humana a partir do princípio do amor mútuo, poderíamos ter novas perspectivas de mudança comportamental extremas entre os povos. Um Papa com a face de um Deus múltiplo pode ser uma representação mais próxima do Cristianismo na sua essência.
Vale a pena assistir ao filme.
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Religião 06/02/2025 13:42:27 328
Ofilme Conclave, grande concorrente ao Oscar de 2025 que está em exibição nas salasdos cinemas pelo Brasil, tem a direção de Edward Berger e faz uma adaptação doromance de Robert Harris, trazendo algumas demandas de reflexão para asperspectivas da Igreja Católica no planeta. Aqui, quero apenas pontuar algumasquestões que emergiram após ter assistido ao filme. Assim, não trago umareflexão sobre o ...
Psicologia 18/12/2024 07:37:06
Este tema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento, “Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicano do século XIV Maitre Eckhart que diz:
"O pai sorri para o filho
E o filho sorri para o pai
E o sorriso faz nascer o prazer
E o prazer faz nascer a alegria
E a alegria faz nascer o amor."
Lembro-me de quando meu filho Hélder Manacô, ainda bem, pequeno dizia “sórri” e todos riam desta forma de expressar o sorrir. E, no poema do frade, o amor nasce da alegria, que vem do prazer engendrado pelo sorriso.
O sorriso é expressão que só pode ser resultado e sintoma de encontro, encontrar-se.
Na canção de Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Rosa sem espinho e dor”. Mãe que acolheu sorrindo, encantou como rosa sem espinho, fez brotar maternagem, para lembrarmos do Psicanalista Inglês Donald Winnicotti sobre as mães suficientemente boas, cuja imagem espelha o amor pela ponta final de um sorriso. Desde o início do sorriso da fecundação, ao sorriso de um ser em movimento no útero, ao sorriso do filho nos seios após um grito de dor, da dor do parto. Um encontrar-se, para outro projetar-se, espelhar.
Há um pai, que sorri para o filho, e, no reflexo espelhar, há um filho que sorri para seu pai. Encontrar-se com este terceiro, fazendo romper a simbiótica relação mãe/filhos no longo círculo do parto ao desmame, pois há um terceiro.
Fazer laços pelo ambiente onde o amor triunfou, a alegria inundou e o prazer do sorriso fez-se cotidiano. Nascer para novos encontros, espalhar-se em comunidade. Redes de apoio e de encontrar-se. E, como poetiza Milton Nascimento, “Diga a tua mãe que plantou esperança (...) Ajudar quem quer viver”. Fazer a História acontecer, de uma Sociedade poder viver a construção do amor e virar Civilização do Amor.
Quimera? Utopia? Fantasia?
Não fosse possível, não justificaria viver em função de promover no outro o encontra-se consigo mesmo no resgate de um amor, que, muitas vezes, pode parecer escondido ou até inexistente, por não se ter vivido em ambiente que potencializou o Amar. E, pela escuta psicanalítica, no processo de mão dupla entre analista e analisado, o sorriso pode brotar. Sintoma maior de uma alma onde habita o amor e o desejo de amar. Assim, como na construção incansável de levar os pais ou aqueles que se fazem pais, restabelecer ambiência que prevaleça o cuidado na alegria do prazer de se revitalizar o sorriso entre os olhares dos que habitam a mesma casa, comunidade, cidade, estado, nação e nosso habitat maior, o planeta Terra na sua infinita cosmologia.
Vamos fazer deste meu querer aquele que engendra o desejo do poeta Milton Nascimento: “Tudo o mais que eu queria é cumplicidade”.
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Psicologia 18/12/2024 07:37:06 1277
Estetema que escrevo hoje é inspirado na letra e música de Milton Nascimento,“Sorriso”. Nesta canção, Milton inicia citando um poema de um frade dominicanodo século XIV Maitre Eckhart que diz: "O pai sorri para ofilho E o filho sorripara o paiE o sorriso faz nascer o prazer E oprazer faz nascer a alegria E a alegria faz nascer o amor." Lembro-mede quando meu filho Hélder Manacô, ain...
Politícia e Sociedade 09/12/2024 17:06:42
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Politícia e Sociedade 09/12/2024 17:06:42 1003
É possível um país com um abismo entre pobres e ricos que alcança uma diferença de renda de 14,4 vezes ter saúde emocional? Hoje em dia, quando se fala sobre projetos sociais para diminuir a pobreza, e até mesmo iniciativas solidárias focadas nos mais pobres, muitas vezes surgem críticas de que são ações de esquerda. Lembro-me duma situação em que uma pessoa acreditava que o padre de sua paróquia,...
Politícia e Sociedade 04/12/2024 08:47:35
Geralmente, ao longo de nossas vidas, passamos por muitos lugares: bairros, cidades, estados e países. E, após um certo tempo, surge a pergunta: qual a marca que deixei por onde passei?
Este artigo vem de encontro a esta pergunta. Fui inspirado a escrevê-lo a partir de uma solicitação de um amigo de Piraju-SP, Valberto Zanatta, que atualmente é vereador na cidade, para que eu e minha esposa, Maria Celina, recebêssemos o título de Cidadão de Piraju-SP pelos relevantes trabalhos que prestamos no município durante os anos de 1991 a 1994. Após 30 anos, retornaremos a essa cidade para sermos homenageados pelas marcas que deixamos no referencial coletivo daquela comunidade. O interessante é que encontraremos duas gerações: aquelas pessoas que estavam lá naquela época e hoje são adultas, com seus filhos criados, e muitos jovens da cidade, que nem sequer haviam nascido quando minha esposa e eu morávamos em Piraju.
Piraju-SP marcou o início de minha carreira profissional como psicólogo e também o início de meu casamento com Maria Celina. Foi nesta cidade que geramos nosso primeiro filho, Samuel Iauany, que nasceu em 1992, na maternidade deste município.
Ficamos felizes em saber que deixamos marcas positivas naquela cidade e que hoje somos reconhecidos publicamente com o título de Cidadão Pirajuense.
Essa pergunta, de fato, não pode deixar de ecoar em nossa jornada de vida: qual a marca que deixei e deixarei por onde passei e passarei?
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Politícia e Sociedade 04/12/2024 08:47:35 1009
Geralmente,ao longo de nossas vidas, passamos por muitos lugares: bairros, cidades,estados e países. E, após um certo tempo, surge a pergunta: qual a marca que deixei por onde passei? Esteartigo vem de encontro a esta pergunta. Fui inspirado a escrevê-lo a partir deuma solicitação de um amigo de Piraju-SP, Valberto Zanatta, que atualmente évereador na cidade, para que eu e minha esposa, Maria Ce...
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